Hoje eu quis escrever um texto para você, porque em todo esse tempo, eu nunca escrevi sobre você, eu nunca escrevi uma linha sobre você ou sobre nós, e eu não sei explicar como isso é possível, então hoje eu vim aqui, porque, no final de contas, tudo o que me sobra são sempre as palavras e nada mais de volta.
Você foi o mais improvável, o que eu jamais pensei que realmente pudesse dar certo, o que eu nunca apostei minhas fichas, apenas entrei naquele jogo, apenas deixei a maré me levar, apenas deixei que você chegasse, que você aos poucos preenchesse o espaço com sua presença, com sua atenção, com seu jeitinho só seu de ser, ainda assim, eu nunca acreditei na gente, acho que foi ai que começou o meu erro.
Você foi o mais improvável, mesmo que depois me parecesse que você tivesse sido feito para mim a vida inteira, como se Deus, em algum minuto de seu interminável tempo lá em cima, tivesse feito você e o colocado finalmente em minha vida no tempo certo.
Vivemos e crescemos tão perto um do outro sem nunca termos de fato nos enxergado, estudamos na mesma escola em sua infância e minha pré adolescência e andei pela rua de sua casa por tanto tempo sem nunca imaginar que ali mesmo crescia aquele que um dia eu iria conhecer por um aplicativo na internet e me apaixonar da maneira menos provável, sem que eu sequer percebesse, sem que eu sequer notasse.
Você foi o mais improvável, que para mim parecia tão incompatível, mesmo que só você conseguisse me deixar bem quando nada mais era capaz.
Foi o mais improvável que mesmo quando eu pensei não amar mais, mesmo quando eu pensei que meu amor havia esvaído, quando o sentimento se transformara em nada e eu sequer conseguia decidir se deixava você sair de vez ou entrar de uma vez, você foi mais improvável ainda e me provou, naquela tarde ensolarada, deitados naquela grama verde daquele parque que eu tanto amava e que irradiava amor e paz, como se em algum momento do passado um casal houvesse ali se apaixonado e tivesse o dom de trazer o amor de volta aos corações, você provou que me amava como eu jamais poderia ser amada, e que merecia que eu abrisse novamente meu coração e deixasse você entrar, e deixasse você preencher todo o meu ser.
Você, o mais improvável, acabou fazendo eu me apaixonar novamente por você.
E então, eis que a vida guinou, numa queda brusca e profunda, e eu me vi dentro de um buraco tão grande e tão escuro, e tão sem saída, que minha única reação foi afastar a tudo e a todos, com tantos paus e pedras nas mãos quanto um louco eloquente, transtornado e desfigurado, desfigurado ficou o meu coração e o meu ser, e eu fui destruindo aos poucos o que você pedira tão amorosamente para construirmos.
E eis que a vida, tão irônica quanto ela poderia ser, transformou o seu amor em nada e o meu nada em amor, e eu me vi perdida diante daquele que um dia eu pensei ser o mais improvável, daquele que um dia eu pensei não sentir nada e agora sentia mais do que tudo.
E então o mais improvável aconteceu, depois de todo esse tempo que eu jamais poderia imaginar, o seu amor acabou, e com ele tudo que eu já não mais pensava ser improvável.
E o que sobrou foi um coração vazio, tão vazio quanto aquela tarde naquele parque quando eu disse que não sentia mais nada, tão vazio quanto o fundo do poço onde eu me encontrei quando percebi que por causa das minhas palavras afiadas e do meu coração de pedra afastara o único que fora capaz de me amar como poucos haviam sido.
E a vida é assim, erros são cometidos por pessoas imperfeitas, mas para que servem os erros senão para serem perdoados e esquecidos? senão para serem aprendizados e evoluídos?
Não venho com isso dizer aqui que meu amor foi-se embora como uma chuva de verão, que chegou destruindo tudo e depois foi embora deixando a brisa fresca e suave depois de um calor arrebatador, não foi-se, ainda continua aqui, mas tão anestesiado que parece incapaz de perceber ainda a realidade que se estende a sua frente.
Anestesiada, como uma pessoa prestes a ser operada, que nada sente, nem mesmo a afiada faca que lhe corta a carne, eu nada sinto, nem mesmo a faca que corta minha carne e me arranca o coração de pedra, o coração cabeludo que com o tempo tornou-se ressequido, enchera-se de poeira, pedra, pelo e cabelo, frio e insensível, o coração que tinha tudo para ser puro e tornara-se envenenado pela vida.
Então eis me aqui, sem você e sem conseguir sentir nada, como se ainda fôssemos o mesmo ou como se nada houvesse acontecido, sem conseguir sentir nada como se a vida, milagrosamente, tivesse me curado antes mesmo de me quebrar ainda mais em pedaços.
Mas houve pedaços, houve pedaços quando pensei que você estivera me enganando, houve pedaços e dor e sangue quando imaginei uma vida inteira pela frente sem você enquanto ia para aquele lugar tendo a certeza de que você estava indo para acabar com a minha vida e meu coração pensando se encontrar com outra.
Mas a vida, tão irônica e tão engraçada como só ela sabe ser, congelou tudo, e naquela noite, quando eu percebi que não adiantava mais insistir, que seu coração já nada mais sentia, que seu amor por mim já esvaíra, naquela noite em que eu disse finalmente as palavras que jamais imaginei ser capaz de dizer, ou ser capaz de lidar, naquela noite eu chorei, e quando acordei no dia seguinte as lágrimas haviam secado e com ele o meu coração, e eu me tornei novamente um nada sentindo nada.
Então eu só queria dizer aqui, hoje, o quanto você foi o mais improvável e o quanto foi mais improvável ainda eu amar você, mas amei, mas você conseguiu o que tanto desejava naquela tarde, naquela grama, naquele parque, que eu voltasse a te amar, que eu voltasse a sentir o que antes sentira, o que antes existira, você, o mais improvável, me fez amá-lo como eu jamais pensei que poderia amar novamente.
Mas acabou, e eis que nós estamos aqui, agora, um ao lado do outro, tão perto, mas tão distantes, com o coração vazio, um de cada lado, cada um por um motivo diferente.
E eu não estou sofrendo mais, e eu não estou chorando mais, nem sentindo, nem pensando, como você desejava não me ver sofrer, mais uma vez o seu desejo tornou-se realidade, e eu não estou sofrendo.
Não há mais dor em meu coração, aquela dor que parecia que uma adaga perfurava meu coração, que parecia que meu ar estava sendo expulso do peito, aquela dor foi-se embora junto com você, e as lágrimas secaram como o seu amor por mim secou, e nós estamos aqui, seguindo em frente, como se jamais tivéssemos nos encontrado algum dia, mas uma coisa sempre permanecerá. A cada esquina que eu cruzar nessa cidade, a cada pequeno pedaço de onde estivemos juntos, no centro da cidade que eu nunca sabia andar, pelo shopping que você me levou no primeiro fim de semana que nos conhecemos, naquela praça que tantas vezes ficamos, até as duas da manhã, passando frio e nos aquecendo nos braços um do outro, em cada rua desse bairro que fora só seu e que tantas vezes sonhamos, imaginando eu ali, morando tão perto de você, cada pequeno pedaço de chão desse lugar me fará recordar dos dias que foram inesquecíveis e do amor que um dia existiu dentro de nós, e então, por um segundo, eu sei que sentirei novamente, algo mais do que o nada que congelou meu coração para que não sofresse o quanto sabia que sofreria, e eu sofrerei, por um segundo, tudo novamente antes de congelar novamente o meu coração.
Você que foi o mais improvável, tornou-se o mais provável para meu coração, o mais provável para um futuro que eu passei desejando que tivéssemos e que, no final de contas, jamais existirá.
E você deixara sua marca em mim como eu jamais imaginei que poderia deixar, e mesmo sem sentir nada, mesmo sem chorar mais ou sofrer, mesmo anestesiada com o coração duro de pedra no peito, você sempre estará lá dentro, no lugar que um dia, você pediu para estar, porque, na vida, por mais improvável que seja, as vezes nossos desejos se tornam realidade.
E nesse mundo de desejos realizados, os seus se realizaram, os meus não, e nosso conto de fadas, que tinha tudo para ter seu final feliz, não teve nada, apenas o final.
Para o mais improvável que no parque da cidade me fez amá-lo novamente.
Por
Lanah Black