— O que toda mulher inteligente deve saber é que ¾
Ele tem que pensar que você perdeu o interesse; Fique indisponível e mantenha distancia, quando você fica fora de alcance, isso o prende de vez. Mostre que ele não é o único no mundo a te querer.







Sabe quando parece que o mundo está desabando sobre sua cabeça e você não consegue fazer nada? Era mais ou menos assim que eu me sentia. Era como se o mundo de repente estivesse acabando e tudo começasse a desmoronar, o teto do castelo parecia que estava desabando sobre minha cabeça e uma pilastra tinha esmagado meus neurônios, mas era só o Sirius na minha frente fazendo meu mundo desabar. Por que tudo aquilo estava acontecendo? Como ele podia dizer isso assim, na minha cara, que eu podia ficar com o Wood quando eu trocaria todos os homens do mundo só para ter ele? O que eu estava fazendo, afinal de contas? Não fora para isso que eu começara aquele plano “Conquistando SB”, definitivamente, não era para terminar assim.


Engoli o nó na minha garganta e afastei uma lagrima que, teimosa, descera pelo canto do olho e então olhei pela janela, vendo a noite lá fora, o silencio reinando entre nós dois, e então, voltei-me para ele que estava com os olhos baixos, perdido em pensamentos, eu tinha que falar alguma coisa, eu não podia ficar ali que nem uma estátua vendo o amor da minha vida ir embora assim, do nada, por causa de alguém que eu nem gostava, quer dizer, confesso que o Wood de alguma maneira estava conseguindo me amolecer, mas, por Deus, eu amava o Sirius desde que me conhecia por gente, não ia perder ele assim, não agora, não depois de tudo que eu já tinha feito para conquista-lo. Eu tinha errado, mas não podia deixar aquilo continuar daquele jeito, eu tinha que fazer alguma coisa, mas o que? Não podia dizer a ele que o amava, podia?
— Six... – Eu disse, baixinho, com a voz rouca devido ao choro entalado em minha garganta, e ele levantou os olhos, me encarando, fazendo-me sentir um frio na barriga. – Você entendeu tudo errado. Eu não gos...
— Hey, Almofadinhas! – Parece que esse povo estava ficando mestre em chegar correndo do nada, chamando pelo Sirius. Parei minha frase no meio porque, naquele instante, o Potter, o Remus, a Lilly e Emme entravam apressados na ala-hospitalar. Parecia que aquele era mesmo o meu dia de azar. O Sirius desviou os olhos de mim para ver James a frente, chegando à beira da cama onde eu estava e parando, para nos observar, ele olhou para nossas mãos que ainda estavam dadas e então pigarreou. – Tô atrapalhando alguma coisa?
Por que as pessoas, quando realmente estão atrapalhando alguma coisa, perguntam isso? Dãaar.
Eu pigarreei, típico nesses casos, e puxei minha mão, soltando da mão de Sirius que, coçou a cabeça sem jeito, negando em seguida.
— Não, não... nada. O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Nãoo, Imagina James, você só estragou tudo. O que seria de mim agora?
Eles se aproximaram da cama e James coçou a cabeça, sem jeito, acho que ele não era tão lerdo quanto o Sirius, ele percebeu que alguma coisa estava acontecendo entre nós, mas não disse nada, apenas pigarreou e disse:
— Más notícias.
— Aí pelas cuecas de bolinha do meu amado Mérlin, não diga que é aquele verme de novo. – O Sirius franziu a testa e me olhou, provavelmente pensando no que eu honestamente queria esquecer: aranhas.
— Será que podemos colocar veneno na comida dele ao invés de merda nas roupas? Acho mais lucrativo. – Veio dizendo Emme e eu concordei com a cabeça, e com todo o meu ser. Muito mais lucrativo, esse moleque estava enchendo meu saco, já, e ele iria pagar muito caro pela maldita encomenda.
Lilly soltou uma risada alta e Remus abafou uma risadinha, Sirius riu e olhou para mim, que acabei rindo junto e todos nós gargalhamos. Excelente ideia, Emme, vamos colocar veneno na comida dele!
— Seria ótimo, mas... – Disse Remus, eu acho que ele podia tirar o “mas”.
— Seria maravilhoso, eu não ligo, não. – Disse o Sirius e dessa vez, eu ri. Claro que eu também não ligava. Doce ilusão.
— Será que seriamos pegos? Tem como descobrirem? – Indagou James e todo mundo riu, enquanto Lilly dava um tabefe no braço dele, de brincadeirinha, mas que eu acho que doeu.
— Ai, Deus, nem brinque com uma coisa dessas, Jay. – Hummmm, Jay? Ulalá, parece que tem pessoas escondendo coisas demais de mim por aí. Quando é que começou essa intimidade entre eles? Eu adoraria saber!!!
Eu não fui a única a notar, Sirius olhou para mim e ergueu uma das sobrancelhas, dando um sorrisinho, e Emme abaixou o rosto, colocando a mão na boca para abafar uma risadinha. Como o amor é lindo, né... só que não, não para mim, naquele momento.
Seria bom eu só esquecer a conversa que o Sirius teve comigo um tempo atrás, porque só de pensar, meu coração já abria uma cratera e soterrava todo o meu ar lá dentro. Pigarreei, antes de dizer:
— Por mim, ele merece sofrer bastante antes. – Ninguém disse nada por um tempo, estavam, com certeza, lembrando da minha cena de histerismo no quarto um tempo atrás.
— Mas, e então, o que ele fez dessa vez? – Perguntou Sirius, acordando todos de seus pensamentos.
James puxou duas cadeiras que estavam perto de outras camas e deixou que Lilly se sentasse em uma e Emme em outra, enquanto ele sentava de lado na cama ao lado da minha, próximo de Sirius, Remus ficou atrás de Emme, com a mão em sua cadeira, tocando imperceptivelmente nas costas dela quando ela recostou-se a cadeira.
— Descobrimos que não estão todas as memórias naquele vidro. – Começou James e eu arregalei os olhos. Sirius olhou para James, assustado, fechando a mão em punho, sinal de que estava ficando com raiva.
— E que ele escondeu, em algum outro lugar, a memória de nós invadindo o dormitório deles. – Concluiu Remus, e eu senti meu queixo caindo. Como assim? Então fizemos tudo, por quase nada? Quer dizer, tínhamos a memória da briga, mas não tínhamos nenhuma memória do dormitório? O que era, obviamente, o pior de todos. A briga, eu tinha certeza que não levaria a expulsão, talvez uma suspensão de todos os envolvidos, incluindo o Snape, talvez, dependendo se tivesse a cena toda ali, mas a do dormitório, não teria nenhuma escapatória, seria expulsão na certa. Como diria minha mãe, sem choro, nem vela.
— Então fizemos tudo por nada? – Eu disse, exasperada, e James fez uma cara de “sinto muito, mas é isso aí”. Não conseguia acreditar no que meus ouvidos estavam ouvindo.
— Como vocês descobriram isso? – Sirius fez a pergunta principal, eu só estava pensando na próxima pergunta.
— No salão principal. – Começou James, mas foi a Emme que concluiu.
— Na verdade, nós estávamos descendo para jantar, e eu esqueci um livro que precisava devolver no salão principal e resolvi voltar correndo, falei para Lilly ir com o James e o Remus, que eu ia correndo e já voltava. Quando eu estava voltando, no caminho para o salão principal, eu vi o Snape e me escondi. Ele estava conversando com um menino, um que estava com ele quando ele brigou com os meninos de manhã. Eu ouvi ele falando das memórias.
Prendi minha respiração.
— Ele te viu? – Perguntou Sirius e eu quase disse: “Shiuu, deixa ela continuar!”. Mas Emme só negou com a cabeça e continuou.
— Ouvi claramente ele falando que vocês não iam encontrar nada, que a do dormitório ele tinha escondido aquela tarde e no outro dia, no horário do almoço ele buscaria e entregaria ao diretor.
— Ele disse onde estava escondido? – Eu perguntei, sentindo minhas pernas fracas, ainda bem que eu estava deitada.
— Não, mas... – Ela disse e eu prendi a respiração novamente.
— A Lilly faz ideia de onde esteja. - Concluiu James. Claro, a Lilly. Olhamos para a Lilly, que deu de ombros.
— Eu disse antes, ele tinha alguns esconderijos. – Que droga, por que esse cara era tão doente? Quem criava um milhão de esconderijos num castelo?
— Deixe-me adivinhar. - Eu comecei. – Vamos ter que subir outra escada claustrofóbica? – Emme deu uma risada debochada, e eu ergui as sobrancelhas. Era pior do que uma escada claustrofóbica? – Não tem acro... ah, aquela coisa lá, não, né?
Melhor eu já ir me preparando.
— Lene, você não precisa ir. Na verdade, viemos para dizer que nós vamos, você fica e o Sirius fica com você aqui.
— O QUE? Nem pensar que eu vou ficar aqui, eu quero saber tudo! – Eu disse exasperadamente, mas o Sirius não disse nada. Olhou para a Lilly, depois olhou para o James.
— É na floresta. – Respondeu James a pergunta muda do Sirius e eu arregalei os olhos. Como assim na floresta? Eles piraram de vez?
Eu já devo ter comentado que somos um castelo no meio do nada, certo? O lugar mais próximo de nós é o Hogsmead, e o castelo é cercado pela floresta negra que, obviamente, é terminantemente proibida para todos aqueles que não querem ter uma morte dolorosa e cruel, obvio que ninguém nunca precisou me dizer para não ir lá porque o lugar, só de olhar de longe, já é bem sinistro, as arvores são enormes já na entrada, e quando você chega perto, você ouve só o barulho da mata, só Mérlin sabe o que tem lá no meio daquela floresta, e se o Snape tinha um esconderijo lá no meio, ele era, definitivamente, doente.
— É loucura ir até lá, cara. – Disse o Sirius e o James deu de ombros.
— Não podemos arriscar, se ele entregar a memória para o Dumbledore, todos nós vamos ser expulsos.
— Ah qual é, o professor Dumbledore não vai nos expulsar. – Disse o Sirius e o James ergueu as sobrancelhas e ficou encarando o Sirius, quieto por um tempo.
— Cara... – Ele começou, parou e depois de um tempo continuou. – Você conhece aquele panaca.
— O sonho da vida dele é nos ver expulsos, Sirius, você sabe disso. – Disse Remus, e eu olhei para os meninos, assustada. Como eles conseguiram viver ali, sete anos, com aquele moleque infernizando a vida deles? Quer dizer, eu aposto que eles também infernizaram a vida do Snape o suficiente, mas de onde surgiu esse ódio todo?
Sirius não disse nada, colocou as duas mãos no rosto, parecia preocupado.
— Nós vamos, você fica com a Lene. – A voz de James me fez olhar dele para Sirius, tinha uma entonação de quem queria dizer que a preocupação do Sirius não era exatamente só serem expulsos.
— Não. – Eu disse, e o Sirius ergueu o rosto, ficando com as mãos no ar como se ainda estivesse com o rosto ali, e me encarou. – Eu vou junto.
— Lene... – Ele começou e eu encarei ele de volta. – Tem aranhas lá. – Eu engoli a seco e assenti com a cabeça, eu não ia voltar atrás.
— Eu também estou naquelas memórias, e eu não vou deixar a Lilly e a Emme irem sozinhas, quer dizer, eu sei que vocês vão estar junto, mas... Eu quero ir.
Honestamente? Eu nem sei porque eu estava dizendo aquilo, mas uma raiva pulsava nas minhas veias, o Sirius acabara de me dizer a minutos atrás que estava abrindo mão de mim porque não sabia o que sentia e agora queria me proteger? Ele mesmo dissera que não sabia o que sentia, então por que estava tão preocupado comigo? Uma parte de mim queria mostrar para ele que sabia se cuidar sozinha muito bem, não precisava dele ou da preocupação dele.
— Eu sei me cuidar, Okay? Não sou nenhum bebezinho. – Eu disse por fim, afastando um lençol que estava sobre minhas pernas e me virando de lado na cama, colocando as pernas para fora da cama, para descer, mas antes que eu finalmente descesse da cama e pisasse no chão, outra pessoa entrou correndo na enfermaria.
Aquele era o dia, heim.
O Wood vinha correndo, parando à beira da minha cama, próximo de onde todo mundo estava sentado. Olhei para ele e vi o Sirius me olhando. Droga. Era só o que faltava, o bendito do Wood para o Sirius poder dizer que eu podia ser todinha do cara que eu não queria ser, de fato.
— Graças a Merlin encontrei vocês. – Lá vinha bomba.
— O que aconteceu? – Perguntou Emme, exasperada.
— Eu acabei de deixar aquele filho da puta com o olho roxo. – Ele chegou dizendo, meio arfante, e eu arregalei os olhos.
— Como é?  - Ele parou do outro lado da minha cama.
— Quando eu soube o que ele fez com você, Marlene, eu fiquei muito puto. Quando estava saindo do salão principal, eu vi ele e perdi a cabeça. Dei um murro na cara dele. – Lilly levou as mãos a boca e Emme encarou o Wood, com os olhos arregalados, eu estava fazendo a mesma coisa, fiquei olhando para ele, assustada. Meu Merlin, quantos mais iriam se meter nisso?
—Você tá louco? – Eu perguntei, exasperada. – Ele vai querer se vingar de você agora!
Ele deu um risinho de quem já dizia, “já estamos mais ferrados do que isso”.
— Na verdade, não tô preocupado com isso, mas com outra coisa que ele me disse. – Ergui a sobrancelha, esperando o pior chegar. – Ele disse que amanhã cedo, todos vocês estariam expulsos.
— Amanhã cedo? – Eu e a Lilly dissemos quase ao mesmo tempo, antes da Emme perguntar em seguida:
— Mas ele não ia na hora do almoço buscar as memórias?
— Que memória? Pensei que vocês tivessem pego tudo já. – Disse o Wood e eu notei que o Sirius evitou olhar para ele.
—Na verdade, não conseguimos a da invasão. – Disse Emme, dando um sorrisinho amarelo e Wood arregalou os olhos.
— Então eles ainda têm uma carta na mão contra vocês? Mas que droga!
— Temos que ir. Estamos perdendo tempo. – Disse Remus, e eu concordava com ele, quanto mais tempo demorássemos, mais tarde ficaria, e eu não estava afim de entrar no meio daquela floresta no meio da madrugada, e agora, com a notícia do Wood significava que teríamos que ir na floresta essa noite, não poderíamos esperar até o outro dia.
— Vocês já sabem onde está? – Indagou o Wood e a Lilly assentiu com a cabeça. – Então é melhor irmos logo, antes que ele pegue antes da gente.
Eu concordei com um aceno de cabeça e a Emme e a Lilly também, porém o Remus e o James não disseram nada, e o Sirius coçou o queijo, como se estivesse desconfiado de alguma coisa, antes de finalmente dizer:
— Não consigo entender uma coisa... – Olhei para ele e vi que ele estava agora olhando para o Wood com uma das sobrancelhas erguidas. Ele estava desconfiado do Wood ou era impressão minha? – Por que é que, de repente, você ficou tão interessado nessa memória.
O Wood encarou o Sirius e ergueu as duas sobrancelhas, apontando o dedo para si mesmo.
— Eu? – O Sirius deu uma risadinha debochada. O James e o Remus ficaram olhando, sem dizer nada. – Acho que eu já disse meus motivos.
— Disse? – Perguntou o Sirius com ar de incrédulo, ele realmente estava desconfiando do Wood, o tom de voz dele era o mesmo que ele usara quando disputara eu com o Wood no jogo imperium ou veritasserum na beira do lago naquele sábado, à noite. – Não estou lembrado.
— Você tá com algum problema comigo, Black? – Wood deu um passo à frente e praticamente encostou na minha cama, encarando o Sirius de frente, o Sirius cruzou os braços e ergueu o rosto, encarando o Wood de volta, e eu fiquei ali, olhando de um para o outro sem entender porra nenhuma. Por que o Sirius estava daquele jeito com o Wood agora? Quer dizer, o Wood já tinha nos ajudado antes e ele não dissera nada.
— É, eu tô com um problema contigo, Wood. E aí? – O Wood olhou de Sirius para James, mas James não disse nada, ficou olhando para o Wood quase com o mesmo olhar do Sirius, mas um pouco menos agressivo. Eles estavam mesmo desconfiados e o Wood percebeu isso.
— Eu já disse, não quero que a Marlene seja expulsa, não vou deixar isso acontecer. – Ele disse, olhando para o James, depois voltando o olhar para o Sirius. – Então eu vou ajudar no que for.
— Humm. – O Sirius ficou ali, coçando a barba linda que eu adorava (Ele fica tão sexy com aquela barbinha por fazer, santo Merlin) e encarando o Wood que cruzou os braços e ficou encarando o Sirius de volta. Eles iam ficar daquele jeito até quando?
— Hey! Será que dá para vocês pararem com essa briguinha idiota de homens e se focarem no mais importante? O Snape vai buscar a memória até amanhã cedo, e precisamos pegar antes dele!
Eu disse, estalando o dedo na frente do Sirius e do Wood e fazendo todo mundo me olhar, eu vi as meninas assentiram, pelo menos elas concordavam comigo, né.
— A Lene tem razão, eu não tô afim de ser expulsa, então se eu fosse vocês, resolvia essa coisa de vocês quando voltarmos e tivermos resolvido isso tudo.
— As meninas tem razão. – Disse o Remus, finalmente, e o James desviou os olhos de Wood, suspirando, Sirius continuou coçando o queixo, mas dessa vez não disse nada.
— Então, quem vai? – James perguntou e eu ergui a mão de imediato, o Sirius me olhou e negou com a cabeça, devagar, como quem diz “essa daí só se mete onde não deve”, eu sorri, cheia de mim, e esperei os outros.
Era obvio que a Lilly precisava ir, então ela ergueu a mão, obvio que, se a Lilly ia, o James também iria, ele jamais deixaria ela sozinha no meio da floresta sem ele por perto para protege-la, né, então ele ergueu a mão em seguida. Emme ergueu a mão e Remus ergueu em seguida. O Sirius olhou para o Wood e ele ergueu a mão, por fim, o Sirius olhou para mim e então ergueu a mão, dando de ombros.
— Ótimo. – Eu disse, finalmente descendo da cama, mas eu não conseguiria passar porque o Sirius estava sentado no meu caminho, então parei próxima a ele e fiquei esperando ele sair da minha frente, mas ele continuou sentado, a vontade. – Então vamos logo.
James desceu da cama e parou ao lado da Lilly que se levantou, assim como a Emme.
— Vamos sair separados, Okay? Melhor não chamarmos a atenção. – Disse o James e nós assentimos, enquanto ele esticava a mão para Lilly que a segurou, e eles saíram andando de mãos dadas, eu acharia lindo e zoaria eles, se aquele fosse o momento, mas não era, por isso guardei essa informação na minha cabeça para zoar a Lilly mais tarde.
A Emme olhou para mim e depois para o Sirius e fez uma carinha estranha de quem diz “mau jeito amiga?”, eu dei de ombros e acho que ela entendeu que as coisas não estavam lá mil maravilhas, aquele domingo estava sendo o pior da minha vida em décadas, se eu tivesse décadas de vida, é claro.
— Eu vou passar no salão comunal para pegar um casaco, você quer alguma coisa, Lene? – Ela me perguntou e eu neguei com a cabeça, vendo ela olhar para o Remus e dizer baixinho.  –Você vai comigo? – Ele assentiu, sorrindo, sem jeito e os dois saíram andando, e lá estava eu, mais uma vez, entre o Sirius e o Wood
O Sirius não se moveu um milímetro sequer da cadeira, mesmo quando eu dei um passo à frente e relei minha perna na cadeira dele, ele apenas ficou olhando para o Wood com um sorrisinho no rosto, um sorrisinho bem irônico, diga-se de passagem.
— Marlene, você quer que eu... – O Wood começou a dizer, e o Sirius o cortou, dizendo:
— Acho que você vai precisar de um casaco sim, Lene, não seria melhor o Wood pegar um com a Emmelina, e levar para você? – Ele olhou para mim, e depois olhou para o Wood, que ergueu a sobrancelha e olhou para mim, eu suspirei e assenti, sorrindo, sem jeito, para o Wood.
— Você pode...? – Eu disse, sem jeito, e o Wood suspirou, dizendo:
— Claro, Marlene. Encontro você lá em baixo. – Ele saiu andando e eu encarei o Sirius, sem entender patalhufas. O que ele estava fazendo?
Cruzei os braços e fiquei encarando ele, que virou o rosto e ergueu os olhos para me olhar parada ao lado dele, e então me deu um sorriso imenso, a coisa mais linda, e eu quase perdi a noção de quem eu era e onde estava.
— O que foi? – Eu disse, por fim, tentando voltar a respirar. Ele cruzou os braços e ficou me olhando, dessa vez mais sério.
— Tem certeza que você quer ir? – Eu ergui uma das sobrancelhas e o encarei, com os braços cruzados, agora ele queria dizer o que? Que eu era fraca ou frágil demais?
— E por que eu não iria? Está querendo dizer o que, Sirius? – Ele percebeu que eu estava ficando zangada e segurou minha mão, puxando-a para ele, me pegando totalmente desprevenida.
— Lene, eu só estou preocupado com você. Nós vamos no meio da floresta, aquele lugar é... sinistro. – Ele disse, meio sem jeito, com todo o cuidado e eu fiquei olhando para ele, num misto de “estou com raiva, mas você me amolece e eu não sei se quero amolecer”, sabe?
— Eu sei me cuidar. – Eu disse, por fim, desviando os olhos dos dele e começando a sentir aquele peso que só ele era capaz de causar dentro de mim. Ele se levantou e afastou a cadeira para trás e me olhou, segurando minha mão, então levou ela até os lábios e beijou-a, carinhosamente.
— Me desculpe... por antes, aquela conversa, se eu te deixei... chateada, ou sei lá... – Eu engoli em seco e o olhei. Era a minha chance de dizer para ele que era tudo um equívoco.
— Sirius... – Eu comecei, mas ele sorriu e negou com a cabeça, beijando minha mão novamente antes de dizer.
— Okay, eu vou estar lá de novo se aparecer alguma... você sabe... aquele bicho que começa com a letra A. – Ele fez uma caretinha e eu ri, me desmanchando em seguida.
— Vai me proteger, então? – Eu disse e ele piscou, abrindo aquele sorriso lindo no rosto.
— Com certeza absoluta, serei o seu cavalheiro. – Eu ri alto. Ele era assim, me deixava zangada num segundo e mais amolecida que gelatina quente depois.
— Oh, meu Sir Lancelot! – Ele riu e colocou a mão na cintura para que eu enganchasse o braço nele, e foi o que eu fiz, antes dele sair me guiando em direção a saída da ala-hospitalar.
Quando chegamos no corredor eu parei e ele parou em seguida, me olhando, sem entender porque eu havia parado, engoli a seco e o olhei, tentando tomar a coragem de fazer o que eu nunca tinha feito em toda minha vida.
Parei a frente dele e me ergui, ficando na ponta dos pés e aproximei meu rosto do dele e deixei com que meus lábios tocassem de leve nos dele, o que ele me deixou fazer e imediatamente colocou as duas mãos na minha cintura me segurando, entreabrindo os lábios e fazendo o selinho se tornar um beijo suave, calmo, com a língua dele se enroscando na minha e me fazendo sentir que estava sobre uma nuvem e ouvindo sinos tocando ao longe.
Quando os lábios dele se afastaram dos meus, voltei a mim e olhei para ele, ainda na ponta dos pés, olhando o rosto dele na minha frente, então eu disse, baixinho, mas o suficiente para ele ouvir.
— É de você que eu gosto! – Voltei a minha altura normal e sorri para ele, e então saí andando, deixando-o ali, parado por um segundo, antes de correr atrás de mim e segurar minha mão, voltando a fazer eu enganchar o braço no dele e seguimos andando em direção a saída do castelo.



Descemos as escadas e chegamos ao átrio, pela porta que daria ao jardim eu já podia ver a luz da lua cheia que iluminava o gramado à frente, passamos por ela e eu percebi que o Sirius estava meio calado, não brincalhão ou falante como sempre, parecia introspectivo, eu queria dizer mil coisas porque aquele jeito dele estava me matando, será que ele não gostara de ouvir o que eu dissera? Será que eu fizera errado em dizer aquilo? Eu nem sabia porque dissera aquilo, talvez só não quisesse que ele desistisse de mim, não agora que parecia que ele sentia alguma coisa, mas eu tinha medo de ser tão óbvia e afastar ele, ele fora bem direto na ala-hospitalar, ele não sabia o que sentia por mim, e se ele não sabia não ia ajudar em nada eu me declarar, era capaz de assustar ele ainda mais. Tentei parar de pensar naquilo tudo enquanto caminhávamos pelo gramado em direção ao lago, o mesmo lago onde ele havia me beijado de verdade pela primeira vez, tentei não pensar nisso também quando nos aproximamos, todo mundo já estava esperando por nós.
Quando nos aproximamos deles, o James estava falando alguma coisa que eu só peguei poucas palavras, e o Wood se aproximou de mim carregando nos braços um casaco de frio que eu conhecia muito bem, era o meu casaco vermelho da Grifinória, não era a melhor escolha já que eu estava prestes a quebrar mais umas mil regras do castelo, mas não disse nada e agradeci, sorrindo.
— É melhor ficarmos próximos, eu vou na frente para ir abrindo o caminho, a Lilly vai atrás me guiando até o lugar e... Você fecha a retaguarda, Sirius? – O James era um líder nato, ninguém precisava dizer para ele liderar alguma coisa ou tomar alguma decisão, ele tomava naturalmente, ele liderava naturalmente, eu já notara aquilo antes e a cada dia mais que convivia com eles, mais eu notava isso, se eles fossem uma matilha de lobos, o James seria o Alpha e o Sirius o Delta. O Sirius assentiu e o James seguiu a frente, segurando a mão da Lilly e entrando por entre uma trilha que já parecia marcada. Eu respirei fundo e esperei enquanto o Remus estendia a mão para Emme e seguiam atrás da Lilly, o Remus atrás da Emme protegendo ela, ou era o que parecia, e eu fiquei ali, se o Sirius era o último, eu tinha que ficar entre o Wood e ele? Lembrei das palavras dele de que não sabia ao certo o que sentia, de que eu podia ficar com o Wood, e então olhei para o Wood e dei o meu melhor sorriso, o mais lindo e ensolarado para uma noite de lua cheia e então segui atrás do Remus, com o Wood vindo atrás de mim, deixando o Sirius para trás, eu não olhei para ver quanto tempo ele demorou para nos seguir, mas eu só queria mostrar uma coisa: Se ele queria que eu fosse de outro, então eu seria de outro.
Princípio básico, se um cara te diz que você pode ficar com outro, não titubeie, fique com outro, e mostre que você não tem medo disso, se ele não sabe o que quer, não merece o que tem.
O Wood colocou a mão carinhosamente nas minhas costas, como que querendo dizer que estava ali, me protegendo e eu não precisava temer nada. Eu só esperava não encontrar nenhum daqueles bichos nojentos aqui... você sabe do que estou falando, né.
Apesar da lua cheia iluminar bastante a noite, quando adentramos no meio da mata foi como se a lua apagasse sua luz, ali, a luz da lua mal penetrava por entre as arvores muito juntas e com as copas grandes e frondosas que não deixava a claridade da lua penetrar, e se a luz da lua já era difícil de entrar, pelo jeito a luz do sol também durante o dia, porque tanto as folhas e a terra no chão da trilha que seguíamos eram úmidos, quanto as folhas dos galhos que iam roçando nos meus braços, com pequenas gostas deixando-me molhada aos poucos, o que me fez colocar o casaco antes que me sentisse congelando, afinal, a nevoa da floresta era tão fria como se estivéssemos entrando num congelador.
Tentei me focar em onde eu pisava, mas era difícil olhar para baixo e tomar cuidado com as folhas ao mesmo tempo no meio daquela mata que ficava cada vez mais densa e mais escuro, por isso, diminui o passo e vi uma luz iluminar a minha frente, então olhei para trás e vi o Wood, sorrindo, segurando na mão a varinha com ponta acesa pelo feitiço Lumus, e sorri de volta, diminuindo os passos e deixando ele ficar quase ao meu lado, ele segurou minha cintura com cuidado quando se aproximou.
— Boa ideia. – Eu sorri e ele sorriu de volta, dando de ombros.
— Você já está melhor? Quer dizer, não está assustada ou com medo... – Dei de ombros e olhei a volta, vendo a sombra de algum bicho numa folha, mas desviando os olhos em seguida, tentando não prestar atenção ou imagina o que poderia ser, eu não queria pensar naquele bicho, muito menos que ali deveria ter muito mais e piores. Não, não podia pensar, então passa para o próximo pensamento.
— Ah.. melhor não pensar muito no que tem aqui, vai que atrai as irmãzinhas dela né? – Eu ri e ele riu junto, concordando com a cabeça.
— Não se preocupe, se elas aparecerem eu dou um jeito nelas. – Ele disse, dando uma de herói, e eu ri.
— Da família inteira? – Fiz uma carinha de quem queria dizer, imagina uma família inteira de aranhas, a mãe, o pai, os filhos mais velhos, os do meio, os caçulas, os tios, as tias, os primos, as primas, o vovô, a vovó, aranha era um bicho tipo coelho, se reproduz muito rápido, não que eu soubesse ou quisesse realmente saber disso, mas perceba, se você não tirar uma casinha de aranha onde tem uma pequenininha morando lá, logo, logo aquela uma se transformou em meia dúzia, incrível isso.
— Muito grande? – Ele fez uma carinha tão inocente que eu não resisti e gargalhei alto, e ele riu junto.
— Eu nem quero imaginar quão grande pode ser essa família, viu, uma só já foi suficiente para mim.
— Uma família inteira de aranhas até eu viro uma menininha. – Eu gargalhei enquanto ela começava a imitar uma menininha histérica, tipo eu Hahaha =B. – Ahhh! Aranha! Aranha!
Enquanto ele falava com aquela vozinha aguda, histérica e fingia dar pulinhos igual uma menininha, eu gargalhava a plenos pulmões, se nossa intenção era passar despercebido, não estava rolando muito naquele momento.
Quase sem folego, dei um tapa no braço dele, ainda rindo e ele parou, rindo em seguida, e eu percebi que a Emme e o Remus estavam observando a gente e rindo na frente, como se tivessem prestado atenção a toda a cena da menininha histérica, e eu olhei para eles e sorri, cumplice daquela loucura.
Continuamos andando, a Emme e o Remus a frente, agora conversando entre si, eu e o Wood e o Sirius atrás, calado, na dele. Dei uma olhadinha de soslaio para ele, mas ele não estava olhando para a frente, estava olhando para a trilha de folhas úmidas por onde seguíamos.
— Sabe, eu nunca contei isso para ninguém. – Desviei os olhos do Sirius e olhei para Olívio Wood, muito mais próximo de mim e ele me olhou, dando um sorrisinho tímido. – Mas eu também tenho um medo.
— De aranhas? – Eu perguntei, distraída, olhando para a frente e desviando de alguns galhos maiores que estavam surgindo no caminho, a mata parecia estar ficando mais densa e a trilha parecia estar acabando, mas ela ainda continuava lá, mais fraca e mais úmida conforme íamos adentrando mais a floresta.
— Não. – Ele deu uma risadinha e eu olhei para ele pelo canto dos olhos, mas ele estava mais sério, olhando para o caminho por onde pisava.
— Quando eu tinha cinco anos eu estava brincando com umas crianças que moravam perto de casa, e um coleguinha veio correndo com uma coisa na palma da mão, era pequeno e muito negro, quando ele chegou perto de mim e das minhas amiguinhas e eu vi aquele bicho preto, com tantas pernas peludas, e aquelas pinças... – Parei de falar, engolindo a seco e sentindo o pânico percorrendo meu corpo apenas de imaginar a aranha e aquela cena. Demorei alguns segundos para voltar a falar, mas ele esperou pacientemente. – Eu senti como se eu estivesse caindo do quinto andar, sem ter onde segurar, foi uma coisa aterrorizante, eu saí correndo e chorando, soluçando, e passei uma semana inteira sentindo aquelas perninhas andando em cima de mim mesmo que sequer tivesse as sentido de verdade. Eu não sei se já sentia medo antes ou se senti a partir daquele dia.
— Os medos nem sempre tem um porquê, mas se tiverem, com certeza vieram da infância.
Eu não sabia bem porque estávamos falando daquilo, quer dizer, falar de aranha no meio da floresta onde provavelmente estava lotado delas e no meio da noite não era um assunto nenhum pouco agradável.
— Eu tenho medo de fantasmas também, mas espero que não tenha visto nenhum na minha infância. – Eu disse e ri, só de me imaginar numa cena do filme trouxa que a Lilly adorava “Poltergeist”, ele riu junto e negou com a cabeça levemente.
— Imagine, ter visto alguém puxar seu pé na cama a noite ou alguma coisa saindo do armário.
Eu ri e me encolhi ao mesmo tempo, me abraçando com meus próprios braços.
— Okay, podia ser o barão sangrento.
Ele me olhou e arregalou os olhos e então riu, alto.
— Tem certeza que queria o barão sangrento? Ele sabe ser aterrorizante para as crianças do primeiro ano. – Pensei bem e fiz uma careta, concordando.
— Puts, então com certeza foi ele mesmo que eu vi. – Ele riu e passou o braço por volta do meu ombro enquanto eu continuava me abraçando com as minhas mãos.
— Tudo bem, não se preocupe, eu te protejo.
— Do Barão Sangrento ou das aranhas? – Ele deu um sorriso enorme enquanto eu o olhava de lado.
— Dos dois. – Eu não consegui conter o riso e ri, fazendo ele me olhar com desaprovação.
— Falou o Cavalheiro da Távola Redonda, o Rei Arthur. - Se ele fosse o Rei Arthur, o  Sirius era o Lancelot, Ai como eu era louca pelo Lancelot e aquele ar todo cavalheiro nobre e sedutor dele.
— Hey, isso foi sarcasmo? Está querendo dizer o que com isso, Senhorita Muller? – Eu soltei uma gargalhada e me desvencilhei dele disfarçadamente, fingindo que ia coçar a perna, então me ergui e afastei um galho de árvore. A mata estava ficando cada vez mais e mais densa, mais escuro e as arvores maiores e mais juntas, o vento frio da névoa que subia das arvores me faziam tremer de leve, e era uma sorte eu estar agora de casaco ou estaria congelando. A trilha já mal parecia uma trilha e se não fossem pelas luzes das varinhas estaria um breu absoluto, por isso todo mundo agora usava a varinha para iluminar o caminho que parecia não ter fim, eu estava perdendo a noção do tempo ali e estava me focando firmemente na conversa com Wood para não prestar atenção de fato a nosso redor, se fosse olhar bem parecia que a mata se mexia sozinha e que tinha alguns bichos estranhos que eu, honestamente, não estava nenhum pouco afim de descobrir agora.
— Não, imagina, que isso. – Eu disse, bem ironicamente, e ele fez uma cara de malvado que me fez rir alto e então, num segundo, inesperadamente e muito rápido, alguma coisa passou correndo mais a nossa frente e me fez parar, congelada no lugar, o riso sumindo da minha garganta e a boca ainda entreaberta como se eu estivesse rindo ainda, só que sem a voz, como se fosse um cinema mudo, e no segundo seguinte eu estava dando um grito e um pulo para trás, batendo as costas no corpo de Wood que me abraçou protetoramente.
— MERLIN! O que foi aquilo? – Meus olhos estavam arregalados e eu sentia agora meu coração pulsando rápido e meu corpo trêmulo, como se eu tivesse de fato visto um fantasma ou coisa pior, o que poderia ter sido aquilo? ¾ Era um urso? Um tigre? Um leão?
Minha imaginação estava indo longe.
— Calma, deve ter sido só um veadinho. – Veadinho? Veado? Eu pensei imediatamente naqueles desenhos animados que a irmã da Lilly gostava de assistir na televisão trouxa quando ia passar as férias na casa dela. Eu nunca tinha visto pessoalmente um veado, só sabia como era em desenhos e placas de estrada onde dizia “Cuidado, veados à solta”. Veados à solta? Isso era bem inusitado.
— Veado? Tem certeza? A mata parece muito junta para ter veado. – Ele me olhou e franziu a testa.
— Ué, o que você acha que era? Não tem ursos aqui, relaxa. – Ele riu e eu fiz cara de pensativa, será mesmo que não tinha? E se fosse um unicórnio? Lobisomem? Eu disse que minha imaginação estava indo longe, né.
— E unicórnios? – Ele me olhou de lado e riu e eu fechei a cara. – Qual é? Só porque você nunca viu nenhum não significa que não exista, Okay, meu pai já viu um perto do vale onde moramos.
Ele continuava rindo.
— Claro! – Ergui uma das sobrancelhas e olhei para ele. Ele estava rindo de mim?
— Será que tem lobisomens aqui? – Wood riu, mas não respondeu, quem respondeu foi outra pessoa que eu quase esqueci que estava ali próximo de nós.
— Tem mais do que lobisomens aqui. – Olhei para trás e o Sirius estava as minhas costas, não estava rindo, parecia sério, bravo na verdade, como se tivesse visto alguma coisa que não gostou ou acabado de sair de uma discussão, ele não parecia com cara de bons amigos, bem pelo contrário, talvez estivesse com fome, homem com fome sempre fica com essa cara de mal-humorado, pelo menos era o que minha mãe sempre me dizia quando meu pai ficava assim.
— Tá tudo bem? – Eu disse, baixinho, olhando para ele, mas ele não me olhou direito, passou por mim e disse, antes de seguir a nossa frente.
— Vamos logo, estamos ficando para trás. – E saiu andando, sem nem olhar para mim direito ou sorrir com minhas brincadeiras, nada, simplesmente parecia que eu tinha batido de frente com um Iceberg tipo o filme trouxa Titanic e agora eu estava afundando. Baixei os olhos e olhei para o caminho úmido de folhas molhadas mal pisadas que parecia na verdade nunca terem sido trilha de ninguém, e segui atrás dele, quieta, acho que o Wood percebeu minha mudança de humor, mas não disse nada, apenas colocou uma mão protetoramente nas minhas costas e seguiu atrás de mim, quieto também, deixando apenas o som dos nossos pés e o CRUSH CRUSH que os sapatos faziam nas folhas e terra úmida conforme íamos pisando nelas. Olhei para cima tentando ver a lua, mas dali não era possível vê-la, apenas várias copas de arvores tão grandes que pareciam tocar o céu, parecia que não tinha fim, que se você subisse em uma delas e fosse até o topo acabaria pisando nas nuvens como a história trouxa que a mãe da Lilly contou uma vez, do João, do pé de feijão, e então encontraria um reino, gigantes e a galinha de ovos de ouro.
Continuamos andando por mais um tempo, meus pensamentos viajaram para diversos lugares enquanto caminhávamos naquele mato frio, fiquei pensando no animal que passou a nossa frente, se devia mesmo ser um veado ou outro animal, eu não conseguia imaginar que tipo de animais deveriam morar ali, quer dizer, não tinha nenhuma cerca propriamente dita que separasse o castelo da floresta então como eles não invadiam a escola? Eu não fazia a menor ideia de uma resposta para aquela pergunta, e talvez nem tivesse uma resposta exata, talvez os animais ficassem ali porque ali era o lar deles e não tinham porque sair, e eu esperava que isso servisse também para aqueles animais nojentos que eu odiava. Acabei me lembrando que o Wood não me dissera que tipo de animal ele tinha medo, me virei para trás para olhar para ele, que também estava quieto, perdido em pensamentos.
— Você não me disse. – Ele demorou para perceber que eu estava falando com ele e quando ergueu o rosto, pareceu nem ter ouvido o que eu dissera.
— O que? – Eu ri, fracamente.
— Você não me disse... do que você tem medo. – O rosto dele pareceu acordar e ele sorriu, sem jeito.
— Acabei me esquecendo.
— Tá tudo bem, eu não vou rir de você, nem nada do... AI! – Minhas palavras ficaram perdidas no ar ou foram engolidas com tudo por minha boca no instante em que eu colidi de frente com algo duro e maciço, como eu estava com o rosto virado para trás enquanto andava (olha que ser inteligente, quem anda para frente olhando para trás? Tinha que ser a burra da Marlene), eu não vi o que era, só senti o baque do meu corpo, meu seios chocando com tudo com alguma coisa maciça, quente e dura, olhei para a frente rapidamente e instintivamente coloquei a mão a frente, para me proteger, o que já era tarde demais, e então percebi que o que eu tinha chocado eram as costas do Sirius, minhas mãos seguraram as costas dele e eu me afastei, chiando, enquanto ele virava para trás para me olhar, com as sobrancelhas erguidas, como quem diz “Você não olha por onde anda, não?”, dei um sorriso amarelo em resposta: “não”.
— Acho que chegamos. – Foi tudo que ele disse, antes de sair andando a frente e me deixando ali, massageando a lateral do rosto e os braços, Wood juntou-se a mim e passou a mão na minha cintura, me puxando com ele.
— Você está bem? – Ótima, só tirando o fato de ter batido de cara em algo duro como uma parede, lembrei daquela piadinha de Japonês que meu pai fazia de ‘Tacacaranomuro”, era eu, quase literalmente.
— Aham. – Eu disse, simplesmente, e segui o Sirius. Definitivamente estávamos num lugar diferente agora.
As arvores não eram mais juntas quase inseparáveis como melhores amigas, agora tinha um espaço enorme no meio da floresta, como uma clareira, haviam algumas arvores aqui e ali, mas poucas, o chão era de terra e uma grama crescia em algumas partes, não dava para distinguir pegadas de gente ou animal por causa da grama, mas parecia que era pouco pisada. Havia um casebre de madeira no meio da clareira e ao lado dela alguns tocos de arvores, mas fora isso, não parecia que ninguém habitasse aquele lugar, estava mais para a casinha que João e Maria encontravam no meio da floresta e a velhinha aparecia para oferecer doce para eles e depois aprisiona-los dentro de quadros ou coisa assim, eu não era boa de memória para histórias aterrorizantes de infância que os pais trouxas contavam apenas para ensinar os filhos a não aceitar nada de estranho, como também a não invadir uma floresta sozinho ou só com seu irmãozinho, e bater na porta da única casinha no meio da floresta onde uma velhinha suspeita mora sozinha, afinal de contas, como que uma velha vai realmente morar sozinha no meio da floresta? Impossível né, camarada, sempre desconfie disso.
O casebre era velho e parecia que tinha muitos anos de vida, estava caindo aos pedaços pelo que pude ver de longe, a tinta estava descascando e o pouco que restava na madeira parecia um azul desbotado, agora cinza, e eu fiquei na dúvida da cor real antes de desbotar, a porta parecia fechada e as janelas pareciam que tinham sido pregadas do lado de dentro, as telhas eram verdes de musgo e das folhas que caiam de uma arvore que tinha ao lado da casa, grande o suficiente para também tocar o céu, eu queria só entender por que diabos tinha uma casinha de madeira no meio da floresta, como se alguém realmente fosse querer morar ali.
Percebi que todo mundo estava parado à frente da casa, como se estivessem se perguntando se batia ou esperavam a vovózinha notar a presença de gente ali e viesse com a tigela de doces, caminhei até eles e parei ao lado de Emme, me virando e encarando a casa como todo mundo estava fazendo.
— E então, vocês acham que tem uma velhinha morando aí dentro? – Eu disse e todo mundo olhou para mim, os meninos franziram a testa, sem entender e a Emme riu, negando de leve com a cabeça e Lilly abafou uma risada, elas entendiam bem mais a minha mente do que aqueles meninos sem imaginação.
— Acham que devemos bater? – Perguntou Emme, agora segurando o riso, e eu entrei na onda.
— Acho que se ela for boa o suficiente vai saber que estamos aqui.
— Se ela for boa o suficiente vai mesmo colocar a gente dentro dos quadros, então melhor ir embora enquanto é tempo. – Disse a Lilly e eu vi o James e o Remus se entreolharem, enquanto franziam a testa sem entender nada.
— Quem é boa o suficiente e para quê? – Ele perguntou e eu e a Emme rimos, enquanto dávamos de ombros.
— A bruxa. – Eu disse, e o James me olhou com cara de quem não entende nada e pensa “meu, você é louca ou o que?” os dois, seria a resposta correta.
— Joãozinho e Maria. – A Lilly explicou, simplesmente.
— Joãozinho e quem? – Dessa vez foi eu que olhei assustada para ele antes de me lembrar que ele não tinha nenhum amigo de família trouxa, como eu tinha a Lilly para me contar histórias como essas que eu achava hilárias.
—Vamos logo enfrentar ela. – Eu disse e ri, e dei um passo à frente, indo em direção ao casebre que de perto dava muito mais medo do que de longe.
— Eu heim. – Disse o James e veio atrás de mim. O casebre era todo de madeira, tinha três degraus de madeira que dava em uma pequena varandinha de madeira, e quando pisei no primeiro degrau e fui subindo ouvi o som de tabua rangendo como se fosse despencar a qualquer momento, coloquei a mão de leve no corrimão de madeira e senti a madeira velha e úmida e retirei a mão imediatamente, parecia cheio de musgo na madeira, como se tivesse chovido muito ali e nenhum raio de sol jamais tivesse aparecido para secar a madeira e a casa depois, o que era bem provável já que as arvores acima e a volta eram grandes demais para permitir que os raios de sol chegassem até ali. Terminei de subir os degraus e me vi parada na varanda, de frente para a porta, não queria ir direto nela, por isso me encaminhei até a janela a esquerda da porta e me inclinei, me abaixando e tentando ver pelo vidro da janela, não parecia ter madeira do lado de dentro, mas sim uma cortina que cobria e impedia de ver o que tinha lá dentro, ainda assim eu me peguei olhando por um vão entre as cortinas e forçando a vista numa tentativa vã de enxergar alguma coisa, lá dentro parecia tão escuro quanto do lado de fora.
— Talvez a luz da varinha possa ajudar. – Mal percebi que o James estava ao meu lado, também inclinado sobre a janela e tentando enxergar, eu olhei para ele e sorri e ele ergueu a varinha com a ponta acesa jogando a luz contra o vidro e tentando nos dar alguma visão naquele pequeno pedaço de vão entre as duas cortinas, mas não adiantou nada, eu continuava não vendo nada a não ser escuridão.
— Não seria melhor vocês entrarem, gênios? – Ergui o corpo e vi que o Sirius estava no último degrau da escadinha nos olhando, James deu de ombros e caminhou até a porta, eu fiquei ali, parada, olhando, sentindo a ansiedade e o medo pulsando nas minhas veias.
Ele parou de frente a porta e olhou para ela, depois para a maçaneta, a porta era de madeira velha e descascava também em vários lugares, tinha lascas de madeira saindo dela e parecia bem frágil; O James segurou a maçaneta e girou, e então empurrou a porta para abrir e eu me senti prendendo a respiração, como se alguma coisa fosse acontecer quando ele abrisse a porta, mas nada aconteceu, a porta não abriu, continuou lá, exatamente onde estava, fechada.
— Está trancada? – Remus estava agora na escada e Sirius estava ao lado do James, de frente para a porta.
O James ainda segurava a varinha em uma das mãos, com a ponta acessa, num aceno, ele desfez o feitiço e apontou a varinha para a porta:
Alohomora. – Agora eu tinha certeza que abriria, mas nada aconteceu. Aquilo era bem estranho.
— Deixa eu tentar. – Disse o Sirius e o James olhou para ele meio torto.
— Tá trancado, cara.
— Sai para lá, gênio.
Eu fiquei ali, olhando os brutamontes, que nem pareciam mais notar minha presença. O Sirius colocou a mão na maçaneta e girou, forçando a porta para dentro, mas nada aconteceu, ele puxou a varinha do bolso e tentou com alohomora, mas nada aconteceu também ela continuou lá, intacta, na dela, sem mover um centímetro sequer.
— Viu, gênio! Está trancada!
— Não diga!
— Sai daí vocês dois, essa porta precisa é de um homem mesmo para abrir ela. – Remus deu alguns passos e subiu até a varandinha, eu percebi que os machos alfas queriam fazer aquilo do jeito deles e olhei para as meninas, que deram de ombros e cruzaram os braços, eu fiz o mesmo, cruzei os braços, me encostei na madeira úmida perto da janela, e fiquei lá, vendo os “gênios” tentarem abrir a porta.
— Haha, não me diga que esse homem é você, Aluado. – Remus deu um empurrão de leve com o ombro no Sirius e parou em frente à porta, fazendo pose de homem macho antes de colocar a mão na maçaneta, girá-la e empurrar a porta com toda a força que ele tinha, provavelmente, mas, como sempre, nada aconteceu, ele fez a mesma coisa que os meninos e puxou a varinha tentando o feitiço para abrir a porta, mas como anteriormente, a porta não se abriu. O Sirius e o James gargalharam.
Eu esperava ver o Wood ir lá, bancar o macho alfa também, mas ele ficou ao pé da escada, apenas observando, achei estranho, mas não disse nada.
— Sai para lá, ô garanhão, eu vou dar um jeito nisso.
— Ah, é? Como? Com seu poder da mente?
— Caro Aluado, mudança de tática. Se a barreira não se rompe por bem, use a força! – Eu estava me segurando para não rir deles, porque aquela cena estava hilária.
— Cara, o Pontas finalmente usou a cabeça para alguma coisa que preste. Deve ter gastado dias para inventar essa frase. – O Sirius gargalhou e o James deu um empurrão nele com o ombro, como o Remus havia feito e o Sirius empurrou ele de volta com o ombro.
— Eu não sou tão burro como você, não, Almofadinhas!
— Hahaha! Essa eu quero ver! – James agora estava encostado de lado na porta, o ombro apoiado na porta e numa espécie de concentração intensa, respirando fundo antes de fazer uma careta de força concentrada e então dar um passo para o lado se afastando da porta e voltar contra ela rápido e ligeiro, jogando todo o peso do seu corpo contra a porta que fez seu ombro se chocar com força contra a madeira da porta.
— PUTAQUEPARIU! – Adivinhe só, a porta continuou lá, sem mover um centímetro sequer. Eu subestimei ela ao dizer que parecia frágil, ela não era nada frágil e agora o James estava praguejando e massageando o ombro. – Essa porra nem saiu do lugar.
O Sirius e o Remus estavam rindo do James, e pareciam ser os próximos candidatos a esmagarem os ossos contra a implacável porta, eu tinha certeza que tinha outro jeito de entrar por ela sem usar de força bruta.
— Sai para lá, deixa o papai mostrar como faz. – O Sirius esticou os braços acima da cabeça, como se estivesse alongando, e foi se posicionando em frente à porta.
Homens.
Eu revirei os olhos e então me virei para olhar para a Lilly, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, quem falou primeiro foi o Wood.
— Tem alguma outra maneira de entrarmos? – O Sirius parou antes que corresse contra a porta e olhou para a Lilly, James e o Remus também olharam para ela, com uma expressão bem obvia de quem pensava “tomara que ela não tenha ou eu terei feito papel de trouxa e idiota”.
Eu conhecia a Lilly muito bem, bem o suficiente para saber que ela conhecia um jeito de entrar, mas estava só esperando para ver o que eles iam fazer.
— Na verdade, essa é a única entrada e saída. – Ela disse simplesmente, ela respondeu à pergunta, mas a pergunta certa não era aquela. James e Remus voltaram-se para a porta e para Sirius, que apertava a lateral do braço e o ombro, preparando-os para o choque e concentrava toda sua força naquele musculo do corpo.
Ele foi muito mais rápido do que o James e eu senti o casebre estremecer quando ele se chocou contra a porta, mas a porta não abriu, nem tampouco tombou para dentro como acontece nos filmes, ela continuou inteirinha lá, era capaz da casa inteira cair e a porta continuar em pé, de tão forte que ela era. Hahaha.
Um tapa na minha cara, heim, dona porta.
— PUTA MERDA! QUE PORRA DE PORTA! – O James e o Remus gargalhavam agora, zombando da cara do Sirius que massageava o ombro, tal como o James fizera.
Homens.
— Que tal “Bombarda Máxima”. – Sugeriu o Sirius e o James deu um tapa na cabeça dele.
— Tá louco, Almofadinha, daí você vai é mandar a casa inteira pros ares, seu burro. – O James e o Remus riram e o Sirius fez uma careta para eles, antes de continuarem pensando numa maneira mágica ou não mágica de abrir a porta.
Eu neguei com a cabeça e olhei para a Lilly. Melhor acabar logo com aquilo antes que eles derrubassem a casa inteira.
— Lilly, existe uma maneira de entrar sem arrombar a porta ou derrubarem a casa inteira? – Eu sabia a resposta mesmo sem saber, e me segurei para rir antes mesmo que a Lilly respondesse.
— Ah, tem, com certeza tem. -  O Sirius girou sobre os sapatos e encarou a ruiva, enquanto o James a olhava, erguendo uma das sobrancelhas, acho que ele estava se sentindo traído.
— Tem? – Ele perguntou e ela assentiu com a cabeça. Eu sorri e olhei para o chão, obvio. – E não precisa arrombar a porta? – Ele indagou novamente. – Nem explodir nada? - E ela negou com a cabeça, totalmente seria.
— Perae, você tá dizendo que tem um jeito de entrarmos sem derrubar a porta? – A Lilly assentiu e sorriu, triunfante, e o Sirius bufou, irritado. – E por que você não disse isso antes de eu esmagar meu ombro contra aquela porra de porta de ferro?
Dessa vez foi eu, a Lilly e a Emme que rimos e a Lilly deu de ombros, enquanto eu caminhava até eles e parava ao lado do Sirius, antes de dizer.
— Na verdade, a porta é de madeira. – Eu me agachei e ergui o capacho que estava na frente da porta, onde os meninos pisaram e pisaram em cima enquanto tentavam arromba-la, e peguei a chave que estava lá, o tempo inteiro, me ergui e sorri para o Sirius, vendo a cara de tacho do James e do Remus, as vezes, as coisas são mais simples do que parece, e então coloquei ela no buraco da fechadura, e finalmente girei a maçaneta e ouvi um barulho, antes de um ranger e a porta se abrir a nossa frente, deixando o breu do interior do casebre ser capturado por nossos olhos curiosos.
— Porra! A chave estava no chão! No chão! – As meninas vieram atrás de mim, rindo e os meninos ficaram lá, parados, praguejando por serem tão idiotas.
— Por que você não disse nada antes, Lilly? – Eu ouvi o James perguntar enquanto estava parado à na porta, espiando do lado de dentro.
— Você não perguntou, ué. – Eu segurei o riso e enfiei a mão no bolso, puxando a varinha e sussurrando Lumus e então iluminei a frente, deixando a luz vermelha incandescente da varinha iluminar o interior do casebre.
O lugar parecia tão frio e abandonado do lado de dentro quanto do lado de fora.
— Esse lugar tem luz, será? – Eu reconheci a voz do Remus as minhas costas, e fui entrando, com a respiração presa.
Com a luz da varinha aquele lugar parecia ainda mais sinistro do que eu imaginara. Consegui perceber que a porta dava direto numa sala pequena, com uma espécie de lareira no fundo, à frente da lareira tinha um sofá velho e uma poltrona também velha, do lado esquerdo tinha uma pequena cozinha com uma mesa de madeira e um armário, mas estava tão escuro lá dentro e o cheiro de mofo era tão forte que eu senti medo de continuar entrando, a luz da varinha não me dava nenhuma sensação de segurança e eu estava me sentindo num filme de terror trouxa, daqueles de espíritos maus, e eu tinha certeza que não era o Barão sangrento que ia aparecer ali.
— Esse lugar é sinistro. – James disse, baixinho, e eu ouvi a voz da Emme, antes de me virar e voltar em direção a porta.
— Foi uma péssima ideia virmos no meio da noite aqui, esse lugar me dá arrepios.
— Também estou com medo. – Eu disse, indo até a Emme e a abraçando de lado, dando alguns passos até chegarmos na varanda do lado de fora, que pareceu estar claro como o dia de tão escuro que estava lá dentro.
— Calma aí, tem três lampiões aqui dentro, que eu me lembre, dá para acender eles. – A Lilly estava com a varinha acesa andando dentro do casebre com uma desenvoltura como se estivéssemos andando dentro do nosso dormitório numa noite em que a luz tivesse acabado, mas só que não.
— Por que não usamos o feitiço para achar objetos, Lilly, é mais rápido. - O James estava ao lado dela e o Sirius e o Remus estavam andando para lá e para cá com a varinha iluminando os cantos, tentando descobrir o que era ali ou o que tinha ali.
— Não adianta, achei que tivessem percebido com a cena da porta, magia não funciona nesse casebre, não sei porque, e se o Severus alguma vez descobriu, nunca me contou.
Eles continuaram procurando os lampiões e eu olhei para trás e vi que o Wood estava encostado no corrimão da escada, antes mesmo de pisar no primeiro degrau. Dei um sorrisinho tentando animá-lo a se unir a nós, mas ele apenas deu de ombros.
— Quem vem brincar num lugar desse quando é criança? – Me virei e olhei para a Emme, que observava os outros lá dentro, e pensei na pergunta dela, que criança saudável brincaria num casebre no meio da floresta?
— Crianças perturbadas. – Eu disse em resposta e ouvi a voz da Lilly, lá de dentro.
— Hey, não esqueçam que eu vinha com ele.
— Então, eu disse, crianças perturbadas. – Eu disse, rindo e ela fez uma careta para mim, então eu percebi que vi a careta dela porque ela estava, de repente, iluminada por um lampião.
— Achei! – Ela disse, sorrindo de orelha a orelha. Vi que ela pendurou o lampião em cima do que parecia um balcão de madeira, e então caminhou até os outros dois que ela já sabia onde ficava e então vi todo o casebre iluminado do lado de dentro.
Não era diferente do pouco que eu havia visto com a luz da varinha, mas agora era bem menos aterrorizante e mais aconchegante, se tirarmos o fato daquele lugar ser mais velho que minha avó, mais úmido do que uma casa no meio de uma floresta que nunca bate sol e cheirando mais mofo do que a casa do meu bisavô de quase cem anos, fora isso, era super aconchegante... Ah, esqueci de mencionar as teias de aranhas em todos os lugares.
Entrei e parei, olhando a volta.
O sofá era puído, mas parecia dar para sentar porque o Sirius estava esparramado nele, mas eu conseguia ver alguns furos e aranhinhas andando sobre ele para lá e para cá, aquelas aranhinhas tipo de parede, sem pelos e bundudinhas, mas que ainda assim, eu não gostava.
Na frente do sofá tinha uma mesa de centro feita de madeira, estava tão velha quanto tudo ali, lascando em alguns pedaços e um dos pés estava quebrado, por isso, ela estava tombada de lado. O quarto parecia ser ali, tipo um sala e quarto, porque no canto esquerdo havia apenas uma cama pequena, sem colchão, e ao lado dela um guarda-roupas sem porta, com uma manta dobrada. Tinha uma porta do lado direito que provavelmente dava para o banheiro, mas estava fechada, e do lado esquerdo, ao lado da sala, ficava a mesa de quatro lugares que eu vira com a luz da varinha, a madeira velha, mas ainda firme e forte e quatro cadeiras a volta dela, um balcão separava a mesa do armário de cozinha onde tinha um fogão velho, uma pia, com um copo virado de boca para baixo e algumas louças penduradas no armário, as demais portas fechadas. Arrumado, aquele lugar poderia ser uma cabaninha ajeitadinha e aconchegante, agora ela era um lugar abandonado que me parecia ter aranhas em todos os cantos possíveis.
O James estava ao lado da Lilly, agora parados na cozinha, olhando nas gavetas dos armários, e o Remus estava sentado numa cadeira, à mesa, com Emme parada ao seu lado, eu vi que agora o Olívio estava na porta e eu caminhei até a mesa e puxei uma cadeira, apertando ela com a mão para ver se era segura, antes de sentar.
— Pode sentar, se aguentou meu peso, o seu vai ser pena. – Eu ri e sentei, meio com medo e já esperando o impacto da minha bunda no chão, mas nada aconteceu, a cadeira aguentou o meu peso.
— Será que ele alguma vez teve namorada? Amargurado assim. – A Emme perguntou e eu olhei para ela, antes de rir.
— Se ele a trouxesse aqui, ela sairia correndo apavorada. – Depois que respondi aquilo, olhei imediatamente para Lilly e vi que o James percebeu o meu olhar, e olhou para a Lilly, que riu e ergueu as mãos no ar.
— Não olhe para mim, eu não era namorada dele, só amiga, e sim, sempre fiquei apavorada de vir aqui, só vim duas vezes, na primeira porque não sabia, na segunda porque ele me desafiou.
O James olhou para ela e ergueu uma das sobrancelhas.
— E você veio mesmo assim? Mesmo com medo? – Ele não conhecia a Lilly como nós, coitadinho, não tem nada que impeça a Lilly de fazer qualquer coisa.
— Mas é claro, ninguém desafia a minha coragem! – O James não disse nada, mas eu vi o respeito nos olhos dele.
— Ótimo, mas e agora? Vamos logo com isso! Quero ir embora.
— Vamos logo? Vamos aonde? Que nada, nós vamos dormir aqui! – Eu me virei e encarei o James, que gargalhou em seguida.
— Na verdade, ele não está brincando, não. – Disse o Remus, e eu me virei para olhar para ele, fiquei olhando assustada de um para o outro. – É melhor mesmo dormirmos aqui.
Eles deviam estar ficando loucos.
— O que? Vocês piraram?
— É uma boa ideia. – Disse o Sirius e eu, a Emme e a Lilly nos entreolhamos sentindo o pânico crescendo dentro da gente. Onde nós fomos nos meter?
— Okay, primeiro, vocês devem estar loucos, segundo, eu não vou dormir aqui, tem ARANHAS aqui! E terceiro, esse lugar me dá arrepios! Deve ter espíritos aqui... – Eu comecei a enumerar os motivos para não ficarmos ali mais do que devíamos, mas pareciam medos tão bobos, ainda assim, era uma ideia idiota e estupida dormirmos ali, precisávamos voltar, tínhamos aula no outro dia.
— Eu concordo, não tem cabimento dormirmos aqui, não tem cama aqui, nem colchão, nem cobertor e eu estou morrendo de frio nesse lugar... – Disse Emme a meu favor.
— E amanhã temos aula! Cedo! – Essa obviamente era a Lilly.
— Se formos expulsos, não vamos mais assistir aula, Lilly.
— Ainda não fomos expulsos...
— Relaxa, meu Lírio. – O James abraçou a Lilly e eu vi que ela ficou vermelha igual um pimentão, por isso, desviei os olhos. Olhei a volta e percebi que o Olívio continuava na porta, sem jeito, e me levantei, caminhando até ele e parando a sua frente.
— Hey, tá tudo bem? Por que não entra?
— Eu tô bem. – Olhei para ele e franzi a testa, parecia que ele estava com medo de alguma coisa.
— É por causa dos meninos? – Eu perguntei, com a voz mais baixinha e me aproximando dele para que os demais não ouvissem, eu sabia que ele e o Sirius não estavam se dando muito bem desde aquele dia no lago, mas eu nunca soube se eles chegaram a conversar depois daquele dia, até porque, eu achava uma bobeira eles ficarem daquele jeito só por minha causa, eles não eram melhores amigos, mas eram amigos, jogavam juntos, eu era só uma garota, qual é?
— Não, imagina. – Eu me recostei no batente da porta, ao lado dele, e me inclinei para perto dele, não queria que ninguém ouvisse nossa conversa.
— Me conta, o que foi? Qual o problema? – Ele baixou a cabeça, coçou a nuca, olhou para dentro do casebre e depois para fora. – Pode confiar em mim, não vou contar para ninguém.
Ele assentiu a cabeça, e virou para ficar de frente para mim, ele estava encostado na parede do lado de fora do casebre e só agora eu percebia isso, ele não tinha entrado dentro da casinha nem por um segundo desde que chegamos ali, estivera o tempo todo tentando manter o máximo de distância possível.
— Eu tenho medo. – Ele disse e eu fiquei olhando para ele, esperando ele completar, mas ele não disse mais nada.
— Medo do que? – Minha voz saiu num sussurro. – Da casa? – Seria isso possível? Não fazia o menor sentido, quem tinha medo de uma casa?
Ele pigarreou e virou o rosto, olhando para fora, eu acompanhei o olhar dele, mas não tinha nada para ver a não ser as arvores e a escuridão.
— Sim...– Ele emendou quando viu a minha cara de incredulidade. – Quer dizer, de casa abandonada.
Eu fiquei olhando para ele por um segundo tentando entender o que ele dissera, ele tinha medo de casa abandonada? Mas medo do que exatamente na casa? Ou só da casa? Eu nunca tinha visto ninguém que tivesse medo de casa abandonada, medo era uma coisa mesmo difícil de explicar.
— Mas como você tem medo de casa abandonada? Tem medo de ter algum fantasma lá dentro ou coisa assim? – Ele me olhou com cara de quem me achava muito louca e eu ri, o que o fez rir também, pelo jeito, só eu que pensava em coisas sinistras envolvendo casas abandonadas, como velhinhas que são bruxas malvadas de histórinhas e fantasmas, mas a parte dos fantasmas era bem mais provável, se você acreditasse neles... se bem que, vai que você acredita em bruxa malvada, né.
— Quem tem medo de fantasmas? Fantasmas nem existem. – Eu soltei uma gargalhada que fez todo mundo olhar para mim, então me recompus.
— Ah qual é, todo mundo tem medo? Você nunca assistiu um filme de terror trouxa? Aqueles de espíritos?  – Ele riu e negou com a cabeça.
— Já assisti na casa do Gideão, e sim, adoro esses filmes, na verdade. – Eu continuei rindo, negando com a cabeça, sem conseguir entender ele.
— Mas tem medo de casa abandonada, ah, já sei! Você tem medo da vovózinha! – Eu exclamei e gargalhei em seguida, e ele gargalhou junto.
— Pelas barbas de Merlin, você é mesmo louca! – Agora ele disse uma coisa que fazia sentido. Estava tão entretida no nosso assunto bizarro que mal ouvi o que o pessoal estava conversando dentro da casinha, só notei quando chamaram meu nome pela segunda ou terceira vez, então me virei, ainda rindo, e vi que todo mundo estava envolta da salinha esfarrapada e abandonada da casa abandonada que o Wood tinha medo por motivos que eu desconhecia e não entendia.
— Oi?
— Nós vamos acender a lareira, como a casa não aceita magia os meninos vão ver se acham lenha e nós vamos ver o que encontramos aqui dentro, além de procurar a memória, Okay? – Demorei uns dez segundos para entender o que a Lilly estava dizendo, nós iriamos acender a lareira, os meninos iam buscar lenha e nós íamos procurar coisas dentro do casebre abandonado, mas para que exatamente tudo aquilo?
— Acender a lareira? Procurar coisas? Como assim? – Aquilo estava começando a cheirar começo de pesadelo.
E ele se cumpriu quando a Lilly disse as outras palavras que eu não queria ouvir, honestamente, eu estava começando a ficar igual o Wood, com medo da casinha abandonada.
— Nós vamos dormir aqui.


Eu queria entender porque diabos eu estava me sentindo daquele jeito, era como se tivesse um monstro dentro de mim, uivando de ódio, babando de raiva, querendo matar a tudo e a todos, e eu tinha certeza que não estava com fome, então não tinha porquê eu estar com todo aquele mal humor e estresse, ou tinha, e se eu não estava enganado, o motivo se chamava Olívio Wood. O que aquele cara estava fazendo ali, afinal de contas?
Eu estava sentado no sofá puído daquela sala puída onde tudo era mofado e caindo aos pedaços, era um milagre a casa ainda estar em pé, e ela estava lá, encostada na porta, aos risos com ele, como se nada tivesse importância mais, como se ela nem tivesse ligando de estar no meio da floresta, numa casa abandonada, podre, esquisita e sinistra, no meio da noite, e nenhum pouco preocupada ou com medo de dormir ali ou passar a noite naquele lugar, parecia que ela estava muitíssimo bem ao lado dele e nada mais importava, era como se ela realmente tivesse levado a sério o que eu dissera a ela, sobre ela poder ficar com o Wood, mas se eu mesmo tinha dito aquilo a ela, por que eu estava tão incomodado com o fato dela finalmente estar fazendo o que eu mesmo dissera para ela fazer?
A ideia era ficarmos ali até começar a amanhecer, com a claridade do dia seria melhor para sairmos, a trilha para voltar não era tão visível quanto para vir e a Lilian tinha medo de fazer a gente se perder por causa da escuridão e da neblina que subia da mata, por isso, decidimos acender a lareira, nos enrolar nos cobertores velhos e mofados e ficarmos ali, eu duvidava que conseguiríamos dormir, mas era melhor dormir no chão duro de um casebre abandonado do que se perder no meio da floresta no meio da noite, eu não duvidava que naquela mata tivessem cobras venenosas, centauros, outros lobisomens talvez, e até as acromântulas que a Lene morria de medo só que das piores espécies e em quantidades que faria até mesmo eu ter medo.
Me levantei do sofá quando decidimos que ficaríamos e vi que a Lene ainda estava na porta com aquele otário, ela parecia estar absorvendo, pela primeira vez naquela noite, que ficaríamos ali, e eu senti uma raiva crescente se apoderar de mim, em que mundo ela estava vivendo? Será que saber que poderia finalmente ficar com o Wood fizera ela ficar tão feliz assim? Isso significava que eu não era nada para ela? Que aquela merda que ela dissera sobre gostar de mim não passava de mentira?
Eu precisava parar de pensar, eu precisava ficar longe dela e daquele otário, por isso, dei a volta no sofá e caminhei até a porta, ela estava parada bem no meio do caminho, encostada no batente, mas tapando toda a passagem para sair da casa e eu parei na frente dela, cruzando os braços e com cara de poucos amigos, ela desviou os olhos de Lilly e olhou para mim, parecia finalmente ter me notado ali.
— Oi Siri... – Ela começou, mas eu não deixei ela completar, e falei, o mais rispidamente que consegui.
— Você tá na minha frente. – Ela franziu o cenho e ficou me olhando, como se não tivesse entendido.
— O que?
— Será que dá para você sair do caminho? – Ela pareceu totalmente desconcertada, eu vi o rosto dela murchar, como se ela fosse um balão cheio e de repente começasse a esvaziar, ela olhou para si mesma e depois para fora, percebendo que estava no meio da porta e depois olhou para mim, e então deu dois passos para o lado, para dentro da casa, deixando o espaço vazio, e sussurrou, baixinho.
— Desculpe. – Eu não esperei ela nem terminar de pedir desculpas e sai andando, deixando ela ali, com aquele otário ao lado dela, eu sabia que eu mesmo tinha dito que ela podia ficar com ele, mas não pensei que ela seria tão rápida assim ou que faria isso, assim, na minha frente, como se não tivesse nem ai. Sai pisando fundo e desci os degraus em pulos, e sai andando em direção a parte de trás do casebre sem nem saber bem o que eu estava procurando, nem olhei para trás para saber se ela me olhara ou se importara com alguma coisa além dela mesma e daquele mané do Wood, aquele bichinha que nem tinha entrado na casa como se ninguém fosse capaz de notar o medo estampado no rosto dele.
Babaca.
Caminhei, irritado e só parei quando me vi de frente para as arvores enormes e unidas, como se fossem pessoas nos cercando ali naquele espaço e dizendo que era proibido seguir adiante, passei a mão nos cabelos e respirei fundo. Ciúmes era uma merda. Mas qual é, eu nem estava com ciúmes.
— Tudo bem, cara? – O Pontas estava parado atrás de mim e eu me virei e assenti com a cabeça.
— Aham, tudo firmeza. E aí, onde vamos arrumar madeira seca?  - Olhei a volta, tentando não demonstrar muito como eu estava, mas aqueles caras me conheciam desde que eu era um pirralhinho, havia pouca coisa que eu conseguia omitir deles ou que eles mesmo não soubessem só de olhar para mim.
— Eles devem ter algum lugar que guardavam isso já que tem lareira.
— E tem, olha! – Nos viramos para ver que bem atrás da casa havia uma espécie de seleiro, mas sem cavalo, o Aluado estava parado na porta. – Eles guardavam muita coisa aqui pelo jeito.
Eu e o James seguimos até lá e espiamos para dentro ao lado do Remus, ele tinha razão, quem quer que morou ali, sabe-se lá quando, tinha guardado muitas coisas ali, madeira, caixas vazias, garrafas, garrafões, latas de tintas, ferramentas, um machado, um garfo de grama, vassoura, pá, dava para matar alguém e enterrar ali numa boa, por um segundo, pensei no Wood.
— A pá para cavar o buraco já tem. – Eu disse e o James gargalhou, dando um tapa na parte de trás da minha cabeça.
— Nem pense nisso, seu otário, eu não vou te visitar em Azkaban, não. – O Remus riu junto com o James e eu dei de ombros.
— Eu sei que vai, você me ama! – James riu e deu outro tapa na minha cabeça.
— Quer beijinho agora? Vai lá pedir para a Leninha. – Ele e o Remus gargalharam e eu me virei e dei um tapa na testa dele, fazendo ele me olhar feio.
— Cala a boca, seu idiota. – Ele riu e disse em seguida.
— Vamos logo com essa merda, vamos ver se tem alguma madeira seca aí.
O Remus entrou dentro do seleiro que não era muito grande, portanto, não cabia nós três lá e eu e o James ficamos do lado de fora, ele foi passando todas as madeiras e eu e o James fomos colocando do lado de fora, jogando de um lado as secas e do outro as molhadas ou mais úmidas. Era um trabalho meio cansativo, mas me fez bem, foi como se exercitar os braços e o corpo fizesse a mente parar de pensar tanto e a raiva ir saindo pelos poros em forma de suor, e com o vento frio da noite e do mato, fazer aquele tipo de exercício se tornava agradável.
— Então, qual é o seu problema com a Lene? – Perguntou o James enquanto “trabalhávamos”, e eu fiquei em silencio por um tempo pensando no que responder, por fim, eu disse.
— Na ala-hospitalar, eu disse para ela que ela podia ficar com o Wood. – O Remus me passou uma tora meio úmida e eu fiquei na dúvida de onde jogá-la, por fim, joguei do lado das molhadas.
— E o que ela disse? – Ele perguntou, depois de um tempo.
— Nada, na verdade, eu acho que ela queria dizer alguma coisa, mas eu a cortei, sei lá... – Peguei duas toras e joguei uma para o James, enquanto eu jogava a outro para o lado das secas.
— Por que você não deixou ela falar, seu idiota? – O Remus me jogou uma tora de madeira, mas ele jogou com tanta força que quando peguei, me desequilibrei e dei vários passos para trás, quando finalmente parei, com a maldita tora na minha mão, recobrei o equilíbrio e joguei a tora de madeira com o máximo de força que consegui de volta para o Remus que não conseguiu segurá-la direito e derrubou no chão.
— PORRA BLACK!
— CARALHO LUPIN!
Ouvi a risada do James, mas não durou muito, porque o Remus pegou a tora de madeira e jogou com força na direção dele, que a pegou no susto e deu dois passos para trás.
— Filho de uma bichinha malcomida! Seu frangote, você já pegou alguma mulher na vida, Lupin?
— Seu filho da puta, frangote é seu pai que tem um filho veado que é apaixonado pelo Ranhoso, não pela Evans.
Eu gargalhava, assistindo a cena.
— O que você tá rindo ai ô seu cachorro sarnento que cheira a cachorro molhado, não é homem nem para pegar a Lene e tem que passar para outro. – Encarei o James, sério.
— E você, seu veadinho chifrudo, não consegue nem pegar a ruiva, até o Ranhoso já pegou ela e você não, otário. HAHAHA – O Potter olhou com cara feia para mim, e de repente nós estávamos rindo de se acabar da cara um do outro.
— Seus filhos da puta. – Eu disse, ainda rindo, e peguei a madeira que o Remus jogou para mim, dessa vez, normal.
— Mas e ai, seu boiola, agora você tá mal porque ela tá dando bola para Wood? – Continuamos trabalhando e na nossa terapia. A melhor terapia para nós, homens, era xingar um ao outro.
— Pow, eu falei para ela que podia ficar com ele tem meia hora, não dava para ela esperar mais um tempinho não? -  O James riu e eu fiz cara de derrotado, tô sem moral nenhuma.
— Ela é rápida.
— Como é mesmo que as meninas dizem, “ Se não quer, tem quem quer?” – Falou o Remus e o James gargalhou, zombando da minha cara.
— Quem não dá assistência, abre para concorrência.
— Vá se ferrar, Potter. – Ele gargalhou mais ainda e eu joguei uma tora com tudo na direção dele que pegou no susto, apertando a madeira contra a barriga.
— Seu otário. Quem mandou você jogar a menina nos braços do outro? Agora pede colo e leitinho quente para mamãe, e vai chorar no berço. – Ele e o Remus riram e eu mostrei o dedo do meio para ele.
— E qual é a dele, com mais medo que uma menininha. – Eu disse, rindo.
— Acho que era jogada só para Lene ficar com dó dele, o que você acha, Pontas? – O James agora estava contando as toras secas e demorou para responder, quando terminou, riu e concordou com a cabeça.
— Com certeza absoluta, meninas adoram isso, o tipo frágil tanto quanto adoram o brutus.
— Filho da puta. – Eu disse, por fim, com mais raiva de mim do que do Wood na verdade, a culpa era minha de ter jogado a Lene nos braços dele. – Mudei de ideia.
— Será? – Perguntou o Remus, rindo e o James completou.
— Vinte e sete. Quero só ver.
Com isso, voltamos para dentro da cabana, carregando o máximo de toras de madeira que cada um conseguia carregar.
Quando entramos, as meninas estavam vasculhando tudo e o Wood estava procurando no guarda-roupa, achei um milagre ele estar dentro da casa, mas não disse nada, eu e os caras empilhamos próximo a lareira as toras de madeira e o Remus foi ver se achava lá no fundo álcool e fosforo enquanto eu e o James arrumávamos as toras mais secas dentro da lareira e depois saímos para procurar papel ou folha seca que pegasse fogo mais rápido, quando eu estava saindo, esbarrei no Wood com tudo e quase bati de cara na parede de madeira, o sangue esquentou na minha veia no mesmo instante.
— Olha por onde anda, babaca! – Eu vociferei, me virando e encarando o Wood de frente. Ele estava segurando a manta que estava dobrada no guarda-roupa e eu vi ele soltando a manta sobre o sofá para me encarar.
— Olha você, otário!
— Qual o seu problema, heim? Tá com medinho? Quer o colinho da mamãe? – Eu estivera irritado com ele e com a Lene o caminho todo até ali e todo o tempo em que estivemos ali, ter ele agora na minha frente pedindo briga, era tudo que eu mais queria, eu necessitava esmurrar a cara dele para me sentir melhor. Só isso.
— Quem vai pedir colinho da mamãe vai ser você. – Eu gargalhei e dei mais um passo à frente, empurrando ele com a mão e fazendo ele cambalear para trás.
— Então mostra do que você é capaz, Wood. Quero ver! – Eu nem percebi quando a Lene e a Lilian chegaram para apartar a briga, eu estava focado demais encarando o Wood olho no olho.
— Pelo amor de Merlin, parem com isso! – A Lilian puxou o Wood para o lado, em direção a cozinha e a Lene entrou na minha frente, colocando a mão no meu peito e tentando me manter atrás, quando vi a mão dela no meu peito, aí que o sangue ferveu mesmo. Quem ela estava pensando que era? Num minuto ela se esfregava naquele cara e agora colocava a mão em mim tentando me acalmar como se ela se importasse comigo?
Segurei a mão dela e empurrei para longe.
— Tira a mão de mim.
— Sirius! – Ela disse, exasperada.
— Vamos lá fora, Wood, só eu e você, sem essas meninas para te proteger.
— Vamos. – Ele disse e as meninas ficaram apavoradas porque só ouvi gritinhos histéricos de “não”, “pelo amor de Merlin”, “o que vocês vão fazer”, “Vocês vão se matar” e “parem com isso!”, eu não estava nem ai para nada.
Empurrei a Lene para passar por ela, mas ela colocou as duas mãos no meu peito e me empurrou para trás, eu desviei os olhos do Wood e encarei ela, se ela não fosse uma garota, naquele momento ela teria sofrido as consequências por ter feito aquilo.
Eu cerrei os dentes e disse:
— Sai da minha frente Marlene. – Ela ficou parada na minha frente, me encarando, com a expressão tão séria e fechada quanto eu, não teve medo e não titubeou nenhuma vez sequer.
— Ou se não o que? – Ela disse, finalmente, cruzando os braços e me encarando.
— Senão vou tirar você a força daí.
— Tira. Mas se você relar um dedo em mim você vai se arrepender. – Eu ergui uma sobrancelha e respirei fundo. Quem ela pensava que eu era? Eu era incapaz de machucar ela.
— Eu jamais relaria um dedo em você para te machucar, mas estou dizendo que vou te tirar da minha frente se você não sair.
— Qual é o seu problema? Desde que chegamos você está aí, todo mal-humorado, que é, tá com fome?
Eu adorava o jeito dela, é sério, amava aquele jeito esquentadinha, que enfrentava todo mundo sem medo, que não tinha papas na língua, mas naquele momento, eu não queria aquela Marlene, eu não queria bater de frente com ela, mas sabia que ela iria me irritar a tal ponto.
— Sai da minha frente, Marlene, isso não é entre eu e você, é entre eu e esse bichinha aí.
— Ahhh eu aposto que é entre eu e você, sim senhor, é por causa de mim que você tá assim? Ah, já sei, é porque você disse que eu podia ficar com ele! É? E agora você vai brigar com o cara porque ele...
— Você não sabe o que está falando. – Por que ela estava falando aquilo na frente de todo mundo?
— Então deixa ele em paz, tá legal? Para com isso, Sirius, eu odeio você! Eu odeio quando você é assim! Seja homem e enfrente as coisas ao invés de arrumar brigas!
Dei dois passos à frente, ficando muito próximo dela e a encarei.
Ela estava dizendo que eu não era homem? Ela estava dizendo que me odiava?
— Você me odeia? Foi isso que você disse? Repita então, repita olhando nos meus olhos, repita, Lene! Repita que me odeia! Porque não foi isso que pareceu quando você me beijou aquele dia na beira do lago, lembra? O seu amiguinho sabe disso?
— Sirius... – Ela tentou me interromper, mas eu estava cego de raiva, segurei o braço dela e a puxei para mais perto de mim, queria ver ela dizer que me odiava ali, colada em mim, queria ver.
— Não foi isso que pareceu quando você ficou presa comigo na salinha no vestiário masculino, tremendo nos meus braços, lembra? Ah não, não parecia que me odiava não, nenhum pouco. Vai, me diz agora, olhando nos meus olhos, que você me odeia, repete! Repete, Lene!
— Para Sirius, para! – Eu puxei ela contra meu corpo e ela fechou os olhos, eu vi lagrimas rolando nos olhos dela.
— Para? Qual é, você diz que gosta dele, mas se derrete toda vez que chega perto de mim! Qual é o problema, Marlene? Vai, me diz!
— Para! – Ela tentou me empurrar com a mão, mas não conseguiu.
— Ela mandou você parar! Fica longe dela. – Eu ouvi o Wood falando e desviei os olhos da Lene para encarar ele, apontando o dedo como se tivesse com o dedo na cara dele.
— Fica na sua aí, seu otário, a conversa é entre eu e ela.
— Para com isso, Sirius! Por favor! – Eu voltei os olhos para ela e a encarei, ela estava tremendo sob meus dedos. Baixei o rosto e disse, baixinho:
— Fala que me odeia! Fala por que você está com ele assim se você mesma disse naquele corredor que gosta de mim! Se você me odeia, por que disse aquilo?
— Você... você me disse para ficar com ele, foi você quem disse! – Ela disse com a voz tremula.
— Eu disse e você foi correndo para os braços dele, não esperou nem um dia, não deu nem meia hora, porra! – Ela me empurrou para trás, com força e eu cambaleei, surpreso, ela me pegou num momento distraído.
— Você é cego, Sirius! Você é um obtuso, idiota e cego! – Ela disse, com a voz alta, quase gritando, e eu finalmente parei para ouvir o que ela estava dizendo.
— Obtuso, idiota e cego?
— É, um otário, idiota, é isso que você é! – Ela estava espumando de raiva, e eu estava me sentindo zonzo, sem conseguir entender porra nenhuma do que ela estava dizendo, por que ela estava me xingando daquele jeito?
— Marlene...
— Para! Para com isso! Foi você que quis assim, foi VOCÊ! Você que me mandou ficar com ele, você que disse que não sabia o que queria e quando eu faço o que você mesmo mandou, você fica com raivinha? Qual é? Cresce, tá legal? O mundo não gira ao seu redor, e quando gira, você é cego demais para ver.
Percebi que o Remus e o James estavam parados na porta assistindo a discussão, todo mundo estava assistindo, eu esperava que eles entendessem alguma coisa porque eu não estava.
— Eu não pensei que você fosse ir correndo para os braços dele tão rápido! Nem deu tempo de esfriar o...
— Você queria o que? Que eu ficasse chorando por você? Sinto muito, eu amo você, mas não vou ficar chorando se você é um idiota que não enxerga o que tá bem na sua cara! Sim! Eu corri para os braços dele para ver se você enxergava alguma coisa e olha só! Você enxergou!
— Você o que? – A minha voz não era a única no ambiente, ela saiu mesclada com outra voz, eu ergui o rosto e vi que o Wood estava encarando os cabelos da Lene, mas dessa vez muito pálido.
Eu olhei para ela e perguntei, quase ao mesmo tempo que ele.
— Você me ama?
— Você estava comigo só para fazer ciúmes para ele?






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