Ela estava deitada na cama.
Mais uma entre tantas naquela cama.
Ele estava na cozinha, preparando sua especialidade pra ela.
Mais uma entre tantas a provar sua especialidade.
Mais uma entre tantas.
Será que por trás daquela pele bronzeada, dos pêlos negros amostra através da camisa de botões meio abertos, existia mesmo um coração?

Ele era assim, coração de pedra por trás de um rosto de doçuras, ela sabia, palavras doces, sinceridades explicitas, que mal podia haver quando tudo que se queria era apenas um pouco de diversão?
Ele era assim, ela sabia.
Um copo de vodka pra tornar tudo mais leve, a musica alta ecoando pelo comodo, invadindo cada célula, como as maos dele em seu corpo, em sua pele, por baixo do tecido de seda, invadindo-a, arrepiando-a, o desejo exposto em carne viva.

Um pouco de rum e  a vida se torna menos amarga, um pouco de sexo e a vida se torna menos romantica, como num documentário, claro, limpo, explicado, como dois e dois são quatro. 
Ela sabia, apenas mais uma entre tantas. Ela sabia.

Talvez fosse apenas os muros erguidos, como a muralha da China, talvez fosse os olhos da Medusa tornando pedra aquilo que um dia já fora pulsante, aquilo que um dia já fora belo, tornando pedra...
Corações partidos são assim, nunca mais se tornam inteiros, nunca mais se tornam acessiveis, talvez ele só fosse assim, empedrado pelos olhos sedutores da cinderela que um dia despedaçara seu pobre coração e o tornara pedra.
Talvez ele fosse assim.

Mais uma entre tantas.
Um copo de vodka, outro de rum, e a vida já tem outro sentido.
Ela estava deitada na cama.
Mais uma entre tantas naquela cama. Mas dessa vez ele dispensou a sua especialidade, repetir sempre a mesma coisa enjoava a si mesmo. Talvez pulassem direto para o sexo, para a musica alta, a ordem não importava, afinal, ela já sabia.

Será que por trás daquela pele bronzeada existia um coração empedrado pelos olhos da Medusa e protegidos pelas muralhas da China?

Só mais uma. Até quando? Só mais uma.

Eu nunca entendi como ele conseguia ser assim, mas ele era, ela sabia, ela sabia.

Eu espero que como um gelo em fogo quente, a pedra se derreta, transforme-se em pulsante o coração de pedra novamente, não há mal algum abaixar os muros que o cercam e permitir que a bela adormecida disperte o que um dia já fora vivo.
Não pode a Bela pagar pelo que a feiticeira fez, deixe que ela transforme a fera em principe outra vez.

Mas ela sabia, o coração era de pedra e ela era apenas mais uma. 
Ela sabia. Ela sabia.


Por Lanah Black


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