*Capitulo Cinco: Estranhas Reações*

                                           “Os sentimentos verdadeiros manifestam-se mais por atos do que por palavras.”





 O vale do Anhangabaú estava completamente lotado, quase não se podia ver muita coisa de São Paulo alem do topo dos prédios, pois as várias cabeças espalhadas pela imensa praça central cobriam a visão de tudo.



Sirius caminhava ao final da multidão, talvez nem em jogo ele tivesse visto tantos torcedores num só lugar, ele tinha certeza que não caberia todo mundo se experimentassem colocá-los dentro de um estádio.


― Caramba, nem o show da Madonna no Morumbi estava tão cheio.


Exclamou um garoto de estatura média, cabelos pretos levemente encaracolados.


Sirius deu um tapa nas costas do garoto virando o ultimo gole da sua cerveja, estava morrendo de sede.


― Nem me fale Edgar, vamos ficar por aqui mesmo, não to a fim de me espremer no meio daquele povo.


― Nem parece Corinthiano, Corinthiano mesmo fica lá no meio da galera, Sirius.


Sirius riu.


― Então vai lá Fabio, vou ficar daqui assistindo você ser pisoteado. Boa sorte!


Gideão Prewett, irmão de Fabio, riu acompanhado dos outros garotos.


Os marotos naquela noite estavam separados, o que, claro, não era uma coisa muito comum, uma vez que eles estavam sempre juntos, mas Thiago negou absolutamente o convite de Sirius, mesmo com o maroto dizendo que ia ter muitas gatinhas e Remo disse que tinha que adaptar umas falas pra nova peça de teatro. Com isso, Sirius chamou outros colegas do colégio, alguns Corinthianos e outros não, que só estavam indo pra badernar.


― Ae, vamos dar um role pra ver como que ta isso aqui.


― Boa ideia, Elifas!


Concordou Sirius, jogando a latinha de cerveja dentro de um cestão de lixo e caminhando com os amigos.


Até mesmo no final da multidão tinha bastante gente, aqueles que também não queriam se espremer no meio da multidão, mas queria curtir a festa.


Os meninos resolveram ir até uma barraquinha que estava vendendo bebidas pra compras umas cervejas, mas tiveram que esperar por Gideão que tinha esbarrado em uma garota, a achado bonita e estava beijando-a.


Logo eles estavam, cada um com uma latinha de cerveja na mão, caminhando pela praça, conversando, rindo e paquerando, claro.


Faltavam quase meia hora pra meia noite, eles estavam perto de uma fonte, no palco, muito a frente, a banda Exaltasamba cantava uma musica animada, Sirius batucava a latinha segura em sua mão enquanto corria os olhos pelo lugar, escutando a conversa dos amigos.


― Ah cara, eu não acredito que ela te deu o fora.


Os meninos riam de Elifas que acabava de tentar beijar uma garota, sem muito sucesso.


― Ah falou o garanhão. Quero ver se você consegue pegar uma gatinha.


Elifas desafiou Edgar e os garotos riram.


― Ae Sirius, olha que gatinha! O que acha?


Sirius riu do jeito que o amigo falava e virou o rosto pra ver a tal da gatinha que Edgar ia tentar a sorte.


Um grupo de garotas estavam paradas mais a frente, três eram morenas e uma era loira, os cabelos presos num rabo de cavalo, pareciam ser longos, vestia uma calça jeans apertada, um tênis all star preto e uma camisa do Corinthians, nas mãos ela tinha uma latinha de cerveja e ria conversando com um garoto.


O garoto, que enlaçava a cintura da loira, a puxou beijando-a em seguida.


Sirius ficou meio minuto congelado.




  


― Marlene o amigo dele quer te conhecer.


Lia ainda podia sentir as mãos do garoto em sua cintura, os lábios dele tocavam seu rosto carinhosamente, enquanto ela ria fraco com o carinho do garoto.


Ela se desvencilhou dos braços do menino com dificuldade, pra ir de encontro com as amigas.


A loira se aproximou da morena, que fazia uma careta e ria. Marlene McKinnon era uma garota bonita, de cabelos pretos e olhos amendoados.


― A Emelina que gostou dele, não vou roubar maxo de ninguém


As garotas riram e Emelina, uma morena de ar imponente, sorriu ajeitando os cabelos.


― Adoro sair com a Lia, ela sempre consegue encontrar uns garotos legais e ajeitar eles pra gente.


As meninas riram, Lia abraçou os ombros da garota mais baixinha que as demais, mas não menos bonita, tinha os cabelos pretos tão brilhantes que pareciam aqueles cabelos de mulheres famosas.


― Ele tem um amigo legal, Alice, se você quiser te apresento.


― Você por acaso conhece ele, Lia?


Lia deu de ombros.


― Conheço ele do Twitter, Lene, daí ele disse que ia vir com os amigos ao centenário só porque eu estaria aqui.


As meninas fizeram um “ualll” e Lia riu, sentindo as mãos do garoto enlaçar sua cintura por trás, roçando os lábios na orelha dela, fazendo-a se arrepiar. Ela riu.


― Rafa!


― Oi loirinha.


Lia sentiu o sangue congelar.


Sirius! – Exclamou a loira, segurando as mãos do maroto, que a abraçava por trás, tentando tira-las de sua barriga enquanto ele beijava seu pescoço, fazendo-a se arrepiar mais ainda.


― Você ta louco? Me solta!


Relutantemente, Sirius soltou as mãos da cintura de Lia, que se virou em seguida pra encarar o maroto. Ele exibia aquele sorriso maroto de sempre enquanto a olhava.


― Esta me traindo né?


A loira fez uma careta.


― Deixa de ser bobo. O que ta fazendo aqui?


― Ué, eu falei que vinha, você que disse que não ia dar.


Lia deu de ombros e Sirius achou meio estranho. Será que ela tinha dado um fora nele e ele não percebeu? Ele nunca tinha levado um fora antes!


― As meninas quiseram vir, então eu vim com elas.


― E quem é meu substituto?


Lia riu, virando um gole da latinha de cerveja que tinha nas mãos e colocando a latinha num canto.


― Eu preciso ir. A gente se vê.


Ele viu a loira sorrir pra ele, antes de virar-se e ir em direção ao grupo de pessoas onde o tal garoto que ela estava de beijos, se encontrava. Sirius ficou parado ali mais um minuto, vendo o garoto enlaçar a cintura da loira a puxando pra perto dele, sussurrar algo no ouvido dela e olhar na direção de Sirius, claro que estava perguntando quem era, ele viu a loira dar de ombros e beijar o garoto em seguida.


― Chega né Sirius. Vam’bora.


Ele disse pra si mesmo, antes de virar o resto de sua latinha, jogá-la num canto qualquer e se virar pra ir até seus amigos que estavam mais atrás, conversando com algumas garotas.


Sirius não podia acreditar que a loira não tivesse dado a mínima pra ele, como ela não tinha dado a mínima pra ele? Aquilo não se encaixava na cabeça dele. Nunca nenhuma garota tinha agido daquele jeito com ele, ficado, e depois simplesmente, recusado um convite pra sair e não dar a mínima pra ele.


Ele sacudiu a cabeça.


Deixa de pensar nisso, é só mais uma garota, você arruma varias que nem ela por ai. Ele pensou, antes de comprar mais uma cerveja e ir até os amigos.


 Gatinhas! Hora do ataque.




                                                                             ***


  


Finalmente a ultima aula estava se aproximando enquanto as meninas andavam pelos corredores do colégio em direção a aula de química. Lia ia contando pras meninas mais coisas sobre a festa do centenário do Corinthians, quando elas adentraram na sala e foram para seus lugares.


A sala de química era um pouco diferente das demais, as mesas eram em duplas e em cima das mesas haviam vários aparelhos estranhos usados em algumas aulas, dependendo do que estavam estudando.


As meninas foram para seus lugares, que coincidentemente, ou não, era perto dos marotos que, naquele dia, estavam desfalcados.


― Pat, quer fazer dupla comigo?


Patsy que ia sentando numa mesa atrás de Lia e Lilian, virou-se pra ver Remo sentado numa mesa sozinho e sorriu.


― Cadê o Sirius?


Ela perguntou ao maroto, enquanto se sentava e puxava o livro de química da mochila.


― Matou aula. Parece que a noite de ontem foi boa demais pra ele e não conseguiu acordar cedo.


― Ele que não falte à porra do treino senão eu juro que mato ele.


Thiago que estava sentado à frente dos dois, virou-se se “metendo” na conversa. Patsy riu.


― Eu já liguei na casa dele e a mãe dele disse que vai arrancar ele da cama.


Thiago fez uma careta.


― Então ele vem pro treino. Aposto como a mãe dele vai tirar ele da cama com um balde de água fria.


Thiago, Remo e Patsy riram.


― O que na verdade eu não fico com pena, pena eu terei de mim se ele não aparecer. Lembra da ultima vez que ele faltou o treino? Eu achei que ia sair sem pernas do campo, o Hoosh descontou em mim a falta daquele filho da puta.


Thiago fez uma careta se lembrando do tal dia enquanto Remo e Patsy riam.


― E nos diga como você esta sobrevivendo sem seu Almofadinhas, Thiago?


Todo mundo riu e Thiago olhou pro lado onde Lia e Lilian estavam sentadas. Thiago se levantou em seguida, indo até a mesa da frente, puxando a cadeira, virando- ao contrario e se sentando nela pra ver as meninas.


― Muito bem, obrigado, mas se ele não aparecer pro treino você será viúva, loirinha.


Todo mundo riu e Lia fez uma careta.


― A noite foi tão boa assim? Você não o viu por lá?


Lia jurou que viu um sorriso maroto no rosto do garoto.


― Ah, a minha noite foi boa, a dele eu já não sei, a gente se encontrou, mas foi só pra um oi.


― Hmm... – Disse Thiago acenando com a cabeça, os olhos fixos na ruiva, que lia ou fingia ler um capitulo do livro de Química.


― Esta brava comigo ainda, Lilly?


A ruiva ergueu os olhos do livro pra olhar o maroto sentado a sua frente, olhando-o por segundos antes de dar de ombros.


― Olha... – Começou Thiago. – Foi mal. Não queria que ficasse chateada comigo, a rixa entre eu e o Ranho... Snape, é antiga, e não quero que isso afete a nossa amizade.


A ruiva ergueu novamente os olhos do livro pra olhar Thiago, tudo bem, era realmente uma atitude legal a dele de ir se desculpar, alem do mais, ela não sabia o que havia entre ele e Snape para julgá-lo, talvez a briga fosse realmente feia.


― Tudo bem.


Thiago sorriu e se levantou, indo se sentar no seu lugar, enquanto a professora falava algo, chamando a atenção dos alunos.


― Foi legal a atitude do Thiago. – murmurou Patsy pra Remo que concordou com a cabeça.


― Ele esta incomodado com o fato da Lilian estar evitando-o e eu acho que ela não esta fazendo isso só por causa do Snape.


― É, na verdade não é só isso. – Disse Patsy, se calando em seguida, Remo não perguntou o real motivo, o que foi bom, afinal Patsy não ia poder dizer, entendia a situação da amiga.


― Então, você foi à festa também?


Remo estava folheando o livro procurando pelo capitulo indicado pela professora na lousa.


― Não, eu até gosto do Corinthians, mas eu torço pro Ceara.


Patsy riu e Remo riu junto.


― Ceara? Subiram pra primeira divisão esse ano, não foi?


― Foi! E só espero que não rebaixe de novo né.


A garota riu e Remo sorriu, observando o sorriso dela por segundos, antes de voltar os olhos pro livro.


― Mas então... – Começou timidamente Remo. - Você esta bem, Pat? Parece meio cansada.


― Ah, não dormi muito bem à noite, ando tendo insônia.


Na verdade a insônia tinha um nome e um rosto, que estava sentado ao seu lado naquele exato momento.


― Sabe a causa? Isso pode ser o reflexo de alguma coisa Pat, preocupação, ansiedade, cansaço, que às vezes ao invés de fazer dormir rápido, faz o contrario.


A garota sorriu. Ah se ele soubesse o motivo da minha insônia.


― Ah, não se preocupe, Remo. Essa insônia é normal.


Ele sorriu, acenando com a cabeça, e ela pôde sentir seu estômago dar voltas e uma coisa fazer seu coração parar por um segundo antes de disparar loucamente dentro do peito.


Eles voltaram à atenção pra aula, o que ela achou muito bom, mais um minuto olhando pra ele e ela perderia completamente o juízo.


  


                                                                               ***


  


― Caralho, Sirius!


São Paulo era com certeza a cidade mais poluída do país e, Sirius não sabia se era por causa da poluição, por causa da baixa umidade do ar, ou era só o sol do cão que fritava seus miolos, que o estava deixando tão exausto, ou talvez, pensando bem, fossem aquelas cervejas da noite anterior, finalmente fazendo seu efeito.


― Foi mal, Pontas, o sol não deixou eu te ver.


Ele podia ouvir os urros desesperados do treinador em algum canto do campo, mas não estava a fim de prestar atenção.


O maroto puxou a camisa, erguendo-a pra enxugar o suor do rosto, o calor estava de matar, sem duvida alguma, isso ninguém podia negar, e aquele sol alem de fritando todo mundo, estava cegando-o com toda aquela claridade, será que São Pedro não podia mandar umas nuvenzinhas, não?


― Eu falei pra você não beber muito senão ia ta cozido no treino, mas parece que ninguém me ouviu.


― Nem bebi, porra.


Sirius sabia que era mentira. E pelo que parecia, não era só ele que sabia daquilo.


Thiago riu.


― Pegou muito?


Eles caminhavam pelo campo, enquanto a bola rolava pra lá do meio de campo do adversário.


― Três.


― Então tava bom? Pelo que eu vi na TV achei que só tinha um bando de cueca amontoado um no outro pra ver os jogadores.


Thiago riu e Sirius fez uma careta.


― E eu lá fiquei no meio dos cueca? Sai fora! Fiquei lá pro final da galera, onde tava mais tranquilo e tinha mais gatinhas dando sopa.


Thiago riu, acompanhando os jogadores do seu time recuperarem a bola depois de um quase gol do time reserva.


― Viu alguém de interessante lá?


Sirius riu, mas não respondeu. Naquele momento Thiago corria em direção ao gol, Sirius virou-se, vendo um dos zagueiros correndo com a bola em direção ao meio de campo, ele acenou com a mão e segundos depois a bola vinha, rasteira e rápida pra ele, que pegou a bola, driblando dois zagueiros e partindo pra frente, em direção ao ataque.


Thiago corria pelo campo, acompanhando a jogada de contra-ataque do amigo, o cara era bom em contra-ataque, pensava Thiago que correu o máximo que conseguiu em direção ao gol, Sirius estava vindo, ele estava livre, ele viu que Sirius olhou pra ele, chuta essa porra pra mim logo, caralho, eu to livre, pensou Thiago que ergueu a mão sinalizando pro amigo, que meio segundo depois chutou a bola alta pra Thiago pega-la no ar fazendo a bola bater em seu peito, ajeitá-la, e então chutar.


Ele parou. Um segundo observando a bola.


― ARRREEEEE!


A bola bateu na trave.


Ele ouviu um urro não muito longe dali, fez uma careta e passou à mão na testa suada, caralho deve ta uns 40º graus, não é possível.  Pensou Thiago enquanto respirava fundo, tentando recuperar o fôlego.


Varias garotas nas arquibancadas gritavam animadas, enquanto acompanhavam o treino.


Sirius se aproximou e bateu na mão de Thiago.


― Bolão heim!


― Valeu!


― E ela não estava lá, pelo menos eu não a vi com a loirinha.


Eles caminhavam lentamente em direção ao banco de reservas, ambos ofegantes e exaustos.


― A Lia tava lá mesmo? Ué, você não disse que ela não ia?


Sirius deu de ombros.


― É, mas ela estava lá com aquelas meninas do C.


― Nem sabia que ela conhecia aquelas meninas.


― Nem eu, mas tem umas gatinhas lá.


Sirius riu.


Os dois chegaram ao banco de reservas e apanharam uma garrafinha de água, abrindo-a e virando um grande gole.


― Sem enrolação vocês dois ai. – Rosnou o treinador Hoosh.


Caralho! Sirius fez uma careta escondida.


― Esse calor da porra ta matando treinador, não podemos...


― Não podemos, porra nenhuma, o campeonato vai começar daqui a três semanas, se vocês não ganharem a porra...


― Da taça esse ano a gente vai ta morto, é to sabendo.


Sirius virou um ultimo gole antes de voltar ao campo acompanhado por Thiago.


― Alguém já falou pra ele, que ele bravo parece o Maguila?


  


                                                                           ***


  


O salão de jogos estava bem iluminado, a mesa de sinuca tinha sido arrastada, com grande dificuldade, para um canto, deixando assim um espaço maior livre no meio do salão.


Em cima de uma mesa ao canto havia vários copos e alguns refrigerantes, acompanhados de salgadinhos, bolo salgado e alguns biscoitinhos caseiros, parecia uma festa ou quem sabe uma grande reunião de amigos. Talvez fosse quase isso.


Duas pessoas estavam sentadas em um sofá a um canto do salão.


― Lembra de quando você me viu pela primeira vez? Aqui mesmo neste estacionamento? Você bateu os olhos em mim e teve a impressão de que me conhecia de algum lugar, não foi? E ontem, quando acordou do desmaio e deparou com meu rosto a um palmo do seu. Você quase lembrou, estava a um passo de me reconhecer.


Não!


― Fui eu quem encontrou você aquele dia, no campo. Fui eu quem trouxe você de volta!


Não!


―Aqueles olhos que você viu ao... Voltar a si... Aqueles olhos eram meus. Eu salvei você. Sei que você lembra. Estou lendo seus pensamentos.


― Não! Pare com isso!


― Sinto muito mas é verdade.


― Você não tinha o direito de fazer isso, de interferir dessa maneira! Agora sou uma aberração, e a culpa é sua! Por sua causa estou presa nessa vida horrível! Por que você não deixou que eu morresse em paz?


― Não ia suportar perder você outra vez. Não desta vez. Não de novo.


Os olhos azuis acinzentados brilharam e um ser transparente revirou-se dentro de um estomago.


― Eu não acredito que vocês estão chorando de verdade.


Sirius riu, aquela risada rouca, estava sentado no sofá e a sua frente Lilian tinha os olhos esverdeados cheios de lágrimas que agora escorriam por seu rosto.


― Tem algum celular tocando.


Não muito longe deles, Lia estava sentada em cima da mesa de bilhar, tinha nos olhos lágrimas que ela tentou secá-las rapidamente pra que ninguém notasse.


― É muito lindo, Sirius, o jeito que você fala.


O garoto que se levantava do sofá, apalpando os bolsos, riu, olhando Patsy sentada ao lado de Lia.


― Ta procurando por isso?


Remo, que estava encostado na parede, observando o ensaio e acompanhando as falas em um texto bem seguro nas mãos, jogou um celular pra Sirius que o pegou no ar.


― Valeu Aluado. É o Pontas. – ele disse olhando pro aparelho, antes de atender. – Fala viadinho!


― Mas a cena esta legal, Lilian, você leva mesmo jeito pra coisa.


Remo ignorando totalmente a conversa de Sirius com Thiago ao telefone, virou-se pra falar com a ruiva, que sorriu acenando, e enxugando as lágrimas do rosto.


― Alguém quer mais salgadinhos?


Uma senhora loira, também de olhos azuis entrou no salão, trazendo nas mãos uma bandeja de salgados.


― Ah obrigada, Sra. Andrews.


― Lia sua mãe é muito legal!


Lia sorriu pras amigas.


― Queria uma mãe dessas ae.


Sirius que acabava de desligar o celular, correu até a mãe de Lia, pegando um salgadinho e agradecendo a Sra. Andrews.


― Nem vem que eu não dou, nem empresto minha mãe pra ninguém Sirius.


O garoto fez uma fingida cara triste, voltando ao sofá.


― Ae, o Pontas ta vindo ae, tudo bem?


Lia acenou que sim com a cabeça e pegou o celular do bolso.


Lilian estava indo até o banheiro, segundo ela, retocar a maquiagem que havia borrado, como se ela usasse muita maquiagem para tal.


Patsy e Remo conversavam a um canto, e Sirius se jogava no sofá novamente.


― Você não faz teatro também, Pat?


A garota sorriu fracamente.


― Ah não, eu gosto muito de teatro, cinema, mas não pra atuar.


― É boa com textos?


― Com criticas.


Ela sorriu.


― Ah então eu vou ter uma critica observando as peças?  Sabe que sou eu que adapto todas as falas né?


A garota riu.


Sirius revirou os olhos, tirando a atenção de Remo e Patsy que pareciam muito envolvidos em conversas que ele não se interessava nenhum pouco, e olhou ao redor, parando seu olhar em Lia, que estava sentada sobre a mesa de bilhar, rindo com alguma coisa que ela mexia no celular.


Ele pegou uma almofada e jogou na direção da loira, acertando-a na cabeça. A Loira ergueu os olhos e se deparou com Sirius sorrindo maroto.


― Ah tinha que ser você.


― Ta fazendo o que?


― Whatsupp.


Ela deu de ombros e voltou os olhos pro celular. Caralho, porque ela não dava atenção pra ele?


― Com o carinha lá?


Ele tentou parecer que não estava preocupado, nem interessado e que perguntava por perguntar.


― Que carinha?


Ela sorriu, ainda com os olhos fixos no aparelho.


Perai, aquele sorriso foi um daqueles sorrisos bobos que as garotas dão quando tão apaixonadas?


― Ué, o da festa ontem.


A loira deu de ombros e colocou o celular de lado, olhando em direção a ruiva que voltava do banheiro, indo em direção a mesa de salgados.


Remo e Patsy pareciam ter reparado também na volta de Lilian.


― Vamos continuar o ensaio?


Sirius fez uma careta pra Remo e se levantou, se espreguiçando, olhando pelo canto dos olhos pra loira, não sabia muito bem porque, mas o fato dela parecer estar encantada por outro não lhe agradava nenhum pouco.


  




A casa de Lia parecia bem bacana, ele pensava enquanto acompanhava a Sra. Andrews pela casa, em direção onde o pessoal estava.


Segundo Sirius eles tinham ido até lá pra ajudarem Lilian a ensaiar pro teste de teatro dela, que seria dali a uns dias, e todo mundo estava reunido, todo mundo junto e tinham o esquecido, justo dele.


Thiago revirou os olhos com seus pensamentos, antes de sorrir educadamente a Sra. Andrews que lhe mostrava a porta que dava pra onde o pessoal estava e agradecê-la.


Thiago abriu uma porta, que nem sequer fez barulho, e ficou parado, onde estava, observando uma cena que se seguia no meio do que lhe pareceu um salão de jogos.


Ele sentiu uma coisa brutal revirar-se dentro dele.


  


― Não ia suportar perder você outra vez. – Ele estava ajoelhado ao lado dela, falando baixinho ao ouvido da garota. – Não desta vez. Não de novo.


Ela ergueu os olhos para encará-lo, os olhos esverdeados, vermelhos, as lágrimas escorrendo pelo rosto doce e macio.


― Vá embora!


― Por favor, não diga isso... – ele tinha a voz incerta, emocionada.


― Você falou que jamais seria capaz de me machucar, mas olha só o que você fez! Estragou tudo, arruinou minha vida e pra quê? Pra que eu ficasse sozinha no mundo? Eu odeio você! Eu o odeio, por tudo o que você me fez! Eu o odeio por ser tão egoísta! Suma da minha vida! Me deixe em paz!


Meu deus, ela estava chorando! Mesmo agora, com o rosto abaixado sobre as mãos, ele podia ver seu corpo sacudindo-se com o choro, a voz embargada pelas lagrimas, ele tinha que fazer alguma coisa, não podia deixá-la ali, sofrendo, ele não podia vê-la sofrer, sentia alguma coisa gigantesca dentro dele pular, gritar, esmurrar-se pra ele fazer alguma coisa, pra afastar aquele cara de perto dela e deixá-la livre daquele tormento.


― AH! Agora ta perfeito!


Ele viu, ainda parado a porta do salão, o garoto agachado ao lado dela, erguer os olhos, passando a mão pelos cabelos, sorrindo e se levantando, estendendo a mão pra garota segurar.


Lilian segurou na mão de Sirius e levantou-se, os olhos avermelhados, o rosto coberto de lagrimas, mas nos lábios um sorriso de satisfação.


Ele viu Sirius puxar a ruiva e abraçá-la, e sentiu aquela coisa bruta e enraivecida dentro dele revirar-se inquieto novamente.


A ruiva abraçou Sirius, sorrindo e então seus olhos voltaram-se pra ele, que passou a mão pelos cabelos sem jeito e entrou no salão, finalmente.


― Oi Thiago! Você demorou. Entra, tem refrigerante e uns salgadinhos que minha mãe fez, se você quiser.


Thiago sorriu, acenando, pra loira, e dando um oi pro pessoal.


Sirius soltou à ruiva.


― Agora ta perfeito heim, ruivinha?! Você vai arrasar no teste.


A ruiva sorriu, Sirius virava-se pra Thiago.


― Você demorou, cara.


― É, eu tava batendo uma bola com meu pai lá em casa.


Sirius olhou pro amigo por um instante, tentando descobrir o que tinha de errado com o maroto, mas teve os pensamentos distraídos.


― Ah você perdeu, Thiago, o ensaio foi tão legal. Eu chorei assistindo.


Sirius riu, abraçando Thiago pelos ombros e o arrastando salão adentro.


― Essas minas são muito chorona, Pontas, você tinha que ver.


Sirius riu e Thiago sorriu, se esforçando a rir. Alguma coisa dentro dele o deixava inquieto. Iria ser obrigado a ver varias cenas como aquela, agora que Lilian estava também na turma de teatro? Será que a ruiva ia fazer cenas românticas com Sirius? Será que ela ia beijá-lo nas peças?


Ele sentiu o ser dentro dele urrar, como se fosse capaz de esmurrar tudo dentro de si, mas Thiago respirou fundo e sacudiu a cabeça levemente.


Caralho, para com isso! Ele disse firmemente a si mesmo em pensamentos, antes de entrar na conversa animada do pessoal, que agora falavam em varias peças musicais, onde poderiam colocar a banda de Thiago pra cantar e tocar também, e ele se deixou distrair, era muito melhor deixar o ser brutal dentro dele adormecer novamente.


  


                                                                                 ***


  


O outro dia tinha seguido normal, as aulas tinham corrido tranquilamente e Lilian estava bastante feliz, tinha certeza de que iria bem no teste que seria no outro dia.


Os ensaios com Sirius no dia anterior tinham sido muito bons, Sirius era, sem sombra de duvida, muito bom ator e conseguira passar a Lilian tudo que sabia, ajudando-a a se entrosar com o personagem e deixar o medo de lado.


Com essa alegria e confiança, a ruiva caminhava pelos corredores do colégio, depois de passar à tarde no auditório do teatro, relendo as falas com Remo num canto, enquanto o pessoal do teatro ensaiava uma peça no palco.


Ela consultou o relógio, eram quase seis da tarde, ela tinha ficado no teatro mais tempo do que pretendia e por isso ela caminhava apressada, tinha esperanças de ainda pegar a amiga nos ensaios da banda.


Lilian virou à esquerda e caminhou até o final do corredor, onde tinha uma porta entreaberta, ela abriu a porta e ouviu o som de um violão soando mais ao fundo.


A porta em que Lilian acabara de entrar dava pra um minúsculo corredor, tão pequeno que se ela desse dois passos já estava de frente com outra porta, que encontrava-se aberta.


O som de violão agora era mais alto, receosa em atrapalhar, Lilian deu alguns passos lentamente em direção a porta, parando à mesma para observar a sala a sua frente.


Era revestida de, alguma coisa, que lhe parecia um carpete fofo azul, presos as paredes, dentro havia vários instrumentos, uma bateria ao fundo, um suporte que segurava um baixo, um suporte de microfone à frente, e duas banquetas altas, uma delas ocupadas por um garoto de cabelos pretos, despenteados de tal maneira que pareciam espetados para todos os lados, tinha nas mãos um violão, para o qual o garoto olhava, tocando algumas notas e cantando baixinho. Sua voz era suave, doce, completamente gostosa de ouvir, ela poderia ficar ali horas e horas ouvindo-o cantar.




                                                          (♪)  You left a mark

Você deixou uma marca

I wear it proudly on my chest
Eu a visto orgulhosamente no meu peito

Above my heart
Acima do meu coração

To Remind me that I feel the best
Para me lembrar que eu me sinto melhor

When I'm with you
Quando eu estou com você

To me everything is effortless
Para mim tudo vale a pena

You know its true
Você sabe que é verdade

My eyes are painted with regret and I don't need it
Meus olhos estão pintados com arrependimento e eu não preciso dele

Cuz I'm walkin down this road alone and
Por que eu estou andando por esta estrada sozinho e

 figured all I'm thinking bout is youpercebi que tudo que estou pensando a respeito é você

is you my love
é você meu amor (♪)



Lilian ficou paralisada na porta. Por alguma razão, que ela não sabia qual, ela sentiu seu sangue congelar por dentro, como se estivesse batendo de frente com um enorme icebergue.


Thiago ergueu os olhos do violão percebendo alguém parado a porta e viu Lilian, olhando-o estranhamente. Ele sorriu sem jeito.


Lilian retribuiu o sorriso, também sem jeito, entrando na sala.


― Eu vim procurar a Lia.


Ela disse sem jeito. Thiago tirou o violão e o colocou no suporte ao lado, se levantando.


― Ela já foi, tem um tempinho.


A ruiva sorriu fraco.


― E você ficou ensaiando sozinho?


Ela sentia uma coisa diferente, como se a musica que ele estava cantando tivesse dito mais do que aparentava. Era como se ele tivesse cantando pra ela.


 “Meus olhos estão pintados com arrependimento e eu não preciso dele.”


O fato dele ter-lhe pedido desculpas e aquela parte da musica, pareciam amolecer tudo dentro dela.


Ela viu que o garoto estava parado a alguns passos e dava de ombros, sorrindo de uma maneira que lhe pareceu triste.


― Eu gosto de ficar aqui tocando depois que todo mundo vai embora.


Lilian sorriu sem jeito, porque ele tinha o dom de fazê-la sentir-se estranha quando estava por perto?


― Ah... Bom. Já que a Lia já foi, eu vou indo. Obrigado.


A ruiva virou-se pra sair da sala.


― Lilian.


A ruiva parou, virando-se para encarar o maroto. Ele deu alguns passos e parou a sua frente. Lilian podia sentir sua respiração conter-se por segundos antes de acelerar mais que o necessário.


Thiago abriu a boca e a fechou em seguida. Sentia sua própria pulsação acelerando de maneira incontrolável e mãos soarem estranhamente frias. Porque, afinal de contas, ele estava sentindo tudo aquilo?


Ele respirou fundo, ela o olhava com as sobrancelhas franzidas, esperando ele dizer algo, ele precisava dizer algo, precisava dizer qualquer coisa ao invés de ficar ali olhando-a daquela maneira idiota.


Ele respirou fundo, tomou coragem e abriu os lábios, mas naquele momento aconteceu uma coisa da qual ele não esperava.


Tudo escureceu.


Caramba, será que eu to sonhando?


A sala foi engolfada por um breu absoluto. Um silencio mais absoluto se fez presente, deixando Thiago apreensivo.


Um minuto se passou, talvez, quando um grito ecoou pela sala.


Lilian.


Thiago deu alguns passos incertos a frente, na direção em que a ruiva se encontrara pela ultima vez, mas ela não parecia estar lá e, para ajudar, o breu era tal que ele não podia ver absolutamente nada a sua frente.


― Lilly!


Thiago forçou a vista na tentativa de enxergar algo, mas não era possível. Deu mais alguns passos, tentando refazer a sala em sua mente, faltavam quantos passos pra ele chegar à porta?


PAM!


Uma pancada forte foi ouvida e Thiago sentiu-se zonzo ao mesmo tempo em que uma forte dor invadia seu corpo inteiro. Havia batido em algo muito solido, gemendo de dor, ele percebeu que não precisava mais responder a sua pergunta.


― Lilly cadê você?


― Aqui!


Thiago percebeu que a voz da ruiva parecia muito próxima. Apalpando a porta, ele passou a dar pequenos passos na direção em que ela parecia se encontrar.


Alguns segundos se passaram quando ele sentiu sua mão tocar em algo que lhe pareciam fios de cabelos.


― Lilly, você esta bem?


A voz dele estava embargada de preocupação. Thiago percebeu que Lilian estava encostada a porta, provavelmente ela tentara sair e tivesse tido o mesmo fim trágico que ele teve ao tentar chegar à porta.


Thiago deslizou as mãos pelos cabelos de Lilian, apalpando-a devagar, não queria perguntar ao cabelo dela, como eles estavam.


Quando suas mãos tocaram a face quente e macia da ruiva, ele deslizou a palma da mão pelo rosto dela, segurando-o delicadamente, e perguntando numa voz mais baixa e atenciosa.


― Você esta bem, Lilly?


Lilian, paralisada a porta, murmurou baixinho.


― Estou. O que... O que aconteceu?


― Deve ter havido algum apagão, por segurança as portas travam quando apagam-se as luzes.


― Não... Não trancaram a gente aqui, trancaram?


Ele podia sentir o medo na voz dela, e aproximou mais o rosto, segurando seu rosto com a outra mão, falando num tom calmo, para passar-lhe segurança.


― Não, a escola só fecha depois das nove, e eles passam verificando todas as salas antes. Deve ter tido algum apagão e...


VUM!


Um barulho forte ecoou alto vindo de algum lugar ao longe.


Lilian e Thiago sentiram o sangue congelar novamente, parados, estáticos, no mesmo lugar.


Então o som de energia e um “click” se fez presente, eles fecharam os olhos, abrindo-os em seguida para constatar, com os olhos piscando devida a claridade inesperada, que a luz havia voltado.


Thiago e Lilian permaneceram no mesmo lugar, exatamente como estavam, foi então que Thiago percebeu, a ruiva tinha a respiração ofegante, o rosto avermelhado e a distancia entre os dois era bem menor do que ele imaginava.


Ele tinha o rosto macio e suave de Lilian em suas mãos, seu rosto estava tão próximo do dela que podia sentir sua respiração, podia sentir o doce cheiro do hálito dela, podia ver cada detalhe daquele rosto, as íris verdes brilhando como ele nunca havia visto antes, o desenho perfeito de seus lábios vermelhos, agora sendo umedecidos pela língua que ela passava suavemente por eles, podia sentir até mesmo o coração dela batendo acelerado junto com o dele, que pulsava num ritmo frenético dentro do peito.


Era como se nada mais além dela tivesse importância pra ele, nem sequer era capaz de lembrar-se o motivo que o fizera ficar daquela maneira com ela, não conseguia se lembrar nem onde estava, a única coisa que importava pra Thiago naquele momento, era o rosto macio e suave de Lilian em suas mãos, os olhos dela nos seus e descendo até seus lábios e seus próprios olhos encarando aquelas íris verdes percorrendo aquele rosto perfeito até aqueles lábios vermelhos, tão próximos dos dele, que o fazia perder completamente a noção de tudo.


O mundo podia simplesmente acabar naquele momento, desde que aqueles lábios, aqueles lábios perfeitamente vermelhos, fossem seus, pelo menos uma vez, pelo menos por um instante.






  


*N/A:


Deixando claro que as falas que Sirius e Lilian ensaiam faz parte de um capitulo do livro “Para sempre. Os imortais.” Do qual eu gosto muitoooo *-*
E a musica que o Thiago canta, é “Droplets” da Colbie Caillat.


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