*Capitulo Três: Fim do começo*


                       “Era paralisante aquela sensação de que um buraco imenso tinha sido cavado em meu peito”


― E ai Remo!

Ele sabia que estava com os olhos fechados, o rosto muito próximo do rosto dela, podia sentir o calor e doce cheiro do hálito da garota tão próximos dos seus lábios que até podia sentir o gosto dos lábios dela, ele sabia que mais um segundo, um segundo e ele a estaria beijando, ansiava por aquilo, um segundo a mais, antes que aquele...

Remo respirou fundo, abriu os olhos afastando levemente seu rosto do rosto da garota, que também abrira os olhos, e lançou um olhar assassino ao ser que acabara com seu momento perfeito.

Aquele garoto talvez não tivesse noção de que poderia ser morto, com certeza, nos próximos minutos.

O garoto que parecia estar muito aéreo, ou feliz demais pra notar alguma coisa, deu alguns passos em direção a Thiago e lhe deu um tapa nas costas.

Putaquepariu!

Foram os pensamentos de Thiago, que mesmo sendo pensamentos, ele tinha certeza, que se podia ouvir a quilômetros de distancia.

Perai Deus, eu pedi pra NINGUÉM me jogar um balde de água fria, não o contrario!

Ainda com a mão acariciando o rosto de Lilian, e com os lábios próximos dos dela, ele abriu, relutantemente, os olhos, pra ver uma ruiva muito corada à sua frente, rir, enquanto Thiago, erguia o rosto, encarando, assassinamente o garoto.

― Cara você não vai acreditar!

Disse animadamente o garoto, dando em seguida um tapa na cabeça de Sirius.

―Cara, você não vai acreditar! Sabe onde eu estava?

Sirius, que ate então estava embriagado demais, pensando estar desfrutando do paraíso, não esperava que nada tão desagradável pudesse bater na sua cabeça naquele momento e estragar tudo.

Ele podia sentir os lábios deliciosos da garoto nos seus, se ele se lembrava bem, e como lembrava, havia acabado de não pensar em nada e beijar a garota que ele passara a noite, quase toda, de olho, e quando ele finalmente conseguira beijá-la, um ser completamente desagradável batia na sua cabeça e falava sem parar na sua orelha.

― Sirius! Thiago! Cara vocês não vão acreditar onde eu tava. Sabe onde eu tava? Sabe?

Sirius, relutantemente, afastou os lábios dos doces lábios da garota, pra falar, ainda de olhos fechados e com uma das mãos no rosto, suave, da garota.

― Não. Mas eu sei aonde eu vou te enfiar se você não calar a boca e sumir daqui, Diggle.

Sirius, que não tivera o trabalho de abrir os olhos, aproximou novamente os lábios dos lábios da garota, que riu. Relutantemente ele abriu os olhos.

A garota que também abrira seus lindos olhos azuis, ria olhando de Sirius pra um garoto baixinho, que virava uma das cadeiras ao contrario e se sentava nela, olhando os marotos, que, sem exceção, lançavam olhares assassinos ao garoto.

― Vocês não vão...

― Acreditar. É, to sabendo, você já disse isso umas duzentas vezes em cinco segundos.

Disse Sirius com a cara de puro tédio e desagrado ao garoto, passando a mão pelos cabelos, e pegando um copo de caipirinha, já meio quente em cima da mesa próxima, tomando um gole e oferecendo a Lia, que aceitara, pegando o copo e virando um gole.

― E você não podia contar isso amanha, não?

O garotinho riu, e Thiago desejou ter um olhar assassino, pra matar o garoto. Como alguém tão pequeno podia ser tão irritante?

― Tenho certeza que você não ia morrer se tivesse ido pra sua casa e nos ligado amanha pra contar.

Emendou Sirius, que pegara o copo das mãos de Lia e o colocava sobre a mesa.

― É, Diggle, porque você não vai pra casa, sua mãe vai ficar preocupada.

Disse Remo, que completamente enrubescido, havia se afastado levemente de Patsy, e assim como Sirius, pegava um copo de caipirinha pra tomar um gole, entregando a Patsy em seguida.

As garotas riram e se entreolharam.

― Na verdade, é melhor nós irmos embora.

― Não, ruivinha, ta cedo ainda.

A garota riu, passando a mão nos cabelos de Thiago, despenteando-os ainda mais, enquanto se levantava.

― Eu vou ao banheiro.

― Eu também.

Disseram as outras duas. Lia e Patsy se levantaram, e sorriram, antes de dizerem, quase em uníssono.

― Já volto!

Assim que as garotas se afastaram em direção ao banheiro, três marotos completamente zangados viraram pro garoto.

― Você quer morrer, seu filho da puta?

― Ta ficando louco?

― Eu tava quase beijando ela!

― A gente já sabe o que a garçonete é capaz de fazer!

― Eu vou te matar, seu idiota!

― Eu fiquei a noite toda querendo beijar aquela garota, seu desgraçado!

― Você é um idiota, Diggle!

― Ela te levou pra casa dela e te amarrou na cama? Grande merda, seu idiota!

― Eu vou enfiar sua cabeça na privada, Diggle!

― Como você pode ser tão tapado?

― Ficou cego? Você não viu que eu ia beijar a ruivinha, seu idiota?

O garoto chamado Diggle, afundou na cadeira, enquanto três marotos furiosos enchiam a cabeça dele de tapas e o xingavam sem parar.

O garotinho ergueu as mãos no ar, como quem se entrega, e os garotos se sentaram em suas cadeiras, ainda fuzilando o garoto com os olhos.

― Babaca!

― Foi mal eu não sabia...

― Como não sabia? Você não viu?

― É seu tapado, tava cego? Não viu que a gente tava ocupado?

― Eu... eu não.. percebi. – Disse inocentemente o garoto, e os três o fuzilaram com os olhos.

― Ah merda eu ia beijar ela.

Thiago passou a mão pelos cabelos.

― Dois. – Complementou Remo.

― Na hora que eu consegui beijar a loira...

― Filho da puta! – os três garotos disseram em uníssono, e o garotinho chamado Diggle riu amarelo.

― Foi mal gente, eu não sabia.

Ele tentou se defender, enquanto Thiago virava uma caipirinha inteira, Sirius fazia o mesmo com um resto de cerveja quente e Remo passava, pela primeira vez na vida, a mão pelos cabelos.

― Tenso.

Disse o garoto loiro, vendo as garotas vindo do banheiro. Thiago acompanhou o olhar do amigo, antes de se virar pro Diggle.

― Agora cala essa boca enorme, entendeu?

O garotinho acenou com a cabeça e não disse nada.

As garotas voltaram, e pararam em pé perto da mesa.

― Vamos meninos? – Começou Lia.

― Já esta tarde...

― E é perigoso.

Complementou Patsy.

Os garotos acenaram e se levantaram.

― É, é perigoso. A gente leva vocês pra casa.

Os garotos caminharam em direção das garotas, cada um perto da “sua” garota.

― Se vocês não se importarem de ir a pé, é claro. – Disse Sirius, passando a mão pela cintura de Lia, e saindo com a garota e os amigos em direção a saída do Pub.

― Isso que dá andar com pobre. – Brincou Remo.

Todo mundo riu. Sirius deu de ombros.

― Eu moro aqui na rua mesmo, vou vir de carro pra que?

― E a pé, é mais seguro, Aluado.

― Com certeza, e eu não estou afim de ser motorista de dois bêbados.

― Olha quem fala, quem a gente quase carregou fim de semana passado, Pontas?

Os garotos e as meninas riram e Remo fez uma careta.

Eles pararam na porta do Pub, estavam na esquina da Rua Oscar Freire, a noite estava quieta e calma, o vento deliciosamente gelado bateu no rosto deles, fazendo os cabelos das meninas esvoaçarem dançantes e todos abençoar o vento.

Sirius realmente não morava longe dali, se eles descessem a rua, sairiam bem em frente a sua casa.

― Vamos levar a Pat primeiro, ela é a única que mora pra cima.

Disse Remo, sorrindo pra garota, que se encolheu levemente, enquanto eles começavam a caminhar e o vento se tornava menos agradável.

Remo passou o braço em volta do ombro de Patsy, abraçando-a e a puxando pra perto do peito, de forma que pudesse aquecê-la.

Eles subiram a mesma rua, caminhando devagar, Sirius havia enlaçado Lia pela cintura, e Thiago, dizendo que não queria que a ruiva se adoentasse com o choque térmico, por terem saído de um lugar quente e estarem caminhando pela rua onde um vento gelado soprava, abraçou a ruiva, que não fez objeções. E Diggle, foi caminhando solitariamente junto com o pessoal.

Estavam praticamente na esquina da segunda quadra acima da Rua do Pub, agora era só eles virassem à esquerda e passassem por duas casas, e estariam bem em frente ao prédio onde Patsy morava, mas, assim que viraram a esquina, o som de uma musica soando alto chamou-lhes a atenção.

Thiago começou a fingir que tocava uma guitarra imaginaria, fazendo as garotas e Diggle rirem, o maroto  fingiu jogar a guitarra imaginaria longe, correr e se jogar em cima das meninas, o que na verdade ele praticamente fez, mas pulando nas costas de Sirius, que perdeu o equilíbrio e caiu pra frente, puxando Lia que segurou em Lilian e os quatro caíram no meio da rua, rindo de se acabar. Enquanto Remo, Diggle e Patsy ria mais ainda vendo os quatro estatelados no chão.

Lia e Lilian riam e gritavam com o peso dos meninos em cima delas. Thiago, então, saiu de cima das costas de Sirius e se levantou, puxando Lilian pelas mãos.

Sirius e Lia continuavam caídos no chão, Lia lutava, ineficavelmente, pra empurrar Sirius de cima dela, que sorria marotamente, deitado sobre a garota, uma mão bem firme na cintura dela e outra apoiada no asfalto.

Lia que fingira começar a gritar, sentiu seus lábios se calarem imediatamente, quando os lábios de Sirius pousaram sobre os seus, beijando-a calorosamente.

O corpo de Sirius sobre o dela era quente, assim como seus lábios, que eram doces e sua língua, que brincava com a dela, mais doce ainda.

Ela, que mantinha uma das mãos no peito do garoto, tentando empurrá-lo anteriormente, deslizou a mão pelos ombros do maroto indo em direção aos cabelos dele, e então entendeu porque ele passava tanto a mão nos cabelos, eram macios, gostosos de pegar, e antes que Lia pudesse perceber, seus dedos estavam grudados naqueles cabelos macios enquanto Sirius a beijava ardentemente.

Ele até que podia ter pose de galã, ter lhe parecido apenas um garoto bonito e idiota, mas ele era, inevitavelmente, perfeito, com um rosto perfeito, olhos perfeitos, sorriso perfeito, caninos perfeitos e um beijo mais perfeito ainda, pra completar.

― OLHA O CAMINHÃO SIRIUS. O CAMINHÃO. VAI PEGAR VOCÊS.

Lia e Sirius riram entre o beijo, selando os lábios em seguida. Sirius se levantou e estendeu a mão pra Lia, que segurou na mão do maroto e se levantou, rindo.

Remo, Patsy e Diggle, finalmente chegavam em frente ao prédio de Patsy.

Sirius e Lia se aproximaram, enquanto Patsy dava beijos de despedida nas meninas.

― Vocês são demais. – A garota disse, risonha, dando um beijo de despedida em Thiago, depois em Sirius.

Ela se virou pra olhar pra Remo, sorrindo.

As meninas e os meninos se entreolharam.

― A gente vai indo, Aluado.

Thiago segurou Diggle pelos ombros, arrastando o garoto pra longe, enquanto as meninas riram acompanhando Sirius, Thiago e Diggle, que caminhavam em direção a esquina, a virando em poucos segundos, deixando Remo e Patsy sozinhos em frente ao prédio da garota.

― Eles são loucos. – Disse a garota, que agora parecia levemente corada.

Remo sorriu, olhando a volta, como quem faz isso distraidamente, e reparando que agora a rua se encontrava vazia, exceto pelos dois.

― É, completamente malucos.

Ela sorriu, e ele deu um passo à frente, meio sem jeito.

― Bom... A noite foi... Super legal. Adorei ter encontrado você.

A garota sorriu, abaixando os olhos por segundos, antes de erguê-los novamente.

― Também adorei!

― Então... A gente se vê.

― É. – disse Patsy sem jeito.

E Remo se aproximou, mais sem jeito ainda, pra lhe dar um beijo no rosto, porém antes que pudessem prever, Remo e Patsy viraram o rosto na mesma direção, fazendo-os pararem de repente, levemente assustados, com os lábios a centímetros de distancia um do outro.

Remo parou, com o rosto exatamente onde estava e ela sorriu sem jeito, se afastando lentamente.

Remo se aprumou, sorrindo sem jeito, então antes que pudesse pensar em algo pra dizer, uma voz não muito longe se fez presente.

― Hey!

Ele viu que um homem, do lado de dentro do prédio, aparentemente o porteiro, estava perto do portão de entrada e olhava para eles.

A garota virou-se, olhando pro porteiro antes de voltar os olhos pra Remo.

― É melhor vocês entrarem, não é muito seguro ficarem na rua ha essas horas.

Disse o porteiro e Remo acenou a cabeça positivamente ao homem, olhando novamente pra Patsy.

― Bom, é melhor você entrar.

Ela sorriu. Remo deu alguns passos pra trás, olhando e sorrindo pra garota.

Ela deu um tchau, sem jeito, com a mão, e virou-se indo em direção ao prédio. Remo ficou parado por instantes, certificando-se que ela entrara e estava segura, e quando a garota entrou e deu um ultimo adeus a Remo, ele virou-se e correu em direção à esquina onde os amigos haviam desaparecido.


 

Os marotos, Sirius e Thiago, caminhavam pela Rua Peixoto Gomide, acompanhados por Lia, Lilian e Diggle, todos conversando animados.

Diggle, Sirius, abraçado à Lia e Thiago que abraçava a ruiva, pararam, ao ouvirem um grito e passos de alguém que corria em direção a eles.

Remo parou próximo a eles, ofegante, estavam quase no fim da rua.

― Demorou, Remo.

Sirius e Thiago se entreolharam e riram. Eles estavam virando a esquerda na Rua Estados Unidos, a Rua onde Sirius morava, mas continuaram caminhando.

Ao olhar indagador de Remo, que com o fôlego meio recuperado acompanhava o pessoal, Thiago disse.

― As meninas moram ali na Canadá.

Remo acenou, observou os marotos abraçados as meninas e sorriu, parecia que todo mundo tinha se dado bem naquela noite.

― Não vai dormir na sua casa, Almofadinhas?

Sirius deu de ombros à pergunta de Remo, antes de responder.

― Vou dormir na casa do Pontas. Minha mãe me mata e enterra meus restos mortais no quintal se eu chegar em casa há essa hora.

As meninas riram.

― Verdade.

Disse Thiago a Lilian, abraçando-a mais contra seu peito. Sirius concordou com a cabeça, antes de roubar um selinho de Lia, e continuarem andando.

Não demorou muito e eles chegaram à primeira esquina, virando a direita e logo eles paravam, em frente à casa de Lia.

― Vocês são vizinhas? – Exclamou quase juntos, Sirius e Thiago, quando Lilian apontou sua casa, logo ao lado da casa de Lia.

As garotas riram.

Remo e Diggle continuaram andando lentamente pela Rua Canadá, enquanto Sirius parava em frente à casa de Lia, se despedindo da loira, e Thiago ia com a ruiva ate a frente da casa dela.

Sirius sorriu maroto, enlaçando Lia pela cintura e a puxando pra si, antes de beijá-la.

Ela estava começando a gostar daquilo, do jeito que ele a puxava pra si, da maneira que ele a beijava, daqueles lábios decididos, do cheiro delicioso de perfume masculino, ou não, ela não sabia ao certo, que emanava dele e até da mãozinha nenhum pouco santa, que deslizava pelas laterais do seu corpo.

Ele afastou os lábios dos dela, um pouco relutante, e sorriu marotamente, dando um selinho demorado nos lábios dela em seguida.

― E ai, o que achou do galã?

Lia riu e balançou levemente a cabeça, fazendo os cabelos dançarem pelas costas. Sirius deslizou um dos dedos pelos fios loiros, olhando-a por segundos, ainda com aquele sorriso maroto nos lábios, antes de beijá-la novamente.



Thiago caminhou alguns passos acompanhando Lilian ate a casa dela, onde eles pararam, bem próximos um do outro e se entreolharam por segundos.

Lilian olhou pro lado, vendo a amiga aos beijos com Sirius e riu, Thiago acompanhou o olhar da ruiva, pra ver a mesma cena, e também rir.

― Aqueles dois... – Disse a ruiva, risonha.

Thiago sorriu encarando a ruiva calmamente. Ela olhou-o sem jeito, então disse:

― Obrigado pela noite, foi muito legal.

― Que isso.

Ela percebeu que ele deu mais um passo em sua direção.

― E obrigada por me trazer até aqui.

Thiago sorriu e aproximou-se mais, passando a mão carinhosamente pelo braço da ruiva e a olhando. Os olhos dela eram, sem duvida, a coisa mais linda que ele já havia visto na vida, será que ela tinha noção disso?

― Você é linda!

Ela sorriu, sem jeito, e Thiago se aproximou mais, passando as mãos em volta da cintura Lilian e a abraçando. A ruiva passou as mãos em volta do pescoço do maroto, sentindo seu sangue congelar. Ele roçou o nariz levemente no rosto de Lilian e a garota sentiu as pernas bambearem por segundos.

Lilian, Lilian, acalme-se, pensou ela, loucamente.

Quando ela sentiu que os lábios dele se aproximavam cada vez mais dos dela, ela virou delicadamente o rosto pro lado, afastando-se levemente do maroto e terminando o abraço.

Ela sorriu sem jeito e ele, sorrindo meio torto, passou a mão pelos cabelos, antes de enfiá-la no bolso, enquanto eles ficavam se olhando.

― Pontas?

Thiago olhou em volta e viu Sirius parado um pouco a frente, esperando-o.

― Valeu pela noite, ruiva.

Ele piscou e Lilian sorriu, virando-se e caminhando em direção a sua casa, Thiago esperou a ruiva entrar, então caminhou em direção a Sirius, e logo eles se juntaram a Remo e Diggle, e os quatro garotos continuaram caminhando pelas ruas desertas, em direção a suas casas.

  

                                                           ***

  

Thiago acordou, sentindo uma forte claridade bater em seu rosto. Levou a mão aos olhos, tentando escurecê-los mais enquanto virava-se de lado na cama, para, relutantemente e ainda cheio de sono, abrir um dos olhos e ver que o relógio, de sua mesa de cabeceira, marcavam quinze horas e alguns minutos que ele não conseguiu distinguir.

Fechou os olhos novamente e espreguiçou-se. Passando uma das mãos pelo rosto, ele esfregou os olhos e abriu-os em seguida, para constatar que a claridade, nada mais era, do que o sol batendo em sua janela, mal fechada pelas cortinas.

Ele praguejou baixinho e sentou-se na cama, sentindo a cabeça rodar levemente, espreguiçou-se novamente, erguendo as mãos no alto e sentindo estalar a coluna.

Agora com os olhos completamente abertos, ele podia ver que já eram quase três e meia da tarde, que seu quarto estava com roupas jogadas para todo lado e ele estava apenas usando uma cueca samba-canção, mas como ele havia conseguido tirar as roupas para dormir, ele não conseguia se lembrar.

Olhando mais a frente, Thiago viu Sirius esparramado no enorme sofá que havia em seu quarto, de barriga pra baixo, ainda de calça jeans, sem camisa, uma das mãos pendendo pra fora do sofá e dormindo um sono aparentemente pesado.

Ainda sentindo a preguiça e o sono impregnados no seu corpo, relutantemente, Thiago pegou uma das almofadas jogadas no chão e jogou em cima de Sirius, que ergueu a mão tentando afastar alguma coisa, que sem duvida alguma, ele não fazia idéia do que era.

Thiago riu, se levantou e seguiu direto ao banheiro, um banho gelado era tudo que ele precisava naquele momento.

  

O sol já não batia na janela do quarto de Thiago, lá fora ele ia se pondo lentamente, se preparando para se recolher e deixar a lua tomar o seu lugar temporariamente.

Sentados no sofá, o mesmo em que Sirius encontrara-se esparramado algumas horas atrás, estava Sirius e Thiago, ambos segurando um controle de jogo nas mãos e os olhos fixos numa enorme TV de plasma, pendurada na parede em frente a eles.

― Toma, seu filho da puta!

― La vem outro, Sirius, pega ele, pega ele que eu pego o desgraçado atrás de você.

― Atrás de mim? Ah caralho.

― Não, Sirius! Eu pego ele!

Som de tiros invadiu o quarto.

― RAA! Te peguei, desgraçado.

Sirius e Thiago bateram um na mão do outro, antes de voltar à atenção ao jogo, quando a porta do quarto de Thiago se abriu.

― Thiago, querido, o Remo esta aqui.

Thiago não desviou os olhos do jogo.

― Entra ai, Aluado.

Ele percebeu que o amigo entrara e se sentara ao lado de Sirius, ainda com os olhos fixos na TV.

― Thiago, querido, não querem comer alguma coisa? Eu fiz nuggets.

― Valeu mãe, você quer, Almofadinhas?

Sem tirar os olhos do jogo, também, Sirius negou com a cabeça.

― Não, não, valeu tia Dorea.

Thiago ouviu a mãe fechar a porta do seu quarto, enquanto ele “pegava” mais dois, e gritava animado.

― RA! Hoje ta moleza, Almofadinhas.

― E ai, vão ficar jogando Couter Strike?

Sirius e Thiago riram, enquanto Thiago colocava pause no jogo.

― Ta afim de jogar, Remo?

― Valeu.

Sirius colocou o controle sobre o colo e se espreguiçou.

― E ai, vamos sair hoje?

― Eu to com a cabeça meio ruim ainda.

― Ah, Aluado, é só tomar uma aspirina e já era.

Sirius riu concordando com Thiago.

― E ai, pegou a Patsy ontem?

Sirius e Thiago riram e Remo revirou os olhos.

― Não é da sua conta.

― Não! – disse Sirius e Thiago ao mesmo tempo, antes de rirem e Sirius passar a mão, zuando, pelos cabelos de Remo.

― Relaxa, Aluado, quem sabe a gente não encontra elas essa noite e você completa o serviço.

Ele e Thiago riram, e Remo mais uma vez revirou os olhos, fazendo cara de tédio.

  

                                                           ***

  

Lilian tinha acordado aquele dia com a cabeça bem latejante, não devia ter bebido tanto, pensou ela fielmente quando tomou a segunda aspirina e se jogou na cama, enquanto esperava o computador ligar.

Sua irmã, Petúnia entrou no quarto, enchendo o saco, como sempre, mas Lilian não lhe deu atenção, a irmã estava implicando por Lilian ter chego tão tarde e enchendo o saco falando que ela não ia sair aquela noite de novo, porque isso e porque aquilo. Lilian simplesmente, não ia dar a mínima pra sua irmã aquele dia, a própria mãe de Lilian, não dissera nada, nunca dizia nada por Lilian sair e se divertir com as amigas, ela confiava em Lilian e sabia que a filha não fazia nada de errado, era apenas uma garota jovem querendo viver a vida e não tinha nada de errado nisso.

Lilian fechou os olhos por segundos, ate sua irmã sair do quarto, então ela os abriu novamente e ouviu seu celular apitando.

 Lia.
A ruiva sorriu, a amiga parecia bem animada, é claro, pensou Lilian sorridente.

 Liα Andrews
E ai Lilly, acordou bem?
                                         com dor de cabeça

  tomou remédio?
                                        dois. E vc acordou bem?
Otimaaa
                                         kkkkkk Claro!


A ruiva riu, se bem conhecia a amiga, ela devia estar nas nuvens, mas que isso ficasse em segredo absoluto.


               Lilly, tava falando com a Pat, pra gente ir fazer alguma coisa, o que vc axa?
                                         ah ñ sei, ñ to afim de ir pra balada hj >.<
A gente podia fazer algo diferente então...               
                                    tudo bem. A gente podia também ir ao teatro, tem uma peça legal passando no Procópio Ferreira.
 Pode ser as 9.
                                          Então ta, as 9, pq tem uma peça que eu quero assistir as 9:30.
Entao eu vou me arrumar
bjooo, ate mais tarde.
                                    Eu também vou. Bjo.
                                                                                                              

Lia fechou a conversa do grupo do whatsapp, e colocou seu status como ausente (Me arrumando), e colocou a seleção com suas musicas favoritas pra tocar no celular, enquanto tirava a blusa e a jogava em cima da cama, prestes a procurar no guarda-roupa o que vestir.
Quando Lia se embrenhou no meio do closet a procura da roupa perfeita, um som, que não era da musica tocando, chamou sua atenção. Ela virou o rosto olhando na direção do celular para ver que uma janelinha piscava na tela.


 Black  
e ai loirinha, vai sair?

Lia sorriu.

                                            vou e vc?

Ela esperou ansiosamente, ainda o celular bem seguro nas mãos, sentia alguma coisa pulando dentro do seu estômago, mordeu os lábios por segundos, meio nervosa e então respirou fundo, não devia se sentir daquele jeito, ela sabia disso.


é, vou dar um role com os caras.
                            Legal.
A gente se vê?


O ser transparente dentro do estômago dela deu uma cambalhota, Lia fechou os olhos, mordendo os lábios e reprimindo um sorriso.


                                      Não sei, talvez...
blza.
... você vai aonde?
                                       no teatro, talvez... e vc?
em algum bar.
                                         kkkkkkkkkk
                                        divirta-se entao, eu vou terminar de me arrumar.
                                          beijo :*
falô loirinha.


Ela fechou o whatsapp e respirou fundo, olhou pro celular por mais alguns segundos, então firmemente, ela largou-o em cima da mesa de cabeceira e voltou ao closet, não queria ter nenhuma tentação enquanto se arrumava.
Com um sorriso enorme no rosto, se olhou no espelho por alguns segundos, riu sozinha e então sacudiu a cabeça. Era melhor tirar os pensamentos, dirigidos a aquele garoto, da cabeça.



                                                           ***

  

O bar Augusta era um barzinho bem requintado do Jardins, onde muitas “Patys” e Playboyzinhos se uniam pra beber, conversar, e paquerar, é claro.

Sentados numa mesa perto da janela estavam Sirius, Thiago, Remo, Diggle e Frank, um garoto alto de cabelos pretos.

Thiago que, segundo Remo adorava uma garçonete, deu uma piscadinha pra moça que deixava mais uma cerveja na mesa, e então se virou pros amigos.

― Cara, você viu o pênalti que o Ceni perdeu?

― Mano, não é o primeiro que ele perde, ta na hora deles trocar e por outro no lugar do cara pra bater os pênaltis.

― Por mim Frank, ele pode continuar lá e perder quantos gols ele quiser.

Sirius riu, tomando um gole da sua latinha de Red Bull.

― O Fluminense não ganhando o campeonato, por mim ta ótimo.

― Também né Frank, o Flamengo ta onde na tabela?

Thiago riu, colocando a mão sobre os olhos, como quem procura algo longe, os meninos riram e o garoto chamado Frank fez uma careta à brincadeira de Thiago.

― É, os times cariocas estão bem nesse campeonato. O Botafogo saiu do G4 agora.

― É Remo, mas ele ta na cola do Inter, né. E entre Botafogo e Inter, eu sou mais o Inter.

― Que isso Pontas, melhor o Botafogo no G4 cara, olha ha quanto tempo o Botafogo não ganha alguma coisa.

Sirius concordou com Remo e virou o boné que ele usava pra trás, olhando em direção a porta, então sorriu marotamente.

― Pontas.

Ele chamou o maroto que o olhou e então seguiu seu olhar.

Thiago passou a mão pelos cabelos sorrindo marotamente, se ajeitando na cadeira, enquanto Sirius, que nem precisou que Thiago lhe dissesse o que fazer, ergueu a mão no ar, chamando a atenção de alguém que entrava no bar.

― Não acredito que a Bella a conhece.

Uma morena, de cabelos encaracolados e olhos azuis-acinzentados, sorriu, vendo o aceno de Sirius e caminhou em direção a mesa dos meninos, ao seu lado, caminhava uma garota loira bem peituda.

― Oi Si! Oi meninos.

A morena sorriu, Sirius levantou-se e puxou duas cadeiras próximas a mesa deles.

― Senta com a gente?!

― Claro!

Ela sorriu e se sentou, Thiago passou a mão pelos cabelos, Sirius então apressou-se a apresentar os amigos à Bella, que na verdade só não conhecia Frank, e pra loira peituda,  mais pra loira peituda.

Bella sorriu e indicou a garota.

― Essa é a Babi.

Os meninos sorriram pra garota e Thiago passou a mão mais uma vez pelos cabelos, aquele fim de semana parecia que ia ser mesmo muito bom, pensou ele, antes de virar um grande gole de cerveja.

  

                                                                    ***



 ― Gente eu ADOREI a peça.

― Muito engraçada, né Pat, eu também adorei! Ri muito.

― Traduz muito as mulheres, né?

― É porque você não leu os quadrinhos, Lia, lá tem muito mais coisas sabe, é muito legal, muito criativo.

Comentou Lilian, empolgada.

Elas desciam a Rua Augusta, após terem acabo de sair do teatro, onde tinham ido ver a peça “Mulheres Alteradas” e já era quase meia noite, mas mesmo assim, a Rua estava um pouco agitada, naquele horário mais por jovens, que iam de uma balada a outra, de um bar a outro, procurando a mesma coisa: Diversão.

― E eu adorei aquela parte que fala que, mulher só perde peso, quando o cara troca ela por outra.

― Ah eu me lembro dessa parte, Pat. - Empolgou Lilian, que tinha uma excelente memória. - “Homem só faz a gente emagrecer quando troca a gente por outra, porque a gente chora, vomita e para de comer por dois meses.”

As meninas riram. Estavam terminando de descer a Rua, animadas.

― Que tal a gente ir beber alguma coisa no Augusta? – Patsy apontou pra um bar logo na esquina, do outro lado da Rua. - Não precisa ser alcoólico.

Apressou-se ela, e Lia riu.

―É uma boa ideia, eu to morrendo de sede.

―Então vamos.

Lia atravessou a Rua, então quando olhou pro lado pra falar com as meninas, viu Patsy parada na calçada e Lilian ainda na outra calçada, parada, extremamente quieta e estranha.

Lia olhou dos dois lados da Rua, se certificando que não vinha carros, antes de atravessar correndo de volta, onde Lilian ainda estava.

― Lilly! O que foi? Ta passando mal? Ta sentindo alguma coisa?

Lilian estava pálida, imóvel e tinha os olhos fixos em algum ponto, do outro lado da Rua. Lia segurou devagar no braço da amiga, preocupada, e viu Patsy, indicando com os olhos, o lugar pra onde Lilian olhava fixamente.

Lia congelou momentaneamente, agora entendia porque Lilian estava daquele jeito.

Do outro lado da rua, exatamente na esquina, exatamente onde Patsy havia sugerido que as meninas fossem beber alguma coisa, bem à janela, estava sentado Thiago Potter.

Lia reparou que os marotos e mais dois amigos estavam juntos, e não estavam todos sozinhos.

Sentado no colo de Thiago estava uma loira, tão loira que os cabelos eram quase brancos, claro que não era um loiro natural, Lia logo soube, era especialista em loiros, uma vez que ela era loira natural. Alem de loira, a garota era bem peituda, siliconada, claro, e a cena entre eles, a fez sentir um nojo profundo, será que eles não conheciam Motel, não?

Lilian parecia estar pensando a mesma coisa, pois tinha nos lábios uma clara feição de enojamento.

Lia segurou na mão de Lilian, calmamente.

― Lilly, vamos. Vamos pra minha casa.

Lilian não se moveu, Patsy e Lia se entreolharam. Lia voltou os olhos pro bar, Sirius também não estava sozinho, sentada em seu colo havia uma garota morena, de cabelos encaracolados, parecia muito bonita de longe. Ela sentiu seu estomago afundando, sabia, é claro, que ele ia ficar com outra se eles não se encontrassem, era assim que os garotos eram, simplesmente eram assim, ela estava bem cansada de saber disso. Por isso nem sabia se conseguia se decepcionar, apesar de no fundo ela o estar.

Lilian então respirou fundo, voltando a si, sentia alguma coisa dentro dela, latejando fortemente, fechou os olhos por segundos e voltou a caminhar, pela mesma calçada em que se encontrava. Queria ir pra casa, não queria continuar ali olhando aquela cena, não, definitivamente não queria continuar a ver aquela cena, afinal ela tinha certeza de que não precisaria disso, pois a cena ficaria na sua mente, ela querendo ou não, pelo resto da noite, ou quem sabe, infelizmente, pelo resto do fim de semana.




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