Se você é um fã de Harry Potter, ou já assistiu alguma vezes o último filme da saga, provavelmente já ouviu falar sobre esse livro "Os contos de Beedle, o Bardo".
Tanto no livro quanto no filme da saga "Harry Potter e as relíquias da morte" esse livro é citado e tem um dos contos narrados pela personagem Hermione Granger, estou falando é claro do conto dos três irmãos.




"Os contos de Beedle, o bardo" foi escrito por J.K.Rowling e foi publicado em 2008 e tem toda sua arrecadação monetária visada em ajudar a instituição "Childrens High Level Group", uma instituição que ajuda crianças com deficiência física e mental.
E segue a mesma linha dos livros da saga Harry Potter, como se fosse mais um dos livros dela, colocando o mesmo mundo bruxo como algo real que nós meros trouxas jamais sonhamos poder existir de verdade, assim os contos nos relatam história de bruxas e bruxos, com morais que ensinam as crianças bruxas algumas liçoes importantes para ser levadas o resto da vida.
Essas histórias seriam para os trouxas mais ou menos como "A branca de neve e os sete anões", "A bela adormecida" e "A pequena sereia", com a diferença que nenhum desses contos do Beedle são romances, de amor ou lindas histórias, algumas são inclusive meio assustadoras para serem contadas a crianças.

O livro conta cinco contos tradicionais do mundo bruxo, normalmente todas as crianças bruxas em algum momento da vida ouviram uma dessas histórias antes de dormir e agora, através dessa publicação, os trouxas também terão acesso a esses contos fabulosos que ainda contam com os comentários do lendário diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore.

O livro apesar de pequeno, tanto no formato quanto na quantidade de páginas, contém 107 páginas ao total, contém os contos "O bruxo e o caldeirão saltitante", "A fonte da sorte", "O coração peludo do mago", "Babbitty, a coelha, e seu toco gargalhante" e "O conto dos três irmãos" e pequenas ilustrações em cada conto.




São contos legais e interessantes, não apenas para os bruxos, mas para os trouxas (Ou não bruxos) também, de certo modo, e eu vou deixar aqui um conto de vez para aqueles que tem vontade de ler os contos, mas não tem o livro, começando do primeiro.





 O Bruxo e o caldeirão saltitante


"Era uma vez um velho bruxo muito bondoso que usava magia com generosidade e sabedoria para beneficiar seus vizinhos. Em vez de revelar a verdadeira fonte de seu poder, ele fingia que suas poções, amuletos e antídotos saíam prontos de um pequeno caldeirão a que ele chamava de sua panelinha da sorte. De muitos quilometros ao redor, as pessoas vinham lhe trazer seus problemas, e o bruxo, prazerosamente, dava uma mexida na panelinha e resolvia tudo.
Esse bruxo muito querido viveu até uma idade avançada e , ao morrer, deixou todos os seus bens para o único filho. O rapaz, porém, tinha uma natureza bem diferente da do bom pai. Na sua opinião, que não sabia fazer mágicas não valia nada, e ele muitas vezes discordava do hábito que o pai tinha de ajudar os vizinhos com sua magia.
Quando o velho morreu, o jovem encontrou escondido no fundo da velha panela um embrulho com o seu nome. Abriu-o na expectativa de ver ouro, mas, em lugar disso, encontrou uma pantufa grossa e macia, pequena demais para ele e sem par. Dentro dela, um pedaço de pergaminho trazia a seguinte frase: "Afetuosamente, meu filho, na esperança de que você jamais precise usá-la."
O filho amaldiçoou a caduquice do seu pai e atirou a pantufa no caldeirão, decidindo que passaria a usá-lo como lixeira.
Naquela mesma noite, uma camponesa bateu à porta a casa.
-- Minha neta apareceu com uma infestação de verrugas, meu senhor. O seu pai costumava preparar um cataplasma especial naquela panela velha...
-- Fora daqui. - exclamou o filho. - Que me importam as verrugas da sua pirralha?
E bateu a porta na cara da velha.
Na mesma hora, ele ouviu clangores e rumores que vinham da cozinha. O bruxo acendeu a varinha e abriu a porta, e ali, para seu espanto, viu que brotara um pé de latão na velha panela do pai, e o objeto pulava no meio da cozinha fazendo uma zoada assustadora no piso de pedra. O bruxo se aproximou admirado, mas recuou ligeiro quando viu que a superfície da panela estava inteiramente coberta de verrugas.
-- Objeto nojento! - Exclamou ele, e, com feitiços, tentou primeiro fazer desaparecer o caldeirão, depois limpá-lo e, por fim, expulsá-lo de casa.
Nenhum dos feitiços, porém, fez efeito, e ele não pôde impedir o caldeirão de segui-lo saltitante para fora da cozinha, e depois subir com ele para o quarto, alternando batidas surdas e estridentes a cada degrau da escada de madeira.
O bruxo não conseguiu dormir a noite toda por causa das batidas da velha panela verrugosa ao lado da cama, e, na manhã seguinte, a panela insistiu em acompanha-lo, aos saltos, à mesa do café da manhã. Plem, plem, plem fazia o pé de latão, e o bruxo ainda nem começara o seu mingau de aveia quando ouviu outra batida na porta.
Havia um velho parado na soleira.
-- É a minha velha jumenta, meu senhor - explicou ele. - Perdeu-se ou foi roubada, e sem ela não posso levar os meus produtos ao mercado e minha família passará fome hoje à noite.
-- Com fome estou eu agora" - bradou o bruxo, e bateu a porta na cara do velho.
Plem, plem, plem fez o caldeirão no chão com aquele seu único pé de latão, mas agora o estrépido se misturava aos zurros de um jumento e aos gemidos humanos de fome que vinham de suas profundezas.
-- Pare! Silêncio! - guinchou o bruxo, mas todos os seus poderes mágicos não conseguiram calar a panela verrugosa, zurrando e gemendo e clangorando, aonde quer que ele fosse ou o que quer que fizesse.
Naquela mesma noite ouviu-se uma terceira batida na porta, e ali, na soleira, estava parada uma jovem mulher soluçando como se o seu coração fosse partir de dor.
-- O meu filhinho está gravemente doente. - disse ela. - Por favor, pode nos ajudar? Seu pai me disse para vir se tivesse algum pro...
Mas o bruxo bateu a porta na cara da jovem.
E agora a panela atormentadora se encheu até a borda de água salgada e derramou lágrimas por todo o chão enquanto pulava, zurrava, gemia e fazia brotar ainda mais lágrimas.
Embora, pelo resto da semana, nenhum outro aldeão tivesse vindo à cabana do bruxo buscar ajuda, a panela o manteve informado dos seus muitos males. Em poucos dias ela não estava apenas zurrando, gemendo, transbordando, pulando e brotando verrugas, mas também engasgando e tendo ânsias de vômito, chorando como um bebê, ganindo feito um cão e cuspindo queijo estragado, leite azedo e uma praga de lesmas vorazes.
O bruxo não conseguia dormir nem comer com a panela ao seu lado, mas ela se recusava a sumir dali, e ele não podia silenciar nem forçar o caldeirão a parar.
Por fim, não aguentou mais,
-- Tragam-me todos os seus problemas, todas as suas preocupações e todas as suas tristezas! - gritou, fugindo noite adentro, com a panela perseguindo-o aos saltos pela estrada que levava à aldeia. - Venham! Deixem que eu cure vocês, recupere vocês e console vocês! Tenho a panela do meu pai e vou remediar tudo!
E, com a detestável panela ainda a persegui-lo saltitante, ele correu pela rua principal lançando feitiços para todos os lados.
Dentro de uma casa, as verrugas da garotinha desapareceram enquanto ela dormia; a jumenta perdida foi trazida de um urzal distante e suavemente deixada em seu estábulo; o bebê doente foi umedecido com ditamno e acordou bom e rosado.
Em todas as casas em que havia doença e tristeza, o bruxo fez o melhor que pôde, e gradualmente a panela ao seu lado parou de gemer e ter ânsias de vômito, e sossegou, reluzente e limpa.
-- E então panela? - perguntou o bruxo trêmulo, quando o sol começou a despontar.
A panela arrotou o pé de pantufa que ele havia jogado em seu fundo, e permitiu que o bruxo o calçasse em seu pé de latão. Juntos, eles regressaram à casa, os passos da panela finalmente abafados. Mas daquele dia em diante, o bruxo passou a ajudar os aldeões exatamente como fazia seu pai, antes dele, para que a panela não descalçasse a pantufa e recomeçasse a saltitar."


Conforme os comentários de Dumbledore, essa história, pró-trouxa, foi alterada através dos séculos pelos bruxos anti-trouxas tornando a história mais ou menos assim, o caldeirão saltitante protege um inocente bruxo dos seus vizinhos armados de archotes, afugentando-os de sua cabana, capturando-os e engolindo-os inteiros.
No final da história, quando a panela ja consumiu a maioria dos vizinhos, o bruxo obtém, dos poucos aldeões que restaram, a promessa de que o deixarão praticar sua magia em paz. Em troca, ele instrui a panela a devolver as vítimas, que são devidamente arrotadas de suas profundezas, ligeiramente estropiadas.




Deixe um comentário