- O que toda
mulher inteligente deve saber é que -
Homens são
caçadores, e por isso ficam mais interessados em conquistar a presa quando ela
resiste mais a eles. Homens valorizam mais tudo o que não consegue de graça.
Aquele era um momento daqueles
que você faz uma coisa, mas não sabe exatamente porque está fazendo isso, só
sabe que precisava fazer, como se alguma coisa dentro de você gritasse
enlouquecidamente para fazer aquilo ou você morreria, sabe? Pois é, era exatamente
isso.
Eu não fazia ideia de porque eu
tinha feito aquilo, mas eu tinha feito. Eu a tinha olhado, com aqueles olhos
enormes brilhando excitados de euforia, adrenalina e alegria, os lábios grossos
que eu jamais reparara de verdade sorriam exultantes, e tudo que eu senti era
que eu precisava beijá-la ou eu iria me arrepender amargamente depois, ou
talvez eu me arrependesse daquilo que eu fazia naquele momento, mas eu não era
o tipo de cara que me arrependia das coisas que eu fazia.
Por isso eu não pensei duas vezes
quando senti aquela vontade, e ergui meu corpo sobre o dela, apoiando uma das
mãos na grama ao lado de seu corpo e a beijei, inesperadamente, sem dar-lhe
qualquer chance de defesa ou de analisar a situação.
Mas eu acho que, surpresa ou não,
ela gostou daquilo.
Quando meus lábios se colaram aos
dela eu senti um gosto suave de morango e menta, os dois ao mesmo tempo, e uma
vontade insana de não parar nunca mais.
Os lábios dela eram mais macios
do que eu me lembrava da outra vez que ela me beijou e eu nunca consegui
entender direito porque fizera aquilo. Sim, era bem mais macio, e saboroso, e
eu me perdi totalmente quando senti a língua dela roçar na minha e o beijo se aprofundar.
Ela tinha alguma coisa que eu não
sabia definir e estava me deixando maluco.
Apertei a cintura dela com a mão
livre e a puxei mais para mim no mesmo instante em que eu aprofundava ainda
mais o beijo e erguia meu corpo inteiro por sobre o dela.
Sei la o que me deu, eu só sei
que não estava pensando em nada mais, esqueci que ao lado dela estava a Lilian,
a Emmeline, o James, Remus, Ulisses, Mario, que se foda, eu não queria saber de
nenhum deles mesmo e nem lembrei disso, eu só conseguia pensar nos lábios
macios dela, e na força das mãos dela que apertavam meus cabelos, puxando-os
cada vez que eu aprofundava mais o beijo e apertava mais a cintura dela.
Ela fazia eu me sentir quente,
sem juízo e sem noção, coisas que eu normalmente já não tinha mesmo, mas não
daquela maneira, não daquela intensidade.
Eu podia sentir um calor
fenomenal percorrer todo meu corpo, tomando conta de tudo, da minha pele, dos
meus ossos, das minhas células, dos fios do meu cabelo até do meu cérebro, cada
nervo, cada miolo, cada pensamento sendo consumido pelo calor que ela causava
em meu corpo.
Apertei mais a cintura dela e
deixei meus dedos deslizarem por baixo do tecido da blusa da Sonserina, aquela
cor e aquele símbolo que eu sempre odiei minha vida inteira, parecia de repente
que até que ficara bonito naquele corpo macio e quente sob minhas mãos.
Acho que eu estava perdendo a
cabeça de vez. Se estava, naquele momento eu não queria nem saber daquilo.
Encaixei meu corpo no meio das
pernas dela, uma perna entre as dela para equilibrar o peso e não sufoca-la
debaixo de mim com todo meu peso, mas depois que fiz aquilo percebi o erro que
cometi, porque fazer aquilo só me fez sentir ainda mais o corpo quente e macio
dela debaixo do meu e só aumentou ainda mais o calor e o fogo dentro de mim.
Sirius, Sirius, se controla cara.
Eu estudara a vida inteira com a Lene,
porque nunca tinha reparado o quanto ela era linda, gostosa e... Meu Mérlin.
Arfei, afastando meus lábios
suavemente dos dela e tentando tomar folego.
O que eu estava fazendo? Estava
quase tarando a menina na frente de todos meus amigos e dos dela.
Quase ri comigo mesmo. Tinha
perdido totalmente o juízo, só havia essa explicação.
O rosto dela estava rosado e ela
estava ofegante, e eu a olhei, risonho, vendo-a me olhar surpresa e com um meio
sorriso nos lábios, quase como se ela tivesse esperado por isso a vida inteira,
mas só que não. Eu a conhecia, acho que teria percebido se ela gostasse de mim
daquele jeito, não teria?
Senti a mão dela que estava no
meu cabelo segundos atrás puxando-os, descer agora suavemente pelos fios e por
meu rosto, enquanto ela me olhava sorrindo e meio confusa, enquanto eu a
observava, ainda sem conseguir me conectar com o mundo a minha vida.
Fiquei olhando para o rosto dela,
os olhos esverdeados, os cabelos negros caídos meio lisos e ondulados ao mesmo
tempo em volta do rosto, o nariz delicado, as bochechas rosadas.
Eu podia nunca ter olhado para
ela direito, mas agora que olhava eu percebia que ela era a garota mais bonita
daquele colégio inteiro em mil anos.
Caramba, como ela era linda!
Foi só o que eu consegui pensar quando rocei meu nariz ao dela e deixei meus lábios tocarem nos dela
novamente, dessa vez sentindo a língua quente dela tocar meus lábios suavemente
antes de eu a beijar, mais delicado, mais suave e numa profundidade sem euforia.
Dessa vez um beijo menos fogoso, mas mais profundo e... sentimental?
Caralho, eu devia mesmo estar bem
bêbado se estava beijando sentimentalmente.
Estava tão perdido naqueles
lábios e naquele corpo quente e cheiroso debaixo do meu que eu mal percebi
quando o som de vozes começou a ficar mais audível e próximo.
Mas que porra era aquela?
Com certeza aquilo era coisa do
James querendo me zuar.
Afastei meus lábios dos dela,
infelizmente, e ergui o rosto pronto para dar uma bronca zuada em James quando
reparei que na verdade não era ele, mas sim a Grifinória inteira, ou quase
isso, que vinha caminhando alegremente, risonha e falante pelo gramado em nossa
direção.
Porra.
Olhei para ela que me olhou e
seguiu o olhar para os alunos, mais especificamente para um que se destacava em
altura e com a camisa de goleiro do time da Grifinória: John Wood.
Senti uma onda de raiva percorrer
meu corpo quando o vi e olhei para ela. Ela não iria ligar pra isso e nem pra
ele, não é? Qual é, foda-se os outros, nós chegamos ali primeiro e estávamos no
nosso momento, foda-se o resto, nada ia atrapalhar isso.
Voltei-me para ela, pronto para acariciar-lhe
o rosto e os cabelos e beija-la novamente, ligando totalmente meu foda-se para
o mundo, quando vi os olhos dela assustados como se tivesse reparando que fez
algo que não deveria.
— Meu Merlin. – Ela disse,
erguendo o corpo e com isso fazendo eu deslizar do corpo dela para a grama ao
lado, sem entender nada.
— Lene... ? – Eu disse, sem
entender nada, e ela ergueu o corpo, sentando na grama, arrumando o cabelo e
olhando para Wood meio desesperada, virando o rosto de lado rapidamente e
tentando arrumar os cabelos bagunçados (por mim) e a roupinha da Sonserina que
ela vestia.
— Droga. – Ela disse baixinho e
eu fiquei olhando para ela, com o cenho franzido, sem entender porra nenhuma.
Era impressão minha ou ela agora
estava arrependida de ter me beijado com toda aquela vontade que ela beijara
minutos atrás só porque o Wood estava ali?
— Marlene. – Ela virou o rosto no
momento em que eu disse seu nome e me olhou, assustada. Acho que desde que eu a
conheço, há uns sete anos, eu nunca a chamei de Marlene, apenas de “Lene”, um
apelido carinhoso que eu dera a ela, só uma maneira de fazer as garotas não me
esquecerem, sabe como é, você a trata diferente, a chama diferente e pronto,
ela vai saber que é especial, com Lene fora assim, até que ficamos mais e mais
amigos, ou mais amigos do que eu já havia ficado de uma garota na vida, e o “Lene”
se tornou carinhoso amigavelmente. Pelo menos até aquele momento. – Qual o
problema?
— Sirius... – Ela praticamente
suspirou meu nome e respirou profundamente. Parecia que ela travava uma guerra
dentro de si, e eu podia quase ler seus pensamentos: Continuar ficando comigo
mesmo com o Wood ali, afinal de contas, ela parecia estar gostando muito há
cinco minutos atrás, e perder de vez suas chances com o cara, ou se queimava
comigo me largando de lado e correndo atrás do Wood para que ele não pensasse
que ela estava comigo.
Ela gostava dele. Agora eu tinha
certeza disso. Estava ali, estampado no desespero de seus olhos.
Ela fechou os olhos e abaixou a
cabeça, respirando profundamente.
Talvez estivesse se convencendo
que suas chances com o Wood morriam ali, mas pow, ela tinha eu, o que mais ela
iria querer? Qualquer garota em Hogwarts daria tudo pra isso, por que ela não?
— Desculpa. – Ela disse baixinho,
e a vi puxando a saia de pregas para baixo e se levantando, meio desajeitada, me
fazendo perceber que todo mundo na verdade já tinha levantado. Fiquei olhando para
ela, sentindo minhas feições franzidas, sem entender, enquanto ela caminhava para
junto das amigas e saiam andando em direção as arquibancadas. Virei meu rosto e
vi James e Remus parados ao longe, olhando para mim, me esperando.
Respirei fundo e me levantei,
fingindo não estar abalado como eu realmente estava.
Era a primeira vez na minha vida
que uma garota fazia aquilo, praticamente me largava por causa de outro.
Segui até os caras que pareceu apenas que entenderam que ela foi com as amigas por causa do pessoal que tinha
chego, não fiz questão de mostrar que era outra coisa, eu sabia perfeitamente o
que, ou quem era a causa.
— Beleza, Almofadinhas? –
Perguntou Remus, ele era bem mais observador do que o James, digamos assim.
— Beleza. Que que tá pegando?
James já estava se juntando a uns
caras da Grifinória que estavam com umas garrafinhas de cerveja amanteigada na
mão, e me juntei a eles, pegando uma que o Longbotton me estendia.
— Parece que o salão comunal era
um lugar pequeno demais pra tanta zuação. – Disse James e eu revirei os olhos.
Típico, aquele povo não parava de
beber e zuar até que amanhecesse ou o diretor e a professora McGonnagall parassem de fingir
que não sabiam o que estava acontecendo e nos mandasse dormir ou nos
mandaria cumprir detenção no dia do jogo (o que a Minerva, de verdade, jamais
faria) ou contar aos nossos pais.
A única maneira deles nos
manterem na linha era com aquela frase: Mandar uma coruja aos pais.
Ninguém queria perder as mordomias
que tinham aqui e fora de Hogwarts.
Fiquei ali com os caras, bebendo
e papeando, tentando esquecer a rejeição que latejava por dentro.
Qual era o problema dela? Será
que eu estava perdendo o meu charme ou o Wood era mais bonitão do que eu?
Ninguém nunca me dissera isso e sempre parecera que as garotas preferiam eu do
que ele.
Porra, esquece isso, Sirius.
Disse a mim mesmo e virei o resto
da minha cerveja amanteigada, largando a garrafinha no chão. Os elfos fariam
seu trabalho depois, de qualquer maneira.
— Mano, vocês não vão acreditar
no que nós fizemos. – Começou James e eu ri, já sabendo o que vinha e apenas
fiquei ali, rindo e concordando enquanto James anunciava para o castelo inteiro
(porque aquilo não ia demorar a se espalhar) o que nós tínhamos feito.
A guerra estava declarada.
Ri alto com os exageros de James
e Remus, na verdade mais do James e minha, quando senti um par de mãos tentando
cobrir meus olhos.
Revirei os olhos quando vi a
feição de riso dos marotos, não era nada fácil ser gostoso, modéstia à parte,
as minas não me deixam em paz.
Segurei as mãos da menina, sem
saber quem era, e me virei, já pensando em alguma cantadinha barata ou qualquer
coisa do gênero, dependendo da garota.
Mas quando me virei e vi quem
era, eu quase dei meia volta e ignorei a garota, porque essa era a minha
vontade.
Era aquela garota de novo: Anna. Ou deveria chama-la de
chiclete?
Aquele dia parecia que não ia
acabar nunca e quanto mais eu achava que nada mais louco poderia acontecer,
acontecia.
Eu ainda estava tentando
processar no meu cérebro lento (me convenci de que as meninas tinham razão
quando me chamavam de lerda) o que acontecera, será que eu sonhara,
enlouquecera ou tivera uma febre muito forte e imaginara aquela cena
maravilhosa do Sirius me beijando? E, Deus, por que ele tinha me beijado
daquele jeito? Aquilo significava alguma coisa, não significava?
Eu não sabia de mais nada, eu só
sabia que eu fizera a coisa mais difícil na minha vida toda, ao me levantar e
deixar ele lá, com aquela carinha de cachorrinho abandonado e meu ser gritando
desesperadamente dentro de mim “O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, MARLENE?”
Eu sei, eu sei, você também deve
estar me xingando até minha quinta geração e se perguntando por que eu não
agarrei ele e esqueci toda a merda da Grifinória quando eles chegaram.
Mas eu não podia, não podia.
Ainda tinha a merda toda do plano e acredite, eu sei, no fundo de mim que, por mais doloroso que
fosse, eu não podia jogar tudo pro alto só porque ele me beijara (Merlin do
céu, ele me beijou, e QUE beijo *-*), aquilo era maravilhoso, perfeito, o
paraíso, e fora, de verdade, fora a coisa mais maravilhosa de toda a minha
existência, mas se eu largasse mão de tudo, ele ia ter certeza que eu era dele,
e o jogo ia perder a graça, e isso não podia acontecer, o jogo só acabaria
quando eu tivesse certeza de que eu tinha ganho.
O que eu não tinha na verdade,
porque agora que eu estava aqui, sentada na grama com as meninas, eu via ele
lá, com aquela grindylow grudada em seu pescoço como uma mosca em cima do bolo.
Tentei disfarçar o nó que se
formava em minha garganta ao ver aquela cena e voltei minha atenção para as
meninas.
Havia uma garrafinha de cerveja
amanteigada na mão de cada uma, e no meio do nosso círculo, agora formado por
mim, Lilly, Emme, Alice (sem o Frank), Helena (uma garota da nossa turma) e a
irmã dela, Elisa, que estava no quinto ano, estava uma garrafa caída enquanto
brincávamos de “veritasserum ou imperius”, um jogo conhecido no mundo trouxa como
“verdade ou consequência”, de uma maneira meio inocente (ainda).
Emme viu meu olhar e não disse
nada, apenas voltou sua atenção para a garrafa de cerveja amanteigada vazia no
meio do círculo e com um toque da varinha a fez rodopiar, vendo a seguir que a
ponta dela agora apontava para mim e o fundo para Emme.
— Huummm. Você está muito ferrada
comigo, Srta. McKinnon. – Ela gargalhou maleficamente, acho que no fundo ela
tentava me animar.
Eu tinha amigas tão lindas!
— Hey, eu nem disse imperius
ainda! – Fiz uma careta e todo mundo riu.
— Sua cota de veritasserum acabou
na última rodada. – Fiz uma cara de malvada lançando meu olhar de basilisco a
Emme, que gargalhou novamente. Acho que aquelas garrafinhas de cerveja
amanteigada finalmente começavam a fazer efeito. Só achava.
— Eu te lanço um imperius
para.... dar um beijo na boca do garoto
mais LINDO dessa festa! – Eu ri alto, não tinha como não rir.
Agora ela me desafiava a levantar
o meu traseiro daquela grama seca, caminhar firmemente, linda e poderosa, até o
Sirius, puxar ele das mãos daquela lambisgóia e mostrar quem mandava ali!?
Okay, sem problemas, depois era
só eu culpar o imperius, e Anna não ia saber e ia achar que ele já era meu e ia
sair fora, como já deveria ter feito muito antes.
Quando eu dei um sorriso enorme
para ela, querendo dizer, “demorou, eu já saquei e eu mais que topo”, ouvi uma
voz familiar e sensual bem próximo a mim, mas falando alto o suficiente para
todas ouvirem.
— Eu não esperava que fosse ter
que esperar um imperius pra finalmente poder te beijar, Lene, mas por mim, tudo
bem.
Quase engasguei, e todo mundo me
olhou com cara de “Uuaaaa, poderosa!”, antes das risadinhas, típicas de
meninas, começarem a rolar.
Fiz uma careta risonha e revirei
os olhos, dando um tapa de leve nas mãos de Wood que agora se enrolavam em
volta do meu pescoço enquanto ele beijava meu rosto um pouco mais demorado que
o normal.
Os lábios dele eram macios na
minha pele, o perfume dele era embriagador e as mãos quentes e fortes e eu
estremeci por um segundo, tentando permanecer forte.
Ai como era difícil ser tão
desejada! HAHAHA.
— Modésssto esse menino, né. – Eu disse,
risonha, e todo mundo riu, inclusive ele, enquanto me soltava agora e se
sentava ao meu lado, se juntando a roda de meninas, junto com ele estava
Gideão, que se sentou ao lado de Emme (A tarada por nomes estranhos, em pessoa,
que ficou mais vermelha que a bebida já estava deixando), e Mario, que se
sentou ao lado de Lilly (opaaaa, isso vai dar treta, vai vendo).
— Nós também podemos brincar? –
Wood disse, com ar brincalhão, mas estava falando sério.
— Claaaaro. – Disse Emme, toda
empolgada com a minha desgraça que se tornava maior a cada instante daquele dia
mais longo do que o solstício de verão. – Mas só depois que a Lene cumprir o meu
desafio.
— HAHAHA. – Eu disse, com uma
falsa risada, e Emme gargalhou, junto com todas as meninas e Wood, que riu e me
olhou, com os olhos brilhando.
— Eu te ajudo, Lene, sem
problemas. – Ele riu quando eu dei um tapa na coxa dele (ele estava sentado com
as pernas meio cruzadas, mas mais abertas do que cruzadas, e deixava aquelas
coxas relando nas minhas, e QUE coxas viu, jogadores de quadribol são todos uma
delícia né?!.. Aii Merlin, me ajuda.)
— Claro, né, espertinho. Quer
como, de selinho ou... ?
— De língua, claro. – Ele nem
deixou eu terminar, e já gargalhou antes mesmo que eu batesse nele, o que
demorou dois segundos depois dele começar a rir.
— Emme! – Eu olhei para ela,
implorando para ela me dar outro desafio, e ela pigarreou.
— Tudo bem. – Eu respirei
aliviada por um segundo. Mas foi SÓ por um segundo. – Pode ser um selinho. E
posso dar nome aos hipogrifos?
— NÃOOOO! – Exasperei e todo
mundo riu, Wood virou de lado e fez biquinho, e todo mundo gargalhou.
Não tinha como eu não rir, ele
era tão lindo e puta que pariu, estava tão afim de mim, e eu tinha acabado de
me agarrar com o Sirius há menos de vinte minutos atrás, o que estava
acontecendo comigo, cosmos, me explica, por favor!?
Revirei os olhos e desviei os
olhos do biquinho sensual de Wood e olhei para longe, e de repente meu olhar se
cruzou com o dele: Sirius. Senti um aperto na boca do estomago e esqueci de
tudo por segundos, de tudo, de Wood sentado ao meu lado, virado pra mim, com um
biquinho lindo nos lábios macios, dizendo praticamente na frente de todo mundo
que queria me beijar, e das meninas rindo de mim e de como eu era sortuda por
ter John Wood louquinho por mim, e de que a Grifinória inteira estava ali,
fazendo a maior zona, e de que Anna ainda estava pendurada no pescoço de Sirius,
falando ou pensando sabe lá o que, esqueci de tudo e só lembrei dos lábios dele
nos meus, das mãos dele me apertando e do olhar confuso dele quando eu deixei
ele lá, sentado na grama, sozinho, por causa de um maldito plano para
conquistar ele mesmo.
Ah, se ele soubesse.
Os olhos dele ficaram grudados
nos meus, ou eram os meus que grudaram nos dele e não conseguiam desviar, mas
acabei desviando, porque sem eu esperar, os lábios de Wood grudaram nos meus,
selando-os, e eu desviei os olhos de Sirius para o rosto de Wood, colado quase
ao meu, o nariz roçando nos meus e impossível de realmente olhar sem ficar
zarolha, então fechei os olhos, assustada e pensando: PUTA MERDA, o Sirius
estava olhando! E agora?
O selinho de Wood foi um pouco
mais do que isso, porque os lábios dele estavam meio entreabertos quando ele os
tocou nos meus, e eu senti a língua dele suavemente entre meus lábios, como uma
cobra se rastejando por uma caverna, tentando abrir espaço e adentrar ela
totalmente.
Droga.
Que maravilha.
Que droga.
Eu estava muito, mas muito
ferrada mesmo.
No fim, Emme estava certa, ela
conseguiu me ferrar. Ou não.
Dependia muito do ponto de vista.
Eu me sentia perdida.
Levei a mão ao rosto de Wood, e
afastei meu rosto do dele, fazendo-o me olhar com um olhar que dizia tudo: “eu
preciso de muito mais, eu quero muito mais!”
Suspirei ou respirei fundo ou os
dois ao mesmo tempo enquanto todas as meninas faziam um “hummmmmm”, super alto,
com muitas risadas e gargalhadas depois.
Me virei e dei o meu melhor
sorriso para Emme.
— Desafio cumprido?
Emme riu e balançou a cabeça
positivamente.
— Esse jogo parece que vai ficar
interessante. – Disse Mario, e eu olhei torto para ele.
Qual era desse cara? Se ele
estava pensando que ia beijar a Lilly, ele podia ir tirando o hipogrifo dele da
chuva porque eu torcia para o James. Beleza?
Olhei feio para ele, que percebeu
e sorriu amarelo, virando o rosto e começando a conversar baixinho com a Lilly,
que estava bem sorridente e histérica, ou seja, bêbada.
Droga.
Tentei não me preocupar muito, eu
ia dar uma olhada direta para Emme que ia entender e ninguém ia desafiar a
Lilly a beijar ninguém e pronto, não teríamos com que nos preocupar.
Eu não sabia de quem a Lilly
gostava, mas eu torcia muito para que fosse de James, ele merecia.
Peguei minha garrafa de cerveja
amanteigada ao meu lado e virei um gole bem demorado, esvaziando quase a
garrafa inteira.
Estava tensa aquela noite.
— Lene, sua vez de girar. – Disse
uma das meninas, e eu voltei a minha atenção para a garrafa.
— E que a sorte esteja ao seu
lado. – Falei brincando e todo mundo riu enquanto eu girava a garrafinha com a
varinha e ficava olhando ela rodar.
A ponta da garrafa parou para
Helena e o fundo para Lilly, que soltou uma risada alta, como se estivesse já
pensando qual seria o imperius que ela daria para Helena, o que fez Helena dar
outro gritinho de medo, e eu gargalhei observando toda a cena.
Uma dica: Não invente de brincar
disso quando tiver meninas bêbadas e meninos bêbados no mesmo lugar.
Dá merda. Pode apostar.
Eu era a prova disso. Virei mais
um gole da minha bebida, sem prestar muita atenção agora as meninas e a
brincadeira e então senti um nariz roçando meu lóbulo.
— Será que eu posso te dar um
imperius? – Wood disse baixinho ao meu ouvido e eu senti um arrepio no meu
corpo inteiro.
Ai Merlin!
— Um imperius pra que? – Eu
disse, meio rouca e virando o rosto para olhar para ele, o que eu não devia ter
feito, porque ele estava muito próximo de mim, muito mesmo.
Não deu tempo de ele responder,
porque ao invés de eu ouvir a voz dele, eu ouvi outra que fez todos os pelos do
meu corpo se arrepiarem.
— Veritasserum ou imperius?
Opaaaa! Eu também quero participar.
Sirius estava parado bem na
frente de mim e de Wood, o que me fez erguer o rosto e ver ele sorrindo
lindamente, como se nada estivesse acontecendo aqui em baixo, na grama, entre
eu e Wood.
Senti meu rosto enrubescer
enquanto ele caminhava e se sentava ao meu lado, do outro lado, me deixando
entre Wood e ele, e vi Remus caminhar e sentar do outro lado de Emme, e James
do outro lado de Lilly.
E pronto. O circo estava montado.
Pelo jeito, aquela noite não ia
ter fim.
Quando me sentei ao lado dela, o
cheiro maravilhoso de menta e morango me atingiram, era o mesmo cheiro que
tinha o gosto dos lábios dela, talvez estivesse tudo interligado nela, uma
mistura de doce com azedo, o que ela era na verdade, doce e ao mesmo tempo
azeda, forte, e que mesmo assim, você gostava.
Arqueei meu corpo para a frente e
dei uma olhada no Wood, que fez o mesmo e me encarou, dei o meu melhor sorriso
para ele que não retribuiu, o gesto era claro: “Cai fora que ela é minha.”
Sem chance, camarada.
Esse jogo ainda não estava
vencido. Não depois do jeito que ela tinha me beijado meia hora antes naquela
mesma grama que ele estava sentado.
Aquilo tinha que significar
alguma coisa, e eu estava firme em descobrir.
Ninguém dá um fora assim, sem mais
nem menos, em Sirius Black.
Dei um sorriso ainda maior, ainda
encarando o Wood, o que queria dizer: “Ainda estou no jogo, camarada.”
Pisquei e disse, amigavelmente.
— E ai cara, firmeza?
— Firmeza, Black. Cadê sua
namoradinha? – Esperto, muito esperto. Lene ergueu uma das sobrancelhas e me
olhou, sem expressar nada mais no rosto do que algo como: “sua namoradinha?”.
Gargalhei e revirei os olhos.
— A Anna? Ixi, tá longe de ser
minha namorada cara, você sabe como é. Prefiro meninas realmente especiais pra
isso. – Olhei pelo canto dos olhos para Lene, que disfarçou e fingiu rir com a
brincadeira, enquanto Wood dava uma risadinha sarcástica. Ele sabia que eu estava
no jogo, mas não sabia que eu tinha um ponto na frente dele. E por mim, ia
continuar sem saber, ou poderia querer empatar.
Eu não fazia ideia do que estava
acontecendo naquela roda, ou naquele jogo, mas sabia que não tinha gostado nada
de ver o Wood se erguendo para cima da minha garota e beijando ela, por mais
que não tivesse sido um beijo de verdade, apenas um selinho pelo que percebi.
Agora era minha vez de mostrar
quem mandava naquela budega.
Helena deu uma olhada para mim e
ficou vermelha, antes de girar a garrafinha vazia de cerveja amanteigada que
estava no meio da roda de pessoas. Disfarcei e cocei a nuca.
Droga, eu já tinha ficado com ela
uma vez no corredor dos amassos, há uns onze meses atrás, ou mais que isso, eu
não fazia ideia, não pensava muito a respeito.
Lene olhou de Helena para mim e
então virou-se para o Wood falando algo mais baixinho que fez os dois rirem.
Ela estava dando o troco.
Mulheres são tão vingativas,
cara. Tome muito cuidado com elas.
A ponta da garrafinha virou para
mim (puts) com o fundo virado para o James (puts em dobro). Agora fudeu.
James deu uma risada alta e olhou
para mim com seus olhos de maroto.
Aí vem.
— Nem vem, Pontas. – Eu disse,
erguendo as mãos e Lene gargalhou ao meu lado, junto com todo mundo.
— Você tá ligado que entre homens
não existe essa viadagem de veritasserum, é só imperius. – Me segurei para não
mostrar o dedo do meio para James, mas essa coisa de me segurar durou só dois
segundos.
Ergui a mão e mostrei o dedo do
meio para ele que gargalhou, junto com Remus ao lado de Emmeline, e Emmeline,
Lilian, que parecia bem risonha naquela noite (por que a Lene não estava bêbada
daquele jeito? >) ), e a Lene ao meu lado, que deu um tapa brincalhão na
minha perna
Me virei para ela e fiz uma cara
de dor, que a fez rir mais ainda.
Ser palhaço, é uma boa maneira de
conquistar as garotas. Elas adoram.
— Seu bobo. – Ela disse, risonha
e voltou a atenção para James, que olhava de mim para Lene.
Putz. Não faz isso, cara. Não
quero assim.
Marlene percebeu o olhar de James
e já emendou de cara.
— Nemmmm vemmm. Me deixa fora
disso. – E gargalhou, eu me virei e olhei para ela com carinha de cachorrinho
sem dono.
Se ela tinha beijado o Wood
naquela brincadeira sem questionar, por que eu não?
Peralá, rapá. Que isso?
Wood pareceu ficar muito
satisfeito com a resposta dela.
Agora eu queria que o James me
desafiasse a beijar ela, e ele ia ver o que é um beijo de verdade!
Me virei e encarei James com uma
cara que ele ia saber o que eu queria dizer.
Coisa de homens e amigos, eles
sabem depois de muito tempo junto, o que o outro quer dizer, mesmo sem falar
nada.
Manda ver.
Era o que eu estava dizendo à
ele, sem palavras.
James piscou para Lene e disse.
— Relaxa, Leninha. – Ela mostrou
a língua para ele e eu ri. Ela era tão ela mesma, que a fazia ser diferente de
qualquer outra, e isso era o que eu mais gostava nela. Depois dos lábios
macios, do corpo macio e do gosto de morango e menta.
— Eu te desafio... a beijar o
Wood.
— OOOOHHHHH. – Gritou Wood, com
rejeição (graças a deus, né)
— SAI FORAAAA. – Eu disse e Lene
gargalhou histericamente ao meu lado, e todas as meninas junto, enquanto eu
falava sem parar.
— Mano, sai fora, que isso. Sai
pra lá.
— Brincadeira, cara. – James
rachava de rir. Zuação estava boa hoje né. Vai ter volta. – Beija logo a Lene.
Marlene ainda ria e olhou para
James, fazendo careta e não com o dedo, enquanto ainda se recuperava do acesso
de riso.
Me virei para ela e vi que o Wood
também a olhava, esperando para ver o que ela ia fazer.
Aposto que ele pensava que ela
estava na dele.
Quer dizer, eu sabia que ela
gostava dele, mas depois daquele beijo, eu não tinha certeza absoluta que ele
ganhava de cara, não.
— Só um selinho? – Ela se virou
para mim e eu a olhei nos olhos, estava tentando dizer “Você fez mais do que
isso hoje”.
— Você já fez mais do que isso...
– Parei.
Droga. Não era para falar.
Fechei os olhos por segundos e
fiz uma careta, sabia que ela ia brigar agora.
Mas quem falou, não foi ela.
— Como é? – Virei o rosto de lado
e encarei o Wood, do outro lado dela, me olhando feio.
— Como é o que? – Rebati. Isso
era assunto meu e dela.
— Ela disse não, Black. – Ele franziu a testa, fazendo cara feia.
— Ela disse? – Retruquei. – Não
ouvi a palavra ‘não’ saindo da boca dela.
— Acho que um gesto já diz muito
mais do que uma palavra, você não acha?
— HAHAHA. – Gargalhei
ironicamente. E fechei a cara, voltando a encarar ele.
Marlene se afastou para trás um
pouco e ficou olhando de mim para Wood, com as sobrancelhas erguidas e os olhos
verdes arregalados.
— Cê ta por fora. – Eu falei.
— Acho que é você que tá, irmão.
Todo mundo parou e ficou nos
olhando, mas honestamente, eu não estava nem aí para eles.
Esse cara estava achando que era
quem?
— E se ela quiser, o que você vai
fazer? Ela não é sua namorada que eu saiba.
— Nem a sua, Black. Pelo que ela
mesma me disse.
Dei uma risadinha, debochada, e
quando abri a boca para responder, outra voz se fez presente, mais alta até do
que a música que rolava por ali.
— QUER PARAR VOCÊS DOIS?
Me virei e vi Marlene se
levantando e se virando, saindo pisando duro em direção ao lago.
Droga.
— Lene. – Me levantei num pulo e
vi que o Wood também se levantou. – Sai fora.
Eu disse, antes de sair correndo
atrás dela.
— Lene, espera, por favor.
O cara estava correndo atrás de
mim, sorte que eu era o artilheiro do time e tinha um preparo físico melhor
para aguentar pressão e balaços, enquanto ele ficava parado no gol, eu tinha
mais folego que ele.
— Lene. – Gritei, enquanto ela
corria para longe da festa e mais para o outro lado do lago.
Dei uma avançada e a alcancei, a
puxando pelo braço e a fazendo se virar para me encarar.
— Lene, me desculpa.
Ela me encarou, estava com os
olhos marejados de lagrimas, e então desviou os olhos de mim e olhou para Wood,
que tinha nos alcançado e agora se aproximava devagar, com cautela.
— Eu não sou nenhum brinquedinho
pra vocês dois ficarem disputando. Não sou! – Ela disse enfaticamente, e então
eu percebi a merda que eu fiz.
Ela estava se sentindo usada.
Que droga.
— Me desculpe, Lene. – Eu disse
baixinho, e ela se virou para mim, furiosa.
— O que você está pensando,
Sirius? O que?
Abri a boca para responder e ela
se virou para o Wood.
A bronca ia de um para o outro.
Parecíamos dois garotinhos
levando bronca da mãe, sabe, que murcha as orelhas e fica com os olhinhos
baixos e temerosos, sabendo que se falar “A” a mãe desce o cacete. Mais ou
menos isso.
— Eu não vou participar dessa
disputa de vocês. Entenderam? – Ela apontou o dedo para o Wood, brava.
Eu tinha entendido, mas como eu
ia fazer para o Wood cair fora que era o problema.
A disputa não ia acabar até que
ela decidisse quem ela queria, acho que ela não tinha sacado isso.
Somos homens, e homens não abre
mão de nada até que fique claro que ele não tem chance de ganhar, e até onde eu
estava vendo, ela parecia gostar do Wood, mas parecia sentir algo por mim ou
não teria me beijado mais de uma vez no último mês, e até onde eu me lembrava,
eram dois beijos, e dois quase, para um do Wood (até onde eu tinha
conhecimento, né, vai saber se ela também não ficava em salinhas apertadas com
ele).
Ela se virou e saiu pisando
fundo, parando uns cinco metros mais à frente e ficando de costas, de
braços cruzados.
O engraçado era que, quanto mais ela corria, mais eu ficava
determinado a segui-la.
Agora eu não ia recuar, eu ia atrás dela, quanto mais ela
corresse, mais eu correria atrás.
Agora não tinha mais volta, se até ontem eu não fazia ideia
de porque ela de repente se tornara tão diferente aos meus olhos, agora eu
sabia que, com ou sem motivo aparente, eu ia segui-la até dobra-la e ela não
querer ninguém além de mim e não o Wood.
Coisa de homem.
Fiquei ali, parado, olhando para
as costas dela, com a saia preta de pregas e a blusa da Sonserina, quando ela
era totalmente uma Grifinoriana, em tudo. Uma verdadeira mulher de atitude.
Me virei e encarei o Wood, que me
encarou de volta, como quem diz “e ai, o que vai ser?”
Fiz que não com a cabeça. (=) “Eu
não vou desistir”.
Linguagem de homem, ele ia
entender.
Ele fez que não com a cabeça.
Íamos ter que disputar sem a Lene
perceber.
Ele inclinou com a cabeça na
direção da Lene como quem diz “a culpa disso é sua, irmão, agora aguenta” e
saiu andando, de volta para a festa.
Eu fiquei parado ali, olhando
para ela.
Aquilo tudo tinha sido causado
por mim mesmo, por isso, caminhei devagar até ela e parei às suas costas, a
menos de meio metro de distância.
O cabelo dela ondulou com o vento
e eu senti o cheiro de morango e menta me atingir e senti um peso no peito.
Respirei fundo e disse baixinho.
— Me desculpe, Lene.
Ela suspirou e se virou, me
encarando.
Agora os olhos estavam molhados,
as lagrimas desciam por sobre o rosto e eu senti um peso na boca do estomago.
Olha o que eu tinha feito.
— Lene! – Eu disse no mesmo
instante em que a vi chorando e dei um passo à frente, esticando a mão para
afagar-lhe o rosto, e ela deu um passo para trás, fechando os olhos, e
engolindo o choro.
— Que droga. Me desculpa, me
desculpa. Eu sou um otário mesmo. Quer me xingar? Pode xingar. Eu mereço. Sou
um trasgo com retardadice mental, um obtuso, muito burro mesmo.
Ela riu, fraquinho, e balançou a
cabeça.
— Olha o que eu fiz. – Eu disse,
e dei outro passo à frente, eu queria chegar perto dela, mas ela queria
distância, e deu outro passo para trás. – Lene, por favor!
Eu disse, suplicante.
Estava me sentindo um merda.
— Por que você está fazendo tudo
isso? – Não entendi muito bem a pergunta dela. Até onde eu sabia, eu só tinha
feito de errado aquilo, de na frente de todo mundo, ficar disputando ela com o
Wood. Agora queria dizer que eu estava fazendo mais coisas erradas? Como assim?
— O que eu fiz? Olha, me
desculpa, eu não devia ter feito aquilo, fui um babaca, queria só mostrar pro
Wood que...
— Mostrar para o John o que? –
Senti uma onda de raiva quando ouvi ela o chamando pelo primeiro nome, como se
tivessem intimidade, mas engoli isso, ela estava zangada comigo porque eu tinha
sido um idiota, e se agisse como idiota de novo, ia me ferrar ainda mais.
— Que... que eu... que... –
Parei. O que eu ia dizer? Que eu que ia ganhar aquela? Que ele não tinha
chances? Que ela era minha? Que eu que queria ganhar o jogo ou que eu estava no
jogo e não ia sair? Não ia sair até que o que? Até ficar com ela para valer?
Mas e depois?
O que eu estava fazendo?
Marlene Mckinnon não era uma
garota como qualquer outra, o James tinha razão, ela não era garota para uma
ficada só, uma noite só, para eu tirar a virgindade e sair fora, ou pra eu
comer só e sair fora depois, ou tentar isso e sair fora se não conseguisse como
eu fazia com todas as outras.
Ela não era dessas.
Ela não era o tipo de garota que
eu conquistava e depois jogava fora.
E se eu disputasse com o Wood e
vencesse, o que eu ia fazer depois?
Acho que ela percebeu que nem eu
sabia a resposta.
Ela enxugou as lagrimas que
desciam pelo rosto e respirou fundo, se aproximou de mim e tocou meu rosto de
leve com as pontas dos dedos, me fazendo erguer o rosto e encará-la.
— Quando você realmente descobrir
o que você quer, daí sim você vem atrás de mim.
O recado estava dado, e dizia: Eu
não sou um brinquedinho para você disputar, ganhar e colocar na estante.
Ela se afastou de mim e saiu
andando de volta para a festa, e eu fiquei ali, olhando ela ir, sentindo um
peso afundando dentro de mim.
As palavras do James ecoaram no
fundo da minha mente: “Acho que você já está amarrado, meu caro Almofadinhas.”
Será? Eu não fazia ideia de como
era isso, de como eu deveria me sentir ou ficar se estivesse amarrado numa
garota, mas acho que eu perceberia, não perceberia?
Eu só sabia que alguma coisa
tinha mudado, alguma coisa que eu não sabia o que era.
Eu sentia que talvez soubesse a resposta, mas como podia ter
certeza?
Eu não sabia, e não tinha nenhum jeito de descobrir, eu não
podia chegar num amigo e perguntar: Hey, você sabe como é que você se sente
quando realmente tá amarrado numa menina?
Não.
Homens não falam de coisas assim. Apenas ficamos deitados
debaixo dos escombros.