- O que toda mulher inteligente
deve saber é que-
Eles querem uma mulher
competente, que possa pensar por si mesma, dar conta dos próprios problemas,
tomar as rédeas, não uma menininha indefesa, frágil e sem opinião, que ele
precisa salvar o tempo todo. Eles querem uma mulher que não precisa ser salva,
mas que salva a si mesma.
Claro que depois de uma grande
vitória da Grifinória, tinha uma grande festa pós-jogo no salão comunal, e ele
estava absolutamente lotado, com um som alto, todo mundo rindo, bebendo,
cantando, dançando, ficando e sabe-se lá mais o que naquela zona toda.
Eu já tinha subido para o meu
dormitório, tomado um banho para me livrar daquele cheiro de peixe morto e
tinha me produzido com muito mais capricho depois daquele clima todo que tive
com o Sirius, quem sabe eu tivesse um pouco mais de sorte nessa festa.
Coloquei uma calça jeans bem
justa e uma blusa vermelha justinha, me maquiei bem, passei um batom vinho
forte, arrumei os cabelos, deixando-os caídos ao lado do rosto, mais lisos e
soltos e desci “toda toda” para a festa sabendo que eu ia arrasar.
Acho que eu estava começando a me
achar demais.
A turma toda estava mais animada
do que o normal, era quase como se tivéssemos vencido o campeonato, a
comemoração aquela noite estava super agitada e quando adentrei o salão comunal
fui pega pela barulheira de conversas animadas que mais parecia uma peixaria,
misturadas com a música alta fruto de algum feitiço de um espertinho do sétimo
ano, pessoas rindo, andando pra lá e pra cá, algumas aglomeradas em cantos, uma
verdadeira festa.
Parei e demorei um tempinho
procurando as meninas e quando encontrei, fiquei mais um tempinho procurando o
Sirius, quando meus olhos encontraram com os dele. Ele sorriu para mim e eu
sorri de volta, caminhando em seguida em direção as meninas, mas pega de
surpresa no caminho por ninguém mais, ninguém menos que... Wood.
— Marlene! – Ele me puxou para
seus braços e me abraçou, me erguendo do chão e me fazendo dar um gritinho risonho,
alto, mas não mais alto que o som que ecoava pelo salão.
— Wood! Me desce. – Eu disse
risonha enquanto ele me rodava, me girando e quase me fazendo bater em pessoas
à nossa volta, o que o fazia rir e eu rir mais ainda.
Acho que ele já estava bem
bêbado.
Ele me colocou no chão e eu
ajeitei os cabelos e a roupa, com medo de alguma coisa ter saído do lugar.
— Caramba, como você tá gostosa!
– Eu ri alto, ele estava mesmo bêbado.
— Você já bebeu quantas? – Eu
perguntei, ainda risonha e ele riu, me enlaçando pela cintura e me puxando em
direção ao meio do salão. Pude ver que Sirius me olhava e desviei os olhos, não
conseguia olhar para ele depois daquela tarde, depois de termos quase nos beijado
e agora estar ali, com Wood me abraçando como se eu estivesse afim dele ou
gostando dele, quando meu coração era todo de um tal Sirius Black.
Essa coisa toda de plano, de
fingir estar afim de outro, de não poder dizer a quem a gente ama que o ama era
muito difícil as vezes.
Wood me arrastou até onde as
meninas estavam e eu parei ao lado delas com a cara risonha e sem entender nada
enquanto Wood tagarelava ao meu lado coisas que eu não estava sequer prestando
atenção.
— ONDE VOCÊ ESTAVA?! Eu tenho um
monte de coisas pra te contaaaaaaaaar! – Meu Deus o que acontecera nesse
período enquanto eu me arrumava no dormitório?
Lilian me puxou nada delicada
para perto dela, me tirando de Wood que protestou, meio bêbado.
— Hey, dá a minha garota aqui. –
Epaaaa! Minha garota? Como assim? Agora sou a garota dos outros e nem tô
sabendo?
— Agora ela é minha! – Disse
Lilly, possessivamente, o que causou risos em todos e eu dei de ombros.
— Calma ai gente, tem Lene pra
todo mundo. – Disse Emme e todos riram mais ainda.
— Você não vai acreditar! – Lilly
estava eufórica, era como se ela tivesse acabado de dar seu primeiro beijo, o
que era bem irônico, porque quando ela deu seu primeiro beijo ela ficou
morrendo de vergonha de nos contar e não como ela estava naquele momento.
— O que aconteceu, Lilly? Você
finalmente conheceu o Mike Dee? – Ela era mega-hiper-ultra-super-master-blaster
(acho que você já entendeu né) apaixonada por Mike Dee, um jogador de quadribol
lindo, maravilhoso, gostoso e tudo de oso que você possa definir.
— Aiiiiiiiiiii nãooo. – Ela riu alto,
toda excitada. – Meu Deus, quem dera. Ai quem dera! – Eu gargalhei e aproveitei
a deixa quando alguém passou com várias garrafinhas de cerveja amanteigada
flutuando no ar a sua frente e surrupiei uma, girando a tampinha para abri-la e
virando um gole, enquanto ela me puxava de lado pelo braço para que ninguém
ouvisse o que ela tanto queria me contar.
— Eu recebi um bilhete de um
admirador misterioso! – Ela parecia super empolgada com isso, eu apenas franzi
o cenho. Admirador misterioso? O Potter com certeza iria querer matar esse
admirador.
Ela enfiou a mão no bolso da
calça jeans e puxou um pedaço de pergaminho meio amassado (de tanto enrolar e
desenrolar, provavelmente) me entregando em seguida para que eu pudesse ver.
Era uma letra típica de menino, mas
não muito garranjosa, eu conseguia entender perfeitamente.
“Lilian...
Eu te amo do amanhecer ao anoitecer e mesmo quando durmo, ainda te
amo. Eu te amo nas três dimensões, nas quatro luas, nos quatro
elementos, nas quatro estações, nos quatro pontos cardeais. Eu te amo
nos cinco sentidos, nas sete cores do arco-íris, nas sete notas musicais, nos
doze signos do zodíaco, em tudo o que existe eu te amo cada vez mais. Eu te
amo na procela e na calmaria, em todos os josés e marias, nos infantes, nos
anciãos, nos amigos, inimigos ou irmãos, eu te amo em toda a criação. Eu
te amo no caos aparente ou na mais perfeita estrutura, eu te amo
como o próprio criador ama a sua criatura. Eu te amo no vento que vem do
norte, na linha do horizonte, na pequena fonte, nas nuvens grávidas de chuva, eu
te amo nos meus dias nefastos e nos meus dias de sorte.
Seu admirador secreto.”
Minha nossa senhora do Guadalupe,
QUE declaração.
Fiquei olhando para o bilhete,
perplexa com aquelas palavras e ergui os olhos para olhar em direção a Sirius
que estava a um canto do salão, não muito longe dali, rindo animadamente entre
os amigos, como se nem se lembrasse mais da cena do peixe morto, do nosso quase
beijo, da noite anterior. Fiquei ali, imaginando ele me dizendo ou me
escrevendo palavras como aquelas.
Agora eu entendia a euforia de
Lilly, imagina alguém escrever uma coisa assim para você!
— Meu Deus, Lilly... – Eu disse
simplesmente, e ela puxou o bilhete da minha mão, toda sorridente, falando em
seguida.
— Eu sei, eu sei. É LINDO, não é?
– Eu ri, de quem será que ela imaginava que era aquele bilhete? Quer dizer, eu
nunca vira Lilly apaixonada por ninguém, sempre desconfiei que ela sentisse
algo por Potter, mas não tivesse coragem de assumir depois de tantas brigas e
encrencas como maroto, mas ela nunca nos dissera de nenhum garoto que gostasse,
mesmo que as vezes ficasse com um aqui ou ali, o que era bem raro tanto quanto
eu ou Emme ficar com alguém, éramos mesmo bem na nossa em relação a garotos,
principalmente eu que era apaixonada e Emme também, mas Lilly nunca nos dissera
ser apaixonada por ninguém, e agora aquela alegria toda me fazia suspeitar de
que ela nunca nos dissera, mas que provavelmente sentia algo por alguém e só
não nos contara, mais ou menos como fora em seu primeiro beijo, por vergonha ou
medo do que iriamos dizer.
— Mas quem é esse admirador? – Eu
perguntei, toda curiosa, claro que eu estava mega curiosa tanto quanto ela
estava mega feliz por ter um admirador, ou talvez por pensar que esse admirador
era alguém especifico que eu descobriria quem era até o fim da noite (graças ao
poder de algumas bebidas por ai).
— Nãoo seeeei. – Ela disse de um
jeito de quem sabia quem era, mas não podia contar.
Lilian, quer mais uma garrafinha
de cachaça?
Eu ergui as sobrancelhas e ela
gargalhou toda feliz, grudando em meu braço como um casal de namorados e me
puxando para junto das outras meninas que conversavam animadamente um assunto que
eu não fazia a menor ideia do que era, só peguei o bonde andando, ainda
pensando em quem poderia ser o tal admirador misterioso de Lilly; Se não fosse
o Potter, o que eu duvidava muito que não fosse, eu não conseguia pensar em
muita gente, quer dizer, a Lilly sempre fora uma menina mais na dela, apesar de
ser toda doce, gentil, amiga e bondosa com todo mundo, e esse jeitinho dela era
bem capaz de conquistar qualquer um, ou fazer qualquer garoto mais volátil ao
amor, pensar que ela estava dando em cima quando na verdade só estava sendo ela
mesma, a Lilian doce e meiga que era com todo mundo.
Parei de pensar nesse assunto
quando ouvi o nome de Sirius no meio das conversas que rolava ali.
— É sério? – Emme ia dizendo, com
a cara meio de assustada, nojo e incredulidade e então saquei qual era o
assunto: os peixes mortos.
— Foi o que eu ouvi mesmo. –
Disse Wood, dessa vez parecendo um pouco mais sóbrio do que quando me chamara
de gostosa naquela entonação de algo mais, ou ele estava meio bêbado, mas não totalmente,
ou estivera fingindo estar bêbado para poder me dizer o que achava mesmo de mim
sem ficar sem graça.
Essa era uma boa tática.
— Os armários estavam todos
cheios de peixe morto. – Ele continuou fazendo Lilly fazer a maior cara de nojo
que uma bêbada pode fazer. Imagine.
— Eeeeeeecaaaa, que nojo! - E
todo mundo riu.
— Estava extremamente fedorento.
– Eu disse, como se estivesse lá, e realmente estava, e isso fez todo mundo
virar o rosto para me encarar pensando exatamente isso. Eu estava lá?
— Como você sabe? – Emme ergueu
as sobrancelhas. Droga, eu poderia escapar de qualquer um, menos dela.
— Eu ouvi falar, ué. – Dei de
ombro como quem só estivesse repetindo o que ouviu, não como alguém que
realmente estivera lá, trancada numa sala minúscula com um Sirius Black apenas
de toalha que se espremera contra mim numa salinha quente, úmida e escura e
quase me beijara na boca.
Ela me olhou com seu olhar de
águia, e eu dei um sorriso amarelo, bem lindo, o que a fez com certeza saber
que tinha muito mais do que eu havia dito para lhe contar mais tarde.
Droga.
Okay, confesso que, no fundo, no
fundo, eu não via a hora de contar para elas o que acontecera, dessa vez eu
gostaria MUITO de saber o que elas achavam de tudo aquilo, o quase beijo, o
“você é incrível”, e o “Wood era um garoto de sorte”, ou quase isso.
— Gente, mas o que a Sonserina
estava pensando? – Perguntou Alice, o que fez todo mundo começar a falar ao
mesmo tempo.
— Eles são uns idiotas. – Disse
Emme, revoltada.
— Uns animais.
— Babacas.
— Otários.
—Nojentosssss – Disse uma Lilian,
bêbada.
— Ridículos.
— Não sabem perder nem quando não
são eles jogando.
— Precisamos fazer algo.
— É, precisamos dar o troco.
— Temos que nos vingar.
— Éeee, vamos nos vingar.
— Vamos.
— Vamos.
— VAMOS. – Terminou Lilly, muito
bêbada, gritando para todo mundo ouvir, bom, quase todo mundo, porque naquele
som alto da música e aquele falatório de peixaria, nem todo mundo poderia
ouvir, mas todo mundo ali presente ouviu e gritou junto, em apoio total.
Tínhamos que nos vingar, com
certeza absoluta.
E aquela noite era perfeita para
isso.
Não me pergunte como, mas a
maneira como conseguimos convencer algumas pessoas a invadir o dormitório da
Sonserina foi muito mais fácil do que a coragem para entrarmos quando já
estávamos no corredor que nos daria acesso ao salão de dormitórios dos
inimigos.
Sirius que se animou de maneira
intensa quando sugerimos nos vingar naquela noite, estava à frente de nós, olhando
escondido de um corredor a outro, onde do outro lado a porta do dormitório
estava visível.
Estávamos decidindo como entrar
sem sermos vistos ou chamar a atenção. Será que todos da Sonserina já tinham
ido dormir?
Olhei para o relógio no meu pulso
e vi que eram exatamente quinze para meia noite, era impossível que todos já
estivessem dormindo, ninguém em sã consciência dentro de Hogwarts dormia antes
da meia noite no sábado, mesmo que isso fosse contra o regulamento. Mas invadir
dormitórios alheios e se vingar por uns peixes mortos também era contra o
regulamento. Quem ligava?
Sirius se virou para nós, atrás
dele estava James, Remus, Ulisses e Mario, garotos do time de quadribol, Emme,
Lilly e eu; éramos pessoas demais da Grifinória para passar despercebido dentro
da Sonserina.
— A luz embaixo da porta parece
estar apagada, talvez não tenha ninguém no salão deles. – Olhamos para Sirius
com o coração batendo a mil e o medo e a ansiedade pulsando nas veias.
— Somos pessoas demais, vamos
chamar a atenção. – Eu disse, chamando a atenção de todos, fazendo uns
assentirem com a cabeça, outros ficarem pensativos, como se tentassem achar uma
solução ou uma maneira mais fácil de entrarmos.
— Não seria melhor fazermos isso
durante a semana? – Sugeriu Ulisses, e alguns também concordaram. Não todos.
— Não. Eles já esperam que
façamos isso depois, não esperam que a vingança venha hoje. – Disse Potter, e
eu entendi perfeitamente porque ele era o capitão do time, ele pensava bem em
táticas, no que os outros esperavam que se fizesse ou não, dentro e fora de
campo. – Vamos fazer o seguinte. Eu e Sirius vamos estar com um feitiço no
rosto e entramos, duas pessoas vem atrás e fica na porta de olho em tudo, e os
outros ficam aqui fora para avisar quem está na porta se vier ou ver alguém.
Ficamos ali, pensativos por
alguns segundos, analisando a situação.
— E se nós formos juntos? – Eu
disse, fazendo Sirius e James me olharem. – Eu, Emme e Lilly; Podemos pegar
algumas roupas da Sonserina, e entramos fingindo que estudamos lá, ninguém vai
olhar muito pra gente. Abrimos espaços e vocês vem atrás com as coisas,
enquanto dois ficam na porta e os demais aqui fora para avisar se ver ou ouvir
algo.
— Podemos mandar mensagem em
código por pergaminho, aprendi um jeito de fazer mensagens aparecer em
pergaminhos enfeitiçados mesmo longe um do outro e depois se embaralhar, assim,
se alguém for pego, não denuncia nenhum outro, porque ninguém vai provar que as
mensagens têm a ver com o “ataque”. – Boa Emme, ela devia fazer parte de algum
grupo terrorista, porque era um gênio.
Remus deu uma olhada com os olhos
brilhando em direção a Emme e eu aposto (e já ganhei) que o coraçãozinho dela
ficou a um milhão dentro do peito.
— Boa ideia, meninas. Então temos
que nos apressar. – Sirius voltou para trás, se afastando do corredor e da
porta da Sonserina.
Voltamos correndo pelo corredor
tentando não chamar a atenção tanto quanto um monte de rinoceronte correndo por
um corredor de um castelo poderia não chamar.
Eu, Emme e Lilly corremos em
direção a lavanderia enquanto os meninos corriam atrás da surpresinha para a
Sonserina que eu só podia fazer ideia do que poderia ser. Algo pior do que
peixe morto.
Já era praticamente meia noite
quando chegamos a porta da lavanderia, se Filch nos pegasse estávamos ferradas.
Emme olhou pelo vidro,
cautelosamente, vendo que estava escuro e vazio do lado de dentro, e girou a
maçaneta com a varinha, empurrando a porta devagar para entrarmos. Não podíamos
acender a luz senão chamaria muita atenção, então acendemos a ponta das varinhas
e fomos iluminando a parte de dentro.
A lavanderia era grande, haviam
diversas máquinas de lavar no grande espaço, uma ao lado da outra, e como tudo
nesse castelo, era dividido entre as casas. De todos os lados tinham máquinas
de lavar trabalhando sozinhas, algumas batiam roupa, algumas pareciam estar
centrifugando e algumas pareciam já ter terminado o serviço porque estavam
silenciosas. Roupas voavam pra lá e pra cá, do cesto de roupa para maquinas,
das máquinas para cestos, algumas sendo dobradas e guardadas, algumas sendo
passadas por ferros flutuantes.
Era uma coisa lindamente mágica
de se ver.
Era expressamente proibido
mexermos nas roupas de outras pessoas, até porque eu nunca soubera que tinha
uma lavanderia em Hogwarts até o dia que me deparei com uma, os elfos
normalmente não te fazem pensar que existe aquilo ali. Mas, como eu ia dizendo,
era proibido mexer ou pegar qualquer coisa de outro aluno; Se você fosse pego
mexendo ou com a roupa de outra pessoa, poderia ser suspenso, perder 50 pontos para
sua casa, ficar de castigo (isso significava não poder sair do castelo nas
visitas a Hogsmead), ou pior ainda, ter um berrador no café da manhã e os seus
pais chamados no colégio para conversar com o professor Dumbledore, o que era
sempre a última coisa que alguém queria que acontecesse. Ter os seus pais no
castelo era sinal de que você estava muito, mas muito ferrado mesmo, porque
você ia ficar sem mesada por meses, sem visitas a lugar nenhum, e ia ser
obrigado a se matar de estudar para passar nos NOM'S e NIEM'S, porque Aí de você
se não tirasse as notas que precisava.
Estávamos correndo um risco
lascado, mas a vingança seria saborosa, por isso, valia a pena.
Eu nunca tinha entrado na
lavanderia antes, não que minhas roupas fossem sempre sujas e eu a porquinha do
colégio, era que a gente podia muito bem deixar nossas roupas sujas no cesto de
roupas do quarto, e no outro dia elas estariam limpas, dobradas e passadas em
cima da cama.
Esses elfos eram tão eficientes.
Fomos abaixadas, com as luzes das
varinhas iluminando a nossa frente e corremos até as maquinas da Sonserina.
Como esperávamos, algumas tinham
roupas dentro ainda, provavelmente essas esperavam para serem recolhidas
magicamente para serem passadas ou sei lá qual era a sequência mágica daquilo tudo.
Me aproximei de uma das maquinas com cores verdes e a abri para ver roupas
verde e branco dentro dela; enfiei a mão e puxei uma peça vendo que ainda
estavam úmidas, como eu tinha imaginado.
— Não dá para usarmos essas,
estão molhadas ainda. – Me virei para olhar para as meninas, ainda com a peça
de roupa úmida na mão, e vi Emme ao final, onde havia diversos armários, um ao
lado do outro.
— Vocês têm que ver isso! – Ela
fez sinal com a mão, nos chamando, e nos encaminhamos até lá, ainda agachadas
com as luzes bruxuleantes ao nosso redor.
Tinham vários armários, cada um
deles com as cores indicando qual era a casa na porta, e dentro, haviam
diversas prateleiras com os nomes dos alunos e suas respectivas roupas ali,
passadas e dobradas.
Me aproximei e fiquei olhando,
procurando minhas roupas e vendo, obviamente, primeiro as do Sirius. Peguei uma
blusa dele que estava dobrada por cima e levei imediatamente ao nariz, mas não
tinha mais o cheiro maravilhoso dele e do perfume dele, só cheiro de amaciante,
o mesmo amaciante que vinha nas minhas roupas.
Olhei para o lado esperando ver
as meninas me olhando com risinhos, mas elas estavam fuçando as roupas das
meninas da Sonserina.
Coloquei a blusa de Sirius de
volta ao montinho dele e me encaminhei até as meninas, parando ao lado delas.
— Essa não é aquela loira azeda?
– Era assim que Emme chamava algumas loiras da Sonserina, eu não sabia o nome
delas, só os apelidos.
— Acho que sim. – Disse Lilly que
esticava uma saia a sua frente para ver se lhe servia. – Acho que isso serve em
mim, né?
— Ui, Lilly, o Potter vai ficar
babando quando te ver com essa roupinha. – Disse Emme e eu tive que colocar a mão
sobre a boca para abafar minha risada escandalosa.
Emme também riu e Lilly fez uma
careta, colocando a saia sobre o ombro e pegando uma blusinha por cima da mesma
pilha onde ela saqueou a saia.
— Vamos logo meninas. – Ela disse,
olhando o relógio no pulso. Não tínhamos muito tempo.
Olhei algumas roupas e peguei
também uma mini-saia de pregas, verde e uma blusinha branca que provavelmente ficaria na metade da
minha barriga; Emme saqueou a loira azeda, e corremos de volta ao nosso
dormitório para nos trocarmos.
Era meia noite e meia quando eu,
Emme e Lilly corríamos, o mais silenciosamente que conseguíamos no corredor que
dava acesso ao dormitório da Sonserina, onde os meninos provavelmente já nos
esperavam.
Quando nos aproximamos deles,
ofegantes, vi o susto e depois o brilho nos olhos dos meninos.
E não era para menos.
Eu estava vestindo a saia verde,
de pregas, que ficava acima da metade da minha coxa e uma blusinha branca que
ficava na metade da minha barriga, deixando ela praticamente toda de fora.
Lilian estava com uma saia Jeans, também mini, na verdade, que era um pouco
maior que a minha, mas em milímetros, e bem mais justa em compensação. A
blusinha verde com o símbolo nojento da sonserina era justíssima e deixava um
pedaço da sua barriga de fora e fez os olhos de James saltarem para fora.
Emme, por sua vez, estava usando
uma saia jeans também, e uma blusinha verde e branca com o símbolo da
Sonserina, mas era de alguém menor que ela, porque a blusa parecia baby look, e
a deixava com um decote, eu podia ver parte dos seios dela que eram bem
chamativos, digamos assim.
Não tinha como os meninos não
olharem para nós. Até os gays olhariam.
Paramos ofegantes e flagramos as
caras de bobos deles.
Sirius, James, Remus, Ulisses e
Mario estavam com a boca entreaberta nos olhando e eu ri, estalando o dedo na
frente deles, como se já estivéssemos conversando com eles há um tempão, mas apenas
estava brincando.
— Alou? E aí, conseguiram as
bombas? – Eu não fazia ideia do que eram as bombas, mas apelidamos assim o que
quer que os meninos iam conseguir para nos vingarmos da Sonserina.
Sirius ficou me olhando, descendo
os olhos e subindo, enquanto Mario pigarreava e Potter ficava cada vez mais
vermelho enquanto olhava para Lilly, tentando desviar os olhos em seguida, sem
muito sucesso. Remus então, coitado, já tinha passado do vermelho para o
escarlate fazia um tempão e agora olhava para o chão fixamente como se tentasse
não olhar para os seios de Emme. O que eu tenho certeza que era impossível, até
eu ficava olhando as vezes. Ela tinha um corpo de dar inveja em qualquer uma, e
cobiça em qualquer outro.
— Conseguimos. – Sirius ergueu a
mão com um saquinho bem recheado, e quando ele fez isso, um cheiro insuportável
invadiu minhas narinas.
— Cruiz.
— Minha nossa senhora!
— O que tem aí? – Todas nós
levamos a mão ao nariz, tentando tirar esse cheiro do nosso subconsciente, era
um cheiro insuportável, uma mistura de esgoto, com diarreia, com coco de
bebezinho (que não era nada cheiroso como algumas pessoas diziam), e urina de
rato, tudo ao mesmo tempo.
ECA!
— Uma surpresinha bem melhor do
que peixe morto. – Piscou James e Sirius riu, ele estava mesmo empenhado em dar
o troco depois de ter ouvido os meninos da Sonserina no vestiário.
— Okay, vamos entrar. – Sirius se
virou e deu alguns passos à frente;
Onde ele estava indo? Segurei o
braço dele, o puxando de volta.
— Hey! Onde você vai? – Ele se
virou e olhou para mim. Vi um brilho diferente nos olhos dele, mas foi muito
rápido.
— Estamos perdendo muito tempo,
já é quase uma hora. – Revirei os olhos.
— Você não pode entrar assim, eu
e as meninas vamos na frente, vocês vêm quando dermos o sinal.
Passei por ele e Emme e Lilly
vieram atrás.
Éramos as panteras detonando!
Hahaha.
Os meninos ficaram olhando, acho
que agora não apenas vendo as nossas coxas grossas e nossas barrigas tanquinho
(a minha nem era tanquinho, mas ta valendo rs), mas vendo a nossa coragem. Se
tem uma coisa que mulher tem muito mais do que qualquer homem, é coragem e
atitude.
Fomos caminhando normalmente como
se conhecêssemos aqueles lados como a palma das nossas mãos. Tínhamos conseguido a senha do retrato que dava passagem a masmorras porque um dos meninos tinham ouvido um Sonserino comentando uns dias atrás, por isso, falamos a senha e depois seguimos como se fossemos daquela casa horrível, normalmente.
Para disfarçar, começamos a
conversar e rir quando entramos no salão de dormitório da
Sonserina. Assim que entramos e Lilly fechou a porta atrás de nós, caminhamos
até o meio do salão que tinha um tapete arredondado e então paramos, olhando a
volta.
Estava tudo vazio e apenas uma luz
num canto da parede iluminava o ambiente, deixando ele meio escuro e meio claro
ao mesmo tempo.
Olhei a volta e fiquei de queixo
caído.
Era como se eu tivesse voltado no
tempo, o lugar era luxuosamente lindo e elegante, como uma casa vitoriana
deveria ser.
Tinha uma lareira a um canto,
como no nosso dormitório também, mas a decoração a volta era extremamente
chique.
Sofás de veludo por toda parte,
um sofá de veludo bem grande e espaçoso em frente a lareira, com uma mesinha de
centro do mesmo material do sofá, arredondado.
Um piano a um canto, não um
teclado baratinho, não, um piano mesmo, de cordas, enorme, de madeira maciça e
a coisa mais linda que eu já tinha visto dentro de Hogwarts. Sou apaixonada por
pianos, diga-se de passagem.
Decoração vinda diretamente da
casa deles, ou mansão, melhor dizendo, enfim, aquele salão de dormitório era
uma humilhação perto do nosso que era bem mais aconchegante do que lindo, maravilhoso
e cheio de decorações vitorianas.
Isso era muita injustiça.
— Uau. – Lilly disse baixinho e
eu e Emme concordamos com a cabeça, meio segundo fascinadas por aquilo tudo. -
Por que eles têm tudo isso e nós não? -
— Deve ser coisa dos pais deles
né, ou deles mesmo que são frescos demais. – Disse Emme, ela estava com raiva,
acima de tudo. Eu a conhecia muito bem para saber disso. – Vamos, não podemos
perder tempo. Vamos ver se não tem ninguém mesmo por aqui.
Caminhamos pelo salão, agora
silenciosas, olhando a tudo, todos os cantos para ver se não encontrávamos
pessoas escondidas, ou dormindo em algum cantinho, ou pior, acordadas, claro
que, com a roupinha minimamente Sonserina de ser que estávamos não chamaríamos
muito a atenção, mas vai que alguém nos reconhecesse né?
Andamos a volta e paramos, as
três, perto de uma escadaria, MUITO chique, vinda direto de uma mansão
espetacular, e nos entreolhamos.
O corrimão era dourado, parecia
de ouro, e eu me perguntei se era só pintado de dourado ou se era de ouro
mesmo. Os degraus em piso de mármore, e a escada em si era grande, espaçosa e
arredondada, subindo para o segundo andar, onde deveriam ficar os dormitórios.
Diferentemente da Grifinória,
onde a escada para os dormitórios masculinos ficavam de um lado e dos
dormitórios femininos do outro, aqui era só uma escada para tudo, e eu fiquei
pensando se eles dormiam tudo misturado, quarto de meninos do lado do de
meninas, ou pior, meninos e meninas no mesmo quarto, ou casais num quarto só.
Seria uma putaria total e
explicaria porque as meninas eram tão quengas.
— Vamos subir? – Perguntou Lilly,
enquanto nós três olhávamos a escada.
Respirei fundo.
Se a vingança era para ser
completa, então tínhamos que subir, tínhamos que nos arriscar, já estávamos ali
mesmo.
— Sim. – Eu disse baixinho,
fazendo Emme e Lilly me olharem. Respiramos fundo e encaramos as escadas, íamos
subir.
Quando segurei o corrimão,
percebendo que parecia mesmo de ouro, ouvi passos atrás de nós e senti um
congelador de medo no meu estomago.
Alguém estava vindo atrás da
gente, alguém da Sonserina estava ali, ia subir as escadas, ia passar por nós.
Olhei para as meninas com os
olhos arregalados, e olhei para trás, instintivamente, e então, dei um pulo de
susto.
— Meu Merlinnn – Levei a mão a
boca, tentando abafar minha voz, meu grito, meu susto. Lilly e Emme também se
assustaram e também estavam com as mãos sobre a boca.
— MEU AMADO MÉRLIN PAI DE TODOS
OS BRUXOS, quer nos matar? – Emme exasperou, mas com a voz num sussurro, o que
era meio estranho, um grito silencioso.
Sirius, James e Remus estavam
atrás de nós, com carinhas de inocentes.
— Vocês estavam demorando muito!
– Disse James, e Sirius completou.
— Pensamos que tinham pego vocês
de reféns. – Engraçadinho esse menino.
— Hahaha. – Eu disse, fazendo
careta e me recompondo. – Quem ia virar refém ia ser vocês se matassem qualquer
uma de nós de susto.
— Nossa, olha esse lugar. Parece
um palácio! – Remus e James olhavam a volta agora, acho que pela primeira vez
reparando em tudo que eu e as meninas ficamos meia hora babando.
— Agora entendo porque vocês
demoraram. – Disse Sirius, com os olhos raivosos também. Todos nós estávamos
pensando a mesma coisa. Por que eles tinham tudo aquilo e nós não?
— Vamos acabar logo com isso. –
James começou a subir os degraus e eu levei outro susto.
— Nãooo. Espera. – Subi os três
degraus que James tinha subido, aos pulos e o puxei pela manga da camisa. – Nós
temos que subir primeiro e então vocês vão atrás.
— Ela tem razão, Pontas. – Sirius
e Remus subiram atrás, acompanhados de Lilly e Emme. – Elas abrem as portas e
nós entramos sorrateiros e colocamos as bombas.
— Exato. Se entrarmos e alguém
estiver acordado, estamos vestidas a caráter. – Lilly disse, recuperada do
susto e passando à frente de James que deu uma boa olhada nas coxas de Lilly
enquanto ela subia a frente.
— Vocês estão prontos para usar as máscaras? –
Olhei para Emme. Claro, brilhante, até eu tinha esquecido. Melhor os meninos
não serem reconhecidos, ou então, poderiam perder o lugar no time e nos ferrar
de vez no próximo jogo.
As “máscaras” nada mais eram do
que um feitiço que deixava apenas os olhos deles mais visível e a volta ficava
uma mancha escurecida, deixando-os incógnitos. Tipo máscara de bandido trouxa,
ou de motoqueiro, se você achar melhor a descrição. Para mim, pareciam mesmo
bandidos.
Os meninos puxaram as varinhas e
conjuraram o feitiço, parecendo que iam arrombar, roubar e matar, mas era quase
isso, só que sem o roubar e matar.
Subimos silenciosos, os meninos
atrás, e logo alcançamos o topo.
Havia um corredor enorme para o
lado esquerdo e outro para o lado direito;
O corredor para o lado direito
tinha um desenhinho de um menininho, o que indicava que para o lado direito
ficavam os dormitórios masculinos, e para o lado esquerdo, desenho de
menininhas, para os dormitórios femininos.
Os meninos seguiram em direção ao
lado dos meninos, e nós os seguimos.
Eu adoraria começar pelas
meninas, mas eu sabia que os meninos iam querer se vingar dos meninos, coisa de
homens, sabe como é.
Eu e Emme nos entreolhamos e
paramos quando alcançamos metade do corredor, onde os meninos estavam parados,
talvez decidindo qual quarto invadir primeiro.
Os quartos tinham números, ao
invés de nomes como os nossos, o que nos dificultava muito em saber qual quarto
era de quem.
— Onde será que o Snape dorme? –
James olhou para as portas tentando decifrar, como se ele tivesse visão de raio
x e pudesse ver quem estava do lado de dentro das portas e paredes.
Todos nós fizemos o mesmo e ficamos
ali, por alguns segundos tentando descobrir qual porta abrir, ou qual era de
Snape e cambada para nos vingarmos corretamente, até que uma voz e uma frase
nos surpreendeu.
— Eu sei. – James virou-se com
tudo e encarou Lilly com os olhos arregalados. Até eu arregalei os olhos. Como
ela sabia o número do quarto do Snape? – Eu já fui amiga dele, esqueceram?
Ela disse em sua defesa, mas
James continuou encarando-a, desconfiado.
— Mas você já esteve lá? – A voz
dele estava tremula, eu nem conseguia agora imaginar o quanto ele estava
tentando não pensar em Lilly, o amor de sua vida, e seu maior inimigo, se
beijando ou fazendo qualquer outra coisa, no quarto de Snape, no meio da Sonserina
inteira, ainda por cima.
— Não. – Respondeu Lilly, enfaticamente, como se fosse o maior
absurdo possível dizer aquilo, e era. – Ele disse uma vez. Estávamos no primeiro
ano e ele esqueceu de pegar o livro para a aula de herbologia, então o
professor perguntou qual quarto ele dormia para conjurar o livro. O professor
achou que ele estava mentindo e só querendo matar aula.
Vi o peito de James abaixar
enquanto ele respirava, aliviado, e Lilly dava de ombros, passando por nós,
indo em direção ao final do corredor, que era bem, mas bem longo mesmo.
Eu me sentia como num corredor da
morte, indo para o abate.
Ela caminhou mais um pouco e
parou, estávamos em frente ao quarto 66. Sinistro. Só faltava um 6.
— Você tá brincando que o quarto
dele é o 66? – Sirius encarou a porta, com os olhos arregalados.
— Por isso ele é um capeta. – Disse
Emme, e eu abafei um risinho.
— Vamos. – Sussurrei e levei a
mão a maçaneta, bem devagar, fazendo todo mundo prender a respiração.
Emme fez sinal para os meninos se
afastarem e não ficarem à vista, enquanto eu terminava de girar a maçaneta e
empurrava a porta silenciosamente, enquanto meu coração fazia uma escola de
samba no peito.
Ainda bem que ninguém podia
ouvir, ou acordaria o dormitório inteiro.
Empurrei a porta e esperei, com o
coração martelando no peito, esperando ouvir um protesto, uma voz ou alguma
coisa que indicasse que tinham pessoas acordadas ali dentro, mas não ouvi nada,
o silencio predominava tudo.
Dei alguns passos à frente e
espiei o quarto escurecido pela porta entreaberta.
Parecia um quarto grande e tinham
quatro camas de solteiro, mas grandes e espaçosas, e um abajur ao lado de uma
das camas estava acesso, clareando um pouco o ambiente, me permitindo ver que
as quatro camas estavam vazias. Não tinha ninguém no quarto.
Que estranho.
Fui entrando de fininho, ainda
silenciosamente, tentando ver se meus olhos não estavam enganados e estivesse
confundindo as coisas.
As meninas ofegaram do lado de
fora quando eu entrei no quarto completamente, olhando tudo pela luz fraca do
abajur.
Fui de cama em cama, que estavam
perfeitamente arrumadas e vazias e parei ao lado da cama onde o abajur estava
ao lado, acesso.
Tinha uma janela bem em cima da
cama e eu entendi porque o abajur estava acesso, era para fingir que todo mundo
ali tinha ido dormir e já acendera o abajur.
Espertos.
Aquilo era um sinal: não
poderíamos acender a luz também.
Voltei a porta e fiz um sinal aos
demais, indicando que podiam entrar.
— A barra está limpa. – As
meninas entraram atrás de mim, depois os meninos.
Paramos todos, olhando a volta e
vendo o quarto vazio.
— Tem certeza que esse é o quarto
do Snape, Lilly? – Indagou Emme, e Lilly assentiu, parecendo um pouco
assustada.
— Onde estão todos? – Todo mundo
se entreolhou, encolhendo os ombros, se perguntando a mesma coisa que Remus
perguntava.
Onde eles tinham se metido?
— Devem estar por aí, fazendo
merda, como sempre fazem. – James respondeu, segurando o que eu percebi ser a
varinha em uma das mãos e o saquinho no outro.
— Vamos logo com isso então. –
Disse Sirius, também puxando a varinha de um dos bolsos e os dois se encaminharam
até os armários de roupa, no closet.
Agora eles pareciam mesmo
bandidos, mexendo nas coisas dos outros, com aquelas mascaras onde nós só os
reconhecíamos pelo corpo e pelas vozes.
Fiquei parada no quarto e Emme se
aproximou da porta, como que para vigiar, e então, mesmo no escuro, vi os
meninos abrindo gavetas e colocando alguma coisa dentro, com as varinhas
tirando algo do saquinho.
O cheiro me atingiu segundos
depois.
Cheiro de merda.
— O que vocês estão colocando? –
Tampei o nariz com os dedos e me aproximei deles. Sirius estava com uma calça
nas mãos e com a varinha fazia flutuar até os bolsos montinhos do que me pareceu, mesmo no escuro,
cocô.
ECA, ECA, ECA!
— Meu Deus! – Virei o rosto. –
Que nojo!
— Não se preocupe, é cocô de
animal, gato, cachorro, cavalo. – Sirius riu, como se eu estivesse pensando que
era cocô de gente. Deus o livre, né.
Ainda assim era nojento.
— Está fresquinho ainda. – James
brincou e riu, e eu fiz outra cara de nojo, sentindo a ânsia vindo.
Voltei em direção a porta e
deixei eles fazendo o trabalho sujo.
— Andem logo com isso. – Eu
disse, ficando ao lado de Lilly e Emme que estavam na porta.
Aquilo era arriscado demais,
nojento demais, loucura demais.
O que estávamos fazendo?
Remus não tinha participado
efetivamente do lançamento de bomba, mas fuçava a estante, as gavetas das
escrivaninhas, as mochilas jogadas, ele remexia em tudo, por um momento pensei
que ele estivesse colocando alguma coisa nas coisas, alguma coisa menos
alarmante do que bosta de cachorro, mas não consegui ter certeza porque quando
James e Sirius saíram do closet e vieram em nossa direção, Remus virou-se e
enfiou as mãos no bolso, não sei se escondendo algo ou apenas colocando por
colocar.
Emme saiu de fininho e nós a
seguimos, deixando Remus fechar a porta.
Caminhamos pelo corredor e
olhamos para as demais portas, pensando: e se fizéssemos o mesmo com os outros?
Sirius sacudiu o saquinho e James
riu, concordando.
Os dois abriram uma das portas e
eu gelei por dentro.
Nem todos os quartos poderiam
estar vazios.
Corri atrás deles e gelei por
dentro.
Eles caminhavam na ponta dos pés
em direção ao closet, mas esse quarto não estava vazio.
Três camas estavam ocupadas e eu
apenas vi os vultos virados. Um com a coberta cobrindo a cabeça, outro
esparramado com a boca aberta e outro encolhido de lado na cama com a coberta
puxada até o pescoço.
Pareciam inocentes, mas eu sabia
que só pareciam. No dia que alguém da Sonserina for inocente, eu viro a rainha
da Inglaterra.
Ouvi barulho de saquinho e prendi
a respiração quando o menino de boca aberta se remexeu na cama.
Meu deus, o que eles estavam
fazendo?
Entrei pisando na ponta dos pés e
me encaminhei até eles.
— O... que... vocês... estão...
fazendo? – Perguntei com os lábios silenciosos, e Sirius deu de ombros,
sorrindo, arteiro.
James exibia o mesmo sorriso.
Enfiavam cocô nos bolsos das
calças dos uniformes e guardavam onde estava.
Vi eles fazerem isso com três
calças e uma camisa e uma bermuda, e então, se viraram, para sairmos do quarto.
James foi na frente, Sirius atrás
e eu os segui, na ponta dos pés.
Quando James saiu pela porta e Sirius
estava chegando lá, ouvi o barulho de alguém se mexendo na cama e parei,
congelando.
Olhei para as camas e vi o menino
de boca aberta se remexendo, meu coração quase saiu pela boca e um balde de
gelo invadiu todo o meu corpo.
Meu Deus, o que eu faria se ele
acordasse?
Eu e Sirius ainda estávamos ali,
e se ele acordasse ele nos veria, afinal, ali também tinha um abajur ligado
iluminando um pouco o quarto e a luz que vinha de fora, pela porta aberta,
ajudava ainda mais a clarear tudo.
Sirius me olhou e vi o mesmo
pânico estampado em seu rosto, mas ele ainda estava se divertindo.
O menino se remexeu e virou de
lado, tombando de lado na cama e então parou de se mexer, começando a roncar
profundamente.
Respirei aliviada e dei passos
apressados, empurrando Sirius para fora do quarto, ele saiu e eu puxei a porta,
fechando-a devagarinho.
Quando a porta se fechou, nos
entreolhamos e respiramos aliviados, começando a rir em seguida.
Dei um tapa no braço dele e o
empurrei com força, enquanto começávamos todos a andar em direção as escadas.
— Seu louco. – Eu disse baixinho.
Ele me acompanhava atrás de todo mundo e me olhou, risonho.
— Vai dizer que não gostou da
adrenalina? – Fiz uma careta e mostrei a língua, no que ele piscou para mim, de
forma sexy. Eu tinha adorado a adrenalina, mas o medo, na hora em que sentimos
ele, era apavorante.
— Você é maluco. – Eu disse e ele
riu. Tínhamos alcançados os demais que estavam parados no alto da escada.
— Queria colocar umas merdinhas
nas roupas da loira azeda. – Dizia Emme quando me aproximei. Eu também adoraria
me vingar daquelas sirienas nojentas, mas estávamos abusando demais da sorte.
— É arriscado demais, Emme.
Melhor irmos.
— Que se foda. – Disse Sirius,
puxando o saco da mão de James e caminhando em direção ao quarto das meninas.
Mais uma vez, senti o pânico
crescendo dentro de mim.
Corri atrás dele.
— Tá maluco? As meninas não são
como homens que tem sono de elefante. – Ele nem me deu ouvido e continuou
andando, dessa vez apressado, passamos por umas cinco portas e então parou em
frente a uma.
— Só vamos entrar em um quarto e
saímos.
— Não. – Disse enfática e ele fez uma careta.
— Deixa de ser medrosa. – Segurou
minha mão e me puxou, abrindo uma porta e entrando, normalmente, como se aquele
fosse o nosso dormitório e aquele o quarto dele.
Quando entramos, prendi a
respiração.
As quatro camas estavam ocupadas,
com meninas dormindo profundamente, encolhidas de lado ou de bruços na cama.
Aquilo era loucura demais.
Sirius me puxou pela mão ainda
para dentro do quarto e entramos silenciosos até o closet.
Ele enfiou a mão no bolso de trás
puxando a varinha e me olhou enfaticamente para fazer o mesmo.
— Experimente. – Ele disse com os
lábios silenciosos. E eu tremi por dentro.
Respirei fundo e puxei a varinha
que estava enfiada no cós da saia.
Meu coração parecia que ia parar,
meu estomago revirou e eu tentei não pensar no que tinha dentro do saco, só naquelas
nojentas, metidas, exibidas que achavam que eram melhores do que nós.
Eu odiava elas tanto quanto
Sirius odiava Snape e todos da Sonserina.
Ergui a varinha e olhei para ele
que estendeu para mim o saquinho fedorento.
Prendi a respiração e apontei a varinha
para o saquinho, fazendo flutuar um punhado de coisas nojentas que fizeram meu
estomago revirar.
Tentei não olhar para aquilo e me
virei para o closet, pegando uma jaqueta e enfiando a merda dentro do bolso,
como eu tinha visto eles fazerem nas roupas do Snape.
Peguei mais um punhado de merda
com a varinha e fui enfiando nos bolsos, de calças Jeans, shortinhos com bolso,
blusinhas do uniforme que tinham bolsinhos, nos bojos dos sutiãs, dentro das
bolsinhas ridículas, em tudo que eu podia.
Sirius me ajudava, e logo o
saquinho estava vazio.
Nos entreolhamos, e eu entendi
porque ele me fizera agir daquele jeito, era maravilhosamente saboroso o
gostinho da vingança; era libertador.
Eu me sentia tão feliz assim
desde o dia em que beijei Sirius.
Saímos do closet e seguimos em
direção a porta entreaberta, mas quando Sirius segurou a porta e eu parei atrás
dele, ouvi um barulho, um clique e uma voz.
— Quem está aí? – Outra luz se
acendeu, iluminando o quarto e eu senti o pânico no peito.
Sirius arreganhou a porta e saiu
correndo e eu corri atrás dele, puxando a porta com tudo ao passar, fazendo a
porta bater com força e um som alto ecoar por todo o corredor.
Saímos correndo, um ao lado do
outro, rindo e apavorados ao mesmo tempo e chegamos a escada em segundos.
As meninas com James e Remus não
estavam mais ali, por isso eu e Sirius descemos correndo as escadas, descendo
de dois em dois degraus, o mais rápido que podíamos.
Claro que, por ele ser um jogador
de quadribol e estar acostumado a atividades físicas, estava bem mais à frente
de mim, mas eu estava me saindo bem e dei graças a Merlin por ter colocado um tênis all-star quando coloquei aquela roupa ridícula, se eu estivesse de salto
estava ferrada.
Terminei de descer as escadas e
Sirius parou me esperando, então segurou minha mão e saímos correndo pelo salão
dos dormitórios da Sonserina, passando por todos aqueles sofás e aquele lugar
magnifico, vendo tudo passando por nós como vultos.
Quando chegamos a porta, ela
estava aberta e James estava parado ao lado, com a máscara ainda no rosto,
olhando para nós com os olhos arregalados.
— O que vocês... ? – Não deixamos
ele terminar, passamos correndo por ele e saímos pelo corredor do lado de fora,
com Sirius gritando.
— VAMOS, VAMOS, VAMOS. – James
puxou a porta e bateu com tudo. Lilly, Emme e Remus que esperavam do lado de
fora junto com Mario e Ulisses que pareciam estar ouvindo os relatos, saíram
correndo atrás de mim e de Sirius, que continuava correndo e me puxando pela
mão.
Eu tinha perdido a noção da hora
completamente, mas já deviam ser quase duas da manhã quando saímos pelas portas
da frente e corremos em direção aos jardins, ao estádio e ao lago que ficava
atrás dele, onde ninguém de dentro de Hogwarts poderia nos ver, mesmo da janela
mais alta.
Paramos ofegantes na frente do
lago e nos jogamos na grama, deitando, ofegantes e olhando o céu estrelado,
sentindo nossos corações batendo mais forte do que qualquer bateria de rock
seria capaz.
Olhei para o lado e vi o rosto
lindo de Sirius e então sorri, ele me olhou e sorriu de volta, e então comecei
a gargalhar, mas gargalhar com muita vontade, porque tudo que eu conseguia
sentir era uma vontade imensa de rir, rir de tudo, da liberdade que senti ao
fazer aquilo, da saborosa sensação que me vingar deles me dava, da loucura que
tínhamos feito, de quase sermos pego, do perigo, do medo, de tudo.
Tudo aquilo era hilário, e eu
gargalhei, fazendo Sirius começar a gargalhar, depois Emme, depois Lilly, e
James, e Remus, e de repente, estávamos todos rindo, rindo e rindo mais ainda
ao imaginar como seria quando eles percebessem que estavam fedendo mais que o
normal.
— Meu Deus, isso foi loucura! –
Lilly ria, acho que se sentia como eu.
— A maior loucura da minha vida.
– Virei meu rosto de lado, olhando para Sirius, que me olhou como se esperasse
que eu o xingasse ou dissesse algo como ‘olha no que você me meteu’, quando na
verdade, eu tinha simplesmente adorado. – Foi incrível!
Ele sorriu e ficou me olhando
pelo que pareceu uma eternidade, o sorriso lindo estampado no rosto, como se
estivesse me avaliando.
Eu me sentia tão incrível, tão
livre, tão liberta que quase grudei a mão em seus cabelos e o puxei para mim,
mas resisti.
— Acho que agora você pode entrar
pro bando. – Ele sorriu e piscou para mim, e então me lembrei do dia em que
estávamos conversando no corredor, eu com aquele bilhete nojento da Anna em
minha mão e me perguntara se eu podia entrar pro bando.
Ali estava a resposta. Agora nós
éramos oficialmente amigos, e eu era oficialmente do bando.
Bando do que? De loucos, com
certeza.
Sorri abertamente para ele e
pisquei de volta.
— Eu aceito. – Ri alto e fiquei
olhando para ele, com o sorriso escancarado no rosto, o coração ainda batendo
forte por causa da adrenalina, do medo e de toda a loucura que tínhamos feito.
Aquilo era surreal, aquela noite
era surreal.
O céu estava estrelado, a lua
crescente, quase cheia, iluminava a noite, deixando tudo claro, e ali estávamos
nós. Todos deitados na grama, rindo e satisfeitos por termos acabado de nos vingar
daqueles que mais odiávamos.
Nada mais poderia acontecer que
me deixasse mais feliz do que eu estava...
Olhei para o céu e fiquei lá,
sorrindo, respirando fundo, em êxtase, e então, quando olhei para o lado, vi
Sirius me olhando como se estivesse me observando o tempo todo, e então, quando
eu menos imaginava, sem me dar nenhuma chance de fazer qualquer coisa, ele se
inclinou para cima de mim...
E me beijou.