Parece que a vida passa
num segundo, mesmo que as vezes ela demore uma eternidade para passar. Os anos
demoram como uma tartaruga preguiçosa, mas passam na velocidade da luz, rápidos
como um meteorito que adentra a camada de ozônio e poucos conseguem percebe-lo
a tempo de um pedido, eu só queria ter mais um pedido.
A vida passa na
velocidade da luz, e nós só nos damos conta quando tudo parece tão rápido, tão
grande, tão de repente, só nos damos conta quando nos deparamos com as idades
sem que sequer percebamos como chegamos nela.
É assim que eu me sinto,
como se fosse um número errado entrando na minha vida de supetão como um
penetra no meio de uma festa, sem saber o que ele está fazendo ali.
Eu não sei como cheguei
aqui, mas me lembro de ter chegado em algum momento. Me lembro de tantas
escolhas, poucas certas, muitas erradas, mas também me lembro das faltas de
escolhas, todas erradas, porque nenhuma falta de escolha pode ser certa.
Eu me lembro de tantos
tombos, e milhares de quedas, tantas lutas quanto uma zona de guerra, mas me
lembro de cada pequeno momento de paz e feliz, aqueles pequenos momentos que
muitos dizem que serão os que te marcarão na vida, mas que poucos acreditam quando
passam por ele.
Eu me lembro de tantas
pessoas indesejadas, mas me lembro com afinco e profunda emoção daquelas tão
desejadas e amadas, e que eu jamais quero esquecer. Que eu jamais vou esquecer.
Tantos corações, alguns
partidos, alguns consertados, alguns apenas um sinal de um amor eterno que não
acaba jamais.
Eu me lembro de tantas
lágrimas, tantas dores e frustações, eu me lembro de me doar demais e receber
de menos, e as vezes dar tão pouco quando tinha tudo para dar.
Me lembro de perder a
cabeça tantas vezes, e muitas vezes só desejar um pouco mais de compreensão.
De ser arrogante por
deveras e desejar a humildade com exatidão.
A vida passa num segundo
que as vezes não lembramos sequer do que tomamos no café da manhã, mas nos
lembrados de uma burrada tão grande que fizemos num segundo.
A vida passa, os dias
passam, a idade passa.
Mas o que seria de nós
sem a vida, os dias, a idade?
Como poderíamos amadurecer
se não caíssemos tanto, se não apanhássemos tanto, se não batêssemos de vez em
quando? Se não nos sentíssemos frustrados, se não sentíssemos inveja, mesmo que
um pouquinho, mesmo que não fosse daquelas maldosas, apenas um desejo profundo
de um dia também chegar lá, de um dia também ser o que sempre se sonhou ser?
É assim que eu me sinto,
como se já tivesse aprendido tudo, mas ainda com tanta coisa para aprender.
Eu não sou mais nenhuma
menininha, mas ainda tenho uma vida pela frente.
Às vezes é difícil aceitarmos
certas coisas, as vezes nos dói olhar para nós mesmos e ver tantos defeitos,
tantos sonhos perdidos, tantas coisas faltando, tantos pedaços perdidos, mas o
que seria de cada um de nós sem tudo isso?
São os defeitos que
levarão às qualidades plenas quando aprendermos a conviver com elas, e melhorar
as que precisam ser melhoradas. São os sonhos perdidos que nos fazem querer
lutar pelos novos que chegam a cada dia, ou que nos fazem querer correr atrás e
resgatar aquele que se perdeu, mas pode ser recuperado e realizado. São as
coisas faltantes que nos fazem acordar e levantar todos os dias para encontrar
o que perdemos, o que nos falta, o pedaço da laranja, a outra metade da maçã ou
de si mesmo que se perdeu em algum lugar, mas que precisamos encontrar para
continuar vivendo.
As vezes precisamos
apenas acreditar em nós mesmos, em nossas capacidades, em nossos sonhos, em
algo maior dentro de nós mesmos e aprendermos que, a vida passa, os dias
passam, e as idades chegam, mas tudo tem o seu porquê, tudo tem o seu momento,
o seu motivo, e que nada nos levará lugar nenhum se não aprendermos a deixar
para trás tudo aquilo que só nos pesa e não nos liberta.
A vida é muito pesada
para carregarmos tantas coisas em nossos ombros sem nos livrar do que precisa
ficar pra trás, todas as quedas, todos os erros, todas as palavras que não
deveriam ter sido ditas ou sequer ouvidas, todas as mágoas, as calúnias, as
pedras que caíram pesadas no meio do caminho, tantas coisas que devem ficar pra
trás, porque não se consegue chegar ao topo da montanha, quando se carrega peso
demais na bagagem.
Com peso dentro de nós,
não voamos, sem pesos somos livres, e livres conseguimos caminhar mais rápido para
frente, mais rápido em direção a nossos sonhos, nossa vida, nossa felicidade, nosso
futuro, que só depende de nós mesmos para existir.
Eu não me sinto mais
velha como matematicamente estarei daqui há alguns minutos, também não ficarei
mais sábia ou uma pessoa melhor, mas me sinto viva, mesmo no meio de tantas
dores e quedas, eu me sinto forte, mesmo com tantos pedaços faltando dentro de
mim, eu me sinto capaz, de me erguer, de levantar, e correr atrás dos meus
sonhos.
Ainda não acabou, ainda
falta muito, ainda chego lá. E se eu não acreditar e realizar por mim, quem
fará?
30 é só uma idade, minha
alma tem muito mais para viver e aprender.
Eu ainda tenho muito
mais! Eu ainda quero muito mais!
Eu ainda posso muito
mais!