CAPÍTULO QUATRO
No meu aniversário de 21 anos, Kevin me deu um presente que eu não gostei por mais de três anos. Quando meu irmão mais velho dos Backstreet me deu o presente eu bati os olhos no título e percebi que era um dos livros de autoajuda que eu o tinha visto lendo e comentando. Eu decidi, então, de imediato, que o conteúdo não serviria pra mim.
Eu
levei o presente pra casa e soquei na prateleira no meio de tantos outros que
eu não tinha lido ainda. Eu não era muito chegado em leitura e em autoajuda
naquela época. Eu estava indo na onda, vivendo o tipo de vida que veio com o
fato de ser um Backstreet Boy e vendendo milhões de discos. Os primeiros oitos anos foram
maravilhosos.
OS
PRIMEIROS OITOS ANOS FORAM MARAVILHOSOS.
Mas
os outros membros do grupo eram mais velhos e pareciam estar se arranjando na
vida.
Na
verdade, alguns dos rapazes estavam conversando sobre se casar e começar suas famílias.
Não eu. Eu tinha acabado de chegar à idade permitida para beber e decidi que
era minha vez de farrear. Eu também estava gostando de estar solteiro pela
primeira vez em três anos.
Eu tinha namorado outra cantora, também da área de Tampa, Amanda Williford,
cujo nome artístico era Willa Ford, mas nós terminamos no final de 2000.
Eu decidi que já que eu tinha chegado na idade em que a maioria dos caras
estava na faculdade, bebendo, farreando e correndo atrás de mulher, que ter
esse tipo de divertimento também seria minha missão.
Eu
não queria parar pra pensar pra onde estava indo. Eu só queria aproveitar o
momento e viver a vida o máximo possível.
Quando
Kevin me deu aquele presente de aniversário em janeiro de 2001 nós estávamos viajando
com a turnê Black & Blue, promovendo nosso quarto álbum que, assim como o nosso
terceiro, também tinha vendido milhões de cópias na sua primeira semana – um recorde
para álbuns consecutivos. Nós tínhamos acabado de fazer um show enorme em Atlanta
e estávamos indo para Filadélfia para a próxima apresentação. Mas, antes,
fizemos uma pequena parada na minha cidade natal para comemorar o meu
aniversário.
Nós
comemoramos o dia cantando o hino nacional no Raymond James Stadium, na cerimônia
que antecedeu o Super Bowl XXXV. E foi ainda mais especial porque o meu quarterback
favorito, Trent Dilfer, um bom amigo que costumava jogar pelo Tampa Bay, estava
jogando pelo Baltimore Ravens (e eles derrotaram o New York Giantes nesse
jogo!).
Mais
de 71,000 torcedores lotavam o estádio e mais 84 milhões assistiam pela
televisão. Não era nada mal para começar um ano que acabou provando ser um dos
melhores pro nosso grupo. Nós passamos 11 meses de 2001 excursionando pelos
Estados Unidos, Canadá, América do Sul e Japão. A turnê Black & Blue arrecadou mais de $100 milhões,
ao redor do mundo, então as coisas também iam bem financeiramente.
Nós
também nos sentíamos bem sobre o nosso futuro porque tinha chegado ao fim nosso
contrato com o Lou Pearlman, que estava recebendo duas vezes. Contratualmente,
ele recebia uma vez como nosso agente e outra como o “sexto membro do grupo”.
Nós éramos gratos por tudo que o “Big Poppa” tinha feito por nós, no começo,
nos ajudando a montar o grupo e a criar uma base de fãs. Com o tempo,
entretanto, nós acabamos vendo que Pearlman não era aquela figura paterna
benevolente que ele aparentava ser quando assinamos nosso contrato de
agenciamento com ele.
Big
Poppa foi outra figura paterna na minha vida que acabou provando não ser digno
de confiança. No começo, alguns fãs e pessoas da indústria da música que não
conhecia a história inteira nos criticaram, nos chamando de ingratos por termos
cortado laços com ele.
Em
pouco tempo, entretanto, por conta de uma investigação federal que acabou o
mandando pra prisão, seus negócios obscuros acabaram se tornando públicos. Pela
forma como eu vejo, nós tínhamos uma relação profissional com Lou Pearlamn e a encerramos.
Nós o víamos como um mentor e um amigo, mas nada mais. Ele nunca me assediou
sexualmente ou a qualquer dos outros rapazes, pelo que eu sei, apesar dos rumores
que dizem o contrário. Como jovens artistas que éramos, entramos, felizes, em
uma relação contratual com ele e a terminamos ainda mais felizes. Hoje eu olho
para nossa relação contratual como uma lição. Eles nos ofereceu a oportunidade
de uma vida – nós não tínhamos outra forma de chegar às grandes gravadoras,
estúdios de gravação ou promotores de show. Nós confiamos no Pearlman até nos
darmos conta de que era um erro.
HOJE
EU OLHO PARA NOSSA RELAÇÃO CONTRATUAL COMO UMA LIÇÃO.
Como
diz o ditado, “Errar uma vez é humano, errar duas é burrice.” Todos nós
cometemos erros e todos nós experimentamos o fracasso. Isso é particularmente
verdade quando somos jovens e temos menos experiência. A indústria da música é
complexa. Também é verdade
que ninguém poderia prever o quão bem sucedido os Backstreet Boys seriam e o
quanto dinheiro nós geraríamos.
VIVENDO
E APRENDENDO
Nossos
problemas e decepções com o Lou Pearlman nos ensinaram a ser mais cuidadosos a respeito
das pessoas em quem confiamos e dos contratos que assinamos. Eu não tenho nenhum
interesse em viver com os arrependimentos sobre isso ou qualquer dos meus
outros erros.
Da
mesma forma, eu te encorajo a permanecer com uma atitude positiva mesmo quando você
cometer erros ou experimentar alguns fracassos. Você tem que ser realista e
perceber quando cometeu erros ou quando se afastou dos seus objetivos e
expectativas. Você também tem que estar ciente de que existem pessoas
oportunistas que irão tentar tirar vantagem de você. Você não pode ignorar o mal,
mas pode escolher viver com o que é bom.
Lembre-se que você tem o poder de escolher
ter uma atitude positiva mesmo quando coisas negativas acontecem com você.
Quando você faz isso, você descobre que coisas boas podem sair até das piores
experiências. Eu costumava me ater ao lado sombrio antes de assumir
responsabilidade pela minha própria felicidade e sucesso e, acredite em mim, a
vida é muito melhor sob o lado positivo.
Você
não pode ignorar seus erros e decepções, isso não é nada realista. Mas você
também não pode permitir que eles te tirem do caminho permanentemente. Então, pergunte a si mesmo, “Quem
você preferiria ser?” A pessoa que nunca supera seus erros ou a pessoa que os
reconhece, aprende com eles e corrige o que precisa ser reparado, usando essa experiência
para construir uma vida melhor?
NOSSO
TEMPO, NESSA TERRA, É LIMITADO E TODOS NÓS FALHAMOS VEZ OU OUTRA.
Ser
amargo e negativo apenas agrava o dano, então porque fazer isso consigo mesmo?
Talvez
você tenha estragado tudo. Talvez alguém tenha se aproveitado de você, ou você
não tenha feito tudo que devia para alcançar um objetivo. O que eu tento fazer
nessas situações é aprender com elas, superá-las e seguir em frente. Nosso
tempo, nessa terra, é limitado e todos nós falhamos vez ou outra. Algumas vezes
até caímos de cara. Mas nós temos escolha sobre o que fazer a seguir. Nós
podemos ficar lá na poeira ou nós podemos continuar nos levantando até o apito
final. Eu prefiro a segunda opção. E você?
OS
ERROS DE GRAVAÇÃO
Muitos
de nós rimos dos erros de gravação dos programas de televisão e filmes porque
errar é uma experiência universal. Todos nós viramos à direita quando
deveríamos ter virado à esquerda. Ferrar as coisas de alguma forma ou outra é
um evento cotidiano. Nós nunca superamos essa fase. Zoar faz parte da vida.
Sim, você e eu iremos criar, até o nosso último suspiro, os nossos próprios
momentos e pensar “mas que merda é essa?”.
Terapeutas
e Conselheiros (“Life coaching”: Conselheiro orientado para a vida pessoal,
relacionamentos, etc.) nos encorajam a receber bem os nossos erros e falhas
porque eles nos oferecem a oportunidade de aprender. Nem sempre é fácil, mas é
um bom objetivo e faz todo sentido. As pessoas mais bem sucedidas irão te dizer
que suas maiores conquistas vieram de tentativas e erros. Olhe os cientistas –
eles ganham a vida aprendendo com seus experimentos fracassados. Matemáticos
também trabalham através dos resultados errados até chegarem no certo. Os
melhores quarterbacks da NFL raramente conseguem completar 70 por cento dos seus
passes.
Ainda assim eu tenho uma certa dificuldade
quando cometo erros porque eles, frequentemente, tem um impacto negativo sobre
mim ou trazem a mim, ou alguma outra pessoa, muita dor. Ferrar tudo é embaraçoso. Você pode se culpar ou temer
que os outros te culpem. Algumas vezes pode sentir como se nunca fosse se
recuperar de um erro ou um fracasso.
Frequentemente
as pessoas que estragaram tudo só deixam a situação pior através de frases exageradas
como “Minha vida acabou” ou “Morri.” Drama não ajuda. Muito menos equiparar
nossos erros e fracassos com morrer. Na verdade, as únicas pessoas que não estão suscetíveis a errar são
aquelas que estão a sete palmos. Cometer erros e ter problemas faz parte
da vida, então aceite a verdade nisso e lide com ela. Aceite que você irá
cometer erros e olhe pra eles como oportunidades para aprender e melhorar.
TODA
VEZ QUE EU ESTRAGO TUDO MEU PRIMEIRO INSTINTO É ME CHUTAR.
Os
terapeutas me disseram que um dos segredos para lidar com todos os erros e
fracassos é não levá-lo para o lado pessoal. Honestamente, eu não sabia que
você podia escolher não levar um erro para o lado pessoal. Toda vez que eu estrago tudo meu
primeiro instinto é me chutar. Na maioria das vezes eu só quero dar com
a cabeça na parede mesmo que seja uma coisa tão comum quanto esquecer a letra
de uma música.
O
JOGO DA CULPA
Então
como é que você despersonaliza os seus passos errados e seus fiascos? A
resposta é simples: focando-se no que aconteceu ao invés de em quem colocar a
culpa. Pense nisso como tirar a si mesmo de dentro da cadeia. Se você quer
passar mais alguns minutos atrás das grades (Eu digo figurativamente, não em
San Quentin (Penitenciaria da Califórnia) ou algo do tipo), tudo bem, mas depois
pague fiança e caia fora. Pense onde você errou, comprometa-se a corrigir isso
ou a fazer uma escolha melhor da próxima vez e então siga em frente.
Você
também não precisa manter um registro das coisas boas e ruins que aconteceram. Apenas
siga em frente. Deixe o
passado sumir de vista no retrovisor e foque na estrada à frente. Você
não pode mudar o que passou, mas você pode controlar como responde a isso. Quando
eu penso nos meus maiores erros e ruínas (fracassos) eu prefiro me ater ao seguinte
pensamento: Eu posso usar minhas falhas e erros como oportunidades para fazer e
ser melhor. Eu acho muito
louco que nós estejamos sempre dispostos a perdoar os nossos amigos e entes
queridos quando eles ferram com tudo, mas nos recusamos a perdoarmos a nós mesmos.
Eu vou escrever mais sobre o poder maravilhoso do perdão, mais tarde. Lembre-se,
por ora, que esse simples ato tem várias utilidades e uma das mais importantes
é a auto aplicação. Se você
não é tão bom amigo consigo mesmo quanto é com os outros então você precisa
aprender a amar mais aquela pessoa no espelho.
MESMO
ASSIM EU CONTINUEI FALHANDO E DEIXANDO MEUS ERROS ME ARRASTAREM PRA MAIS E MAIS
BAIXO.
Fácil
é falar, difícil é fazer, eu sei.
Por
um longo tempo eu me batia por qualquer coisa. Eu era como um clube de luta em um único homem.
Existem duas formas erradas de lidar com os erros. Uma é não dar qualquer atenção
a eles e continuar a cometê-los.
A outra é ficar com raiva e depressivo
e não aprender com eles ou fazer qualquer correção. Eu fiz tudo isso durante
meus primeiros anos com os Backstreet Boys.
Lá
estava eu, vivendo um sonho que se tornou realidade. Milhões de pessoas
talentosas teriam dado tudo para fazer parte do grupo. Mesmo assim eu continuei
falhando e deixando meus erros me arrastarem pra mais e mais baixo. Muitos dos
meus erros eram compreensíveis e até evitáveis. Eu era tão novo quando
começamos a viajar pelo mundo. Eu entrei na minha adolescência – aqueles anos
em que se espera que você cometa erros – como uma celebridade, um pop star que
aparecia nos tabloides, revistas e internet toda vez que eu saia com a garota
errada, esquecia de dar gorjeta ou era pego no clube errado.
Escritores
de tabloide e repórteres que perseguem celebridades criaram algumas das histórias
que escreveram sobre mim, mas eu também cometi erros que nunca se tornaram públicos.
PASSOS
ERRADOS
Kevin
e os demais membros dos BSB me viam beber e me meter em encrenca e tudo que podia
fazer era chacoalhar a cabeça. Howie acertou em cheio quando disse a um
repórter, alguns anos atrás, “Às vezes a última pessoa de quem você quer ouvir
conselho são aquelas que estão mais próximas a você. Nick estava em uma jornada
para se encontrar. Quando ele era repreendido, ao invés de se deixar motivar
ele se curvava e engatinhava para um buraco ainda mais escuro.”
...EU
COMECEI O MEU LONGO MERGULHO DE CABEÇA NAQUELE BURACO NEGRO...
Eles
me disseram que eu tinha potencial para ser uma pessoa melhor e fazer mais com
os meus talentos. Eles
sabiam que eu tinha um bom coração e alma, mas eu não estava usando a cabeça.
Os rapazes me avisaram, várias vezes, que as minhas farras estavam fora de controle
e que eu estava me encaminhando para ter sérios problemas. Eles temiam que eu pudesse
destruir minha carreira e prejudicar a deles, também.
Mesmo
assim, quando os outros membros dos Backstreet Boys tentaram me ajudar eu lutei
contra eles com unhas e dentes. Olhando pra trás, eu me dou conta de que
deveria ter tido muito mais consideração por eles, não só do ponto de vista
profissional, mas porque eles se importavam comigo enquanto pessoa. Minhas farras homéricas ficaram
por debaixo dos panos por um longo tempo porque eu bebia e usava drogas fora
dos olhares públicos, na maioria das vezes. Então, quando eu finalmente
atingi idade legal para beber eu comecei o meu longo mergulho de cabeça naquele
buraco negro ao que o Howie se referiu. A minha ruína se tornou pública quando eu fui preso em
Janeiro de 2002 em no Pop City bar, em Tampa. Eu tinha ido até lá com um
grupo de amigos locais. Nós pegamos pesado e as coisas saíram do controle perto
da hora de fechar. Nós éramos apenas caras normais fazendo coisas que os
rapazes normalmente fazem quando querem se meter em encrenca.
Claro,
eu deveria ter ficado mais ciente da minha responsabilidade enquanto um
Backstreet. Eu não deveria ter agido de forma irresponsável ou feito coisas não
saudáveis, mas eu estava tentando me encaixar em um grupo de amigos que não
eram, na verdade, a melhor influencia. Eu era um produto do meu ambiente,
naquela época. Depois de
ter excursionado com o grupo e vivido naquela realidade distorcida de ser uma
celebridade e viajar constantemente, eu queria voltar a ter uma vida mais
“normal”, mas, na verdade, a bebedeira, usar droga e farrear todo o
tempo também não eram o que se pode chamar de uma existência normal.
A
MANCHETE NO NEW YORK POST DIZIA, “BACKSTREET BEBADO É PRESO POR BRIGA.”
Minhas
memórias daquela noite são bem vagas. Pelo que eu me lembro nós estávamos em um
bar e nos preparando para sair porque estava fechando. Nós estávamos bêbados.
Eu gritei alguma coisa para um bartender que era grosso e eles me expulsaram do
clube. As pessoas me zoaram enquanto eu saia, gritando coisas e fazendo cena.
Uma vez que eu estava do lado de fora eu fui até a área dos valets. Eu
realmente estava tentando evitar problemas e simplesmente pegar meu carro e ir
embora. Mas então um cara veio até mim e começou a me irritar. Ele estava,
provavelmente, apenas tentando fazer com que eu me acalmasse, mas eu não me
importava. Ele estava usando uma jaqueta e eu não sei dizer se ele usava um
uniforme ou não, mas depois eu vi que ele tinha um distintivo. Ele me dizia
para entrar no seu carro e eu estava muito, muito relutante com ele. Eu
continuava perguntando quem ele era e porque eu devia ouvi-lo.
Meus
amigos gritavam, “Faça o que ele tá falando, ele é policial!”
Eu
estava tão bêbado. Eu não
me dei conta de que ele era um policial até que fosse tarde demais e ele me
empurrasse contra o veículo da polícia e me desse voz de prisão. As pessoas
do bar riam de mim e foi uma grande cena. Foi tão vergonhoso. Depois de o policial me dar
voz de prisão eu tentei dar uma de durão para impressionar meus amigos. No
começo eu achei que ser preso era meio legal, mas depois que você é jogado no banco
de trás do carro de polícia e eles trancam a porta você se dá conta do que está
acontecendo e sua visão sobre tudo muda rapidinho. Esse foi só outro exemplo de
como eu não me importava com as minhas responsabilidades e não aprendia com
meus erros.
Eu me dei conta que tinha perdido
controle sobre mim mesmo e eu lembro de ter chorado no caminho até a delegacia.
Eu estava tão envergonhado. Eu disse, “Eu sinto muito, eu sinto muito, por
favor, não façam isso.”
A
manchete no New York Post dizia, “backstreet bêbado é preso por briga.” Os
tabloides me retrataram fazendo de tudo, desde pegando um dos seguranças pelo
colarinho até me expondo e ficando nu – nenhum dos dois é verdade.
O
policial me fichou sob o delito de “resistência à prisão sem violência”
aparentemente porque “bêbado e brigão” não era uma categoria válida. Minha memória
daquela noite é vaga, por uma boa razão. Os policias de Tampa me disseram que
pediram para que eu me acalmasse mais de dez vezes e que eu me recusei em
todas. Eles alegam que eles me deram a contagem de até três para eu sair do bar
e eu não saia. Então eles me algemaram e me colocaram na viatura.
Eu
fiquei com vergonha, claro. Eu me defendi no programa Total Request Live (TRL), na MTV, e em
outras ocasiões, dizendo que eu simplesmente não tinha andando rápido o suficiente
quando o policial me pediu pra deixar o bar. Eu me desculpei com o departamento
de polícia de Tampa, os membros dos BSB e os fãs. Basicamente eu estava apenas tentando
manter minha reputação e controlar, o melhor que eu podia, os danos causados. O
apresentador do TRL, Carson Daly, disse que ser preso provavelmente ajudaria na
minha reputação. Eu acho que o Carson pensou que eu precisava desgastar a
imagem dos Backstreet Boys para ser mais fodão. Eu tenho certeza que o Carson
me chamou para ir até o seu programa pra aumentar sua audiência, mas, de alguma
forma, eu acho que talvez ele estivesse certo e alguma coisa positiva podia ser
tirada desse erro. Infelizmente, eu não aprendi. Eu simplesmente continuei a
criar problemas mantendo o mesmo inaceitável padrão comportamental e cometendo
erros. Nenhum alarme interno disparou, pra mim, apesar de tudo que os outros
rapazes do Backstreet me diziam. Eu segui, por mais um tempo, repetindo o mesmo
padrão autodestrutivo.
No
verão anterior o A.J. McLean tinha ido pra reabilitação. Mas o A.J. fez algo
que eu me recusava a fazer. Ele tomou consciência dos seus erros e começou a corrigi-los.
Agora,
ele é humano e recaiu algumas vezes e voltou pra reabilitação em 2002 e, mais
recentemente, em 2011. Ele
tem toda minha compaixão. Eu não tenho nada além de admiração e empatia por todo
o seu esforço para enfrentar os seus demônios. A.J. e eu, muitas vezes,
discutimos nossas batalhas. Ele tem me ajudado mais do que jamais saberá. Eu
sou imensamente grato a ele.
DESENVOLVIMENTO
COMPROMETIDO
Depois
do incidente em Tampa eu
sabia que a minha família BSB sentia que eu os tinha decepcionado e que eu
estava prejudicando o nosso relacionamento. Enquanto o “bebê” dos BSB eu
nunca quis desapontar ou prejudicar o nosso grupo de forma alguma. Mas a minha responsabilidade
sobre os outros, por um longo tempo, era algo com que eu não conseguia lidar.
Mesmo que eu amasse meu “trabalho” e os meus colegas de banda eu não sentia que
merecia o respeito e a afeição dos fãs. Eles me amavam, mas eu não me amava
muito naquela época.
Parte
disso era só a típica rebeldia que a maioria dos jovens, com muita energia e um
falso senso de imortalidade, experimenta. Isso foi mais ou menos na época em
que eu resolvi criar uma certa independência enquanto membro dos BSB, decidindo
manter meu contrato com a agencia (de agenciamento) The Firm, enquanto os
outros membros deixaram-na.
Eu também decidi fazer um álbum solo,
que acabou sendo o Now
or Never. Os outros rapazes não ficaram felizes com essas decisões, mas
eu estava bravo com o mundo. Eu tinha na cabeça que música era a forma para
extravasar a raiva.
ELES
ME AMAVAM, MAS EU NÃO ME AMAVA MUITO NAQUELA ÉPOCA.
Eu
realmente não estava preocupado com a repercussão das minhas atitudes ou com os
sentimentos que eles trariam à tona nos outros. Eu era muito egoísta. Eu, na
verdade, estava ressentido com os Backstreet Boys porque eu despendi tanto
tempo e energia na minha carreira que eu acreditava que estava perdendo outras
coisas. Eu não apreciava
tudo que fazer parte daquela banda me proporcionou. Eu estava mais focado no
que eu achava que tinha perdido.
Eu
queria escrever músicas sobre os meus sentimentos e usar a turnê solo como um expositor
pra elas. Eu sai pela estrada e fiz exatamente isso, gritando a plenos pulmões enquanto
cantava música por música do meu álbum. Eu não sei como o público se sentiu, mas
foi muito terapêutico pra mim. O primeiro single lançado foi “Help Me” e embora
eu não o tenha escrito o refrão refletia meu estado de espírito.
Help me (Me ajude)
Figure out the difference (A entender a diferença)
Between right and wrong (Entre o certo e o errado)
Day and night (Dia
e noite)
Where I belong and
(Onde eu pertenço)
Help me (Me ajude)
Make the right
decisions (A tomar a decisões certas)
Know which way to
turn (O caminho a seguir)
Lessons to learn
(As lições a aprender)
And just what my
purpose is here (E quando meu propósito aqui)
As músicas no meu álbum Now or Never realmente me ajudaram a superar aquele sentimento
de ressentimento e raiva. Foi como escrever um diário e depois lê-lo para milhares
de pessoas. Eu queria
que todo
mundo soubesse o que eu estava
enfrentando. Eu queria que eles ouvissem a minha dor. Era a única forma que eu
sabia para me expressar.
Foi triste, de verdade. Eu era esse
cantor solo, obeso e nada saudável que suava bicas e usava roupas, no palco,
nas quais eu mal cabia. Era de cortar o coração. Eu quase arruinei minha
relação com os BSB por causa disso. Eu estava tão enfermo mentalmente naquela época
que eu não deixava membros da minha família se aproximarem de mim.
EU
QUERIA QUE ELES OUVISSEM A MINHA DOR.
Mas,
então, se eu não tivesse feito aquele álbum solo e expressado meus sentimentos
eu talvez nunca tivesse sido capaz de distinguir o que era bom e o que era ruim
pra minha vida.
Eu descobri que muitos fãs se
identificavam com a minha dor e raiva porque eles tinham passado por desafios
semelhantes. Eles podiam sentir minha angustia e muitas das letras os faziam
se sentir em casa. O álbum foi bem, mas eu esperava poder estar mais preparado
pra aquela aventura solo, mais responsável e saudável. Eu acho que poderia ter
apreciado mais a experiência e tirado mais da oportunidade que isso
representava.
Eu
realmente aprendi com os erros que cometi durante aquele tempo, entretanto. Por
exemplo, eu descobri que
não estava preparado para suportar a carga de trabalho que vem com uma carreira
solo. Eu não tinha um plano e não estava confortável em uma posição que exigia
de mim um papel de líder. Eu achava que podia apenas cantar e deixar o meu
agente fazer todo o trabalho, mas não é assim.
Em alguns aspectos eu fico feliz que
minha carreira solo não tenha decolado com aquele álbum.
Quem sabe o que podia ter acontecido? Eu poderia não ter tomado a decisão de mudar
meu estilo de vida e comportamento. As coisas se acertaram com os Backstreet. Eu estou muito mais feliz e
saudável hoje do que eu fui durante anos e eu estou empolgado por estar
comemorando 20 anos de muito trabalho e sucesso com o grupo.
Eu
estava dando um passo pra fora de várias coisas naquela época. Isso foi bem na
época que meus pais estavam se divorciando, finalmente. Eu tinha muitos
sentimentos conflitantes sobre isso. Meu pai e eu tínhamos desenvolvido uma
amizade maior do que a que tínhamos antes, mas eu me sentia desconfortável
quando ele me pedia conselhos e dinheiro. Os esforços do Aaron para estabelecer uma independência
econômica e profissional também me forçaram a escolher um lado. Naturalmente,
eu fiquei do lado do meu irmão porque eu passei pelas mesmas coisas com nossos
pais pelas quais ele estava passando.
Quando eu me tornei uma celebridade com
tão pouca idade ninguém me deu um manual de instrução ou
avisos sobre como me comportar sob os holofotes da mídia. Eu sentia como se estivesse sob
uma lupa com as pessoas me julgando o tempo todo. A pressão me pegou em cheio.
Os únicos lugares em que eu me sentia confortável eram no palco e no estúdio. O
restante do tempo eu queria fugir e me esconder. Eu só desejava poder ser mais
“normal”. Eu lembro do conflito de ter muita responsabilidade, sucesso e poder,
mas não me sentir merecedor de nada disso. Parecia que eu desejava tanto a
normalidade porque eu sentia que não merecia tudo que eu tinha ganhado. Aquela
atitude me levou a ser irresponsável com meu dinheiro, relacionamentos e minha
vida. Eu me rebelei contra todas as expectativas que tinham sobre mim. Minha
imaturidade, inseguranças e péssimos hábitos que eu adquiri durante a infância
rapidamente me levaram a um turbilhão e problemas."
"A
DERROCADA”
Quando
você falha em aprender com seus erros você não apenas os repete, mas inevitavelmente
arruína tudo. Depois do meu 21º aniversário eu estada indo em direção a uma
catástrofe. Ninguém estava tentando me derrubar. Era eu quem estava “pilotando meu próprio avião”, por
assim dizer, e me dirigindo para um desastre certo.
Maconha foi a minha porta de entrada para
as drogas, depois álcool e então, no começo dos meus vinte anos, passei pra
fase do Ecstasy e analgésicos com prescrição médica. Eu
usei muito Ecstasy durante um período de três ou quatro meses e eu,
provavelmente, me arrependo de ter feito uso daquela droga ilegal e perigosa
mais do que qualquer outra coisa. Eu temo que a quantidade que eu usei tenha causado alterações químicas
no meu cérebro que são responsáveis pelas crises depressivas que eu luto pra
controlar.
A
PRESSÃO ME ATINGIU.
Como eu disse antes eu achei que era
invencível, assim como muitos jovens. Eu estava errado. Nenhum
de nós está imune aos efeitos colaterais dessas drogas. Mesmo que você ignore
qualquer outro conselho que eu dê nesse livro, por favor aceite de coração o
meu alerta sobre o Ecstasy. Essa é uma droga que pode destruir o seu cérebro e
arruinar a sua vida. Eu tenho sorte de ela não ter tido um impacto pior em mim.
Mas quem sabe quais serão os efeitos daqui pra frente? É muito assustador
pensar nisso porque meu cérebro já parece trabalhar de forma diferente de
antes.
Por causa dos
problemas que eu tive depois de tomar essa droga, em específico, cientificamente
conhecido como MDMA (metileno dioximetanfetamina. Nome científico do Ecstasy),
eu fiz algumas pesquisas sobre isso e descobri que ela aumenta a atividade da
serotonina no cérebro (A serotonina é um Neurotransmissor) responsável por
regular o humor, sono, dor, emoção e apetite. O aumento da quantidade de
serotonina no cérebro é o responsável pelo barato que o Ecstasy dá. O problema
é que esse barato dura aproximadamente duas ou três horas enquanto os efeitos
negativos posteriores podem durar muito mais. Os efeitos negativos incluem
ansiedade, paranoia, vertigem, problemas de memória e depressão.
Pessoas
que usam Ecstasy muito frequentemente dizem ter um estado de espírito sombrio ou
uma tristeza profunda durante dias ou mesmo semanas mais tarde. E esse não é o pior problema com o
Ecstasy. Existem estudos que apontam que quanto mais você usa essa droga, mais
você danifica o seu cérebro, talvez até permanentemente. Ela também tem potencial
pra afetar a sua temperatura corporal de uma forma tão drástica que pode te
levar a ter uma parada cardíaca e até a morte. Alguns estudos também
descobriram que o Ecstasy com outras drogas – especialmente os estimulantes – pode
te matar. Ela pode aumentar exponencialmente a sua temperatura corporal ao
ponto de desencadear uma hipotermia.
Assim
como acontece com muitas das drogas ilegais compradas nas ruas, você nunca sabe
o que está recebendo quando você compra o que acredita ser Ecstasy. É muito
normal para os traficantes misturarem MDMA com anfetaminas, cafeína ou efedrina
para fazer render o seu estoque e ganhar mais dinheiro. Tem aquelas pessoas que
misturam Ecstasy com álcool, maconha e outras drogas, usando-as ao mesmo tempo,
o que é loucura. Por favor, ouça o que eu estou dizendo, leve a sério o meu
aviso e mantenha-se afastado das drogas, especialmente aquelas que podem alterar,
permanentemente, as suas funções cerebrais e o seu comportamento.
VIVENDO
NO BARATO.
Um dos erros que cometi durante esse
período da minha vida foi não me afastar daquele ambiente ou das pessoas que
alimentavam meus piores impulsos no que tange à bebidas, drogas e farras.
Ser parte dos Backstreet Boys me jogou em um mundo para o qual eu não estava
preparado. As tentações que eu encontrei só se tornaram maiores depois que eu
me tornei conhecido como um cantor pop. Elas vinham até mim num fluxo louco que parecia não ter
fim. Hollywood e Beverly Hills não eram os melhores lugares para eu
estar, naquela época da minha vida e carreira. Assim como também não eram os
Hamptons, Park Avenue, Greenwich Village e nenhum outro covil dos ricos e sem
qualquer decência. Paris
Hilton era, provavelmente, a pior pessoa para eu me envolver naquela época. E,
claro, foi justamente o que eu fiz.
Eu
não a estou criticando de forma alguma. Ela é uma ótima moça em vários aspectos
que muitas pessoas não conhecem. Ela só não era a pessoa certa para estar comigo naquele período tão
abalado da minha vida. Nós crescemos em mundos diferentes – em alguns momentos
pareciam até planetas diferentes. Eu não escolhi meus pais e familiares, assim como
ela também não escolheu os dela. Só que, durante sua vida toda, Paris sempre
pode ter tudo que quis. Essa não era minha realidade. Então, ao mesmo tempo em
que compartilhávamos alguns interesses como música, filmes, viagens e outras
coisas, nossos pontos de vista e expectativas eram muito diferentes. Eu acho que, de alguma maneira,
nos tornamos muletas um do outro. Nós nos apoiávamos um no outro porque
não confiávamos em nós mesmos. Nós éramos novos e o relacionamento era novidade
e divertido, mas o “x” da questão é que quando você caça cachoeiras pode acabar
caindo em um rio vazio. Eu sou um cara normal, não importa o que eu faça da
vida. Eu gosto de coisas simples que todo cara gosta, vídeo game e música. Do meu ponto de vista, o estilo
de vida da Paris era extravagante – só extremo demais pra mim.
Não há dúvidas de que eu e a Paris
tivemos uma atração física muito forte. Nós namoramos por aproximadamente sete
meses em 2003, então obviamente existia uma conexão.
Mas no começo do nosso relacionamento ela disse pra um amigo meu que ela tinha
fotos minhas coladas na parede do seu quarto quando era adolescente. Eu acho que ela me via como o astro
pop ao invés do cara que eu sou por baixo disso. Eu não fiquei surpreso,
mas, ainda assim, me incomodava um pouco. Paris não namora caras trabalhadores.
Ela sempre namorou celebridades e outras pessoas ricas e famosas.
NÓS
NOS APOIÁVAMOS UM NO OUTRO PORQUE NÃO CONFIÁVAMOS EM NÓS MESMOS.
Eu
acho que ela entende que ser uma celebridade é um meio para um fim (Conhecido
no Brasil como “os fins justificam os meios”) Muitas outras pessoas pensam da
mesma forma e eu digo “Deus os abençoe”, mas eu não estava tão interessado em
ser famoso quanto estava em fazer música e entreter pessoas, me criando sobre
os meus pontos fortes e usando meus dons. Fama é só algo que veio com o sucesso
enquanto artista. Eu quero fazer coisas que melhore e faça a diferença na vida
das pessoas.
Ainda assim, por bem ou por mal, a
Paris me via como uma celebridade e como tal, o seu “tipo”. Eu
admito que me sentia curioso por ela e seu estilo de vida esbanjador. Quem não
se sentiria? Mas eu rapidamente entendi que não pertencia ao seu círculo de
amizade.
Eu
nunca vou esquecer de quando fui com ela a uma festa do branco, comemorando o quatro de Julho, organizada por Puffy’s (Sean
‘P.Diddy’ Combs), nos Hamptons, em 2004. Nós fomos até lá de helicóptero. Eu
nunca tinha chegado em uma festa desse jeito, antes. Eu odeio helicópteros. Quando eu me apresentei
pela primeira vez com os BSB na Alemanha nós deveríamos voar em um, com algumas
crianças, pra um evento de caridade. Nós perdemos o horário da decolagem e o
helicóptero caiu, matando quase todo mundo que estava a bordo. Por um
longo período eu ficava petrificado de medo que aquilo pudesse acontecer de
novo. Mas eu tirei isso da cabeça naquela tarde da festa e nós pousamos em segurança
em uma propriedade de 12,500 quitares (161.288 m²), onde ficava uma mansão de propriedade
da Sony. A mansão de seis acres (2.428113m²) ficava situada em Bridghampton e
era chamada de PlayStation 2 Estate. Paris estava, supostamente, dividindo as honras da
festa com Puffy e JayZ.
Nós
não estávamos nos dando bem aquele dia. Eu me sentia um peixe fora d’água. Foi
estranho pra mim porque eu me lembro de ficar sentado em um sofá olhando ao redor
e não reconhecendo ninguém enquanto ela socializava com todos. De várias formas
eu não queria estar lá. Eu me senti desconfortável e deslocado – como um
cachorro perdido, sem saber o que fazer ou com quem conversar. Talvez porque eu
tenha ficado abandonado por horas sem fim enquanto ela fazia o que tinha que
fazer.
FAMA
É SÓ ALGO QUE VEIO COM O SUCESSO ENQUANTO ARTISTA.
Talvez
minha experiência tivesse sido melhor se eu não tivesse ido com ela. Naquela
noite eu senti que as pessoas me viam como seu brinquedinho. Eu tenho certeza
que se eu voltasse lá, hoje, com meu novo e mais saudável estilo de vida e
mentalidade eu, provavelmente, me adaptaria melhor. Eu estava lá com uma pessoa que eu não tinha
certeza que se importava comigo. Frequentemente eu sentia como se ela
estivesse me usando, mas ninguém me diria isso. Eu tentei cair fora do relacionamento muitas vezes porque
não conseguia me livrar da sensação de que tinha algo acontecendo pelas minhas
costas.
Tinham
algumas pessoas naquele círculo social ultra rico que pareciam falsas e desalmadas,
pra mim. Depois de ficar exposto a esse estilo de vida por um tempo, eu decidi
que não era saudável, pra mim, continuar lá ou continuar meu relacionamento com
a Paris.
Viver
daquela forma não era pra mim. Eu admito que andar com pessoas que estão
dispostas a te levar pra aquele estilo de vida de mimos e riquezas pode ser bem
sedutor no começo, mas, pessoalmente, eu não queria ficar preso nisso por muito
tempo.
Paris
e eu seguimos caminhos diferentes principalmente porque tínhamos diferentes
visões da vida. Essa foi
uma das vezes em que me dei conta de que ficar preso em um relacionamento e
ambiente não saudáveis era um erro, então eu sai. Mas, durante esse tempo,
eu cometi muitos outros erros, e muitas vezes tornava-os pior.
OPORTUNIDADES
PERDIDAS.
Um dos meus objetivos mais antigos é
poder atuar em filmes e televisão, então quando eu fui escalado para o filme The Hollow, em 2004, eu
fiquei feliz por estar dando um primeiro, e grande, passo naquela direção. Mas
um dos grandes erros que eu cometi, como mencionei acima, foi ter desperdiçado
essa oportunidade por ter dificuldade em manter o foco. Era a chance ideal para desenvolver minhas
habilidades de atuação. Ao invés disso, eu farreei demais.
Uma
noite um dos outros atores do filme foi comigo até a praia de Santa Monica e
nós ultrapassamos todos os limites. Nós nos sentamos perto do píer e bebemos
até quase desmaiarmos. Eu tinha levado meu violão e estava tocando, mas não
conseguia parar de beber. Nós tínhamos começado no meu apartamento virando mais
ou menos dez Flaming Dr. Pepper, feito com rum 151 (75 por cento de teor
alcoólico, duas vezes mais que o nível normal) e licor de amêndoa jogado dentro
de um copo de cerveja.
...FOI
TER DESPERDIÇADO ESSA OPORTUNIDADE POR TER DIFICULDADE EM MANTER O FOCO.
Nós
ateávamos fogo e bebíamos um atrás do outro mesmo antes de irmos pra praia. Eu levei a garrafa de rum
conosco pro píer e então nós só bebemos e bebemos até eu desmaiar.
Quando eu acordei eu estava de volta ao
meu apartamento, assustado pra cacete porque não sabia como tinha chegado lá ou
o que tinha acontecido antes disso. Desmaiar daquela forma era
normal quando eu bebia pesado demais.
Eu
acho que estava intoxicado porque assim que acordei eu fiquei enjoado. Eu engatinhei até o banheiro e
fiquei no chão por três ou quatro horas achando que ia morrer. Então,
por alguma razão, eu decidi que precisava comer. A única coisa que eu consegui
encontrar na cozinha foi um pacote de Cheerios. Eu
comi a caixa toda, ainda achando que não sobreviveria.
Eu
tinha que trabalhar no set de The
Hollow aquela noite, mas como eu não tinha estudado minhas falas ou
dormido eu acabei chegando lá despreparado, enjoado e com uma aparência horrível.
Eu não dei a devida
importância pra essa experiência ao invés de me preparar e tirar o melhor disso.
Eu ainda era capaz de fazer o que tinha que fazer, mas meu rosto estava tão inchado,
eu pude ver o quão cansado e doente eu estava no filme final. Embora, de alguma
forma, eu tenha conseguido chegar ao final da noite, eu sei que agi de forma
muito irresponsável. Eu poderia ter feito muito melhor.
Claro,
eu decorei minhas falas. Eu apareci e fiz o meu trabalho, mas ainda assim eu me
sinto mal por não ter aproveitado melhor a experiência. Se eu tivesse me
comprometido a fazer o meu melhor meu desempenho poderia ter me ajudado a me
estabelecer na carreira artística que eu queria. Ao invés disso, eu cai na
farra como se meus objetivos não fossem importantes. Esse foi outro ponto
baixo, pra mim. Minha mente estava vagando por lugares que eu não queria que
ela fosse. Eu poderia estar dirigindo e me via pensando nos piores cenários
possíveis. É como se meu
subconsciente estivesse procurando por formas de criar drama e negativismo.
MINHA
MENTE ESTAVA VAGANDO POR LUGARES QUE EU NÃO QUERIA QUE ELA FOSSE.
Uma noite eu estava tomando analgésicos
com álcool e eu lembro de ter voltado pro meu condomínio, ter ido pra cama,
ouvir meu coração bater e sentir como se eu tivesse desmoronando de dentro pra
fora. Eu ficava
paranoico as vezes, me preocupando que se meu coração parasse de bater ninguém
iria se importar de eu ter morrido. Eu sempre me surpreendia com esse
pensamento, de que minha morte seria noticiada apenas como mais uma tragédia de
celebridade,
mais uma história de abuso de drogas e um desperdício de vida e talento.
Mas,
apesar desses medos, eu parecia nunca aprender com meus erros.
INDO
EM DIREÇÃO A UM DESASTRE.
Never Gone, o primeiro álbum dos
Backstreet Boys em dois anos, estava previsto pra ser lançado no verão de 2005.
Nós estávamos totalmente concentrados nos ensaios para uma turnê promocional
que incluiria 79 shows nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia e Austrália. Eu
precisava estar na minha melhor forma. Mas, como vocês já devem ter adivinhado,
eu não estava. Eu estava obeso e fora de forma e precisando urgentemente me
Ajeitar.
Ao
invés disso eu mergulhei de cabeça no desespero.
E um
dos raros dias de folga dos ensaios e reuniões eu fui com alguns amigos até
Newport Beach e Huntington Beach e farreei o dia todo. Eu gostava de sair da
cidade porque eu podia fazer as minhas coisas sem ser pego. Eu também gostava
daquelas praias.
AO
INVÉS DISSO EU MERGULHEI DE CABEÇA NO DESESPERO.
No
caminho até lá eu e meus amigos estávamos ouvindo heavy metal no meu carro.
Naquela época esse era um gênero musical com o qual eu realmente podia me
relacionar. Eu sentia como se tivesse falando pra mim. Nós estávamos curtindo
tanto que estávamos batendo cabeça e agindo como loucos. Leve em consideração
que eu amo todos os tipos de música e sou um grande fã de bandas de hard rock
como System of a Down, Slipknot e Metallica, pra nomear algumas, então não
estou dizendo que o heavy metal foi o culpado. Essa não era a razão pela qual eu agi da
forma que agi naquele dia ou em qualquer outro dia. Mas quando você tem muita
raiva e ódio apodrecendo dentro de você arruma um jeito de alimentá-las e, infelizmente,
a letra de algumas daquelas música são tudo de que o ódio e a raiva precisam pra
se alimentar, algumas vezes. Ao mesmo tempo, enquanto algumas pessoas usam
heavy metal e rap para alimentar a sua raiva, outras são perfeitamente capazes
de ouvir as mesmas músicas e separar entretenimento de realidade. Uma mente
saudável pode fazer isso. Infelizmente minha mente e minhas emoções não eram
saudáveis naquela época. Na verdade elas estavam fora de controle quando
estacionamos em um restaurante de frente pra água perto o píer em Huntington
Beach. Nós estávamos fazendo a mesma rotina por semanas durante meus intervalos
de trabalho, encontrando com amigos e indo em uma série de bar das redondezas.
Nós jogávamos sinuca e bebíamos o dia todo, virando doses até perdermos a noção
do tempo. Alguns dos funcionários dos bares pareciam ter medo de nós por
seremos tão selvagens.
Nós
finalmente fomos expulsos de um dos lugares, então fomos pra outro bar e foi ai
que eu comecei a ter desmaios. Quanto mais eu bebia, mais agitado e triste eu ficava. Eu sentia
essa onda de raiva e ressentimento contra meus pais. Os sentimentos borbulhavam
dentro de mim. Eu não conseguia parar de pensar em como eu tinha perdido tanta
diversão durante os meus anos de adolescência porque eu tinha que trabalhar
duro pra agradar e apoiar minha família. Os pensamentos de que eu tinha que compensar
o tempo perdido continuavam, obsessivamente, ocupando meu cérebro.
Aparentemente
eu decidi que a forma de recuperar aqueles anos era me permitir beber incontrolavelmente.
Eu justificava meu comportamento dizendo a mim mesmo que isso era o equivalente
aos meus anos de colégio. Toda
vez que eu bebia eu me tornava suscetível a todos aqueles assuntos inacabados e
relacionados as bebedeiras e brigas e falta de atenção dos meus pais.
Então, eu repetia o comportamento deles e bebia e brigada também.
Nós
podemos, facilmente, cair nos padrões de vida que nos são mais familiares, como
eu já disse. Meus pais bebiam, então eu bebia. Eles brigavam, eu brigava. Eles
tinham um relacionamento disfuncional, eu também.
QUANTO
MAIS EU BEBIA, MAIS AGITADO E TRISTE EU FICAVA.
Mas,
por causa do meu sucesso com os Backstreet e a fama e o dinheiro que isso me trouxe eu acabei
atraindo muitas pessoas que extraiam o pior de mim. Eu sabia que estava
com más companhias, tomando más decisões, e indo em direção a uma catástrofe e,
mesmo assim, eu não fazia nada para me prevenir disso. Um erro levava a outro e
outro até que um desses dias se tornou um dos piores pra mim.
Eu estava tão bêbado, no último bar, e
perto de desmaiar, mais uma vez, que eu me peguei no chão do banheiro. Eu
estava tão aficionado pela musica que ouvimos no caminho desde Santa Monica.
Quando mais eu bebia, mais satânica a música parecia. Normalmente a batalha
entre o bem e o mal não é uma tópico constante no meu pensamento, mas nesse dia
meu estado de espírito estava tão transtornado pelo uso de droga e álcool que
logo as mensagens negativas da letra voltaram gritando estridentemente dentro
da minha cabeça.
As músicas eram repletas de menções ao
diabo e elas estavam me apavorando. Totalmente fora de mim, com imagens e
pensamentos perturbadores correndo dentro da minha cabeça como morcegos, eu
me peguei pensando: De toda forma, o que há de tão ruim assim sobre o diabo?
Por que Satã foi expulso do paraíso? Pode tudo isso ter sido apenas um mal entendido?
A mente é uma péssima coisa de se
perder, e eu estava perdido. Eu, de repente, percebi que estava
pensando em voz alta, também. Um grupo formado pelos meus amigos bêbados e
outros tantos estranhos estava reunido no banheiro me ouvindo divagar sobre o
diabo e o lado obscuro. Eu sentia que estava no fundo de um buraco negro. As
pessoas me olhavam como se cobras estivessem saindo de dentro da minha cabeça.
Por que o mal é tão mau? Por que o diabólico é diabólico?
Por que Satã recebeu tamanho castigo?
Essas
não são, necessariamente, más perguntas para uma aula de teologia ou filosofia, mas eu era um bêbado falastrão
largado perto dos mictórios. Então, pra deixar tudo pior, eu resolvi me
mover. De alguma forma eu me levantei e fui tropeçando pra fora do banheiro e
do bar, indo em direção ao restaurante de frente pro mar onde eu tinha deixado
minha BMW 750 estacionada, naquela manhã (embora parecesse que eu o tinha feito
duas semanas antes).
O
manobrista deu uma boa olhada no meu estado e, pro seu bem, me disse: “Eu não
vou te dar as chaves do seu carro.”
A
MENTE É UMA PÉSSIMA COISA DE SE PERDER, E EU ESTAVA PERDIDO.
Eu
explodi com o cara, embora ele estivesse apenas fazendo o seu trabalho e
tentando salvar a minha vida e a de outras pessoas, mas ele não se intimidou.
Eu me acalmei e, depois de um breve momento de coerência, eu prometi a ele que
eu deixaria algum dos meus outros amigos dirigir.
Um
dos membros do meu grupo conseguiu se fazer passar por sóbrio tempo o
suficiente para ele entregar as chaves. Ele dirigiu por dois quarteirões, parou
o carro, me deu as chaves e nós trocamos de lugar.
Naquele momento nós achamos que éramos
os fodões mais espertos, mas eu só dirigi por alguns quarteirões antes de mudar
de ideia e parar no acostamento da estrada, tentando ficar sóbrio.
Nós
ainda estávamos parados e ouvindo música quando um comboio de carros da polícia
de Huntington Beach, com as sirenes ligadas, nos cercou. Eu achei que o
manobrista tinha ligado pra polícia e, se ele o fez, eu sou imensamente grato. Ele pode ter salvado a minha vida
e a de outras pessoas.
Pelo
menos é assim que eu me sinto agora. Mas quando aqueles carros de patrulha chegaram
berrando a nossa volta eu não estava muito inundado de gratidão. Os policiais
não perderam tempo. Eles me deram um teste de sobriedade pra fazer, ao qual eu
falhei lindamente.
Era
apenas 7:30 da noite, mas nós tínhamos começado cedo. Nós tínhamos partido aquela manhã decididos a
beber até ficarmos burros. Missão cumprida.
Essa
foi a minha primeira visita à prisão como um convidado de desonra. Eles me colocaram numa cela,
sozinho. Eu estava exatamente atrás da área onde os policiais estavam trabalhando
e andando com as outras pessoas que eles tinham prendido. Eu estava disponível pra todos
verem. Eu me senti como um rato preso. Eu só queria engatinhar pra um buraco e
me esconder.
EU
ME SENTI COMO UM RATO PRESO.
Eles me mantiveram preso por aproximadamente oito horas antes de
me soltarem. Ninguém foi
me buscar. Eu tive que encontrar um taxi pra me levar pra casa. Essa era uma
nova queda, mas não o ponto mais baixo que eu atingi. Olhando pra trás, eu
sinto como se eu estivesse sendo testado. Eu estava aficionado no que era
diabólico e eu fui preso. O diabo me deu o que eu pedi. Talvez se eu estivesse
tendo pensamentos bons eu tivesse experimentado coisas melhores.
Eu
gostaria de dizer pra vocês que eu aprendi com esse erro terrível e,
imediatamente, dei uma virada na minha vida, que eu parei de beber e usar
drogas naquele exato minuto. Infelizmente, não foi o caso. Eu tinha me ferrado
lindamente, mas não estava preparado para aprender com aquele péssimo
acontecimento, mudar meu estilo de vida e seguir em frente.
O juiz que cuidou do meu caso, de fato,
me forçou a dar um passo nessa direção, entretanto, me obrigando a frequentar
as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Ir naquelas reuniões foi um pé no saco
porque eu estava com uma agenda absurdamente louca por causa do lançamento do
álbum novo. Mas o juiz não queria saber. Ele estava tentando fazer por mim o
que eu não conseguia.
A
corte mandou que eu fosse a treze reuniões. Eu fui em todas. Embora o programa
de Alcoólicos Anônimos tenha visto milhões de pessoas como eu, eu não fui uma
das suas histórias mais bem sucedidas – pelo menos não de primeira. Mas eles
definitivamente tiveram sucesso ao acender algumas luzes onde antes só tinha
escuridão.
Finalmente
eu comecei a me tornar ciente do que eu já sabia a algum tempo, mas tinha ignorado
– que o álcool é uma droga que vicia e uma poção de depressão e não de
felicidade e, certamente, não é a cura pra todas as inseguranças e
ressentimentos que eu nutri desde a minha infância. Pra ser honesto eu resisti
a muito do que eles disseram na primeira reunião do AA porque, assim como
muitos jovens, eu achava que o material deles não se aplicava a mim. Eu não me considerava um
alcoólatra. Eu só gostava de me divertir. Eu bebia e ficava bêbado, mas eu
tinha certeza que podia parar quando quisesse.
ELE
ESTAVA TENTANDO FAZER POR MIM O QUE EU NÃO CONSEGUIA.
Os
companheiros de AA já tinham ouvido tudo aquilo antes. Na verdade, eles já
tinham ouvido toda e qualquer desculpa esfarrapada e negação que existe. Eles
tiveram um trabalho Naquelas sessões do AA eu, pelo menos, aprendi sobre a
ciência do álcool e seus impactos no corpo, mente e espírito. Eles também me
ensinaram sobre janelas de oportunidades, quando
nós recebemos a chance de mudarmos a direção das nossas vidas. Algumas pessoas chegam ao fundo
do poço e, ainda assim, não é baixo o suficiente pra eles. Não deixe
isso acontecer com você.
Eu
continuava espantando a ajuda até me afundar ainda mais naquele buraco negro
que eu tanto falo, e que estava se tornando um lugar altamente assustador.
Depois da minha prisão por dirigir sob
o efeito de substancias ilegais eu joguei fora a chance de recolher os cacos e
seguir em frente. Eu cometi erros ainda maiores. Eu tenho muita sorte de ter
sobrevivido.
EU
TENHO MUITA SORTE DE TER SOBREVIVIDO.
Mesmo
assim, depois de ter completado o curso do AA, eu disse pra todo mundo que eu
era um novo homem. Eu talvez tenha acreditado nisso por um tempo, mas depois de
pouco tempo eu voltei à minha vida de farras.
A
única lição que realmente ficou é a de que eu não deveria mais beber e dirigir,
o que foi bom, mas não bom o suficiente.