CAPÍTULO QUATRO
DIREÇÃO CEGA




No meu aniversário de 21 anos, Kevin me deu um presente que eu não gostei por mais de três anos. Quando meu irmão mais velho dos Backstreet me deu o presente eu bati os olhos no título e percebi que era um dos livros de autoajuda que eu o tinha visto lendo e comentando. Eu decidi, então, de imediato, que o conteúdo não serviria pra mim.
Eu levei o presente pra casa e soquei na prateleira no meio de tantos outros que eu não tinha lido ainda. Eu não era muito chegado em leitura e em autoajuda naquela época. Eu estava indo na onda, vivendo o tipo de vida que veio com o fato de ser um Backstreet Boy e vendendo milhões de discos. Os primeiros oitos anos foram maravilhosos.

OS PRIMEIROS OITOS ANOS FORAM MARAVILHOSOS.

Mas os outros membros do grupo eram mais velhos e pareciam estar se arranjando na vida.
Na verdade, alguns dos rapazes estavam conversando sobre se casar e começar suas famílias. Não eu. Eu tinha acabado de chegar à idade permitida para beber e decidi que era minha vez de farrear. Eu também estava gostando de estar solteiro pela primeira vez em três anos. Eu tinha namorado outra cantora, também da área de Tampa, Amanda Williford, cujo nome artístico era Willa Ford, mas nós terminamos no final de 2000. Eu decidi que já que eu tinha chegado na idade em que a maioria dos caras estava na faculdade, bebendo, farreando e correndo atrás de mulher, que ter esse tipo de divertimento também seria minha missão.
Eu não queria parar pra pensar pra onde estava indo. Eu só queria aproveitar o momento e viver a vida o máximo possível.
Quando Kevin me deu aquele presente de aniversário em janeiro de 2001 nós estávamos viajando com a turnê Black & Blue, promovendo nosso quarto álbum que, assim como o nosso terceiro, também tinha vendido milhões de cópias na sua primeira semana – um recorde para álbuns consecutivos. Nós tínhamos acabado de fazer um show enorme em Atlanta e estávamos indo para Filadélfia para a próxima apresentação. Mas, antes, fizemos uma pequena parada na minha cidade natal para comemorar o meu aniversário.
Nós comemoramos o dia cantando o hino nacional no Raymond James Stadium, na cerimônia que antecedeu o Super Bowl XXXV. E foi ainda mais especial porque o meu quarterback favorito, Trent Dilfer, um bom amigo que costumava jogar pelo Tampa Bay, estava jogando pelo Baltimore Ravens (e eles derrotaram o New York Giantes nesse jogo!).
Mais de 71,000 torcedores lotavam o estádio e mais 84 milhões assistiam pela televisão. Não era nada mal para começar um ano que acabou provando ser um dos melhores pro nosso grupo. Nós passamos 11 meses de 2001 excursionando pelos Estados Unidos, Canadá, América do Sul e Japão. A turnê Black & Blue arrecadou mais de $100 milhões, ao redor do mundo, então as coisas também iam bem financeiramente.
Nós também nos sentíamos bem sobre o nosso futuro porque tinha chegado ao fim nosso contrato com o Lou Pearlman, que estava recebendo duas vezes. Contratualmente, ele recebia uma vez como nosso agente e outra como o “sexto membro do grupo”. Nós éramos gratos por tudo que o “Big Poppa” tinha feito por nós, no começo, nos ajudando a montar o grupo e a criar uma base de fãs. Com o tempo, entretanto, nós acabamos vendo que Pearlman não era aquela figura paterna benevolente que ele aparentava ser quando assinamos nosso contrato de agenciamento com ele.
Big Poppa foi outra figura paterna na minha vida que acabou provando não ser digno de confiança. No começo, alguns fãs e pessoas da indústria da música que não conhecia a história inteira nos criticaram, nos chamando de ingratos por termos cortado laços com ele.
Em pouco tempo, entretanto, por conta de uma investigação federal que acabou o mandando pra prisão, seus negócios obscuros acabaram se tornando públicos. Pela forma como eu vejo, nós tínhamos uma relação profissional com Lou Pearlamn e a encerramos. Nós o víamos como um mentor e um amigo, mas nada mais. Ele nunca me assediou sexualmente ou a qualquer dos outros rapazes, pelo que eu sei, apesar dos rumores que dizem o contrário. Como jovens artistas que éramos, entramos, felizes, em uma relação contratual com ele e a terminamos ainda mais felizes. Hoje eu olho para nossa relação contratual como uma lição. Eles nos ofereceu a oportunidade de uma vida – nós não tínhamos outra forma de chegar às grandes gravadoras, estúdios de gravação ou promotores de show. Nós confiamos no Pearlman até nos darmos conta de que era um erro.

HOJE EU OLHO PARA NOSSA RELAÇÃO CONTRATUAL COMO UMA LIÇÃO.

Como diz o ditado, “Errar uma vez é humano, errar duas é burrice.” Todos nós cometemos erros e todos nós experimentamos o fracasso. Isso é particularmente verdade quando somos jovens e temos menos experiência. A indústria da música é complexa. Também é verdade que ninguém poderia prever o quão bem sucedido os Backstreet Boys seriam e o quanto dinheiro nós geraríamos.

VIVENDO E APRENDENDO

Nossos problemas e decepções com o Lou Pearlman nos ensinaram a ser mais cuidadosos a respeito das pessoas em quem confiamos e dos contratos que assinamos. Eu não tenho nenhum interesse em viver com os arrependimentos sobre isso ou qualquer dos meus outros erros.
Da mesma forma, eu te encorajo a permanecer com uma atitude positiva mesmo quando você cometer erros ou experimentar alguns fracassos. Você tem que ser realista e perceber quando cometeu erros ou quando se afastou dos seus objetivos e expectativas. Você também tem que estar ciente de que existem pessoas oportunistas que irão tentar tirar vantagem de você. Você não pode ignorar o mal, mas pode escolher viver com o que é bom.
Lembre-se que você tem o poder de escolher ter uma atitude positiva mesmo quando coisas negativas acontecem com você. Quando você faz isso, você descobre que coisas boas podem sair até das piores experiências. Eu costumava me ater ao lado sombrio antes de assumir responsabilidade pela minha própria felicidade e sucesso e, acredite em mim, a vida é muito melhor sob o lado positivo.
Você não pode ignorar seus erros e decepções, isso não é nada realista. Mas você também não pode permitir que eles te tirem do caminho permanentemente. Então, pergunte a si mesmo, “Quem você preferiria ser?” A pessoa que nunca supera seus erros ou a pessoa que os reconhece, aprende com eles e corrige o que precisa ser reparado, usando essa experiência para construir uma vida melhor?

NOSSO TEMPO, NESSA TERRA, É LIMITADO E TODOS NÓS FALHAMOS VEZ OU OUTRA.
Ser amargo e negativo apenas agrava o dano, então porque fazer isso consigo mesmo?
Talvez você tenha estragado tudo. Talvez alguém tenha se aproveitado de você, ou você não tenha feito tudo que devia para alcançar um objetivo. O que eu tento fazer nessas situações é aprender com elas, superá-las e seguir em frente. Nosso tempo, nessa terra, é limitado e todos nós falhamos vez ou outra. Algumas vezes até caímos de cara. Mas nós temos escolha sobre o que fazer a seguir. Nós podemos ficar lá na poeira ou nós podemos continuar nos levantando até o apito final. Eu prefiro a segunda opção. E você?

OS ERROS DE GRAVAÇÃO

Muitos de nós rimos dos erros de gravação dos programas de televisão e filmes porque errar é uma experiência universal. Todos nós viramos à direita quando deveríamos ter virado à esquerda. Ferrar as coisas de alguma forma ou outra é um evento cotidiano. Nós nunca superamos essa fase. Zoar faz parte da vida. Sim, você e eu iremos criar, até o nosso último suspiro, os nossos próprios momentos e pensar “mas que merda é essa?”.
Terapeutas e Conselheiros (“Life coaching”: Conselheiro orientado para a vida pessoal, relacionamentos, etc.) nos encorajam a receber bem os nossos erros e falhas porque eles nos oferecem a oportunidade de aprender. Nem sempre é fácil, mas é um bom objetivo e faz todo sentido. As pessoas mais bem sucedidas irão te dizer que suas maiores conquistas vieram de tentativas e erros. Olhe os cientistas – eles ganham a vida aprendendo com seus experimentos fracassados. Matemáticos também trabalham através dos resultados errados até chegarem no certo. Os melhores quarterbacks da NFL raramente conseguem completar 70 por cento dos seus passes.
Ainda assim eu tenho uma certa dificuldade quando cometo erros porque eles, frequentemente, tem um impacto negativo sobre mim ou trazem a mim, ou alguma outra pessoa, muita dor. Ferrar tudo é embaraçoso. Você pode se culpar ou temer que os outros te culpem. Algumas vezes pode sentir como se nunca fosse se recuperar de um erro ou um fracasso.
Frequentemente as pessoas que estragaram tudo só deixam a situação pior através de frases exageradas como “Minha vida acabou” ou “Morri.” Drama não ajuda. Muito menos equiparar nossos erros e fracassos com morrer. Na verdade, as únicas pessoas que não estão suscetíveis a errar são aquelas que estão a sete palmos. Cometer erros e ter problemas faz parte da vida, então aceite a verdade nisso e lide com ela. Aceite que você irá cometer erros e olhe pra eles como oportunidades para aprender e melhorar.

TODA VEZ QUE EU ESTRAGO TUDO MEU PRIMEIRO INSTINTO É ME CHUTAR.

Os terapeutas me disseram que um dos segredos para lidar com todos os erros e fracassos é não levá-lo para o lado pessoal. Honestamente, eu não sabia que você podia escolher não levar um erro para o lado pessoal. Toda vez que eu estrago tudo meu primeiro instinto é me chutar. Na maioria das vezes eu só quero dar com a cabeça na parede mesmo que seja uma coisa tão comum quanto esquecer a letra de uma música.

O JOGO DA CULPA

Então como é que você despersonaliza os seus passos errados e seus fiascos? A resposta é simples: focando-se no que aconteceu ao invés de em quem colocar a culpa. Pense nisso como tirar a si mesmo de dentro da cadeia. Se você quer passar mais alguns minutos atrás das grades (Eu digo figurativamente, não em San Quentin (Penitenciaria da Califórnia) ou algo do tipo), tudo bem, mas depois pague fiança e caia fora. Pense onde você errou, comprometa-se a corrigir isso ou a fazer uma escolha melhor da próxima vez e então siga em frente.
Você também não precisa manter um registro das coisas boas e ruins que aconteceram. Apenas siga em frente. Deixe o passado sumir de vista no retrovisor e foque na estrada à frente. Você não pode mudar o que passou, mas você pode controlar como responde a isso. Quando eu penso nos meus maiores erros e ruínas (fracassos) eu prefiro me ater ao seguinte pensamento: Eu posso usar minhas falhas e erros como oportunidades para fazer e ser melhor. Eu acho muito louco que nós estejamos sempre dispostos a perdoar os nossos amigos e entes queridos quando eles ferram com tudo, mas nos recusamos a perdoarmos a nós mesmos. Eu vou escrever mais sobre o poder maravilhoso do perdão, mais tarde. Lembre-se, por ora, que esse simples ato tem várias utilidades e uma das mais importantes é a auto aplicação. Se você não é tão bom amigo consigo mesmo quanto é com os outros então você precisa aprender a amar mais aquela pessoa no espelho.

MESMO ASSIM EU CONTINUEI FALHANDO E DEIXANDO MEUS ERROS ME ARRASTAREM PRA MAIS E MAIS BAIXO.

Fácil é falar, difícil é fazer, eu sei.
Por um longo tempo eu me batia por qualquer coisa. Eu era como um clube de luta em um único homem. Existem duas formas erradas de lidar com os erros. Uma é não dar qualquer atenção a eles e continuar a cometê-los.
A outra é ficar com raiva e depressivo e não aprender com eles ou fazer qualquer correção. Eu fiz tudo isso durante meus primeiros anos com os Backstreet Boys.
Lá estava eu, vivendo um sonho que se tornou realidade. Milhões de pessoas talentosas teriam dado tudo para fazer parte do grupo. Mesmo assim eu continuei falhando e deixando meus erros me arrastarem pra mais e mais baixo. Muitos dos meus erros eram compreensíveis e até evitáveis. Eu era tão novo quando começamos a viajar pelo mundo. Eu entrei na minha adolescência – aqueles anos em que se espera que você cometa erros – como uma celebridade, um pop star que aparecia nos tabloides, revistas e internet toda vez que eu saia com a garota errada, esquecia de dar gorjeta ou era pego no clube errado.
Escritores de tabloide e repórteres que perseguem celebridades criaram algumas das histórias que escreveram sobre mim, mas eu também cometi erros que nunca se tornaram públicos.

PASSOS ERRADOS

Kevin e os demais membros dos BSB me viam beber e me meter em encrenca e tudo que podia fazer era chacoalhar a cabeça. Howie acertou em cheio quando disse a um repórter, alguns anos atrás, “Às vezes a última pessoa de quem você quer ouvir conselho são aquelas que estão mais próximas a você. Nick estava em uma jornada para se encontrar. Quando ele era repreendido, ao invés de se deixar motivar ele se curvava e engatinhava para um buraco ainda mais escuro.”

...EU COMECEI O MEU LONGO MERGULHO DE CABEÇA NAQUELE BURACO NEGRO...

Eles me disseram que eu tinha potencial para ser uma pessoa melhor e fazer mais com os meus talentos. Eles sabiam que eu tinha um bom coração e alma, mas eu não estava usando a cabeça. Os rapazes me avisaram, várias vezes, que as minhas farras estavam fora de controle e que eu estava me encaminhando para ter sérios problemas. Eles temiam que eu pudesse destruir minha carreira e prejudicar a deles, também.
Mesmo assim, quando os outros membros dos Backstreet Boys tentaram me ajudar eu lutei contra eles com unhas e dentes. Olhando pra trás, eu me dou conta de que deveria ter tido muito mais consideração por eles, não só do ponto de vista profissional, mas porque eles se importavam comigo enquanto pessoa. Minhas farras homéricas ficaram por debaixo dos panos por um longo tempo porque eu bebia e usava drogas fora dos olhares públicos, na maioria das vezes. Então, quando eu finalmente atingi idade legal para beber eu comecei o meu longo mergulho de cabeça naquele buraco negro ao que o Howie se referiu. A minha ruína se tornou pública quando eu fui preso em Janeiro de 2002 em no Pop City bar, em Tampa. Eu tinha ido até lá com um grupo de amigos locais. Nós pegamos pesado e as coisas saíram do controle perto da hora de fechar. Nós éramos apenas caras normais fazendo coisas que os rapazes normalmente fazem quando querem se meter em encrenca.
Claro, eu deveria ter ficado mais ciente da minha responsabilidade enquanto um Backstreet. Eu não deveria ter agido de forma irresponsável ou feito coisas não saudáveis, mas eu estava tentando me encaixar em um grupo de amigos que não eram, na verdade, a melhor influencia. Eu era um produto do meu ambiente, naquela época. Depois de ter excursionado com o grupo e vivido naquela realidade distorcida de ser uma celebridade e viajar constantemente, eu queria voltar a ter uma vida mais “normal”, mas, na verdade, a bebedeira, usar droga e farrear todo o tempo também não eram o que se pode chamar de uma existência normal.

A MANCHETE NO NEW YORK POST DIZIA, “BACKSTREET BEBADO É PRESO POR BRIGA.”

Minhas memórias daquela noite são bem vagas. Pelo que eu me lembro nós estávamos em um bar e nos preparando para sair porque estava fechando. Nós estávamos bêbados. Eu gritei alguma coisa para um bartender que era grosso e eles me expulsaram do clube. As pessoas me zoaram enquanto eu saia, gritando coisas e fazendo cena. Uma vez que eu estava do lado de fora eu fui até a área dos valets. Eu realmente estava tentando evitar problemas e simplesmente pegar meu carro e ir embora. Mas então um cara veio até mim e começou a me irritar. Ele estava, provavelmente, apenas tentando fazer com que eu me acalmasse, mas eu não me importava. Ele estava usando uma jaqueta e eu não sei dizer se ele usava um uniforme ou não, mas depois eu vi que ele tinha um distintivo. Ele me dizia para entrar no seu carro e eu estava muito, muito relutante com ele. Eu continuava perguntando quem ele era e porque eu devia ouvi-lo.
Meus amigos gritavam, “Faça o que ele tá falando, ele é policial!”
Eu estava tão bêbado. Eu não me dei conta de que ele era um policial até que fosse tarde demais e ele me empurrasse contra o veículo da polícia e me desse voz de prisão. As pessoas do bar riam de mim e foi uma grande cena. Foi tão vergonhoso. Depois de o policial me dar voz de prisão eu tentei dar uma de durão para impressionar meus amigos. No começo eu achei que ser preso era meio legal, mas depois que você é jogado no banco de trás do carro de polícia e eles trancam a porta você se dá conta do que está acontecendo e sua visão sobre tudo muda rapidinho. Esse foi só outro exemplo de como eu não me importava com as minhas responsabilidades e não aprendia com meus erros.
Eu me dei conta que tinha perdido controle sobre mim mesmo e eu lembro de ter chorado no caminho até a delegacia. Eu estava tão envergonhado. Eu disse, “Eu sinto muito, eu sinto muito, por favor, não façam isso.”
A manchete no New York Post dizia, “backstreet bêbado é preso por briga.” Os tabloides me retrataram fazendo de tudo, desde pegando um dos seguranças pelo colarinho até me expondo e ficando nu – nenhum dos dois é verdade.
O policial me fichou sob o delito de “resistência à prisão sem violência” aparentemente porque “bêbado e brigão” não era uma categoria válida. Minha memória daquela noite é vaga, por uma boa razão. Os policias de Tampa me disseram que pediram para que eu me acalmasse mais de dez vezes e que eu me recusei em todas. Eles alegam que eles me deram a contagem de até três para eu sair do bar e eu não saia. Então eles me algemaram e me colocaram na viatura.
Eu fiquei com vergonha, claro. Eu me defendi no programa Total Request Live (TRL), na MTV, e em outras ocasiões, dizendo que eu simplesmente não tinha andando rápido o suficiente quando o policial me pediu pra deixar o bar. Eu me desculpei com o departamento de polícia de Tampa, os membros dos BSB e os fãs. Basicamente eu estava apenas tentando manter minha reputação e controlar, o melhor que eu podia, os danos causados. O apresentador do TRL, Carson Daly, disse que ser preso provavelmente ajudaria na minha reputação. Eu acho que o Carson pensou que eu precisava desgastar a imagem dos Backstreet Boys para ser mais fodão. Eu tenho certeza que o Carson me chamou para ir até o seu programa pra aumentar sua audiência, mas, de alguma forma, eu acho que talvez ele estivesse certo e alguma coisa positiva podia ser tirada desse erro. Infelizmente, eu não aprendi. Eu simplesmente continuei a criar problemas mantendo o mesmo inaceitável padrão comportamental e cometendo erros. Nenhum alarme interno disparou, pra mim, apesar de tudo que os outros rapazes do Backstreet me diziam. Eu segui, por mais um tempo, repetindo o mesmo padrão autodestrutivo.
No verão anterior o A.J. McLean tinha ido pra reabilitação. Mas o A.J. fez algo que eu me recusava a fazer. Ele tomou consciência dos seus erros e começou a corrigi-los.
Agora, ele é humano e recaiu algumas vezes e voltou pra reabilitação em 2002 e, mais recentemente, em 2011. Ele tem toda minha compaixão. Eu não tenho nada além de admiração e empatia por todo o seu esforço para enfrentar os seus demônios. A.J. e eu, muitas vezes, discutimos nossas batalhas. Ele tem me ajudado mais do que jamais saberá. Eu sou imensamente grato a ele.

DESENVOLVIMENTO COMPROMETIDO

Depois do incidente em Tampa eu sabia que a minha família BSB sentia que eu os tinha decepcionado e que eu estava prejudicando o nosso relacionamento. Enquanto o “bebê” dos BSB eu nunca quis desapontar ou prejudicar o nosso grupo de forma alguma. Mas a minha responsabilidade sobre os outros, por um longo tempo, era algo com que eu não conseguia lidar. Mesmo que eu amasse meu “trabalho” e os meus colegas de banda eu não sentia que merecia o respeito e a afeição dos fãs. Eles me amavam, mas eu não me amava muito naquela época.
Parte disso era só a típica rebeldia que a maioria dos jovens, com muita energia e um falso senso de imortalidade, experimenta. Isso foi mais ou menos na época em que eu resolvi criar uma certa independência enquanto membro dos BSB, decidindo manter meu contrato com a agencia (de agenciamento) The Firm, enquanto os outros membros deixaram-na.
Eu também decidi fazer um álbum solo, que acabou sendo o Now or Never. Os outros rapazes não ficaram felizes com essas decisões, mas eu estava bravo com o mundo. Eu tinha na cabeça que música era a forma para extravasar a raiva.

ELES ME AMAVAM, MAS EU NÃO ME AMAVA MUITO NAQUELA ÉPOCA.

Eu realmente não estava preocupado com a repercussão das minhas atitudes ou com os sentimentos que eles trariam à tona nos outros. Eu era muito egoísta. Eu, na verdade, estava ressentido com os Backstreet Boys porque eu despendi tanto tempo e energia na minha carreira que eu acreditava que estava perdendo outras coisas. Eu não apreciava tudo que fazer parte daquela banda me proporcionou. Eu estava mais focado no que eu achava que tinha perdido.
Eu queria escrever músicas sobre os meus sentimentos e usar a turnê solo como um expositor pra elas. Eu sai pela estrada e fiz exatamente isso, gritando a plenos pulmões enquanto cantava música por música do meu álbum. Eu não sei como o público se sentiu, mas foi muito terapêutico pra mim. O primeiro single lançado foi “Help Me” e embora eu não o tenha escrito o refrão refletia meu estado de espírito.
Help me (Me ajude)
Figure out the difference (A entender a diferença)
Between right and wrong (Entre o certo e o errado)
Day and night (Dia e noite)
Where I belong and (Onde eu pertenço)
Help me (Me ajude)
Make the right decisions (A tomar a decisões certas)
Know which way to turn (O caminho a seguir)
Lessons to learn (As lições a aprender)
And just what my purpose is here (E quando meu propósito aqui)

As músicas no meu álbum Now or Never realmente me ajudaram a superar aquele sentimento de ressentimento e raiva. Foi como escrever um diário e depois lê-lo para milhares de pessoas. Eu queria que todo mundo soubesse o que eu estava enfrentando. Eu queria que eles ouvissem a minha dor. Era a única forma que eu sabia para me expressar.
Foi triste, de verdade. Eu era esse cantor solo, obeso e nada saudável que suava bicas e usava roupas, no palco, nas quais eu mal cabia. Era de cortar o coração. Eu quase arruinei minha relação com os BSB por causa disso. Eu estava tão enfermo mentalmente naquela época que eu não deixava membros da minha família se aproximarem de mim.

EU QUERIA QUE ELES OUVISSEM A MINHA DOR.

Mas, então, se eu não tivesse feito aquele álbum solo e expressado meus sentimentos eu talvez nunca tivesse sido capaz de distinguir o que era bom e o que era ruim pra minha vida.
Eu descobri que muitos fãs se identificavam com a minha dor e raiva porque eles tinham passado por desafios semelhantes. Eles podiam sentir minha angustia e muitas das letras os faziam se sentir em casa. O álbum foi bem, mas eu esperava poder estar mais preparado pra aquela aventura solo, mais responsável e saudável. Eu acho que poderia ter apreciado mais a experiência e tirado mais da oportunidade que isso representava.
Eu realmente aprendi com os erros que cometi durante aquele tempo, entretanto. Por exemplo, eu descobri que não estava preparado para suportar a carga de trabalho que vem com uma carreira solo. Eu não tinha um plano e não estava confortável em uma posição que exigia de mim um papel de líder. Eu achava que podia apenas cantar e deixar o meu agente fazer todo o trabalho, mas não é assim.
Em alguns aspectos eu fico feliz que minha carreira solo não tenha decolado com aquele álbum. Quem sabe o que podia ter acontecido? Eu poderia não ter tomado a decisão de mudar meu estilo de vida e comportamento. As coisas se acertaram com os Backstreet. Eu estou muito mais feliz e saudável hoje do que eu fui durante anos e eu estou empolgado por estar comemorando 20 anos de muito trabalho e sucesso com o grupo.
Eu estava dando um passo pra fora de várias coisas naquela época. Isso foi bem na época que meus pais estavam se divorciando, finalmente. Eu tinha muitos sentimentos conflitantes sobre isso. Meu pai e eu tínhamos desenvolvido uma amizade maior do que a que tínhamos antes, mas eu me sentia desconfortável quando ele me pedia conselhos e dinheiro. Os esforços do Aaron para estabelecer uma independência econômica e profissional também me forçaram a escolher um lado. Naturalmente, eu fiquei do lado do meu irmão porque eu passei pelas mesmas coisas com nossos pais pelas quais ele estava passando.
Quando eu me tornei uma celebridade com tão pouca idade ninguém me deu um manual de instrução ou avisos sobre como me comportar sob os holofotes da mídia. Eu sentia como se estivesse sob uma lupa com as pessoas me julgando o tempo todo. A pressão me pegou em cheio. Os únicos lugares em que eu me sentia confortável eram no palco e no estúdio. O restante do tempo eu queria fugir e me esconder. Eu só desejava poder ser mais “normal”. Eu lembro do conflito de ter muita responsabilidade, sucesso e poder, mas não me sentir merecedor de nada disso. Parecia que eu desejava tanto a normalidade porque eu sentia que não merecia tudo que eu tinha ganhado. Aquela atitude me levou a ser irresponsável com meu dinheiro, relacionamentos e minha vida. Eu me rebelei contra todas as expectativas que tinham sobre mim. Minha imaturidade, inseguranças e péssimos hábitos que eu adquiri durante a infância rapidamente me levaram a um turbilhão e problemas."

"A DERROCADA”

Quando você falha em aprender com seus erros você não apenas os repete, mas inevitavelmente arruína tudo. Depois do meu 21º aniversário eu estada indo em direção a uma catástrofe. Ninguém estava tentando me derrubar. Era eu quem estava “pilotando meu próprio avião”, por assim dizer, e me dirigindo para um desastre certo.
Maconha foi a minha porta de entrada para as drogas, depois álcool e então, no começo dos meus vinte anos, passei pra fase do Ecstasy e analgésicos com prescrição médica. Eu usei muito Ecstasy durante um período de três ou quatro meses e eu, provavelmente, me arrependo de ter feito uso daquela droga ilegal e perigosa mais do que qualquer outra coisa. Eu temo que a quantidade que eu usei tenha causado alterações químicas no meu cérebro que são responsáveis pelas crises depressivas que eu luto pra controlar.

A PRESSÃO ME ATINGIU.

Como eu disse antes eu achei que era invencível, assim como muitos jovens. Eu estava errado. Nenhum de nós está imune aos efeitos colaterais dessas drogas. Mesmo que você ignore qualquer outro conselho que eu dê nesse livro, por favor aceite de coração o meu alerta sobre o Ecstasy. Essa é uma droga que pode destruir o seu cérebro e arruinar a sua vida. Eu tenho sorte de ela não ter tido um impacto pior em mim. Mas quem sabe quais serão os efeitos daqui pra frente? É muito assustador pensar nisso porque meu cérebro já parece trabalhar de forma diferente de antes.
Por causa dos problemas que eu tive depois de tomar essa droga, em específico, cientificamente conhecido como MDMA (metileno dioximetanfetamina. Nome científico do Ecstasy), eu fiz algumas pesquisas sobre isso e descobri que ela aumenta a atividade da serotonina no cérebro (A serotonina é um Neurotransmissor) responsável por regular o humor, sono, dor, emoção e apetite. O aumento da quantidade de serotonina no cérebro é o responsável pelo barato que o Ecstasy dá. O problema é que esse barato dura aproximadamente duas ou três horas enquanto os efeitos negativos posteriores podem durar muito mais. Os efeitos negativos incluem ansiedade, paranoia, vertigem, problemas de memória e depressão.
Pessoas que usam Ecstasy muito frequentemente dizem ter um estado de espírito sombrio ou uma tristeza profunda durante dias ou mesmo semanas mais tarde. E esse não é o pior problema com o Ecstasy. Existem estudos que apontam que quanto mais você usa essa droga, mais você danifica o seu cérebro, talvez até permanentemente. Ela também tem potencial pra afetar a sua temperatura corporal de uma forma tão drástica que pode te levar a ter uma parada cardíaca e até a morte. Alguns estudos também descobriram que o Ecstasy com outras drogas – especialmente os estimulantes – pode te matar. Ela pode aumentar exponencialmente a sua temperatura corporal ao ponto de desencadear uma hipotermia.
Assim como acontece com muitas das drogas ilegais compradas nas ruas, você nunca sabe o que está recebendo quando você compra o que acredita ser Ecstasy. É muito normal para os traficantes misturarem MDMA com anfetaminas, cafeína ou efedrina para fazer render o seu estoque e ganhar mais dinheiro. Tem aquelas pessoas que misturam Ecstasy com álcool, maconha e outras drogas, usando-as ao mesmo tempo, o que é loucura. Por favor, ouça o que eu estou dizendo, leve a sério o meu aviso e mantenha-se afastado das drogas, especialmente aquelas que podem alterar, permanentemente, as suas funções cerebrais e o seu comportamento.

VIVENDO NO BARATO.

Um dos erros que cometi durante esse período da minha vida foi não me afastar daquele ambiente ou das pessoas que alimentavam meus piores impulsos no que tange à bebidas, drogas e farras. Ser parte dos Backstreet Boys me jogou em um mundo para o qual eu não estava preparado. As tentações que eu encontrei só se tornaram maiores depois que eu me tornei conhecido como um cantor pop. Elas vinham até mim num fluxo louco que parecia não ter fim. Hollywood e Beverly Hills não eram os melhores lugares para eu estar, naquela época da minha vida e carreira. Assim como também não eram os Hamptons, Park Avenue, Greenwich Village e nenhum outro covil dos ricos e sem qualquer decência. Paris Hilton era, provavelmente, a pior pessoa para eu me envolver naquela época. E, claro, foi justamente o que eu fiz.
Eu não a estou criticando de forma alguma. Ela é uma ótima moça em vários aspectos que muitas pessoas não conhecem. Ela só não era a pessoa certa para estar comigo naquele período tão abalado da minha vida. Nós crescemos em mundos diferentes – em alguns momentos pareciam até planetas diferentes. Eu não escolhi meus pais e familiares, assim como ela também não escolheu os dela. Só que, durante sua vida toda, Paris sempre pode ter tudo que quis. Essa não era minha realidade. Então, ao mesmo tempo em que compartilhávamos alguns interesses como música, filmes, viagens e outras coisas, nossos pontos de vista e expectativas eram muito diferentes. Eu acho que, de alguma maneira, nos tornamos muletas um do outro. Nós nos apoiávamos um no outro porque não confiávamos em nós mesmos. Nós éramos novos e o relacionamento era novidade e divertido, mas o “x” da questão é que quando você caça cachoeiras pode acabar caindo em um rio vazio. Eu sou um cara normal, não importa o que eu faça da vida. Eu gosto de coisas simples que todo cara gosta, vídeo game e música. Do meu ponto de vista, o estilo de vida da Paris era extravagante – só extremo demais pra mim.
Não há dúvidas de que eu e a Paris tivemos uma atração física muito forte. Nós namoramos por aproximadamente sete meses em 2003, então obviamente existia uma conexão. Mas no começo do nosso relacionamento ela disse pra um amigo meu que ela tinha fotos minhas coladas na parede do seu quarto quando era adolescente. Eu acho que ela me via como o astro pop ao invés do cara que eu sou por baixo disso. Eu não fiquei surpreso, mas, ainda assim, me incomodava um pouco. Paris não namora caras trabalhadores. Ela sempre namorou celebridades e outras pessoas ricas e famosas.

NÓS NOS APOIÁVAMOS UM NO OUTRO PORQUE NÃO CONFIÁVAMOS EM NÓS MESMOS.

Eu acho que ela entende que ser uma celebridade é um meio para um fim (Conhecido no Brasil como os fins justificam os meios”) Muitas outras pessoas pensam da mesma forma e eu digo “Deus os abençoe”, mas eu não estava tão interessado em ser famoso quanto estava em fazer música e entreter pessoas, me criando sobre os meus pontos fortes e usando meus dons. Fama é só algo que veio com o sucesso enquanto artista. Eu quero fazer coisas que melhore e faça a diferença na vida das pessoas.
Ainda assim, por bem ou por mal, a Paris me via como uma celebridade e como tal, o seu “tipo”. Eu admito que me sentia curioso por ela e seu estilo de vida esbanjador. Quem não se sentiria? Mas eu rapidamente entendi que não pertencia ao seu círculo de amizade.
Eu nunca vou esquecer de quando fui com ela a uma festa do branco, comemorando o quatro de Julho, organizada por Puffy’s (Sean ‘P.Diddy’ Combs), nos Hamptons, em 2004. Nós fomos até lá de helicóptero. Eu nunca tinha chegado em uma festa desse jeito, antes. Eu odeio helicópteros. Quando eu me apresentei pela primeira vez com os BSB na Alemanha nós deveríamos voar em um, com algumas crianças, pra um evento de caridade. Nós perdemos o horário da decolagem e o helicóptero caiu, matando quase todo mundo que estava a bordo. Por um longo período eu ficava petrificado de medo que aquilo pudesse acontecer de novo. Mas eu tirei isso da cabeça naquela tarde da festa e nós pousamos em segurança em uma propriedade de 12,500 quitares (161.288 m²), onde ficava uma mansão de propriedade da Sony. A mansão de seis acres (2.428113m²) ficava situada em Bridghampton e era chamada de PlayStation 2 Estate. Paris estava, supostamente, dividindo as honras da festa com Puffy e JayZ.
Nós não estávamos nos dando bem aquele dia. Eu me sentia um peixe fora d’água. Foi estranho pra mim porque eu me lembro de ficar sentado em um sofá olhando ao redor e não reconhecendo ninguém enquanto ela socializava com todos. De várias formas eu não queria estar lá. Eu me senti desconfortável e deslocado – como um cachorro perdido, sem saber o que fazer ou com quem conversar. Talvez porque eu tenha ficado abandonado por horas sem fim enquanto ela fazia o que tinha que fazer.

FAMA É SÓ ALGO QUE VEIO COM O SUCESSO ENQUANTO ARTISTA.

Talvez minha experiência tivesse sido melhor se eu não tivesse ido com ela. Naquela noite eu senti que as pessoas me viam como seu brinquedinho. Eu tenho certeza que se eu voltasse lá, hoje, com meu novo e mais saudável estilo de vida e mentalidade eu, provavelmente, me adaptaria melhor. Eu estava lá com uma pessoa que eu não tinha certeza que se importava comigo. Frequentemente eu sentia como se ela estivesse me usando, mas ninguém me diria isso. Eu tentei cair fora do relacionamento muitas vezes porque não conseguia me livrar da sensação de que tinha algo acontecendo pelas minhas costas.
Tinham algumas pessoas naquele círculo social ultra rico que pareciam falsas e desalmadas, pra mim. Depois de ficar exposto a esse estilo de vida por um tempo, eu decidi que não era saudável, pra mim, continuar lá ou continuar meu relacionamento com a Paris.
Viver daquela forma não era pra mim. Eu admito que andar com pessoas que estão dispostas a te levar pra aquele estilo de vida de mimos e riquezas pode ser bem sedutor no começo, mas, pessoalmente, eu não queria ficar preso nisso por muito tempo.
Paris e eu seguimos caminhos diferentes principalmente porque tínhamos diferentes visões da vida. Essa foi uma das vezes em que me dei conta de que ficar preso em um relacionamento e ambiente não saudáveis era um erro, então eu sai. Mas, durante esse tempo, eu cometi muitos outros erros, e muitas vezes tornava-os pior.

OPORTUNIDADES PERDIDAS.

Um dos meus objetivos mais antigos é poder atuar em filmes e televisão, então quando eu fui escalado para o filme The Hollow, em 2004, eu fiquei feliz por estar dando um primeiro, e grande, passo naquela direção. Mas um dos grandes erros que eu cometi, como mencionei acima, foi ter desperdiçado essa oportunidade por ter dificuldade em manter o foco. Era a chance ideal para desenvolver minhas habilidades de atuação. Ao invés disso, eu farreei demais.
Uma noite um dos outros atores do filme foi comigo até a praia de Santa Monica e nós ultrapassamos todos os limites. Nós nos sentamos perto do píer e bebemos até quase desmaiarmos. Eu tinha levado meu violão e estava tocando, mas não conseguia parar de beber. Nós tínhamos começado no meu apartamento virando mais ou menos dez Flaming Dr. Pepper, feito com rum 151 (75 por cento de teor alcoólico, duas vezes mais que o nível normal) e licor de amêndoa jogado dentro de um copo de cerveja.

...FOI TER DESPERDIÇADO ESSA OPORTUNIDADE POR TER DIFICULDADE EM MANTER O FOCO.

Nós ateávamos fogo e bebíamos um atrás do outro mesmo antes de irmos pra praia. Eu levei a garrafa de rum conosco pro píer e então nós só bebemos e bebemos até eu desmaiar.
Quando eu acordei eu estava de volta ao meu apartamento, assustado pra cacete porque não sabia como tinha chegado lá ou o que tinha acontecido antes disso. Desmaiar daquela forma era normal quando eu bebia pesado demais.
Eu acho que estava intoxicado porque assim que acordei eu fiquei enjoado. Eu engatinhei até o banheiro e fiquei no chão por três ou quatro horas achando que ia morrer. Então, por alguma razão, eu decidi que precisava comer. A única coisa que eu consegui encontrar na cozinha foi um pacote de Cheerios. Eu comi a caixa toda, ainda achando que não sobreviveria.
Eu tinha que trabalhar no set de The Hollow aquela noite, mas como eu não tinha estudado minhas falas ou dormido eu acabei chegando lá despreparado, enjoado e com uma aparência horrível. Eu não dei a devida importância pra essa experiência ao invés de me preparar e tirar o melhor disso. Eu ainda era capaz de fazer o que tinha que fazer, mas meu rosto estava tão inchado, eu pude ver o quão cansado e doente eu estava no filme final. Embora, de alguma forma, eu tenha conseguido chegar ao final da noite, eu sei que agi de forma muito irresponsável. Eu poderia ter feito muito melhor.
Claro, eu decorei minhas falas. Eu apareci e fiz o meu trabalho, mas ainda assim eu me sinto mal por não ter aproveitado melhor a experiência. Se eu tivesse me comprometido a fazer o meu melhor meu desempenho poderia ter me ajudado a me estabelecer na carreira artística que eu queria. Ao invés disso, eu cai na farra como se meus objetivos não fossem importantes. Esse foi outro ponto baixo, pra mim. Minha mente estava vagando por lugares que eu não queria que ela fosse. Eu poderia estar dirigindo e me via pensando nos piores cenários possíveis. É como se meu subconsciente estivesse procurando por formas de criar drama e negativismo.

MINHA MENTE ESTAVA VAGANDO POR LUGARES QUE EU NÃO QUERIA QUE ELA FOSSE.

Uma noite eu estava tomando analgésicos com álcool e eu lembro de ter voltado pro meu condomínio, ter ido pra cama, ouvir meu coração bater e sentir como se eu tivesse desmoronando de dentro pra fora. Eu ficava paranoico as vezes, me preocupando que se meu coração parasse de bater ninguém iria se importar de eu ter morrido. Eu sempre me surpreendia com esse pensamento, de que minha morte seria noticiada apenas como mais uma tragédia de celebridade, mais uma história de abuso de drogas e um desperdício de vida e talento.
Mas, apesar desses medos, eu parecia nunca aprender com meus erros.

INDO EM DIREÇÃO A UM DESASTRE.

Never Gone, o primeiro álbum dos Backstreet Boys em dois anos, estava previsto pra ser lançado no verão de 2005. Nós estávamos totalmente concentrados nos ensaios para uma turnê promocional que incluiria 79 shows nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia e Austrália. Eu precisava estar na minha melhor forma. Mas, como vocês já devem ter adivinhado, eu não estava. Eu estava obeso e fora de forma e precisando urgentemente me
Ajeitar.
Ao invés disso eu mergulhei de cabeça no desespero.
E um dos raros dias de folga dos ensaios e reuniões eu fui com alguns amigos até Newport Beach e Huntington Beach e farreei o dia todo. Eu gostava de sair da cidade porque eu podia fazer as minhas coisas sem ser pego. Eu também gostava daquelas praias.

AO INVÉS DISSO EU MERGULHEI DE CABEÇA NO DESESPERO.

No caminho até lá eu e meus amigos estávamos ouvindo heavy metal no meu carro. Naquela época esse era um gênero musical com o qual eu realmente podia me relacionar. Eu sentia como se tivesse falando pra mim. Nós estávamos curtindo tanto que estávamos batendo cabeça e agindo como loucos. Leve em consideração que eu amo todos os tipos de música e sou um grande fã de bandas de hard rock como System of a Down, Slipknot e Metallica, pra nomear algumas, então não estou dizendo que o heavy metal foi o culpado. Essa não era a razão pela qual eu agi da forma que agi naquele dia ou em qualquer outro dia. Mas quando você tem muita raiva e ódio apodrecendo dentro de você arruma um jeito de alimentá-las e, infelizmente, a letra de algumas daquelas música são tudo de que o ódio e a raiva precisam pra se alimentar, algumas vezes. Ao mesmo tempo, enquanto algumas pessoas usam heavy metal e rap para alimentar a sua raiva, outras são perfeitamente capazes de ouvir as mesmas músicas e separar entretenimento de realidade. Uma mente saudável pode fazer isso. Infelizmente minha mente e minhas emoções não eram saudáveis naquela época. Na verdade elas estavam fora de controle quando estacionamos em um restaurante de frente pra água perto o píer em Huntington Beach. Nós estávamos fazendo a mesma rotina por semanas durante meus intervalos de trabalho, encontrando com amigos e indo em uma série de bar das redondezas. Nós jogávamos sinuca e bebíamos o dia todo, virando doses até perdermos a noção do tempo. Alguns dos funcionários dos bares pareciam ter medo de nós por seremos tão selvagens.
Nós finalmente fomos expulsos de um dos lugares, então fomos pra outro bar e foi ai que eu comecei a ter desmaios. Quanto mais eu bebia, mais agitado e triste eu ficava. Eu sentia essa onda de raiva e ressentimento contra meus pais. Os sentimentos borbulhavam dentro de mim. Eu não conseguia parar de pensar em como eu tinha perdido tanta diversão durante os meus anos de adolescência porque eu tinha que trabalhar duro pra agradar e apoiar minha família. Os pensamentos de que eu tinha que compensar o tempo perdido continuavam, obsessivamente, ocupando meu cérebro.
Aparentemente eu decidi que a forma de recuperar aqueles anos era me permitir beber incontrolavelmente. Eu justificava meu comportamento dizendo a mim mesmo que isso era o equivalente aos meus anos de colégio. Toda vez que eu bebia eu me tornava suscetível a todos aqueles assuntos inacabados e relacionados as bebedeiras e brigas e falta de atenção dos meus pais. Então, eu repetia o comportamento deles e bebia e brigada também.
Nós podemos, facilmente, cair nos padrões de vida que nos são mais familiares, como eu já disse. Meus pais bebiam, então eu bebia. Eles brigavam, eu brigava. Eles tinham um relacionamento disfuncional, eu também.

QUANTO MAIS EU BEBIA, MAIS AGITADO E TRISTE EU FICAVA.

Mas, por causa do meu sucesso com os Backstreet e a fama e o dinheiro que isso me trouxe eu acabei atraindo muitas pessoas que extraiam o pior de mim. Eu sabia que estava com más companhias, tomando más decisões, e indo em direção a uma catástrofe e, mesmo assim, eu não fazia nada para me prevenir disso. Um erro levava a outro e outro até que um desses dias se tornou um dos piores pra mim.
Eu estava tão bêbado, no último bar, e perto de desmaiar, mais uma vez, que eu me peguei no chão do banheiro. Eu estava tão aficionado pela musica que ouvimos no caminho desde Santa Monica. Quando mais eu bebia, mais satânica a música parecia. Normalmente a batalha entre o bem e o mal não é uma tópico constante no meu pensamento, mas nesse dia meu estado de espírito estava tão transtornado pelo uso de droga e álcool que logo as mensagens negativas da letra voltaram gritando estridentemente dentro da minha cabeça.
As músicas eram repletas de menções ao diabo e elas estavam me apavorando. Totalmente fora de mim, com imagens e pensamentos perturbadores correndo dentro da minha cabeça como morcegos, eu me peguei pensando: De toda forma, o que há de tão ruim assim sobre o diabo? Por que Satã foi expulso do paraíso? Pode tudo isso ter sido apenas um mal entendido?
A mente é uma péssima coisa de se perder, e eu estava perdido. Eu, de repente, percebi que estava pensando em voz alta, também. Um grupo formado pelos meus amigos bêbados e outros tantos estranhos estava reunido no banheiro me ouvindo divagar sobre o diabo e o lado obscuro. Eu sentia que estava no fundo de um buraco negro. As pessoas me olhavam como se cobras estivessem saindo de dentro da minha cabeça.
Por que o mal é tão mau? Por que o diabólico é diabólico? Por que Satã recebeu tamanho castigo?
Essas não são, necessariamente, más perguntas para uma aula de teologia ou filosofia, mas eu era um bêbado falastrão largado perto dos mictórios. Então, pra deixar tudo pior, eu resolvi me mover. De alguma forma eu me levantei e fui tropeçando pra fora do banheiro e do bar, indo em direção ao restaurante de frente pro mar onde eu tinha deixado minha BMW 750 estacionada, naquela manhã (embora parecesse que eu o tinha feito duas semanas antes).
O manobrista deu uma boa olhada no meu estado e, pro seu bem, me disse: “Eu não vou te dar as chaves do seu carro.”

A MENTE É UMA PÉSSIMA COISA DE SE PERDER, E EU ESTAVA PERDIDO.

Eu explodi com o cara, embora ele estivesse apenas fazendo o seu trabalho e tentando salvar a minha vida e a de outras pessoas, mas ele não se intimidou. Eu me acalmei e, depois de um breve momento de coerência, eu prometi a ele que eu deixaria algum dos meus outros amigos dirigir.
Um dos membros do meu grupo conseguiu se fazer passar por sóbrio tempo o suficiente para ele entregar as chaves. Ele dirigiu por dois quarteirões, parou o carro, me deu as chaves e nós trocamos de lugar.
Naquele momento nós achamos que éramos os fodões mais espertos, mas eu só dirigi por alguns quarteirões antes de mudar de ideia e parar no acostamento da estrada, tentando ficar sóbrio.
Nós ainda estávamos parados e ouvindo música quando um comboio de carros da polícia de Huntington Beach, com as sirenes ligadas, nos cercou. Eu achei que o manobrista tinha ligado pra polícia e, se ele o fez, eu sou imensamente grato. Ele pode ter salvado a minha vida e a de outras pessoas.
Pelo menos é assim que eu me sinto agora. Mas quando aqueles carros de patrulha chegaram berrando a nossa volta eu não estava muito inundado de gratidão. Os policiais não perderam tempo. Eles me deram um teste de sobriedade pra fazer, ao qual eu falhei lindamente.
Era apenas 7:30 da noite, mas nós tínhamos começado cedo. Nós tínhamos partido aquela manhã decididos a beber até ficarmos burros. Missão cumprida.
Essa foi a minha primeira visita à prisão como um convidado de desonra. Eles me colocaram numa cela, sozinho. Eu estava exatamente atrás da área onde os policiais estavam trabalhando e andando com as outras pessoas que eles tinham prendido. Eu estava disponível pra todos verem. Eu me senti como um rato preso. Eu só queria engatinhar pra um buraco e me esconder.

EU ME SENTI COMO UM RATO PRESO.

Eles me mantiveram preso por aproximadamente oito horas antes de me soltarem. Ninguém                foi me buscar. Eu tive que encontrar um taxi pra me levar pra casa. Essa era uma nova queda, mas não o ponto mais baixo que eu atingi. Olhando pra trás, eu sinto como se eu estivesse sendo testado. Eu estava aficionado no que era diabólico e eu fui preso. O diabo me deu o que eu pedi. Talvez se eu estivesse tendo pensamentos bons eu tivesse experimentado coisas melhores.
Eu gostaria de dizer pra vocês que eu aprendi com esse erro terrível e, imediatamente, dei uma virada na minha vida, que eu parei de beber e usar drogas naquele exato minuto. Infelizmente, não foi o caso. Eu tinha me ferrado lindamente, mas não estava preparado para aprender com aquele péssimo acontecimento, mudar meu estilo de vida e seguir em frente.
O juiz que cuidou do meu caso, de fato, me forçou a dar um passo nessa direção, entretanto, me obrigando a frequentar as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Ir naquelas reuniões foi um pé no saco porque eu estava com uma agenda absurdamente louca por causa do lançamento do álbum novo. Mas o juiz não queria saber. Ele estava tentando fazer por mim o que eu não conseguia.
A corte mandou que eu fosse a treze reuniões. Eu fui em todas. Embora o programa de Alcoólicos Anônimos tenha visto milhões de pessoas como eu, eu não fui uma das suas histórias mais bem sucedidas – pelo menos não de primeira. Mas eles definitivamente tiveram sucesso ao acender algumas luzes onde antes só tinha escuridão.
Finalmente eu comecei a me tornar ciente do que eu já sabia a algum tempo, mas tinha ignorado – que o álcool é uma droga que vicia e uma poção de depressão e não de felicidade e, certamente, não é a cura pra todas as inseguranças e ressentimentos que eu nutri desde a minha infância. Pra ser honesto eu resisti a muito do que eles disseram na primeira reunião do AA porque, assim como muitos jovens, eu achava que o material deles não se aplicava a mim. Eu não me considerava um alcoólatra. Eu só gostava de me divertir. Eu bebia e ficava bêbado, mas eu tinha certeza que podia parar quando quisesse.

ELE ESTAVA TENTANDO FAZER POR MIM O QUE EU NÃO CONSEGUIA.

Os companheiros de AA já tinham ouvido tudo aquilo antes. Na verdade, eles já tinham ouvido toda e qualquer desculpa esfarrapada e negação que existe. Eles tiveram um trabalho Naquelas sessões do AA eu, pelo menos, aprendi sobre a ciência do álcool e seus impactos no corpo, mente e espírito. Eles também me ensinaram sobre janelas de oportunidades, quando nós recebemos a chance de mudarmos a direção das nossas vidas. Algumas pessoas chegam ao fundo do poço e, ainda assim, não é baixo o suficiente pra eles. Não deixe isso acontecer com você.
Eu continuava espantando a ajuda até me afundar ainda mais naquele buraco negro que eu tanto falo, e que estava se tornando um lugar altamente assustador.
Depois da minha prisão por dirigir sob o efeito de substancias ilegais eu joguei fora a chance de recolher os cacos e seguir em frente. Eu cometi erros ainda maiores. Eu tenho muita sorte de ter sobrevivido.

EU TENHO MUITA SORTE DE TER SOBREVIVIDO.

Mesmo assim, depois de ter completado o curso do AA, eu disse pra todo mundo que eu era um novo homem. Eu talvez tenha acreditado nisso por um tempo, mas depois de pouco tempo eu voltei à minha vida de farras.
A única lição que realmente ficou é a de que eu não deveria mais beber e dirigir, o que foi bom, mas não bom o suficiente.


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