CAPÍTULO CINCO
Eu finalmente cheguei no fundo do fundo
do poço em uma noite de 2006. Eu estava com 26 anos e tinha passado
praticamente metade da minha vida cavando cada vez mais e mais fundo, em
negação. A triste ironia é que enquanto eu estava me autodestruindo através do meu
vício em álcool e drogas, eu também estava vivendo meu sonho e o sonho de um
sem número de outras pessoas enquanto um membro dos Backstreet Boys. Eu tinha tudo e quase mandei
tudo para os ares.
Minha vida despencou, de vez, pra um
abismo escuro no dia que eu chamo de noite dos zumbis.
Minha galera de Hollywood estava totalmente focada em bebedeiras, em beber compulsivamente, o que era comum não apenas no nosso círculo social, mas também em todo o país. Beber compulsivamente é normalmente definido como ter ingerido mais de cinco doses ou bebidas alcoólicas durante um período de três horas, resultando em uma profunda perda de noção, direção e força. Quase a total maioria dos caras que bebem com essa finalidade ingerem bem muito mais que isso em uma noite. Muitos, também, se arriscam e aumentam os riscos contra sua saúde usando drogas como cocaína, Ecstasy, metanfetamina ou maconha.
Minha galera de Hollywood estava totalmente focada em bebedeiras, em beber compulsivamente, o que era comum não apenas no nosso círculo social, mas também em todo o país. Beber compulsivamente é normalmente definido como ter ingerido mais de cinco doses ou bebidas alcoólicas durante um período de três horas, resultando em uma profunda perda de noção, direção e força. Quase a total maioria dos caras que bebem com essa finalidade ingerem bem muito mais que isso em uma noite. Muitos, também, se arriscam e aumentam os riscos contra sua saúde usando drogas como cocaína, Ecstasy, metanfetamina ou maconha.
Nós bebíamos cerveja e virávamos dose
atrás de dose até chegarmos a um estado de semi-coma, quando o álcool nos
deixava sonolentos e letárgicos. Então nós cheirávamos uma carreira de cocaína
para ganharmos um pouco de energia extra. Algumas latas de Red Bull teriam
sido mais baratas, legais e nem remotamente tão perigosas para nossa saúde, eu
sei, mas bêbados não são exatamente reconhecidos pelo seu bom senso.
Minha
galera fazia das farras um esporte extremo. Nós repetíamos aquela rotina de beber e usar cocaína
noite após noite. Depois de alguns meses nós praticamente não
funcionávamos mais. Eu
sentia como se não fosse nada além de uma concha oca.
Mais de uma vez eu pensei: Eu posso inclusive
estar morto. O fundo do poço chegou em
uma noite que começou como todas as outras desde que eu tinha me mudado para
Santa Monica com um amigo. Nós saímos pro circuito, primeiro paramos em uma
festa de um estúdio de gravação e depois fomos para alguns clubes e retornando
para a festa no estúdio, pra fechar a noite.
MAIS DE UMA
VEZ EU PENSEI: EU POSSO INCLUSIVE ESTAR MORTO.
Nós
éramos os últimos a sair. Eu
não sei dizer o horário exato em que saímos, mas o sol estava começando a
nascer. Durante toda a noite e até o amanhecer nós bebemos, cheiramos cocaína e
usamos outras drogas, talvez até Ecstasy. Eu não lembro muito por causa
da neblina que se formou em decorrência dos tóxicos, narcóticos e alucinógenos,
mas eu tenho uma vaga lembrança de uma parte daquela noite, que ainda me
assombra até hoje. Eu
estou andando pelos clubes, o estúdio e as ruas de Hollywood. Todas as pessoas
que eu vejo tem o olhar vidrado. Seus olhos parecem vidros. Eles parecem não
ter alma ou consciência, como zumbis. A parte mais assustadora dessas imagens é
que eu pareço exatamente como um deles. Eu também me tornei um zumbi.
Eu e
meu amigo, que dividia a casa comigo, queríamos ir embora assim que saímos do estúdio,
mas não tinham taxis e nós não tínhamos a menor condição de andar. Bêbados e delirando,
nós tropeçamos de rua em rua durante uma hora ou duas, tentando achar um taxi.
O único transito parecia ser de ônibus escolares cheios de crianças limpas e
sorridentes, o que parecia ainda mais surreal dado o nosso estado maltrapilho e
nossa paranoia.
Caminhando
entre os grupos de meninos e meninas carregando suas mochilas do Bob Esponja e
Hello Kitty nós éramos como dois delinquentes vagando em Pleasantville (Filme
no Brasil conhecido como “A Vida em Preto e Branco”). As crianças nos olhavam
com desdém e medo. Eu juro que se seus pais lhes tivessem dado sprays de
pimenta, eles teriam usado quando nos viram chegar.
Eu
só esperava que eles não me reconhecessem e gritassem “É o Nick Carter dos
Backstreet Boys!!” Pensar que eu poderia ser visto daquela forma fez meu
estomago embrulhar. Eu não me sentia digno dos nossos fãs, naquele momento. Eu
tinha nojo de mim mesmo por estar naquela condição em um horário em que pessoas
normais e sãs estavam começando o seu dia produtivo. A minha auto repulsa só
piorou quando tentamos entrar em um ônibus. O motorista nos deu uma boa olhada, ambos completamente
acabados e exaustos na calçada e fechou a porta na nossa cara.
ELES
PARECEM NÃO TER ALMA OU CONSCIÊNCIA, COMO ZUMBIS.
Muito
esculachado para entrar em um ônibus metropolitano? Essa foi, definitivamente,
uma nova queda em direção ao fundo. Finalmente nós encontramos um taxi e
voltamos pra nossa casa em Hollywood. Nós morávamos nessa casa há uma semana
então praticamente não tínhamos móveis ou comida. Eu tentei dormir, mas minha
cabeça rodava e meu estomago roncava.
Eu me apavorei e fui até a cozinha para procurar alguma coisa que aliviasse
minha dor de estomago. Me dando conta de que eu não tinha comido nada desde o almoço do dia anterior
eu achei uma sopa cremosa de cogumelo e tentei prepará-la.
Fazer
uma coisa tão simples quanto uma sopa, naquele estado, parecia mais complicado
do que fazer uma refeição completa, com cinco pratos, sóbrio. Meu colega cambaleou
até a cozinha. Ele também não conseguia dormir. Ele também parecia estar se
sentindo péssimo. Nós andamos ao redor um do outro sem trocar uma palavra. Nós estávamos
tão fora de órbita que era estranho. Mais tarde ele me contou que também sentiu
fome ao mesmo tempo que sentiu dor de estomago. Nós dois tínhamos essa sensação de que precisávamos
desesperadamente de comida só pra conseguir sobreviver por mais um minuto.
Eu
consegui esquentar a sopa e engolir goela abaixo. Meu estomago melhorou depois
que eu comi, mas minha cabeça latejava como se estive gritando “código azul,
código azul!” (Códigos utilizados pelos médicos. Código azul geralmente é
utilizado pra indicar uma situação de parada cardíaca. Informalmente serve para
alertar de uma situação de risco que aumenta progressivamente.)
Era como
se uma criatura do mal tivesse invadido meu corpo e estivesse martelando no meu
cérebro. Cego de dor eu
cambaleei de volta para o meu quarto, rezando pra desmaiar antes que o clamor
aumentasse. Eu cometi o erro de olhar no espelho no caminho de volta pra
cama. O cara que eu vi,
lá, era um estranho muito assustador.
Meu rosto estava inchado, de um jeito
que você só veria num daqueles espelhos engraçados. Meu corpo estava duas vezes
mais largo do que o normal devido aos 25 quilos a mais que eu tinha ganhado em
consequência das bebedeiras,
comilanças e falta de exercício. Minha pele estava acinzentada, beirando o
transparente. Meus olhos estavam inchados e vermelho sangue. Eu tinha
envelhecido uns mil anos. Eu realmente parecia um zumbi – como o fantasma do meu tataravô.
Na hora eu pensei: Eu
não sei mais que eu sou. Então eu entrei em pânico. Esse
não sou eu.
Esse não é quem eu sou ou quem eu quero ser. Eu mereço
mais. Eu posso ser melhor que isso.
Eu
nunca tinha estado tão assustado emocionalmente, mentalmente e fisicamente. Eu
temia pela minha vida. Meu
corpo parecia estar ruindo e meu cérebro não estava muito longe disso. Eu
achei meu celular e liguei pra minha agente de relações públicas.
“Eu
preciso ir para a reabilitação. Você me leva?”
COMPULSÃO
POR ESQUECER.
Quando
você bebe compulsivamente é como se uma densa nuvem ocupasse sua cabeça. Eu fiz
coisas que jamais faria em sã consciência. Eu estava constantemente virando a
noite e a contagem de células mortas do meu cérebro só crescia. Eu estava
fazendo loucuras, coisas impulsivas e espontâneas sem pensar nas consequências.
“É o que é” ou “É a vida.”
NA
HORA EU PENSEI: EU NÃO SEI MAIS QUE EU SOU.
Eu não estava enfrentando meus
demônios; eu estava dançando com eles. Não é à toa que as pessoas
que se importavam comigo estavam acenando para mim. Nota mental: Quando aqueles que realmente se importam com você e
tem os seus melhores interesses em consideração estão acenando, na sua cara,
com bandeiras vermelhas e gritando “Pare!” e falando sobre uma intervenção
talvez, apenas talvez, você esteja realmente parado à beira do abismo.
A
ironia é que enquanto eu ignorava ou argumentava com as pessoas que estavam
tentando me ajudar a evitar um colapso completo, em decorrência do meu abuso
crônico de substancias, eu acabei me torneando paranoico em relação a outras
ameaças. Mais de uma vez
eu cancelei viagens áreas no último minuto porque eu tinha visões de acidentes.
Em algumas ocasiões eu já estava dentro do avião quando o pânico tomou conta de
mim e eu sai correndo antes que as aeromoças conseguissem fechar a porta,
deixando minhas malas viajarem sem mim. Todo mundo tinha um pouco de
receio de voar depois dos ataques terroristas de 11/09, mas minha paranoia me
levou pra fora dos limites da sanidade. Em um determinado momento eu até
considerei comprar uma cabana num lugar remoto do Canadá e me esconder, eu
estava certo de que o mundo se encaminhava para o caos.
EU
NÃO ESTAVA ENFRENTANDO MEUS DEMÔNIOS; EU ESTAVA DANÇANDO COM ELES.
Eu
tenho certeza que algumas pessoas estavam se divertindo com o meu comportamento
irregular, mas era um problema muito sério. Meu terapeuta e eu temos conversado
sobre esse período. Hoje eu percebo que as drogas e o álcool no meu sistema
alteraram tanto os processos químicos do meu cérebro que eu não estava pensando
ou agindo como eu mesmo. Eu
realmente era um estranho. Eu tinha perdido minha personalidade pra todas as toxinas
no meu sistema. Eu não era quem eu deveria ser.
Eu
posso ter dito a mim mesmo e aos outros que eu estava apenas recuperando o
tempo perdido porque eu tinha trabalhado muito quando era mais jovem, mas a
dura realidade é que eu usei a minha juventude
perdida como desculpa para abandonar todas as minhas responsabilidades e
autocontrole.
“INCAPACITADORES.”
Hoje eu assumo total
responsabilidade pelo meu comportamento durante esse período bem feio da minha
vida. Um dos meus maiores erros, naquela época, foi me rodear de “incapacitores”
(Essa palavra que não existe no português; a palavra original é “disablers”.
Aquele que torna incapaz ou, mais precisamente, incapacitadores.)
Eles
podem ter sido capacitadores no sentido de que eram bêbados compulsivos e
usuários de droga que farreavam dia e noite e que me encorajavam a fazer o
mesmo, mas eles também eram “incapacitadores” porque estar com eles só trouxe à
tona o pior de mim. Tenha em mente que os “incapacitadores” não devem ser
culpados porque eu deixei tudo aquilo acontecer,
sem dúvidas. “Incapacitadores”, entretanto, devem ser evitados.
Eu entendi,
depois de muita reflexão, que eu tinha medo de ficar sozinho com meus demônios.
Me rodear de outros bêbados compulsivos e usuários de droga me fazia sentir melhor
com meu estado de torpor noite após noite. Eu não queria ficar sozinho e nem com pessoas que
questionassem o meu comportamento autodestrutivo. Eu tinha medo disso, mesmo
sabendo, de coração, que os verdadeiros amigos só querem o seu melhor, não o
seu pior. As pessoas que
realmente se importam com você irão dizer na sua cara que você está caminhando
pra um desastre. Verdadeiros amigos te capacitam e te ajudam a se
reerguer com suas próprias forças ao invés de te encorajar a ceder para as suas
fraquezas.
Quando
eu estava no modo bêbado e drogado eu escolhi ignorar os sinais de alerta que
eu via quase que toda noite, mas esses sinais ficaram gravados no meu cérebro,
como se meu subconsciente estivesse persistindo nos seus esforços de me passar
uma mensagem. Eu lembro de ir aos bares e clubes com o meu grupo de amigos,
noite após noite, e ver pessoas que me faziam temer pelo meu futuro caso eu não
mudasse meus modos.
VERDADEIROS
AMIGOS TE CAPACITAM E TE AJUDAM A SE REERGUER COM SUAS PRÓPRIAS FORÇAS...
Tinha
um grupo de zumbis velhos, na
casa dos seus cinquenta e sessenta anos, que nunca abriram mão do seu estilo de
vida de grandes bebedeiras e consumo de drogas. Alguns membros do nosso grupo
eram amigos deles, como se fizessem parte do mesmo clube, mas eu tinha dúvidas.
Mais
de uma vez eu olhei pra eles e pensei, Esse
sou eu. Em trinta anos eu estarei andando por esses mesmos bares e a vida
passando por mim.
Ainda
assim, mesmo quando pensava dessa forma eu não me virava e saia. Eu tinha medo de
enfrentar a verdade sobre mim mesmo refletido nos seus olhos e corpos tão
devastados pelo alcoolismo e abuso de drogas. A miséria realmente gosta de
companhia. Eu não queria sair com pessoas limpas porque elas iriam me fazer
sentir culpado e estúpido, mas os “incapacitadores” ajudaram a me convencer de
que todo mundo bebia compulsivamente e usava drogas. Nós dizíamos a nós mesmos
que éramos animais de festas vivendo uma vida boa. Era tudo mentira. As pessoas que usam drogas podem
dizer que estão se divertindo, mas no fundo eles são pessoas angustiadas,
rejeitadas e tristes. Eles estão perdidos e não sabem como se encontrar.
Se
você está nesse mesmo caminho, por favor, me deixe te ajudar. Não espere que as
coisas mudem. Você precisa mudar antes. Eu estou compartilhando minhas
histórias para te ajudar a ver a realidade da sua situação. Eu não quero,
nunca, que você passe pelo mesmo horror.
Eu
sou o seu melhor exemplo de um mau exemplo. Não me siga. Siga os meus avisos.
Cedo
ou tarde todos nós teremos que enfrentar os nossos demônios ou eles irão nos
destruir. Olhando no espelho eu vi o homem esgotado e atormentado que eu tinha
me tornado e jurei recuperar o homem que eu gostaria de ser. Eu ainda estou
nessa batalha. Alguns dias eu ganho. Em outros dias eu tenho pequenas quedas.
VOCÊ
PRECISA MUDAR ANTES.
Não
é fácil, mas a cada dia lutando pela minha vida é muito melhor do que a agonia
de passar as noites em meio a zumbis. Você também vai se sentir assim, embora
eu espere que você nunca caia tão fundo quanto eu caí.
Por acaso eu mencionei que eu me tornei
um fumante habitual nesse período, também?
Todos
nós sabemos que não existe nada “melhor”, pra um cantor profissional, do que
cigarros!
Você
já leu os relatos médicos sobre os efeitos de fumar e beber excessivamente simultaneamente?
Ou beber compulsivamente? É muito assustador. Eu espero que esteja claro, pela
minha própria experiência, que não existe nada de divertido nisso. Eu não tenho
orgulho de nada disso. Eu
tremo quando escrevo sobre isso e ainda sinto medo por eu ter colocado minha
saúde mental e física em risco. Durante muito tempo eu não lidei com os meus demônios e
eu paguei um preço por isso. Mas uma das coisas mais assustadoras é que
eu não sei qual o preço total disso porque, por tudo que eu fiz ao meu corpo,
ainda podem existir danos que só se revelarão ao longo do tempo.
Durante
esse período eu, claramente, deixei meus problemas, medos e emoções ditarem as minhas
ações quando eu deveria ter tomado o controle. Mesmo quando eu sentia que
estava caindo a toda velocidade e meus amigos e familiares estavam soando os
alarmes, eu ainda me recusava a enfrentar os meus demônios. Eu me escondi deles
bebendo, usando drogas e fumando.
Se
você tem demônios semelhantes você pode ficar mais inclinado a lidar com eles
se entender o que beber compulsivamente, usar drogas ilegais, fumar e outros
vícios semelhantes e comportamentos autodestrutivos podem fazer com você. Um
dos passos mais difíceis na minha luta pra construir uma vida melhor foi me
comprometer a me reeducar o máximo possível. Eu parei de viver como se não me
importasse com o futuro. Ao invés de ignorar ou minimizar os avisos que os
outros estavam me dando eu comecei a investigá-los para ver se existia algum
crédito neles. O que eu aprendi me assustou tanto que decidi procurar outro caminho.
Talvez também vá te ajudar.
FARREANDO
ATÉ A MORTE.
Quando
eu relembro meus dias de beber compulsivamente e usar drogas eu vejo uma contradição
que não via naquela época. Eu costumava ver os velhos zumbis nos bares e clubes
e pensar neles como alcoólatras e drogados. Mas a verdade é que eu e meus
amigos estávamos bebendo e usando bem mais drogas do que a maioria deles. Nós não nos víamos como
alcoólatras ou drogados. Nós pensávamos que estávamos apenas nos “divertindo”.
EU
PAREI DE VIVER COMO SE NÃO ME IMPORTASSE COM O FUTURO.
Nós
estávamos em negação, claro. O
fato é que nossos corpos não sabiam a diferença entre apenas nos
divertindo e vício.
Nossos fígados, cérebros, rins e corações estavam sofrendo tantos danos quanto
os órgãos vitais daquelas moscas de bar e clientes habituais dos clubes. Você
pode fingir que não tem demônios. Você pode se ver como um jovem a prova de
balas ou como alguém que só está se
divertindo. Mas, cedo ou tarde, seu corpo irá te dizer a verdade e você
vai estar um desastre. Ou pior, você irá machucar outra pessoa.
Como
a maioria dos bêbados compulsivos, eu racionalizava o meu hábito de beber pesadamente
dizendo que não fazia isso todos os dias, ou que nunca fazia antes das seis da tarde.
Eu inclusive me convenci de que poderia parar quando quisesse. Mas quando meu terapeuta
falou comigo sobre bebida ele me perguntou como eu me sentiria se eu matasse uma
pessoa por dirigir bêbado ou se meus fãs mais jovens me vissem, uma noite,
largado nas ruas? E se eu fosse expulso dos Backstreet Boys por estar bêbado?
A
verdade é que você pode se esconder dos seus demônios, mas não pode se esconder
das consequências. Se você está agindo como o rei ou a rainha da negação quando
o assunto é beber compulsivamente ou uso abusivo de drogas, você certamente não
está sozinho. Meus amigos e eu passamos por isso, assim como muitas outras
pessoas, de todas as idades e níveis econômicos. Eu já vi relatórios que
indicam que aproximadamente dezenove por cento das pessoas com idade entre 12 e
20 anos já experimentaram beber compulsivamente e uma pesquisa feito pelo CDC5
descobriu que pelo menos um quarto de todos os estudantes do ensino médio e
adultos entre as idades de 18 e 35 anos também já fizeram isso.
Especialistas
dizem que mais de trinta milhões de adultos bebem compulsivamente hoje, e esse número
não está diminuindo. Eu também fiquei surpreso ao saber que mais de quarenta mil
pessoas morrem, por ano, nos Estados Unidos em decorrência disso – isso é
metade de todas as mortes relacionadas ao álcool, no país. Relatos médicos
dizem que nem todos os que bebem compulsivamente são bêbados, embora todos
tenham sérios problemas de abuso de álcool.
Os
danos são enormes. Um estudo indicou que aqueles que bebem compulsivamente tem quatorze
vezes mais chances de dirigirem intoxicados do que aqueles que bebem moderadamente.
Aproximadamente cinco mil jovens que ainda não tem idade para beber morrem por
causas relacionadas ao álcool, todo ano, mas essas são apenas as estatísticas mais
fáceis de coletar. Quem sabe quantas pessoas morrem prematuramente por causa
dos danos que eles causaram aos seus corpos e mentes em decorrência do abuso de
álcool e drogas?
Pesquisas
médicas encontraram evidencias de que beber descontrolada e compulsivamente pode
afetar o desenvolvimento do cérebro dos adolescentes, que ainda estão com o
corpo em formação. De acordo com um dos estudos, adolescentes que bebem
descontrolada e compulsivamente podem sofrer de perda da substância branca que
compõe o cérebro, que é o tecido responsável pelo aprendizado e controla a
comunicação.
Beber
até cair é moda na faculdade, principalmente, mas acontece muito fora também.
Eu ouvi que existe uma preocupação com o crescente número de mulheres com
filhos que bebem descontrolada e compulsivamente. Alguns anos atrás eu li sobre
uma mulher que se matou e matou mais sete em uma batida, ela bateu de frente em
outro carro porque dirigia na contramão, em uma estrada do estado de Nova
Iorque. Ela estava voltando para casa depois de acampar, no carro tinham cinco
crianças, incluindo seu filho, filha e três sobrinhas, todos com menos de nove
anos de idade. A polícia encontrou uma garrafa de vodca no carro e testes
realizados posteriormente revelaram que ela tinha, no seu sistema, o
equivalente a dez doses e que ela tinha fumado maconha, também.
Uma coisa é colocar em risco a sua
própria vida com atitudes irresponsáveis como beber e usar drogas, mas você
consegue imaginar como é matar seus próprios filhos, entes queridos e outras
pessoas inocentes?
BEBER
E CHEIRAR.
Como
eu disse antes, meus amigos e eu frequentemente cheiramos uma carreira de
cocaína no final da noite para podermos continuar na farra. É uma pratica bem
comum, principalmente entre os frequentadores de clubes noturnos.
Naquela
época eu pensava que me sentir mais acordado e com energia era uma coisa boa, mas
depois eu descobri que quando você bebe pesado e depois usa cocaína algumas reações
estranhas e perigosas acontecem no nosso corpo. Uma delas é que por ser a cocaína
um estimulante ela manda o álcool mais rapidamente para o cérebro, então se
você está bebendo descontroladamente a cocaína só vai te fazer ficar bêbado
mais rápido. Pior que isso, a mistura de álcool e cocaína no seu fígado pode
criar uma substancia química e tóxica chamada coca etileno. Essa substancia é
ainda mais nojenta do que soa. Eu ouvi dizer que é o único exemplo conhecido do
corpo criando uma terceira droga depois de você ter consumido duas outras. Além
de prejudicar o seu fígado, a coca etileno pode causar outros sérios problemas
no coração e até um ataque cardíaco.
Quando
eu comecei a pesquisar sobre isso, por razões que explicarei mais tarde, eu
acabei descobrindo que existem alguns sérios riscos e perigos em beber enquanto
em uso de drogas prescritas, também; Principalmente depressivos, porque beber
acelera os efeitos depressivos do álcool. Adderall é uma anfetamina usada no
tratamento de ADD (DDA: Distúrbio do Déficit de Atenção) e outras doenças,
também usada por estudantes para ajudá-los a se concentrar durante os estudos, não
deve nunca ser misturada com álcool, assim como os remédios para dormir, por
razões óbvias. Mesmo aspirinas, anti-histamínicos, ibuprofeno e paracetamol
podem causar danos ao seu fígado ou estomago se você beber enquanto os tiver no
sistema.
Minhas
pesquisas sobre os perigos de misturar álcool com drogas vieram depois de eu
próprio ter abusado do meu corpo e da minha mente, por anos, bebendo e usando
qualquer droga que me oferecessem. Eu nunca pensei no meu habito de beber
descontroladamente e usar drogas como vícios, mas, de muitas formas, eu estava
viciado. Reconhecer que eu não era apenas um cara que adorava se divertir, mas
alguém que tinha sérios problemas foi um passo muito difícil, mas necessário,
para mudar a minha vida.
No
meu coração e na minha cabeça eu sabia que tinha mais alguma coisa por trás do meu
hábito de beber muito e usar drogas do que simplesmente querer passar um bom
tempo com os meus amigos. Eu tinha medo de perguntar a mim mesmo qual era a
real razão porque eu não queria lidar com aquele demônio. Meu terapeuta me ajudou
a entender que você não pode mudar sua vida pra melhor se você se recusa a
olhar de forma honesta para o que te leva a ter um comportamento
autodestrutivo. Cedo ou tarde você tem que perguntar, “Por que estou fazendo
isso?” Eu estou realmente apenas procurar por um momento legal ou estou me automedicando
para não ter que enfrentar os meus medos? Essa é a única forma de lidar com a
dor? Com a depressão? Com o vazio na minha vida?
EU FICARIA NERVOSO E SOLITÁRIO E OS DEMONIOS VIRIAM ME
ASSOMBRAR.
Como
muitas das pessoas que abusam de drogas e álcool eu fingia que desmaiar ou
ficar enjoado noite após noite não era grande coisa. Todo mundo estava fazendo isso, eu
pensava. Eu certamente tinha amigos que bebiam e usavam muito mais drogas que
eu.
Claro,
eu estava brincando com a negação, tentando convencer a mim e a todos os demais
de que eu estava no controle e que meu comportamento era perfeitamente normal.
Algumas pessoas conseguem sair dessa ilusão sozinhas, em um momento de lucidez,
de sobriedade.
Outras
precisam da ajuda de amigos, familiares ou profissionais. Eu os encorajo a
fazer o que for melhor pra você, mas faça isso antes que seja tarde demais.
Eventualmente
eu me dei conta de que melhor do que tentar quebrar o padrão de comportamento autodestrutivo, é mais fácil substituí-los
com atividades mais construtivas. Ao invés de sair para beber toda noite, por
exemplo, eu comecei a me exercitar, ler livros motivacionais e focar em
expandir minha mente e fortalecer meu corpo. Meu terapeuta me ajudou a aprender
que substituir a excitação que a bebida e as drogas te dão por uma ainda maior,
melhor e mais duradoura decorrente dos exercícios físicos ou de autoeducação tirariam
muito do stress e da ansiedade da minha vida.
Parte
do meu problema decorria do fato de a minha carreira me levar a um estilo de
vida onde eu tinha longos períodos de atividade extrema, incluindo turnês,
gravação e viagens, seguido por longos períodos com muito mais tempo livre. Eu
não sabia o que fazer comigo mesmo durante os períodos mais calmos na estrada
ou em casa. Pra me esconder deles eu ligava pros meus colegas de bebedeira e ia
pros bares.
Encontrar
outras formas de passar o meu tempo livre foi um grande passo na direção certa.
Eu comecei a usar esse tempo para explorar novas oportunidades profissionais,
estilos de vida mais saudáveis e novos assuntos que me interessavam.
PROMESSAS
A SEREM MANTIDAS.
Eu
não sabia desses métodos para sair do meu vício em beber descontroladamente e
usar drogas até que eu me comprometi a mudar a minha vida. Como eu não tinha
ideia de por onde começar eu achei que deveria pedir ajuda.
Não
foi fácil dar aquele primeiro passo, quando liguei pra minha agente de relações
públicas para me acompanhar até a reabilitação. Eu me lembro de sentar e chorar
no meu carro pelo que pareceram ser horas antes de ir buscá-la.
Então
nós dirigimos até Promises, um centro
para tratamento de viciados que fica em uma casa grande no estilo “craftsman” no
oeste de L.A.
EU
ESTAVA EM TRANSE QUANDO ENTRAMOS.
Eu
estava em transe quando entramos. Minha agente de relações públicas explicou
que eu ainda estava sob a influência de álcool e cocaína e, talvez, Ecstasy
também. A pessoa responsável pela admissão calmamente me fez uma série de
questões como se isso fosse uma coisa normal – um membro de uma boy band,
totalmente acabado, entrando drogado e assustado pra cacete.
Enquanto
estavam me apresentado o lugar eu reconheci outras celebridades que estavam lá.
Algumas
tentaram esconder os rostos. Outras me olharam como “já era hora de você se internar.”
Vê-los
fez a realidade da minha situação me atingir ainda mais forte. Promises era, obviamente, um lugar bem
administrado e confortável, mas eu não tinha certeza se era pra mim. Eu não me
dava muito bem em ambientes bem estruturados como esse. Parecia muito aprisionador.
Talvez eu precisasse fazer isso sozinho, eu
pensei.
Eu
disse ao funcionário da Promises que
eu queria ir pra casa e pensar sobre o programa de internação. Ele sugeriu que
eu começasse o tratamento como um paciente ambulatorial, o que me permitiria
voltar para as sessões de aconselhamento e terapia. Na verdade, eu tinha decidido
que antes que qualquer pessoa pudesse me ajudar eu tinha que ter minha mente limpa
e pensar direito. A única forma que eu conseguia ver de fazer isso era sair do
ambiente contaminado em que eu estava vivendo.
PARECIA
MUITO APRISIONADOR.
Então
tive uma luz: Cool Springs. Eu preciso voltar para Cool
Springs.
Muito obrigada por disponibilizar a tradução, estou gostando do livro :)
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