CAPÍTULO SETE
Eu
cresci sempre me considerando como aquele que consertaria a família. Eu era o
filho mais velho e, como eu disse antes, meus pais frequentemente me deixavam a
cargo de cuidar do meu irmão e irmãs enquanto eles trabalhavam. Eu me sentia
responsável por eles então eu me tornei o solucionador de problemas das
crianças menores e, como meu pai e mãe brigavam constantemente, eu tentei
servir, sem muito sucesso, como mediador deles, também.
Os
menores corriam pra mim em busca de conforto quando nossos pais brigavam e
falavam sobre se divorciar. Eu estava sempre tentando remendar as coisas,
deixar todos felizes e restaurar a paz.
Eu já confessei que uma das coisas que me motivou a perseverar na minha carreira musical era o fato de que minhas apresentações nos unia enquanto família. O que hoje eu percebo é que essa forma de pensar me perpetuou no papel de reparador. Meus pais, irmão e irmãs iam aos meus shows e, por um tempo, eu senti o que seria a vida numa verdadeira família de trabalhadores.
Eu já confessei que uma das coisas que me motivou a perseverar na minha carreira musical era o fato de que minhas apresentações nos unia enquanto família. O que hoje eu percebo é que essa forma de pensar me perpetuou no papel de reparador. Meus pais, irmão e irmãs iam aos meus shows e, por um tempo, eu senti o que seria a vida numa verdadeira família de trabalhadores.
Enquanto
eu crescia eu ansiava por aqueles raros momentos de união e, mesmo depois de adulto
eu me pegava tentando pacificar as situações, endireitar meus irmãos ou fazer
coisas que talvez nos aproximassem. Quando grandes quantidades de dinheiro
começaram a entrar em decorrência das minhas apresentações com os Backstreet
Boys eu me tornei as duas coisas: pacificador e financiador da minha família,
incluindo meus pais, mas eu rapidamente vi que eu estava subsidiando maus
comportamentos e criando mais conflitos.
O
fato é que nós nunca estivemos nem perto de ser uma família unida e amorosa por
causa de todas as bebedeiras, brigas e falta de carinho na nossa casa. Mesmo
assim, consertar a minha família, de forma coletiva e individual, tem sido uma
das minhas missões primordiais na vida. Tornou-se parte da minha natureza
pensar sobre o bem estar dos meus irmãos mesmo que tamanha responsabilidade
nunca devesse ter sido a mim repassada, principalmente com tão pouca idade. Só
porque eu me tornei um pai substituto para o meu irmão e minhas irmãs não quer
dizer, necessariamente, que eles tenham sido sempre receptivos aos meus
esforços. Muito frequentemente eles me chamavam de maníaco por controle.
Meu
problema não é que eu queria estar sempre no controle; eu só tentava controlar
as coisas erradas. É um erro que muitas pessoas cometem, principalmente se,
durante muito tempo, elas sentiram que não tivessem controle sobre nenhum aspecto das suas vidas.
Parece
que crianças que crescem em famílias desestruturadas frequentemente se tornam maníacas
por controle quando adultas, sentindo-se compelidas a manter a ordem e administrar
toda e qualquer situação. Eu era uma dessas pessoas até aprender que meus esforços
para conduzir as ações e vidas de outras pessoas eram extraviados. Eu deveria estar
trabalhando nas minhas próprias ações e escolhas de vida, ao invés disso.
...EU
SÓ TENTAVA CONTROLAR AS COISAS ERRADAS.
Muitas
das coisas que nos acontecem simplesmente estão fora do nosso controle. Tanto
faz se for um furacão ou uma gripe ou uma recessão econômica a vida nos
apresenta situações inesperadas o tempo todo. Nós não podemos controlar esses
eventos, assim como não podemos controlar as pessoas ao nosso redor, mas nós podemos controlar como respondemos a
eles. A chave é governar o que acontece dentro da gente para que você seja capaz
de lidar com o que acontecer fora.
Obviamente
esse não é um conceito original que eu tenha criado sozinho. Muitos terapeutas,
psicólogos e líderes espirituais oferecem conselhos semelhantes provenientes de
um dos primeiros gurus em matéria de autoajuda, Buda, que escreveu: “Para se
ter boa saúde, para trazer a verdadeira felicidade a família, para trazer paz a
todos, devesse disciplinar e controlar a própria mente. Se um homem puder
controlar a mente, poder encontrar o caminho da Iluminação, e toda sabedoria e
virtude a ele virá o com naturalidade.”
Eis
um conselho muito bom, eu gostaria de tê-lo recebido antes, na minha vida. Eu
tenho certeza que meu irmão e minhas irmãs também gostariam. Eles nunca foram
muito receptivos às minhas tentativas de controlar seus comportamentos ou ajudá-los.
Minha
tentativa mais pública de fazer isso foi quando eu reuni a todos para
aparecermos no House of Carters, um
reality show de 2006 que piedosamente só durou oito episódios. Originalmente
foi transmitido pelo E! e depois pela Much Music, no Canadá.
EU
QUERIA CORRIGIR O QUE ESTAVA ERRADO, CONSERTAR O QUE PRECISAVA SER CONSERTADO E
CURAR TODAS AS FERIDAS DO NOSSO PASSADO.
Eu
vi o que reality shows fizeram para Nick Lachey e a Jessica Simpson, e depois
Ozzy Orbourne e sua família. Eu achei que esse programa poderia ser um grande
veículo para meu irmão e irmãs, também. Eu esperava que fosse lhes dar maior
visibilidade e ajudar nas suas carreiras. Nós crescemos com a televisão sendo
uma parte tão grande das nossas vidas que fazer parte de um reality show
pareceu natural. Eu não imaginei que ter anúncios com as nossas fotos por toda
Los Angeles fosse levar a algo tão ruim ou que a atenção e status de celebridade
fossem levar meu irmão e irmãs a se envolver mais e mais em comportamentos autodestrutivos.
Eu esperava que se vendo na televisão talvez os fizessem querer mudar para
melhor.
No
começo do programa o plano parecia bem sólido – a família toda só teria ganhos.
Nenhum
de nós se importava de estar sob os holofotes, então isso não era um problema. Aaron
e eu já tínhamos a nossa parcela de atenção da mídia, mas nossas irmãs sempre desejaram
ter as suas próprias experiências no mundo das celebridades. Essa parecia a melhor
forma de fazer isso acontecer, pra elas. Além disso, dinheiro também era um problema
para as meninas e o programa as ofereceu uma chance de ter algum salário.
Eu
acho que eu estava delirando quando imaginei que isso poderia ser uma forma
divertida e rentável de nos unir, compartilhar a atenção da mídia e apoiar meus
irmãos. Eu só estava tentando recriar algo – um ambiente familiar com amor –
que hoje eu entendo nunca ter existido pra nós, exceto por brevíssimos momentos
nas nossas vidas. Eu queria corrigir o que estava errado, consertar o que
precisava ser consertado e curar todas as feridas do nosso
passado.
Ao invés de curar velhas feridas e fortalecer vínculos, entretanto, House of Carters deixou público todos os
nossos dramas familiares e, eu sinto muito em dizer, só os tornou piores. Eu tinha
meus próprios problemas, na época, o que não ajudou na minha credibilidade com
meu irmão e irmãs. Era o típico caso de um cego guiando outro.
O
que eu aprendi mais recentemente é que eu ter assumido o papel de pai foi
injusto com meus irmãos e comigo. Esperava-se que eu assumisse mais
responsabilidade com oito, nove e dez anos do que qualquer pai tem o direito de
pedir de uma criança. Eu
fui forçado a sair do papel de irmão mais velho e assumir o papel de pai com
tão pouca idade que eu me senti conflituoso em relação a isso. Eu queria ser
uma das crianças e não um dos pais.
ERA
O TÍPICO CASO DE UM CEGO GUIANDO OUTRO.
Quando
eu me lembro da minha infância os melhores momentos eram, sem dúvida, quando eu
me sentia livre para ser apenas o irmão da BJ, Leslie, Aaron e Angel, jogando
vídeo game com eles, assistindo nossos programas de TV favoritos ou só
brincando do lado de fora sob o sol quentinho da Florida. O conflito interno que
eu experimentei por ter recebido a responsabilidade sobre meu irmão e irmãs
quando eu era só uma criança foi a causa de muitos dos meus conflitos externos
com eles ao longo dos anos.
Tem
uma passagem da Bíblia que se aplica perfeitamente nesse caso: “Médico, cura-te
a ti mesmo!” Eu sei que eu devia ter seguido esse conselho naquela época, mas
eu não o fiz.
Não
totalmente. De certa forma eu esperava que o programa fosse me ajudar a focar novamente,
mas House of Carters era,
na verdade, minha tentativa ambiciosa de reunir as crianças brigonas da minha
família enquanto adultos. Eu queria ajudá-los a recolocar suas vidas nos
trilhos, mesmo que a minha própria estivesse descarrilando.
Nossos
pais tinham se divorciado, Kevin Richardson tinha acabado de deixar os
Backstreet Boys. Eu tinha sido preso por dirigir sob influência de substancias
ilegais, minhas bebedeiras e consumo de drogas estavam fora de controle e eu
estava pulando de um relacionamento sem sentido para outro. Eu era como o cara
da manutenção, mas com o cinto de ferramentas vazio.
Meus
irmãos e eu não vivíamos na mesma casa há anos. Eu temia que estivemos nos afastando
cada vez mais e alguns dos mais novos pareciam perdidos. Aaron tinha 19 anos, nossas
irmãs Bobbie Jean (BJ) tinha 24, Leslie tinha 20 e Angel também com 19 estavam lutando
para encontrar um caminho na vida. Meu irmão, em particular, estava se
envolvendo com pessoas bem negativas. Todos nós passamos pela fase de termos
más companhias e
ele
não foi diferente.
Eu
estava preocupado com ele porque quando tinha aproximadamente sua idade eu tive
pessoas por perto a quem eu considerava amigos, mas que só tiraram vantagem de
mim e trouxeram à tona o que eu tinha de pior em mim. Quando você é uma
celebridade e não toma cuidado com quem sai, os predadores se instalam. Eles
podem ser muito astutos. Uma pessoa, em particular, passou dos limites. Nós
viajamos juntos e chegamos a morar juntos
durante
um tempo. Ele sabia que eu não gostava de ficar sozinho, então ele estava
sempre disponível, sempre pronto pra tudo, pra festejar ou fazer qualquer coisa
que eu quisesse fazer. Então eu percebi que ele tinha me roubado algo de valor.
Ele admitiu que tinha pegado, é tudo que vou dizer. Mas, mesmo ele tendo sido
honesto depois, eu não conseguia mais confiar nele.
QUANDO
VOCÊ É UMA CELEBRIDADE E NÃO TOMA CUIDADO COM QUEM SAI, OS PREDADORES SE
INSTALAM.
Eu
tentei dizer ao Aaron que existiam pessoas assim ao redor dele, apenas
espreitando pra saber o que conseguiriam tirar dele. Mais uma vez, entretanto,
o Aaron ficou na defensiva e apontou que eu também tinha uma galera com pessoas
de todos os tipos quando eu tinha a idade dele.
Meus
esforços para ajudar a todos nós a nos curarmos rapidamente deu de cara com a parede
porque eu também não estava nas melhores condições pra conseguir curar alguém. Eu
voltava pra casa e tinham estranhos nela e uma festa rolando. Quando eu tentava
bancar o pai e botar todo mundo pra fora ninguém me respeitava. Minha família
me via como um controlador desacreditado, que saia e farreava mas não queria
que eles fizessem o mesmo.
Naquela
época eu só ficava bravo com eles por reagirem daquela forma porque eu
realmente pensava que estava sendo amável e carinhoso. Hoje eu vejo que eu
estava sabotando meus próprios planos porque eu não estava servindo de exemplo.
Eu queria o respeito do meu irmão e das minhas irmãs, mas eu estava exigindo ao
invés de fazer por merecer. Eu continuava estragando tudo por não estar no
completo controle de mim mesmo e eles viram que eu não tinha assumido a responsabilidade
de servir de exemplo.
É
verdade que nossos pais não foram grandes exemplos quando o assunto é responsabilidade
e carinho, mas eu tinha que superar isso. Eu não podia continuar culpando eles.
Muitas pessoas crescem em famílias desestruturadas mas ainda assim conseguem quebrar
o ciclo e se tornarem mães e pais e pessoas responsáveis. Eu ainda não tinha
encontrado
a chave pra quebrar esse padrão.
OLHANDO
NO ESPELHO
Nas
reuniões do AA das quais eu estava participando antes de vir com a ideia do programa
eu aprendi a ser auto consciente e a pensar mais nas consequências das minhas
ações.
Aquelas
sessões me impeliram a olhar no espelho e avaliar o que eu via. Infelizmente a imagem
não era bonita. Todos os problemas pessoais e de saúde que estavam crescendo dentro
de mim estavam se manifestando fora, também. Eu podia dizer, sem dúvida, que eu
estava no caminho errado.
O
problema é que naquela época eu não sabia como fazer pra voltar ao caminho
certo. Mas eu queria que meu irmão e minhas irmãs também se olhassem no
espelho. Criar um reality show foi a minha forma de segurar um espelho pra
minha família e pra cada um deles, individualmente, pra que eles chegassem à
mesma conclusão que eu – que alguma coisa deveria mudar, que nós não éramos as
pessoas ou a família que queríamos ser.
Graças
ao sucesso dos BSB eu tinha meios financeiros e contatos para fazer o reality
show acontecer. Como vocês sabem agora, montar o reality show foi muito mais
fácil do que aproximar a minha família. Minhas intenções eram puras, mas eu não
tinha credibilidade ou meios para alcançar o que eu tinha em mente; meu irmão e
minhas irmãs rapidamente me deixaram saber que eles já não me viam como uma vez
o tinham feito.
O
PLANO DA FAMÍLIA
Antes
do fim da primeira temporada era evidente que meu plano tinha fracassado lindamente.
Tantas
coisas deram errado, é difícil até saber por onde começar a contar aquela
história triste. Desde então eu tenho aprendido que uma das chaves para curar
os seus relacionamentos é focar nas coisas que se tem em comum e nos seus
objetivos compartilhados do que ficar preso em velhas discussões, mágoas e
raiva. Nós, certamente, não usamos essa chave. Ao invés disso nós imediatamente
abrimos as portas do baú onde todas as coisas ruins do passado estavam
guardadas.
Se
você viu mais do que cinco minutos de House
of Carters primeiro me deixe dizer: “Desculpas.”. Depois me deixe explicar
que gritar, pra minha família, é como uma conversa casual em qualquer outra.
Como eu já disse anteriormente, nosso lar durante nossa infância estava quase
que constantemente em um estado de completo caos. Entre as incessantes discussões
dos meus pais e brigas ocasionais, existia sempre um ruído.
Qualquer
um que tenha ligado no programa viu que meus irmãos e eu adquirimos o mesmo hábito
de gritar. Todos nós nos tornamos combativos. Nós todos somos super sensíveis sobre
sermos respeitados e ouvidos porque somos muito inseguros. Nós aprendemos a
gritar apenas para sermos ouvidos, só pra fazer nossos pais prestarem atenção
em nós. Quando eles nos diziam pra calar a boca nós aceitávamos porque, pelo
menos, eles tinham nos
notado.
HOJE
EU PARO E PENSO ANTES DE EXTRAVASAR.
Berrar
e gritar não é saudável. Não é agradável. E não é muito efetivo em termos de estratégia
de comunicação a longo prazo. Mas era tudo que tínhamos e funcionava melhor do que
irmos para os nossos quartos e chorarmos por horas. Graças as minhas leituras e
aos meus terapeutas hoje eu sei como me comunicar de forma mais saudável,
agradável e efetiva nos meus relacionamentos. Eu também aprendi a reconhecer os
gatilhos que disparam as minhas inseguranças e raiva para que eu não caia no
meu padrão biológico de briga ou fuga.
Hoje
eu paro e penso antes de extravasar. Eu respiro, pondero minhas reações e
escolho como eu irei agir ao invés de deixar minhas emoções ditarem minhas
ações. Meus terapeutas me ensinaram sobre pacotes de neurônios nos nossos
cérebros chamados amygdalas, eles regulam as emoções e como responder a coisas
que nos assustam ou nos fazem ter raiva.
Quando
nos sentimos ameaçados por algo ou alguém a amygdala age como um detector de fumaça.
Ela sente o perigo e dispara um alarme em outras partes do cérebro que decidem qual
a melhor forma de lidar com a ameaça detectada.
Muito frequentemente as pessoas que
estiveram sob situações estressantes por longos períodos de tempo tendem a
desenvolver alarmes muito sensíveis. Como resultado, eles se tornam
hipersensíveis. Eles facilmente se sentem ameaçados ou amedrontados e agem de forma
impulsiva, sem dar ao cérebro tempo para processar e avaliar a ameaça. O
resultado é que eles, frequentemente, reagem de forma exagerada, extravasam,
gritam e brigam com
aqueles que estão ao seu redor.
Eu
aprendi formas de reconhecer quando minha raiva ou medo estão sendo acionados e
a parar e pensar pra que eu possa responder de forma mais lógica ao invés de
apenas de forma emocional. Existem formas de amenizar o calor gerado pelas suas
emoções pra que você possa permanecer calmo e no controle das suas ações. Eu
não estou dizendo que eu tenho completo controle durante todo o tempo, mas
estou melhorando com a prática.
Infelizmente,
eu não sabia dessas técnicas antes de House
of Carters começar a ser gravado. Nós lutávamos verbalmente. Nós gritávamos
um com os outros. Nós discutíamos e chorávamos. E esses eram os momentos bons.
"NÃO
ESTAVA PRONTO PRO HORÁRIO NOBRE.
O
pior de tudo foi uma sessão com o psicólogo de família que eu trouxe para
trabalhar conosco. Mais uma vez eu estava sendo o “Senhor Conserta tudo”, mas
tudo que aquela sessão fez foi abrir velhas feridas. Eu estava tentando
explicar ao meu irmão e irmãs que eu queria que eles se respeitassem e
pensassem em mim como seu irmão o ser
humano e não como o irmão celebridade.
Eu queria quebrar as barreiras que haviam entre nós para que pudéssemos
nos comunicar melhor. Mas eles achavam que sabiam o que estava fazendo e eu
não. Toda vez que eu oferecia minha opinião eles ou ignoravam ou deixavam claro
que eu não era lá um grande exemplo.
Eu
achei que não tinha outra opção senão chamar a cavalaria. Eu sou um grande
defensor de terapia, foi ai, então, que eu decidi convidar um psicólogo de
família para se juntar a nós no set. Se tinha funcionado pra mim, com certeza
funcionaria pra minha família. Mas não funcionou. Nós só a encontramos naquela
única vez e um terapeuta precisa de muito mais tempo que aquilo pra fazer a
diferença na vida de alguém.
Quando
eu falei com a psicóloga de família pela primeira vez eu disse a ela que não
queria que esse programa fosse um desastre, mas acabou se tornando um grande
acidente de trem, no fim das contas. Todos relembraram histórias horrorosas.
Leslie, por exemplo, como nossa mãe a enganou, uma vez, dizendo que a estava
mandando pra um acampamento de verão para andar a cavalo quando, na verdade, a
estava mandando pra um acampamento pra gordos.
Leslie disse que nossa mãe esperava poder fazer dinheiro com a carreira dela de
cantora, mas seu peso tinha se tornado um problema com a gravadora. Essa não
foi a única história feia revelada aquele dia. Foi esgotante pra todo mundo ter
de reviver aquelas memórias angustiantes.
Enquanto
eu estava acostumado a estar na frente das câmeras e em cartazes que te faziam sentir
super importante, a notoriedade que veio com o programa levou meu irmão e irmãs
a uma falsa sensação de segurança. Eles não entendiam que tudo que você diz ou
faz na televisão nunca irá desaparecer, que isso seria televisionado no mundo
todo. Então, de um modo geral, eu acho que o show fez muito mais mal do que
bem. Eu acho que acabou prejudicando meu irmão e irmãs porque eles começaram a
se ver como estrelas, embora o programa não fosse um sucesso.
EU
ACHEI QUE NÃO TINHA OUTRA OPÇÃO SE NÃO CHAMAR A CAVALARIA.
A crítica
televisiva era impiedosa, mas eu não posso culpá-los.
Um
deles escreveu, no The New York Daily News, “A
única razão pra que o programa ‘House of Carters’ existir é pra nos fazer
sentir melhor com nossas próprias vidas. O programa, que segue a vida dos
Carters, liderados pelo Backstreet Boy Nick Carter, não é nada além de uma hora
de um grupo extremamente disfuncional chafurdando na sua própria desgraça. Não
existe um único momento de esperança, alegria ou qualquer outra razão pra
continuar assistindo.”
E
não apenas as críticas eram mordazes, mas os números de audiência não eram
bons, também. Eu nem posso dizer que aquela vergonha foi diminuída pela baixa
audiência porque, infelizmente, o programa ainda existe no Youtube e outras
fontes da internet. E, claro, ainda tem a paródia feita pelo Saturday Night Live, que trouxe ainda
mais atenção pro nosso drama familiar. O segmento tinha Andy Samberg no papel
do meu irmão, Aaron, e Jason Sudeikis no meu papel. Na maior parte do tempo
eles apenas gritavam um com o outro, abraçavam um ao outro, e depois voltavam a
gritar. Não era engraçado, mas era dolorosamente preciso.
HOSPÍCIO
DOS CARTES
Para
o programa o canal E! alugou aquela mansão enorme com uma vista espetacular das
colinas de Hollywood. No nosso curto tempo lá, nós transformamos uma casa dos
sonhos em um hospício. Aquele lugar lindo se tornou um local de festas. Toda
vez que eu chegava em casa do estúdio ou de um show ela estava entupida de
gente. Dia e noite. Ao invés de fortalecer meu irmão e irmãs eu estava enfraquecendo-os.
Minha
frustração se transformava em raiva. Eu discursava e me enfurecia e acabava parecendo
com um ditador demente na maior parte do tempo.
NÃO
ERA ENGRAÇADO, MAS ERA DOLOROSAMENTE PRECISO.
Olhando
por um lado mais positivo, alguns benefícios inesperados e esclarecimentos sobrevieram
de toda essa experiência. Eu aprendi muito sobre mim mesmo só de observar meu
irmão e irmãs. Mesmo que eu tenha passado os primeiros onze anos da minha vida
com eles, eu não estava muito por perto quando cheguei na minha adolescência.
Vendo o reality show e observando o comportamento deles eu me dei conta de que
nós compartilhávamos muitas das mesmas falhas de caráter. Nós todos somos muito
defensivos. Nós todos queremos
muito ser amados e apreciados embora ergamos muros quando nos sentimos ameaçados,
criticados ou rejeitados de qualquer forma.
As
crianças Carter tem problemas de confiança. Para evitar eventuais sofrimentos,
nós temos a tendência de nos retrair ou rejeitar a outra pessoa antes que ela o
faça. Estar no controle é importante pra nós, porque enquanto crianças nós
sentíamos que não tínhamos controle sobre nossas vidas. Nossa mãe e pai eram
tão imaturos e desprovidos de habilidades parentais que nós nunca nos sentíamos
seguros mesmo que sobre coisas como onde iríamos viver ou quem iria nos
sustentar.
Pessoas
que erguem barreiras podem parecer frias ou antissociais com as outras, mas a verdade
é que eles frequentemente se isolam porque se sentem com medo e vulneráveis. Se
você evita ou sabota relacionamentos por esse motivo, você deve saber que não é
responsável por tudo que te aconteceu. Você não pode mudar o que você não pode
controlar – assim como eu não podia mudar meu irmão e irmãs através daquele
reality show. Mas você pode mudar a si mesmo controlando como irá reagir às
pessoas e aos acontecimentos da sua vida. Você pode mudar sua programação. Você
pode aprender a reagir de forma racional ao invés de emocional.
Um
dos benefícios dessa aproximação mais racional é que você ficará menos
suscetível a dizer coisas que magoem as pessoas com as quais se importa. Eu
tinha a tendência de dizer coisas cortantes, especialmente com meu irmão e
irmãs, porque eu não parava pra pensar nos impactos que aquelas palavras
teriam. Existem várias evidencias disso retratadas em House of Carters.
Lá
estava eu, esperando emendar relacionamentos através do programa, mas, ao invés
disso, toda vez que alguém respondia de forma diferente da que eu queria eu
dizia alguma coisa maldosa que só tornava as coisas piores. Eu não consigo
dizer a você quantas vezes eu desejei poder pegar de volta as palavras.
Frequentemente eu tentava me desculpar e seguir em frente, mas o estrago já
estava feito. Você não pode descontar em uma pessoa e esperar que aquela pessoa
esqueça o que foi dito. Muito poucas pessoas são capazes de perdoar ou esquecer
tão rapidamente. E quando suas palavras as machucam de tempos em tempos você
não pode culpar as pessoas pôr ou te afastarem ou se afastarem de você.
VOCÊ,
ABSOLUTAMENTE, NÃO PODE FAZÊLOS MUDAR.
Minhas
tentativas de mudar meu irmão e irmãs não funcionaram porque eu não tinha
mudado a mim mesmo, naquela época. Como eu poderia esperar que eles seguissem
meus conselhos quando eu mesmo não os estava seguindo? Depois de eu e o Aaron
termos brigado, um dia, eu me dei conta, novamente, de que as pessoas não mudam
até que eles queiram. Você, absolutamente, não pode fazê-los mudar. Como o
remediador da família, isso foi algo difícil de eu aceitar, mas House of Carters foi um aprendizado. Desde
então minha vida tem sido prova de que mudanças dramáticas podem acontecer, mas
essas mudanças têm que começar com você. Você não pode mudar outra pessoa de
fora pra dentro. Eles tem que começar seu próprio processo de dentro pra fora.
Eu
aparecia, no House of Carters, em
pleno modo controlador. Meu irmão e irmãs se rebelaram contra isso, como eu
deveria saber que eles fariam. Eles me ajudaram a entender que eu não posso consertá-los;
Eu
poderia apenas me consertar. Através dessa experiência e da terapia, eu vim a
entender que o verdadeiro controle começa quando você aceita que você não tem
controle sobre qualquer coisa ou pessoa a não ser você. Quando você aceita isso
tudo muda. Se você não aceita isso, nada mudará.
VENCENDO
Felizmente,
desde então, minha vida e meus relacionamentos mudaram drasticamente pra melhor,
porque eu parei de tentar controlar os outros e tomei responsabilidade por
controlar a mim mesmo. É uma grande mudança pra mim e eu não posso dizer que me
tornei especialista nisso, ainda, mas eu fiz progresso e continuo trabalhando.
Recentemente,
na verdade, eu consegui remendar as coisas com o Aaron e foi ótimo. Nossa reconciliação
nunca teria acontecido se eu continuasse tentando mudá-lo ao invés de mudar a
mim mesmo. Eu apenas continuo repetindo a frase: “Começa de dentro pra fora.”
Mude quem você é e as pessoas irão corresponder. Cure a si mesmo.
Eu
admiti meus erros pro meu irmão e irmãs, mas ainda melhor que isso, eu parei de
repetir os mesmos erros. Você só pode pedir pelo perdão deles um certo número
de vezes. Cedo ou tarde você precisa parar de magoá-los
se
você espera se tornar uma companhia bem-vinda.
Eu
tive que olhar pra dentro e perceber, de verdade, que eu estava envenenando
nosso relacionamento por constantemente tentar ser o irmão mais velho e o pai
substituto.
Eles
não precisavam que eu fosse o chefe. Eles precisavam que eu fosse seu irmão.
Eles não precisavam de ordens ou comandos. Eles precisavam de compreensão,
compaixão e empatia. Eu percebi que ao invés de empurrar, forçar e impulsionar
eles pelo caminho que eu queria que eles seguissem, o melhor que eu podia fazer
era seguir aquele caminho e acender uma luz pra que eles seguissem.
Minha necessidade de controlá-los era mais sobre proteger a mim
mesmo. Eu estava pedindo que eles confiassem em mim mesmo quando eu não tinha
essa confiança. Isso nunca funcionou. Eu tinha que colocar minha própria casa
em ordem antes de eu me tornar um verdadeiro líder no House of Carters.
Sim,
minha insegurança era baseada no meu crescimento – o pandemônio em que eu fui criado
e o medo sem fim de que eu e meus irmãos seriamos separados se a ameaça do divórcio
dos nossos pais de fato se concretizasse. Mesmo assim, eu tive várias
experiências que deveriam ter me tornado mais confiante. Eu comecei a me
sustentar quando a maioria das crianças da minha idade ainda estava no ensino
médio. Eu tinha viajado o mundo e subido ao palco em frente de milhares de
pessoas. Eu tinha trabalhado duro pra desenvolver meus talentos e nosso grupo
alcançar o ápice do sucesso. Nós tínhamos fãs no mundo todo.
Por
que eu não me sentia melhor comigo mesmo?
MUDE
QUEM VOCÊ É E AS PESSOAS IRÃO CORRESPONDER.
Eu
tenho certeza que você também tem pontos bons, mesmo assim deve ter se feito as
mesmas perguntas. Se não o fez, provavelmente deveria. Por que nós, tão frequentemente, optamos por focar
no que está faltando nas nossas vidas ao invés de ver o que temos em abundância?
Novamente tudo se resume ao poder de escolha. Da mesma forma é melhor focar em
mudar o que está sob nosso controle do que lutar com o que não está, você e eu temos
escolhas e o poder de nos concentrar no que é bom e presente nas nossas vidas
ao invés de no que é ruim e em escassez.
SINTONIA
SELETIVA
Com
ajuda de terapia e leitura, eu aprendi a me desligar daquele pequeno diabinho
de desenhos animados que ficava no meu ombro sussurrando coisas negativas no
meu ouvido.
Ao
invés disso, eu ligava o anjinho dos desenhos animados que ficava no outro
ombro e que dizia, Olha o que você conquistou! Você construiu
uma ótima vida com seu trabalho duro e seu talento. Sinta-se bem com isso!
Depois
do fiasco de House of Carters eu
tive que fazer a escolha consciente de focar na única coisa que estava
completamente dentro do meu controle – minhas próprias ações e decisões – e
esperar que meu exemplo inspirasse as pessoas que eu amo. Parte do meu programa
‘Conserte o Nick’ é me ligar às coisas positivas da minha vida e do meu futuro.
Eu te convido a fazer o mesmo.
Eu
estraguei tudo. Eu tive que aprender várias lições da maneira mais difícil
possível. Mas o fato é que hoje eu estou melhor do que jamais imaginei
possível. Meu nível de auto entendimento é muito maior do que jamais havia
sido. Eu penso mais antes de agir. Eu não deixo a vida me engolir como se fosse
uma onda gigante. Eu estabeleço metas que determinam meu curso e enquanto eu
não as alcanço ao menos eu estou assumindo a responsabilidade pelos meus
próprios fracassos e sucessos.
Melhor
de tudo, eu sinto que eu evoluí, deixando o estilo de vida da minha mãe e do
meu pai.
Eu não tenho medo de admitir que a
ideia de me tornar pai algum dia é mais do que um pouco assustadora pra mim,
porque eu não tive os melhores modelos. Mas eu não posso controlar
a forma como fui criado. Eu posso, entretanto, controlar o meu desenvolvimento enquanto
ser humano. Eu já percorri um longo caminho, mas ainda não estou completamente satisfeito.
Eu quero ser um marido e pai amoroso e carinhoso que encoraja seus filhos a procurarem
conhecimento e a amarem a si mesmos.
MAS
O FATO É QUE HOJE EU ESTOU MELHOR DO QUE JAMAIS IMAGINEI POSSÍVEL.
Você
não pode impedir os pensamentos negativos de te atingirem. Mas você pode
controlar quanta atenção você irá dar a eles e como responderá. Você pode
escolher ignorar qualquer pensamento que te deprima ou que se coloque no seu
caminho para se tornar o melhor que você pode ser. Pra mim, isso quer dizer
superar o passado – a falta de carinho e estabilidade na minha infância. Eu
tenho certeza que você tem sua própria bagagem, talvez suas próprias feridas,
famílias disfuncionais e fracassos. Todos nós temos coisas que nos aconteceram,
mas elas não precisam ficar conosco e nos empurrar pra baixo pelo resto das
nossas vidas. Nós podemos, ao invés disso, nos focar em seguir em frente
baseado no que é bom e no que nos fazer ser melhores.
Novamente,
é um processo que vem de dentro pra fora. Quando você se recusa a viver em um
estado mental negativo, você projeta uma personalidade positiva que, em
retorno, trará mais coisas positivas pro seu caminho na forma de pessoas
edificantes, oportunidades excitantes e bom carma.
Choque
de realidade: Coisas ruins ainda acontecem. Você pode ser a pessoa mais
positiva do mundo e a vida ainda vai te ferrar vez ou outra. Esta tudo bem se
sentir ofuscado e triste quando isso acontece. É natural lamentar a perda de um
ente querido, ou se sentir deprimido quando você experimenta algum tipo de
fracasso ou decepção. Mas lembre-se,
isso, também, vai passar. Dias melhores virão se você aguentar firme, se
mantiver positivo e focar em ser e fazer o seu melhor.
Eu me lembro, constantemente, hoje, de
que eu preciso ser um amigo tão bom e carinhoso comigo mesmo quanto eu sou com
outras pessoas que eu amo. Você não diria pra um amigo que está enfrentando um mal
momento que ele não é merecedor do sucesso. Você não apontaria, constantemente,
o que é escasso ou ruim na vida dela. Ao invés disso, você suporta e encoraja
seus amigos focando-se nos seus talentos e pontos fortes. Por que não fazer
isso consigo mesmo?
Um
dos maiores benefícios de ser amigo de si mesmo é que isso abre uma porta pra
que você seja amigo daqueles que o cercam. Eu aprendi que quando eu sou mais
amigo de mim mesmo, eu também me dou muito melhor com meu irmão e irmãs. Eu foco nas coisas positivas das
vidas deles ao invés das negativas e eu os encorajo ao invés de tentar direcioná-los.
Meus
irmãos e eu compartilhamos muitos dos mesmos comportamentos disfuncionais, mas nós
também compartilhamos de muitos traços bons e muitas boas experiências, também.
Aaron e eu recentemente descobrimos que quando nos encontramos no mesmo patamar
nossos laços ficam mais fortes. Nós nos sentimos melhor sobre nós mesmos e
sobre um ao outro quando falamos sobre interesses mútuos e gratificantes, como
nossa música.
Mais
do que tentar consertar o que eu acreditava estar errado com meu irmão caçula,
eu hoje estou tentando focar em ouvi-lo e entender o que está acontecendo com
ele. O fato é que somos muito parecidos em vários aspectos, então nos
entendemos. Porque eu não estava muito presente durante sua adolescência – e
porque eu não fui o melhor dos exemplos – ele cometeu vários dos mesmos erros
que ele me viu cometer em público. Claro, Aaron é outro dos motivos pelos quais
escrevi esse livro. Só cabe a ele evitar algumas das armadilhas em que eu cai
de cabeça, mas talvez o exemplo de como eu consegui sair daquelas profundezas possa
ter alguma utilidade pra ele na sua jornada pessoal. A melhor parte sobre curar
a minha relação com o Aaron e outros membros da minha família é que tê-los de
volta na minha vida me faz querer ser uma pessoa melhor. Eu quero estar lá por
eles. Eu quero que eles tenham orgulho compartilhar o mesmo sobrenome que eu –
e isso é algo que eu acho que posso controlar.
CHOQUE DE
REALIDADE: COISAS RUINS AINDA ACONTECEM.