CAPÍTULO UM

PARA LESLIE E PRA VOCÊ






"A manchete no New York Daily News que noticiava a morte da minha irmã contava apenas uma pequena parte da sua história:



IRMÃ DE NICK E AARON CARTER MORRE DE OVERDOSE DE DROGAS, ELA ESTAVA

SOB A INFLUÊNCIA DE VÁRIAS DROGAS PRESCRITAS: DIZ A POLICIA.

A cantora de 25 anos tinha se mudado para casa da família em Nova Iorque para se

livrar de velhos hábitos.






Leslie morreu em 31 de janeiro de 2012 em Mayville, Nova Iorque, onde ela estava para visitar nosso pai. Ela deixou uma filha de 10 meses, Alyssa, e seu marido, Mike, além de todo o resto da nossa família. Eu duvido que o pesar e a dor que eu sinto algum dia irão me deixar. Eu sempre quis o melhor pra minha família. Eu amo meus irmãos e embora nós tenhamos relacionamentos complicados eu tentei ajudar cada um deles várias vezes. Eu dei dinheiro e outras coisas materiais, mas hoje me dou conta de que o melhor que eu poderia ter feito pra qualquer um deles era ter dado esse livro.

O maior presente que você eu receberemos é a realização de que podemos e devemos tomar a responsabilidade pelas nossas vidas. Nós podemos ressurgir de tudo que tenha nos acontecido porque temos o poder de escolher como iremos responder à esses eventos. Nós não devemos, nunca, perder tempo esperando que outra pessoa nos faça felizes quando nós temos essa capacidade.

Depois da minha longa batalha onde eu às vezes banquei a vítima e culpei os outros pelos meus desafios, descobri que não existe nada mais gratificante e satisfatório do que dar um passo à frente e não medir esforços para conseguir a vida que você quer.



DEIXANDO A BAGAGEM PRA TRÁS



Meus irmãos e eu crescemos em uma família não tradicional. Nós não recebemos as melhores cartas quando o assunto era nosso ambiente familiar. Talvez você também não. Eu sei que todos nós temos uma bagagem que carregamos conosco. Por muito tempo eu deixei as coisas que me aconteceram no passado estragar minha visão de futuro. Eu não acreditava que merecia sucesso ou amor ou felicidade. De uma forma ou outra eu estava preso numa mentalidade de vítima, jogando o jogo da culpa, sentindo pena de mim mesmo. Você sabe como isso acabou pra mim – nada bem.

Mas uma vez que eu me livrei desse tipo de pensamento e decidi que eu queria e merecia algo melhor, eu fui atrás. Eu parei de esperar que as coisas mudassem e ativamente fiz com que essas mudanças acontecessem por mim mesmo. Embora eu tenha feito muito progresso, eu ainda trabalho nisso. Eu ainda não estou, totalmente, no lugar em que desejo estar, mas todo dia em que eu dou um novo passo na direção certa, é um bom dia. Eu sei que existem boas coisas a caminho.

O que nós devemos ter em mente é que você e eu não viemos a esse mundo para sofrer e lutar. Todos nós estamos aqui para contribuir. Nós podemos ter algum trabalho à fazer, mas só de entender que nós ainda não somos os indivíduos que queremos ser já é um enorme passo para fazer as coisas melhores. A chave é manter-se focado e comprometido a progredir diariamente.

Isso não quer dizer que você não vá regredir um dia ou outro. Acontece. Acredite em mim, eu sei. Apenas entenda que você tem o poder de escolher uma vida melhor pra você. Uma vez que você faça essa escolha existem várias pessoas dispostas a te ajudar e muitas formas em que você pode se auto ajudar, também.

Eu lutei bastante pra encontrar meios mais saudáveis pra viver e pensar. Eu aprendi bastante sobre como lidar com os meus demônios. Terapeutas profissionais me ajudaram a entender o que me levou a ser inseguro e autodestrutivo, as vezes. Ainda assim, eu tendo a ferrar com tudo. Perfeição é um ótimo objetivo, mas eu não cheguei lá ainda.

Eu sempre me sinto culpado por não seguir os conselhos que me dão, incluindo meu terapeuta, os rapazes dos Backstreet Boys e amigos aos quais eu pedi ajuda.

Eu ainda luto contra meus problemas, incluindo inseguranças e desconfiança. Muitos dos meus desafios relacionam-se com a forma com que eu cresci. Isso não é uma desculpa.

Muitas pessoas cresceram em famílias disfuncionais. Algumas sobreviveram a sérios abusos.

Muitos perderam seus pais ou outras pessoas queridas. O ponto é que não existe a vida perfeita. Muitas pessoas passaram por coisas terríveis nas suas vidas, mas, mesmo assim conseguiram lidar com elas reconhecendo que não são as coisas que te acontecem que moldam a sua vida; é como você responde a elas. E também não é de onde você vem; é onde você termina que realmente importa. O exemplo dessas pessoas devia nos encher de esperança.



PERCEPÇÃO VERSUS REALIDADE



Antes de você se curar, entretanto, você precisa entender de onde vêm as dores. No nosso caso, os Carters, elas vem de um tipo muito específico de disfuncionalidade familiar. Membros da nossa família tem a tendência de fazer e dizer coisas antes de pensar.

Eu sou tão culpado quanto qualquer um deles. Eu explodia de raiva ou frustração e depois me dava conta de que não devia ter dito aquelas coisas porque as palavras machucam sim.

Eu tive que aprender a pensar antes de agir. É tudo uma questão de estar ciente sobre os pensamentos e sentimentos que te afetam, tomar uns poucos segundos para considerar o porquê eles estão ali e como responder a eles de uma forma sábia. Se você não para e considera aqueles sentimentos qualquer coisa que você faça a seguir irá só voltar contra você.

Durante muito tempo da minha vida eu não avaliei meus pensamentos e emoções. Eu apenas reagia e atacava. Então eu aprendi sobre o conceito de filtros. Cada um de nós tem uma forma única de encarar o mundo baseado em nossas próprias experiências, boas e ruins. Se você cresceu em um ambiente repleto de amor e apoio, onde você era encorajado a desenvolver sua mente e seus talentos, a forma como você olha para as coisas com certeza é muito diferente da de quem foi abusado ou negligenciado. O passado dói, rejeições e fracassos podem te derrotar. Eles podem te tonar desconfiado, cauteloso e sem vontade de se expor com medo de experimentar aqueles mesmos terríveis sentimentos novamente. O primeiro passo para mudar sua vida é mudar seu filtro. Isso significa decidir que não importa o que tenha tem acontecido no passado você ainda merece-o



O PRIMEIRO PASSO PARA MUDAR SUA VIDA É MUDAR SEU FILTRO.



Eu sei, por experiência própria, que trabalhar duro e alcançar os seus sonhos não vão te trazer felicidade e satisfação, a não ser que você realmente acredite, de coração, que você é merecedor de tudo isso. Então, antes que qualquer mudança possa efetivamente ser bem sucedida, nós precisamos examinar quem somos agora e quem queremos ser. Admito, não é fácil. Olhar bem fundo dentro de você não é divertido. É preciso maturidade para que a pessoa possa realizar um julgamento honesto do seu caráter, atitudes, preconceitos, julgamentos e outros aspectos críticos da personalidade. Para ajudar você a se sentir merecedor do sucesso você precisa entender as experiências e influencias que contribuíram para a escolha do “filtro de vida” que você tem agora.



CONTRA A PAREDE



Para ser franco, os filtros da Leslie e meus foram estabelecidos quando ainda éramos muito novos e eles foram se danificando cada vez mais ao longo do nosso crescimento. Meus irmãos e eu não fomos particularmente bem criados enquanto crianças. Eu falo mais disso no capítulo seguinte, mas por hora apenas saiba que enquanto eu tenho certeza que nossos pais nos amavam, eles não demonstravam esse amor de uma forma que normalmente faz as crianças se sentirem seguras e protegidas. Todos nós sabemos que ser amado é uma das maiores necessidades do ser humano. Se nós não nos sentimos bem cuidados desde o começo da nossa vida, isso definitivamente irá deturpar nossas percepções e influenciar nossos futuros relacionamentos. Nós podemos sentir que não podemos confiar em ninguém.

Nós podemos afastar as pessoas de propósito ou construir máscaras ao redor dos nossos sentimentos para que não venhamos a ser feridos. Nós podemos, inclusive, escolher nos machucarmos antes que outros o façam.

Embora a mídia tenha dito que medicamentos para esquizofrenia, bipolaridade e ansiedade tenham sido encontrados perto do corpo da Leslie, eu não sei se ela algum dia foi realmente diagnosticada com algum desses problemas. Infelizmente eu sei que a Leslie vinha se automedicando – provavelmente contra suas próprias dores e isolamento – por um longo tempo.

Ela faleceu porque supostamente tomou muitas pílulas embora, até hoje, eu não saiba de quantas estamos falando. Seu falecimento pode ter sido acidental, até onde eu sei. Eu também não tenho certeza se esses medicamentos algum dia foram, de fatos, prescritos à ela por um profissional especializado. O que eu posso dizer, então, é que em todas as vezes que eu a vi nos últimos anos ela sempre agia de uma forma que, ao mesmo tempo, me preocupavam e me assustavam porque eu me importava com ela.

Durante os últimos anos da sua vida a Leslie não era mais a pessoa que eu conhecia e amava. O estilo de vida que ela levava e as escolhas que ela fazia a respeito da sua saúde realmente a mudaram. Ela se sentia fora de controle e eu temia pela mesma razão. Uma noite, durante um Natal, ela saiu pra festejar. Quando ela voltou pra casa ela me disse que achava que devia ser internada em uma instituição pra saúde mental. Ela disse que tinha feito coisas aquela noite das quais ela não se arrependia.

Minha família rapidamente se mobilizou e fez algumas pesquisas, procurando por lugares que a pudessem ajudar, mas quando contamos à Leslie o que tínhamos achado ela mudou de ideia. Ela achou que estaria melhor mudando-se para o Canadá. Na verdade ela preferia morar com nossos avós no norte de Nova Iorque, mas eles tiveram medo de não dar conta.

Embora nós tenhamos continuado preocupados com a minha irmã, ela recusou todos os nossos esforços para ajudá-la. Ao invés disso ela pediu dinheiro. Infelizmente, eu tive medo de que ela o usaria para comprar mais drogas. Esse é um assunto tão sério, hoje em dia, em todo o país e no mundo. Existem tantas pessoas, que estão se automedicando, que precisam de ajuda médica. As pessoas acham que uma pílula pode consertar tudo. E com a frequência eles passam a acreditar que mais e mais remédios irão fazer com que eles se sintam cada vez melhores quando, na verdade, tomar mais remédios do que os efetivamente prescritos pode te matar ou destruir a sua vida. Me machuca pensar que se a Leslie tivesse recebido orientação adequada ela poderia estar conosco.

Um terapeuta profissional, psiquiatra ou um médico não irão te dar medicamento a não ser que você realmente precise. E você nunca deve tomar mais do que a dose prescrita – ou pior, agir como seu próprio médico e se auto medicar. Eu sei disso porque eu tive problemas com álcool e drogas no passado, o que eu me arrependo profundamente.

Depois de tudo que passei e, certamente, depois do falecimento da Leslie, eu não aconselho ninguém a usar drogas de nenhuma espécie. Na verdade, eu sou um seguidor convicto da medicina alternativa (holística) à medicina tradicional porque muitos dos medicamentos tradicionais tem efeitos perigosos. Eu gosto do fato de que a medicina holística pretende tratar a mente, o corpo e a alma de uma só vez. Ela incorpora uma dieta natural e remédios fitoterápicos, suplementos nutricionais, exercícios físicos, exercícios respiratórios, acupuntura, massagem e vários métodos de relaxamento para ajudar as pessoas a serem mais saudáveis.

Uma vez que eu decidi tentar me manter limpo e tomar mais cuidado comigo mesmo, eu ofereci ajuda à Leslie para fazer a mesma coisa, mas ela não queria ouvir. Seus muros de proteção estavam todos levantados. É triste, mas nós não estávamos nos dando bem quando ela morreu. Eu não a via há mais ou menos um ano e não posso dizer que nós tínhamos um relacionamento próximo desde que éramos crianças. De alguma forma isso é completamente compreensível. Eu sou seis anos mais velho que a Leslie, e eu entrei para os Backstreet Boys quando ela tinha apenas seis anos. Eu estava fora de casa durante a maior parte da infância da Leslie. Porque nós nunca realmente crescemos juntos, nós nunca tivemos a chance de ser tão próximos quanto alguns irmãos e irmãs.

Eu me lembro de eu e a Leslie nos divertindo, entretanto, quando éramos muito novos e eu prefiro pensar nesses breves anos quando penso nela. Lembranças desse tempo vieram à mente, recentemente, quando eu estava assistindo antigos vídeos caseiros de pouco antes de eu entrar no BSB. Nós morávamos em Tampa. Enquanto criança eu sonhava em me tornar um diretor de cinema algum dia. Eu adorava fazer vídeos com meu irmão e irmãs nos papéis de atores. Eu fiz um monte desses vídeos caseiros depois de ter ganhado uma câmera de vídeo numa competição promovida pelo programa The New Original Amateur Hour na Universal Studio, em Orlando.

Nesse vídeo, em particular, eu criei minha própria versão de um noticiário local. Leslie, que tinha apenas sete anos na época, era a âncora do jornal. Foi emocionante e triste de ver. Ela era tão nova e inocente. Os desafios da vida não a haviam afetado, ainda, e seu potencial parecia sem limites. Nós éramos apenas crianças brincando em casa e o vídeo capturou um bom (doce) momento em nossas vidas. Esses momentos eram tão raros.

Assistindo à esses filmes caseiros me fez desejar que tivéssemos mais dessas memórias pacíficas da infância. Talvez eu e a Leslie tivéssemos sido mais próximos, assim como nossos outros irmãos, se eu tivesse ficado mais em casa. Muitos anos depois eu tentei me aproximar dela, mas foi difícil ultrapassar as barreiras que ela tinha criado. Eu gostaria de ter tentado mais para ultrapassar essas barreiras antes que fosse tarde demais. Eu espero que ela tenha me perdoado. Eu com certeza a perdoei.





CHEGANDO (REACHING OUT)



Embora não ter estado presente durante os anos de formação da Leslie, nós dois fomos criados sob as mesmas condições e no mesmo ambiente incrivelmente caótico. Meu apelido, Kaos, e o nome da minha empresa, Kaotic, vêm do fato de que a nossa casa era absolutamente louca. Leslie era a filha do meio, o que normalmente é uma boa posição para ser protegida. Ela tinha alguma proteção – na maioria das vezes dos meus avós que talvez a tenham mimado no processo de tentar dar a ela o que ela precisava tanto – mas não total.

Ela tinha apenas um ano e meio quando o Aaron e a Angel nasceram. Enquanto gêmeos eles atraíram muita atenção. Leslie sempre dizia que não recebia tanto amor quanto eles. Ela nem sempre lidou bem com isso e, algumas vezes, suas ações criaram atritos entre nós. Eu não quero difamar a minha falecida irmã, mas ela era muito difícil de se relacionar. Ela, uma vez, foi ao Twitter me criticar, dizendo aos meus fãs que eu tinha me recusado a ajuda-la financeiramente depois de tudo que eu realmente fiz por ela nesse departamento. Eu fiquei muito magoado com isso. Era muito comum aos meus familiares, incluindo meus pais, me pedir por ajuda financeira depois que os Backstreet Boys decolaram e nós fizemos sucesso. Eu não me importava no começo. Eu estava feliz de poder ajuda-los de qualquer maneira que eu pudesse, mas isso durou só até eu ter aproximadamente 27 anos e eu, de propósito, parei porque lhes dar dinheiro não parecia estar lhes ajudando.

Eu estava no estúdio, um dia, quando recebi uma ligação da minha irmã Angel me dizendo para olhar no Twitter porque a Leslie estava falando mal de mim. Eu fiquei chocado, a princípio, e depois, claro, me senti traído porque por muitos anos eu tentei ajuda-la.

Eu só pude abaixar a cabeça em tristeza por tudo que ela estava falando. Ela estava tornando público tantos assuntos pessoais e particulares, o que acabou só causando mais stress no nosso relacionamento. Ela tweetou que eu não me importava mais com a nossa família e que eu não a queria ajudar a arrumar um lugar para morar, o que não era verdade. Se ela ao menos se lembrasse todas as coisas que eu fiz por ela. Eu receio que ela estava tentado substituir algo que ela tinha perdido, dentro dela, há muito tempo atrás.

Mas eu não podia substituir o que a Leslie sentia falta ou, talvez, nunca tenha tido. Eu a queria extremamente bem, assim como a todos os outros membros da minha família, mas eu senti que lhes dando dinheiro só os estava tornando dependentes de mim. Eu queria que eles fossem independentes e tivessem suas próprias carreiras fazendo o que fosse que eles amassem. Eu achei que eles mereciam essa alegria. Toda vez que eu lhes dava dinheiro as coisas só pioravam.

Quando eu parei de prover para os membros da minha família eles tenderam a me culpar pelos seus problemas. Leslie ainda continuava ligando e pedindo dinheiro mesmo depois disso. Eu a ajudei com um carro e quando ela quis se casar, precisou de um passaporte ou decidiu se tornar uma cidadã Canadense, eu a ajudei a encontrar um advogado para cuidar desses detalhes. Depois de um tempo, eu senti que a Leslie estava fora do meu alcance.

Porque ela continuava usando drogas e álcool quando eu estava tentando me livrar disso, eu tinha medo de estar perto dela. Mais ou menos três anos antes de ela falecer ela foi à um dos meus shows no Canadá. Ela estava em péssimo estado. Eu não a via há muito tempo, mas ela definitivamente parecia drogada.

Eu me senti desconfortável e perdido. Eu estava ao mesmo tempo envergonhado e me sentindo culpado. Eu pensei, Cara, é minha culpa ela estar assim! Eu tomei pra mim a culpa e a responsabilidade pelo seu vício em drogas porque eu fui um mau exemplo. Eu estava na mira dos holofotes enquanto algumas celebridades e meus irmãos estavam me assistindo. Eles me viram beber e ser preso por brigas e por dirigir bêbado. Eu não fui, por um longo tempo, um bom exemplo pra eles."



"OPORTUNIDADES PERDIDAS”



Depois de sair de casa e me juntar aos BSB eu tive a chance de mudar o curso da minha vida. Muitas coisas eram melhores, mas ao invés de deixar o caos pra trás eu o levei comigo.

Eu poderia ter dado um basta ao que era o começo de um padrão de vida autodestrutivo, mas eu não o fiz. As outras crianças na minha família se espelhavam em mim e quando eles me viam em noitadas e me metendo em encrenca eles imaginaram que era assim que eles também deviam se comportar. Eu não levei a sério o suficiente a minha responsabilidade enquanto modelo pra eles. Todos esses pensamentos me pegaram quando minha irmãzinha foi ao meu show em Toronto em tão mal estado. Ela tinha a fala pastosa e estava caindo. Eu não conseguia entender o que ela dizia. Eu me senti impotente e frustrado.

Essa memória ainda está bem viva. Essas cenas sempre voltavam à minha mente sempre que a Leslie se metia em encrenca ou fazia algo nocivo. Eu sentia como se ela tentasse me alcançar com uma mão, mas me afastasse com a outra. Ela queria dinheiro e amor, mas ao mesmo tempo ela se revoltava contra mim. Eu não estava preparado para lidar com isso.



EU ME SENTI CULPADO E RESPONSÁVEL PELO PROBLEMA DELA COM DROGAS PORQUE EU FUI UM MAU EXEMPLO.



Aproximadamente um ano antes dela falecer, Leslie apareceu na minha casa de férias na zona rural do Tennessee. Eu estava em Los Angeles nesse dia. Minha companhia de seguro me ligou dizendo que o alarme tinha disparado. A Leslie tinha, de algum modo, conseguido entrar. Eu não tinha ideia de que ela estava lá. Uma outra vez ela foi até Los Angeles e eu ouvi que ela estava procurando uma fonte para conseguir Xanax. Eu disse pra ela parar, mas ela foi clara ao dizer que isso não era da minha conta.

A Leslie estava quebrando o coração. Eu fico triste de ver que meu irmão e irmãs se metem em confusão porque eu acho que eles merecem mais. Eu só queria que eles sentissem da mesma forma. Um dos maiores padrões comportamentais que eu reparei na minha família é que nós geralmente sentimos que devemos ser punidos ou mal tratados. Nós tendemos a ser mártires ou vítimas. Esse padrão também existia em mim e me fez ser descuidado com meu dinheiro, saúde e bem-estar.

Na verdade, esses tipos de padrões podem passar de geração em geração nas famílias, a não ser que elas reconheçam que existe alguma coisa errada e rompam o ciclo. Eu me tornei consciente do padrão de comportamento de vítima da minha família durante as sessões de terapia, onde eu aprendi que se você não se esforça pra quebrar o ciclo você acaba passando ele pros seus filhos.

Meu irmão, minhas irmãs e eu, todos lidamos com o sentimento de que nós não somos merecedores, então quando nos acontece alguma coisa ruim nós sentimos como se merecêssemos isso. Depois que eu consegui reconhecer em mim esse padrão comportamental eu fui capaz de enxergar isso neles também. Eu tentei ajudar dizendo pra eles que eles tem o direito de sonhar alto e ser quem eles quiserem ser.

A Leslie chegou a tentar algumas vezes. Ela fez algum sucesso como cantora alguns anos atrás, mas ela acabou se sentindo desencorajada quando sua carreira de cantora parou de repente. Ela assinou um contrato de gravação em 1999, quando ela tinha 13 anos. Ela fez um álbum, mas a sua gravadora, DreamWorks Records, não o lançou imediatamente. Primeiro eles lançaram um single, “Like Wow!” para chamar atenção. Aquele single chegou à Billboard Hot 100 e fez parte da trilha sonora de Shrek. Um crítico, de posse de uma cópia promocional do álbum, escreveu uma crítica muito boa para a The Village Voice, mas a gravadora cancelou o lançamento no último minuto. Os rumores que se seguiram diziam que a Leslie tinha ganhado peso e que isso preocupava o pessoal de marketing da gravadora. Minha irmã ficou muito magoada com todo o falatório sobre seu corpo.



EU SENTIA COMO SE ELA TENTASSE ME ALCANÇAR COM UMA MÃO, MAS ME AFASTASSE COM A OUTRA.



Ela se mudou para o Canadá e excursionou, lá, como cantora, por um tempo. Ela inclusive fez uma pequena apresentação em Nova Iorque em 2006, esperando conseguir outro contrato de gravação. Por alguns anos a Leslie inclusive cantou com uma banda, mas eles também nunca assinaram com uma gravadora. É tão difícil ser bem sucedido como cantor.

Eu encorajei a Leslie a focar na sua carreira como compositora porque ela era muito boa nisso. O problema foi que a Leslie teve um gostinho do que era a vida de uma celebridade e isso se tornou seu sonho. Ela queria ser famosa, mas os compositores raramente tem seus nomes conhecidos. Leslie se convenceu de que a fama era a chave para a felicidade, o que é um erro comum entre os jovens que se pegam no meio dessa fantasia criada pelo mundo das celebridades.

Novamente, isso é como que uma maldição de família. Nós todos parecemos querer ser famosos, embora nós não nos sentíssemos merecedores da fama. Acho que por isso o caos faz tanta parte da nossa história. Nos dias que antecederam a morte da Leslie nosso pai tentou ajuda-la, mas sua atenção não foi suficiente. Ela estava destruída e nenhum de nós foi capaz de ajudar.

As pessoas perguntam porque eu não fiz uma intervenção e a mandei pra uma clínica de reabilitação, mas para a reabilitação funcionar é preciso que você esteja pronto pra se tratar. Eu estiver cercado de pessoas que foram para reabilitação, mas como eles não estavam prontos para o tratamento a terapia teve pouco ou nenhum efeito sobre eles. Alguns deles foram três ou quatro vezes. O que você precisa entender é que enquanto a pessoa não quiser se ajudar, nada as irá curar. Eles precisam realmente querer melhorar, do contrário eles voltarão ao seu comportamento anterior assim que saírem de lá.

Aqueles que necessitam de ajuda precisam decidir que tomar remédios, usar drogas ou beber demais é auto destrutivo, e também precisam decidir que a auto destruição não é o que eles querem. Isso é importante. Mas não para ai. Eles não apenas precisam querer se salvar, mas eles precisam se sentirem merecedores de serem salvos, merecedores de conduzirem uma vida melhor depois de salvos.

Eu lembro que quando nós estávamos experimentando as ondas de atenção e sucesso enquanto Backstreet Boys, eu lutava contra a sensação de que eu não merecia todas as coisas boas que estavam acontecendo comigo. Eu não me sentia confortável com toda a atenção da mídia ou com a expectativa criada pelo público de que eu tinha que ser um bom exemplo.

Apesar do meu sucesso com os BSB, eu ainda carregava o peso das minhas inseguranças do passado. Meu terapeuta mais tarde me disse que muitas das coisas negativas que eu fiz foram tentativas subconscientes de sabotar a minha carreira porque, como eu disse bem no começo desse capítulo, eu não achava que merecia o sucesso ou felicidade. Por mais que eu quisesse ajudar a Leslie e meus outros irmãos a superarem os seus problemas eu tinha receio de me envolver demais, porque eu tinha meus próprios desafios. Meu terapeuta me alertou sobre isso. Não é egoísta querer proteger a si mesmo quando você está vulnerável. Na verdade é bem necessário.

Antes de um avião de passageiros decolar os atendentes de bordo irão instruir aqueles à bordo que em caso de falta de oxigênio na cabine, cada indivíduo precisará primeiro colocar a sua própria máscara para depois ajudar o outro. Você não pode ajudar outra pessoa se você também está buscando por ar. Os salva-vidas aprendem esse conceito ainda no seu treinamento. Eles são instruídos em técnicas de auto defesa usadas em resgates aquáticos.

O objetivo é impedir que a pessoa em pânico afogue o salva-vidas que está tentando lhe ajudar.

Todos nós queremos ajudar quem está passando por dificuldades na vida, especialmente se eles são pessoas queridas, mas como esses métodos universais de sobrevivência comprovam, você precisa se salvar primeiro. Ser um mártir ou uma vítima não traz benefício pra ninguém. Você precisa estar forte, estável e seguro antes de querer salvar alguém.



SE SENTINDO MERECEDOR



Eu não estou tentando tornar minha história com a Leslie mais leve. Elas não são lisonjeiras, mas eu estou num lugar muito melhor agora do que naquela época e eu acho que posso ajudar as pessoas. Não se sinta mal se você ainda não chegou lá. É um processo diário.

Em alguns dias eu sou muito mais bem sucedido em me sentir forte, estável e seguro do que em outros. Eu tenho muitos anos de um mau comportamento e pensamentos negativos para ultrapassar. Meus comportamentos padrão – a forma como eu ajo quando não considero melhor as coisas – são tão falhos. Acredite em mim, é difícil mudar o padrão comportamental de uma vida. Eu precisei da ajuda de profissionais e não existe vergonha nisso. Só existe vergonha em desperdiçar a sua vida não aproveitando o melhor dos seus talentos e dons e do precioso tempo que você tem.

Você merece se sentir e aparentar o seu melhor e aproveitar o que de melhor a vida tiver pra te oferecer. E você deve esperar isso pra você. Agora, isso não quer dizer que você precisa ter dinheiro ou fama pra ser feliz e se sentir satisfeito. Existem muitos estudos que comprovam que, uma vez que você tenha dinheiro suficiente para as suas despesas essenciais – roupa, comida e casa – ganhar mais e mais dinheiro não aumenta o seu nível de felicidade. Quero dizer, sobre quantas pessoas ricas e famosas que tem uma vida miserável e ferrada você ouviu falar?

Olhe pra mim. Eu fiz uma tonelada de dinheiro graças aos BSB e tive minha parcela de fama, mas você não pode imaginar com que frequência eu esperava poder ter uma vida um pouco mais normal, especialmente quando eu era mais novo e estava sempre sozinho e sentindo falta da minha família. Eu sou grato por todo sucesso que eu tive, mas eu também aprendi a entender que a verdadeira felicidade não está em quantas coisas você pode comprar. É mais sobre descobrir o que você ama fazer e fazer de uma forma que vá causar impacto na vida daqueles que o cercam. Pra muitas pessoas a felicidade vem de se relacionar de forma positiva com o mundo.

Pense sobre isso, o que te faz verdadeiramente feliz? (E não diga compras!) Muitas pessoas estão mais felizes quando eles estão engajados em fazer o que eles amam. Algumas vezes eles chamam isso de “estar na zona”  ou “no fluxo”  ou felicidade. Pra mim, é estar no palco me apresentando pra um público, mas você pode experimentar a mesma sensação de satisfação sendo um contador, um mecânico, um pintor de casas ou um treinador de cachorros – desde que você ame o que faz.



NÓS TODOS PARECEMOS QUERER SER FAMOSOS, EMBORA NÓS NÃO NOS SENTÍSSEMOS MERECEDORES DA FAMA.



Nós todos temos a habilidade de mover montanhas e fazer coisas extraordinárias se nós usarmos a mente. Você não ficará atolado em algum lugar a não ser que desista. Você não precisa se acomodar com menos do que o que você quer ser. Você não precisa ficar onde está agora. Não necessariamente você vai alcançar todos os seus sonhos, mas porque não tentar? O que você tem a perder? Você sabe que nada melhor acontecerá se você ficar sentado o dia inteiro reclamando e bancando a vítima.

Eu não sou capaz de enfatizar o suficiente. Você precisa acreditar que você merece o melhor. Você precisa querer isso. Você precisa ir atrás. E você precisa estar disposto a pedir ajuda quando precisar. Eu tentei ajudar minha irmã. Eu sei que não fui um grande exemplo, mas eu queria que ela fosse feliz e minhas intenções eram boas. Eu queria, de todo coração, que ela tivesse me deixado ajudar, mas ela não deixou e isso foi uma merda de uma tragédia.

Não desperdice sua vida ou seus talentos. Exija a melhor vida que você possa imaginar. Se você precisar fazer mudanças, faça. Quando eu finalmente comecei a frequentar a terapia, depois de perceber que precisava de ajuda, uma das primeiras coisas que eu aprendi é que todos esses filtros que eu tinha desde a minha infância estavam não apenas afetando a minha capacidade de pensar e perceber o mundo, mas também a minha capacidade de comunicação com as pessoas com quem eu mais me importava.



EU ESPERAVA PODER TER UMA VIDA UM POUCO MAIS NORMAL



Meu relacionamento com meu irmão e minhas irmãs era tóxico de várias formas. Nós não éramos bons uns para os outros mesmo que, lá no fundo, nos amássemos. Isso é tudo muito, muito triste de escrever e ainda mais triste de ter de vivenciar. Eu ainda sofro com a morte da Leslie e o fato de que ela morreu antes de nós podermos nos acertar.



NÃO VIVA COM ARREPENDIMENTOS



Parte meu coração pensar sobre isso agora, mas eu não fui ao funeral da Leslie. Eu estava em Nova Iorque quando ela faleceu. Eu não pude entrar no avião e ir até lá porque alguns membros da minha família estavam me culpando pela morte dela. Me machucou tanto ouvi-los dizer esse tipo de coisa. Foi um golpe.

Alguns diziam que se eu estivesse lá por ela, ela não teria morrido. Isso é a pior coisa que alguém poderia dizer. Em outros tempos eu talvez teria os deixado fazer isso comigo, mas quando a Leslie faleceu eu já era muito mais seguro e saudável; eu era mais esperto do que aceitar a mentira ao invés da verdade. Tudo que eu fiz foi amar a minha família enquanto tentava me proteger.

Eu realmente queria ir ao funeral da Leslie. Eu queria ver minha irmã pela última vez. Eu queria dizer adeus pra ela aquele dia, mas eu também sabia que eu tinha a obrigação de cuidar de mim e existia uma linha tênue entre essas duas escolhas. Eu tinha prometido estar lá e eu precisava de uma despedida, mas quando eu falei com alguns membros da minha família que estavam organizando o funeral e eles descarregaram tudo em mim daquela forma, eu simplesmente soube que não poderia ir.

Eu fiquei doente só de falar com eles. Eu estava chorando, deitado no chão do banheiro por duas horas. Eu estava tão triste; eu não poderia ir até a casa da minha mãe porque eu não queria estar envolto em toda aquela negatividade.

Meu corpo e minha mente não teriam suportado. Eu costumava deixar toda negatividade me sobrecarregar, mas eu não posso mais, fisicamente, fazer isso. Eu preciso tomar conta de mim. Eu preciso me proteger de situações que possam me enviar de volta àquele buraco negro da depressão novamente.

Eu luto todo dia com os aspectos emocionais de ter perdido a minha irmã para as drogas e álcool. É uma batalha diária para mim ficar afastado deles. Leslie sabia que eu a amava assim como amo a todos da minha família. Eles são meu sangue, mas amar alguém não significa que você precisa deixar que eles abusem de você. Estar lá pela sua família é importante na maior parte dos casos, mas se a situação é insalubre e pode te machucar emocional ou fisicamente então você precisa se proteger. Eu tive que aprender, da pior forma possível, a reconhecer quais situações não são boas pra mim.



EU COSTUMAVA DEIXAR TODA NEGATIVIDADE ME SOBRECARREGAR, MAS EU NÃO POSSO MAIS, FISICAMENTE, FAZER ISSO.



Eu achei que a Leslie e eu estávamos fazendo algum progresso no nosso relacionamento, antes de ela morrer. Eu a amava e eu sei que ela me amava, apesar das nossas diferenças.

É um sentimento horrível perder uma pessoa querida em qualquer situação, e ainda pior perder uma pessoa importante na sua vida quando ainda existem mágoas. Eu estou em paz com as minhas memórias da Leslie, agora, mas eu demorei pra chegar até aqui.

Eu encorajaria você a nunca ser colocado nessa mesma posição. Não deixe que desentendimentos ou brigas o mantenham distantes de quem você ama. Perdoe-os e peça perdão porque você nunca sabe quando eles podem ir embora pra sempre.



SUPERE

Leslie nunca aprendeu que nós podemos superar as circunstancias. Nós podemos mudar as nossas vidas mudando as nossas atitudes e a forma como nós respondemos às coisas que nos acontecem. Eu não posso dizer com certeza o que se passava na cabeça dela quando ela tomou aqueles medicamentos que a mataram. Mas eu sei que a Leslie nunca compreendeu, realmente, uma coisa que mudou a minha vida – e pode mudar a sua também.

Quando eu era um menino vivendo em uma família disfuncional eu não podia controlar as circunstancias. As brigas e as bebedeiras eram inescapáveis. Conforme eu fui crescendo eu, finalmente, consegui escapar; eu escapei fisicamente saindo de casa e emocionalmente através do consumo de drogas e álcool. Eu estava me punindo por uma coisa sobre a qual eu não tinha controle. Eventualmente eu encontrei um caminho melhor – um caminho que eu descreverei nesse livro.



VOCÊ NÃO DEVE NUNCA VIVER COM A MENTALIDADE DE VÍTIMA



Entenda, por agora, que quando você se acha em uma má situação você precisa saber que o que acontece com você não te define. Com isso eu quero dizer que você pode superar maus ambientes, relacionamentos dolorosos, e tudo aquilo que acontece com você e sobre o qual você não tem controle. O que importa é como você responde. Você tem total propriedade sobre suas escolhas. Você pode tomar uma decisão, como eu tomei, de assumir o controle e caminhar em uma direção positiva. Você pode não ver um caminho agora, mas existe um.

Não desista. Não se puna como eu fiz por tanto tempo ou, infelizmente, como a Leslie fez. Você não deve nunca viver com a mentalidade de vítima. Você pode ter sido abusado, mas isso não quer dizer que você mereça isso. Ninguém merece o abuso. Você não deve nunca permitir que outras pessoas te machuquem física ou mentalmente. Você pode ir embora.

Existem lugares seguros para você ir, lugares melhores onde você pode controlar o seu dia-a-dia e nunca mais voltar a ser uma vítima. É uma tortura e um tormento viver assim.

Eu queria que eu e a Leslie tivéssemos conseguido sanar o nosso relacionamento. Eu queria que ela tivesse aceitado minha oferta de se juntar a minha enquanto eu trabalhava pra ser mais saudável. Eu queria que o timing (tempo) tivesse sido melhor e que eu tivesse colocado, no papel, minhas experiências muito antes. De muitas formas, eu não consigo não pensar que esse livro poderia ter feito a diferença na vida dela. Embora ela tenha partido eu tiro algum consolo do fato de que a morte da Leslie não foi de todo sem sentido. A perda da minha irmã me inspirou a escrever esse livro. Ele pode não ter estado disponível para ajudar a ela, mas é meu desejo sincero que ajude outras pessoas. Por favor, vamos fazer isso juntos, para honrar a memória da irmã que eu amei e perdi, e para te ajudar a conquistar a melhor vida possível – e a vida que você merece."


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