- As mulheres inteligentes sabem
que -
Não
há nada que um homem queira mais do que algo pelo qual
ele precise lutar um pouco para conseguir.
ele precise lutar um pouco para conseguir.
" O jogo
de gato e rato que as mulheres acham enlouquecedor é, na verdade, muito
excitante para os homens”.
Finalmente a sexta-feira tão
esperada e desejada tinha chego e eu mal acreditei que o dia estivesse com
aquela cara de lindo e maravilhoso quando me levantei e vi o sol brilhando
fortemente pela janela, sinal de que o sábado estaria também lindo e ensolarado
e o jogo seria perfeito, mais perfeito ainda se a Grifinória vencesse. Diante
daquela ideia me arrumei com a certeza de que nada abalaria meu humor naquela
manhã maravilhosa, digna de aplausos.
Como eu estava enganada.
Mal havia descido para o salão
comunal e a vida esfregou na minha cara como meu humor poderia mudar
radicalmente, e de uma maneira nada legal.
Desci e parei feliz, sorridente e
animada, junto as meninas que me esperavam perto da lareira, incrivelmente (eu
não sei porque, mas esses marotos andam muito mais próximos de nós do que nos
últimos seis anos), os marotos, é claro, estavam lá também, todos conversando
animados e claro, ninguém deixou de notar o dia maravilhoso que fazia lá fora e
a perspectiva de um sábado perfeito para jogo, enfim, assim que eu desci e me
juntei a tropa, eu percebi que uma garota acenava para mim do outro lado do
salão comunal. Anna Spinnet.
Eu conhecia ela, quer dizer, não
éramos amigas nem nada, mas eu sabia quem era a garota porque sua irmã estava
no sétimo ano com a gente, enquanto ela estava no quinto. Sorri sem jeito e
disse para as meninas que eu já voltava, e me encaminhei até onde Anna estava
parada, ao canto do salão, como se estivesse se escondendo de alguém ou algo.
— Oi Anna. – Sorri, educadamente,
e percebi que a menina parecia meio sem jeito, por isso tentei ser mais doce
possível. O que não é tão difícil, sou a doçura em forma de pessoa. Haha. – Tudo
bem? O dia hoje está lindo, você viu?
— É... Eu vi. – Ela sorriu e
olhou para as próprias mãos, sem saber o que fazer, olhei também para as mãos
dela e percebi que ela segurava o que parecia um pedaço pequeno de pergaminho
enrolado. Estranhei.
Ela ia dar um bilhete pra mim?
— Você queria falar comigo? – Eu
disse, já com a curiosidade martelando freneticamente dentro de mim. Será que
alguém tinha pedido pra ela me entregar um bilhete? – Eu vi você acenando pra
mim.
Sorri e ela, meio avoada, parece
que voltou pra Terra e me olhou, sem jeito ainda, e riu.
— Ah sim, queria sim. É que...
Você é amiga do Black, não é?
— O Six?... quer dizer, o Sirius?
Sou sim, por quê? – Epa, epa, epa, meu sinal de alerta começou a apitar dentro
da minha cabeça e luzes de sirene começaram a brilhar e girar, girar, girar...
— Será que você poderia... –
Estremeci e olhei para o bilhete.
Não. Merlin, não.
— O que? – Me controlei para não
fechar a cara ou dar um showzinho diante dos pensamentos mais malucos que
passavam pela minha cabeça.
Calma, Marlene, pode não ser
nada. Respira. Respira.
Sorri, sem jeito, pra ela, como
se ela pudesse ler meus pensamentos, e ela sorriu de volta, ainda mais sem
graça.
— É que uma amiga pediu pra
entregar esse bilhete pra ele, mas como eu... eu não falo com ele, pensei que
você... você poderia...
— Entregar pra ele? – Tenho quase
certeza que a minha voz estava exasperada demais quando perguntei isso, mas
Anna parecia tão tremula, sem jeito, sem graça e tudo de sem que existisse no
mundo, que ela nem percebeu que eu também estava sem... sem controle.
— É... – Ela sorriu sem jeito e
ergueu o pequeno pergaminho enrolado, e eu sorri, tremendo e com um frio na
barriga, pegando o pergaminho e tentando parecer normal.
Respira, Marlene, respira.
— Claro, Anna. Pode deixar. – Dei
o melhor sorriso que consegui e me virei para voltar às minhas amigas, quando
ela me chamou de novo.
— Marlene? – Encarei ela, com o
cenho franzido e ela disse. – Não deixa os outros meninos verem, okay?
Eu ri descontroladamente, o que
pareceu até estranho e fiz um gesto com a mão de quem diz “pode confiar em
mim”.
Será que ela podia mesmo?
Voltei, mais tremula que ela, pra
junto das meninas e Emme me olhou de lado, percebendo que eu estava parecendo
novamente a irmã do Nick quase sem cabeça.
Ela queria que eu desse um
bilhete para o Sirius, e eu aposto e ganho que era dela mesma e não de nenhuma
amiga, como ela tinha dito.
Mas como eu faria isso?
E o que será que tinha escrito no
bilhete?
Voltei a mim quando ouvi a voz da
Lilly, que parecia meio alterada, falando comigo:
— Lene, OIII, Terra chamando! –
Eu ri, meio avoada ainda e a encarei. – Você não vai com a gente pro salão
principal?
Olhei para ela e olhei para o
bilhete em minha mão. Anna não estava mais ali.
Era a minha chance.
— Ah... vão indo vocês, eu
esqueci de pegar uma coisa.
Sai correndo em direção ao
dormitório, entrei aos tropeços e desabei, trêmula, na minha cama com o
bilhete, trêmulo também, em minhas mãos.
Fiquei olhando para o bilhete
pelo que pareceu uma eternidade, o coração pulsando forte dentro do peito, as
mãos tremendo enquanto de um lado do meu ombro um diabinho falava “abre logo
isso, Marlene”, enquanto no outro ombro um anjinho dizia calmamente “Marlene,
isso não é certo, ler as coisas dos outros é errado”.
Mas era sobre o Sirius!
O diabinho venceu, me perdoe
anjinho.
Desenrolei, calmamente o
pergaminho, com as mãos tremendo e fiquei olhando pra ele por mais um século e
meio.
What the hell...
Tentei ler tudo, eu juro que
tentei, mas meus olhos só focaram algumas palavras que foram mais do que
suficientes para arrancar todo o ar do meu pulmão, acho que arrancaram o pulmão
junto, e o coração também.
Fechei os olhos e as palavras
continuaram lá, dançando salsa e merengue na minha cara, coisas como: “Aquela
outra noite”, “saudade da sua boca”, “te quero” e “hoje, à noite”, eram algumas
das que ficaram zombando de mim enquanto arrancavam, um por um, meus órgãos
vitais.
Voltei a mim quando ouvi o
barulho da porta e tentei desesperadamente esconder o bilhete que jazia nas
minhas mãos, assim como meu coração, mas foi tarde demais. Emme já entrara e
sentava-se a minha frente encarando eu e minhas tripas junto com o bilhete.
— O que é isso? Você achou mesmo
que eu não tinha visto ela te entregar isso, Marlene Mckinnon? – Ela tipo, nem
esperou eu falar nada, já arrancou o bilhete das minhas mãos e ficou lá,
sentada, calmamente lendo minha sentença de morte, como se fosse uma coisa
normal de se fazer nas manhas de sexta-feira.
— Meu Merlin amado! Ela só tem
quinze anos e já sabe falar tudo isso? – Ergui os olhos e franzi o cenho, o que
mais eu tinha perdido enquanto aquelas palavras saltavam do pergaminho e me
estrangulavam?
— Não me faça imaginar que tem
coisa pior do que o pouco que eu li... – Comecei na defensiva e Emme riu,
enrolando o pergaminho e me observando calmamente. Essa calma toda dela me
irritava, às vezes.
— Ela quer que você entregue pro
Sirius, né?
— Eu não vou fazer isso, vou
falar que entreguei e ele nunca, jamais vai sair com ela de novo, porque ela
vai achar que ele deu um fora nela e vai ficar com raiva dai não vai mais ir
atrás dele dai assim eles não vão ficar juntos e eu vou poder ter ele só pra
mim porque se eu ver ele com ela eu não sei o que eu vou fazer e eu...
— LENE! – Voltei a mim quando
ouvi a voz alta de Emme e os dedos dela estalando na minha frente. Merlin, me
interne no St. Mungus porque estou enlouquecendo.
Eu acho que falei tão rápido tudo
que ela não entendeu nada, e eu muito menos.
— Escuta. Você vai SIM entregar o
bilhete pra ele, e...
— O QUE? VOCÊ FICOU LOUCA, EMME?
Eu não posso, você não leu o que ela...
— MARLENE MCKINNON! – Parei e percebi
que agora ela estava em pé, com as duas mãos na cintura, me encarando com uma
cara que lembrava muito a minha mãe. Eu
quase podia ver o rosto da minha mãe no rosto dela. Sinistro.
— Presta atenção. Você quer ou
não quer conquistar esse raio de menino?
Fiquei meio em choque olhando pra
ela, enquanto ela me encarava, ainda parecendo minha mãe.
Incapaz de responder, balancei a
cabeça afirmativamente, e ela assentiu, voltando a se sentar na cama a minha
frente.
— Você tem que entregar o bilhete
porque, se você não entregar, ela vai descobrir, e se ele descobrir que você
tinha um bilhete pra ele e sumiu com o bilhete, vai ficar na cara que você
sente algo por ele, dai meu bem, não vai ter plano algum que funcione.
Assenti novamente, ainda em
choque, e com o coração, restituído no peito, batendo enlouquecidamente.
Eu ia entregar meu amor de mão
beijada para aquela pervertidinha de saia?
Merlin me ajude a não cometer
nenhum assassinato.
— E... Se você for falar com ele,
entregar o bilhete e parecer casual, normal com aquilo, ele vai pensar que você
não sente nada por ele, ou seja, vai fazer ele pensar porque você, a única,
quer dizer, uma das únicas, garota de Hogwarts não morre de amores por ele, e
dai sim, ele vai finalmente começar a querer você. Entendeu?
Fiquei um tempão olhando pra ela
com cara de tacho, antes de finalmente dizer:
— Hãn???
Emme bufou e revirou os olhos.
— Santa lerdisse. – Dessa vez fui
eu que revirei os olhos.
— Perai, deixa eu ver se entendi.
– Ela deu aquele sorriso de mãe tentando ensinar o filhinho burro. – Se eu
entregar o bilhete pra ele e fingir que nem ligo se tem meninas afim dele, ele
vai ficar interessado em mim por isso?
— Ele vai achar que você não está
nem ai pra ele, e isso é a alavanca da coisa.
— Então... Eu tenho que fingir
que pra mim tanto faz com quem ele se agarra ou não?
Senti meu estômago embrulhar.
Emme assentiu e eu senti vontade
de vomitar o café da manhã que eu nem tinha tomado ainda.
O que a gente não faz por amor,
heim?
Confesso que eu nem sei o que
comi no café da manhã, muito menos se eu comi, o horário do café da manhã
passou que nem um borrão enquanto eu tentava me preparar para a hora derradeira
que se aproximava cada vez mais e cada vez mais eu me via incapaz de fazer
aquilo.
A primeira aula se passou e eu
tremia igual vara verde quando a turma toda se levantou e saiu falante corredor
a fora, eu sentia o olhar de Emme sobre mim enquanto pendurava a mochilas nas
costas e segurava com as mãos tremulas o bilhete quase esmagado na mão, sentia
nojo só de pensar no que eu estava segurando, será que ele iria mesmo se
encontrar com ela e fazer sabe lá Merlin o que ela estava insinuando naquele
bilhete?
A ânsia de vomito veio e eu a
engoli, respirando fundo e seguindo o pessoal enquanto saíamos da aula de
feitiços e seguíamos em direção a aula de poções nas masmorras, o caminho até
lá era razoavelmente mais longo, por isso esperei todo mundo seguir a frente enquanto
enrolava ainda na sala, de olho em Sirius, James e Remus, que como de costume
eram os últimos a entrar e a sair da sala, o motivo que eles demoravam a sair
não era porque gostavam tanto assim de estudar, mas porque gostavam de ficar
zoando um ao outro e os demais enquanto a sala ia esvaziando, era como se
naquele momento eles pudessem falar, rir e zoar tudo que não podiam durante as
aulas.
Sai pelo corredor e senti Emme
esbarrar em mim e dar aquela olhada de “anda logo, sua lerda”, e revirei os
olhos enquanto ela e Lilly seguiam rápidas pelo corredor, talvez para
garantirem o primeiro lugar na sala de Slugohrn.
No minuto que perdi elas de
vista, senti meu coração palpitar mais forte ao peito e minhas mãos soarem
quando ouvi a risada de James e a voz de Sirius e Remus que vinham caminhando
lentamente logo atrás de mim.
Era agora ou nunca.
Respirei fundo e abri o melhor
sorriso forçado que Hogwarts inteiro em cinco mil anos (quantos anos Hogwarts
tinha mesmo?) já tinha visto e me virei, percebendo que na mesma hora em que
eles me notavam a conversa diminuíra drasticamente, quase como se eles
estivessem falando de mim e não tivessem me notado ali. Eu heim. G_G
— Hey! – Meu sorriso era capaz de
iluminar o castelo inteiro, eu era mesmo muito boa em fingir felicidade,
descontração e animo.
— E ai Kinnon. – Pude ver que
Sirius e Remus se entreolharam e seguraram o riso, que eu não entendi
patalhufas porque, enquanto James se encaminhava todo sorrisos pro meu lado,
passando a mão sobre meus ombros e me puxando junto com ele enquanto
caminhávamos lentamente pelo corredor.
Estava começando a entender a
troca de olhares e o riso abafado de Sirius e Remus. Tinha Lilly nesse assunto.
— É verdade mesmo que a Lilly vai
sair comigo no sábado ou ela só está querendo me pregar alguma peça? – Ele mal
completou a frase e eu deixei escapar uma gargalhada misturada com um suspiro,
enquanto Remus e Sirius finalmente soltavam o riso preso, gargalhando junto
comigo.
A carinha de James de tipo ‘sério
mesmo que meu maior sonho da vida vai realizar?’ era tão comovente que mesmo
rindo, não que eu estivesse rindo dele, mas rindo da situação, eu senti um aperto
no peito de comoção, aquela coisa de tipo ‘cara, eu entendo perfeitamente o que
você está passando’.
Com isso eu parei de rir e sorri
para ele o mais meiga e doce possível, até me esquecendo daquele bilhete
nojento na minha mão, naquele momento com certeza já todo amassado. Haha.
— Pelo jeito, não sei quem está
mais nervoso, você ou ela. – Confessei, vendo a carinha de alivio e felicidade
se estampar no rosto lindo dele e sorri, sentindo uma alegria compartilhada se
espalhar em meu peito, nem ligando pro meu subconsciente que dizia que a Lilly
iria me matar, fatiar e jogar meus restos mortais para a lula gigante se
soubesse o que eu acabara de dizer.
— Relaxa Pontas, vou estar lá pra
te atazanar até que você jamais se esqueça daquele encontro. – Brincou Sirius e
nós rimos enquanto James fazia uma careta e dizia.
— Nem pense nisso seu cão
sarnento, eu arranco suas pulgas com agua fervendo. – Sirius gargalhou e eu
olhei de Sirius pra James sem entender muito bem aquela piadinha/ameaça.
— Bom... Te deixo em paz só se a
Lene me manter ocupado. – Opaaa, coméqueé?
Sirius deu uma piscadinha
charmosa pra mim e eu ri alto, engasgando junto enquanto tossia e ria, tudo ao
mesmo tempo enquanto meu cérebro meio lento (estou começando a entender porque
as meninas me chamam de lerda) processava aquela frase. Aquilo queria dizer que
ele queria que eu o mantivesse ocupado, tipoooo, eu e ele, e... aiii Merlin me
acuda.
Respira, Marlene, respira.
— Com certeza vou te manter
ocupado – Eu disse, na maior normalidade, enquanto Sirius abria um sorrisão,
tipo quase se achando vencedor naquela, mas ele não ia sair dessa achando que
eu morria por ele, ah não ia mesmo. Estágio quinhentos e noventa e sei la qual
mais, até o fim. Com isso conclui dando o meu melhor sorriso de vencedora. –
Vou te amarrar na cadeira.
Dei a minha piscadinha, no que
James e Remus gargalhavam enquanto Sirius fazia uma carinha de cachorrinho
abandonado.
Eu estava começando a entender a
piada do James sobre cão sarnento, as vezes ele tinha mesmo uma carinha de
cachorrinho, agora parecia aqueles cachorrinhos de rua abandonados.
Coisa mais linda, pena que eu não
podia levar pra casa.
Droga. :(
— Essa é uma verdadeira marota,
viu Almofadinhas. – James me abraçou novamente pelo ombro e riu, enquanto eu ria
junto e pensava “ótimo, já posso entrar pro bando então?”
Ergui a mão que segurava o
bilhete, já meio esmagado contra minha mão, pra tentar segurar minha mochila no
ombro quando Sirius, curioso que só ele, segurou minha mão rapidamente, quase
puxando o pergaminho dela.
— Hey, o que é isso?
Fiz uma careta e apertei mais a
mão contra o pergaminho impedindo que ele puxasse.
Calma lá, playboy, essa porcaria
é pra você, mas pra que a pressa né? Eu ainda desejava, no fundo do meu ser,
dar aquele bilhete pra um trasgo montanhês mastigar achando que era erva doce.
— Ah... isso é... pra você! – Dei
o melhor sorriso forçado que encontrei dentro de mim e ele me olhou franzindo o
cenho.
— Bilhetinho de amor pra mim?
Poxa Lene, eu ia te conquistar em Hogsmead, não precisava ser tão apressada
assim.
— HÁ HÁ HÁ. – Eu disse fazendo
uma cara feia, sem conseguir manter ela por muito tempo enquanto James e Remus
gargalhavam, fazendo eu gargalhar junto. – Como você consegue andar por aí com
esse ego enorme?
Sirius franziu o cenho e riu,
meio sem entender nada, enquanto eu revirava os olhos.
Era lindo, maravilhoso, gostoso,
delicioso e tudo de oso nesse mundo, mas era absurdamente convencido. Com
razão, diga-se de passagem, e que ele não saiba, por favor.
— Na verdade esse bilhete é pra
você, mas de uma pobre coitada da Grifinória que se deu mal de cair nas suas
garras. – Eu ri, desdenhosamente, e ele me olhou meio torto. Acho que ele não
estava entendendo muita coisa, pensando bem, as meninas tinham razão em dizer
que ele também é meio lerdo.
— Bilhete de quem? Posso ver? –
Ele levou a mão até a minha, mas tudo que conseguiu fazer foi segurar a minha
mão, sem conseguir pegar o pergaminho que eu estava, cada vez mais, amassando
contra a palma da minha mão.
— Calma ae sarnentinho. – Eu
disse e Remus e James que agora caminhavam próximos a nós meio calados, mas
prestando toda a atenção do mundo na nossa conversa, riram e Sirius fez uma
careta.
A mão dele permaneceu sobre a
minha como se estivéssemos andando de mãos dadas, só que não, e eu senti o
calor da mão dele se espalhar por meu braço e por meu corpo, a sensação da pele
dele na minha era a coisa mais maravilhosa do mundo.
— Ninguém resiste ao meu charme.
– Ele abriu o sorrisão lindo e galanteador e eu derreti por dentro. Por dentro.
— Ninguém, virgula. – Dei um
sorriso lindo e pisquei pra ele, no que ele pigarreou e me olhou de lado.
— Então vai me entregar de
bandeja assim pra primeira que aparecer? – Ele riu, mas não foi um riso comum,
foi um riso meio ‘estou falando a verdade, mas estou rindo pra parecer que é
brincadeira’, e eu franzi o cenho, olhando pra ele e o encarando por alguns
segundos, sem entender muito aquilo.
Como se fizesse diferença pra ele,
né.
Quando desviei os olhos dos dele
e olhei para a frente percebi que James e Remus estavam agora caminhando mais a
nossa frente, com uma certa distância de nós, como se quisessem dizer ‘olha,
estamos aqui, mas não estamos vendo nem ouvindo essa conversa, então podem
mandar ver’.
Senti um calafrio com esse
pensamento. Como eu adoraria poder ‘mandar ver’ com ele naquele momento.
Suspirei e disse, em resposta a
pergunta/brincadeira dele.
— Bom, você é meu amigo então, eu
não tenho nenhum problema quanto a isso.
Sirius me olhou de lado por um tempo,
meio pensativo, depois deu uma risadinha e disse.
— Pensei que estivesse morrendo
de amores por mim depois de ter me beijado aquele dia.
— Hey! – Encarei ele indignada, o
que na verdade estava mesmo. Esse ego dele as vezes é um porre. – Você que me
beijou!
Deixei transparecer minha
indignação, mas ele só soltou uma gargalhada como se gostasse daquilo, talvez
ele tenha dito aquilo justamente para me pirraçar e me deixar nervosa.
— Não me lembro disso.
— Vou pedir ao professor Slugohrn
uma poção pra memoria então, porque você está precisando. – Dei um sorrisinho e
ele riu alto mais uma vez, como se eu tivesse contando uma piada.
— Mas você não precisa de poção
de memória pra lembrar do beijo né. – Ele piscou e riu mais alto, enquanto eu
fechava a cara. – Aposto que sonha comigo todas as noites.
Merlin, ele está se fazendo de
idiota e está se saindo muito bem.
— Idiota. – Soltei uma gargalhada
e nós dois rimos juntos por quase um minuto, o que fez Remus e James virarem a
cabeça pra trás para nos olhar, como quem não entende que bicho que nos mordeu.
— Vai se ferrar. – Eu disse
depois de recobrar o folego e ele soltou uma gargalhada.
— Adoro ver você nervosinha, fica
toda vermelha, é um charme. – Ele disse entre risos e eu mostrei a língua pra
ele, enquanto por dentro ficava em choque.
Como assim? Ele já fez isso antes
pra me ver nervosa? Há quanto tempo ele me observa e nota essas coisas? Ele me
observa? Ele me nota?
Meu cérebro entrou em pane, mas
eu nada pude demonstrar, então apenas disse.
— Você sabe muito bem que eu
estou afim de outro, então guarde seu charme pra gryndylow de saia aqui. – Eu disse
sacudindo o bilhete e ele riu, mas não pareceu mais tão interessado no bilhete.
Era como se por um minuto eu
fosse mais interessante que qualquer chance dele dar uns amassos.
— Mas se você quiser entrar na
fila, quem sabe daqui uns dez anos você não dá sorte? – Eu dei uma piscadinha e
ri, brincando, enquanto ele fazia uma careta de quem diz ‘não gostei’.
Hahaha, ponto pra mim.
— Dez anos é muita coisa, Lene,
poxa... – Ele riu, mas seu sorriso se desfez de repente enquanto ele diminuía
os passos e seus olhos ficavam fixos a frente.
Diante de suas reações, olhei a
frente para ver um menino muito parecido com ele que vinha na nossa direção com
a cara meio de deboche e desdém.
— Ora, ora, vejam só, meu
irmãozinho arrumou uma namoradinha? – Eu podia jurar que Sirius era mais velho
que esse menino, mas o tom de voz e a palavra ‘irmãozinho’ deixava bem claro
que os dois não se gostavam nenhum pouco.
A cara de Sirius dizia tudo isso
e muito mais.
— O que você quer, Régulo?
Eu podia sentir a camada de ar
frio e áspero entre os dois e me aproximei mais de Sirius como quem diz, ‘não
esquenta que esse zé ruela não vai se meter com você’, no fundo eu também queria
meio que dizer pra esse tal de Régulo ‘é, sou mesmo a namoradinha dele’.
Quem dera.
Sirius não disse nada sobre esse
assunto, mas parecia não querer responder nada pra Régulo, suas atitudes eram
de tanto desdém quanto do menino, e passei a odiar o menino naquele minuto.
— Poxa irmãozinho, só vim te dar
um oi. Mamãe mandou lembranças. – Regulo riu, desdenhoso e Sirius não se moveu
um centímetro, seu rosto fechado parecia cada vez mais irritado, e eu aposto
que ele só não tinha quebrado a cara do irmão porque eu estava ao seu lado.
Se eles eram mesmo irmãos não
tinham nada em comum, quer dizer, se pareciam bastante, mas ainda assim eram
diferentes, sem contar que Sirius era muito mais bonito, charmoso, estiloso e
tinha seu próprio brilho.
Régulo parecia muito com Snape, e
eu não duvidaria nada se fizessem parte do mesmo grupo de amigos. Tinha aquele
ar de desdém de todo Sonserino, como se o sol girasse em torno do seu umbigo,
apesar de ter os mesmos traços no rosto, Sirius tinha passado bem mais na fila da
beleza e gostosura do que Régulo.
Naquele momento tive um insight.
— Você é da Sonserina! – Eu
exclamei como quem descobre uma coisa muito importante. E tinha descoberto
mesmo. – É um Black!
A risada de desdém de Régulo me
fez sentir vontade de engolir minhas palavras.
— Olha só irmãozinho, não é que
sua namoradinha se parece mesmo com você, lerda e burra. HAHAHA;
Mas o que?
Percebi que Sirius fechou a mão
em punho e já abria a boca pra me defender, mas fui muito mais rápida que ele.
O que esse sujeitinho idiota está
pensando que é?
— Olha só quem fala, eu não sabia
que filhote de trasgo falava. – Régulo arregalou os olhos, ofendido, enquanto
Sirius olhava do irmão pra mim, surpreso. – E esse cheiro? – Respirei fundo,
fazendo uma careta e afastando o rosto do sujeitinho. – Nas masmorras não tem
chuveiro não? Há quanto tempo você não toma banho?
Deixei escapar uma gargalhada e
vi Sirius rir comigo, enquanto Régulo dava um passo pra trás, o semblante
fechado, como quem faz cara feia.
Ah coitado, como se eu tivesse
medo de cara feia. Como diz minha mãe, ‘cara feia é fome’, no caso dele, deve
ser também falta de banho.
— Por isso eu disse que você era
da Sonserina, esse cheiro só pode vir de lá. – Gargalhei mais ainda, dando
minha cartada final e as narinas de Régulo se inflaram.
—Você está brincando com a pessoa
errada, garota.
Hahaha. Estou me divertindo muito
com esse babaca.
— Régulo. – Sirius disse, em tom
de advertência, mas eu não conseguia parar de rir, ele não me dava medo nenhum,
me dava crise de risos.
— Uiiii que medo. Me borrei de
medo agora, ah não, quem anda de cueca suja é vocês, né?
HAHAHA
Gargalhei e Sirius gargalhou
comigo enquanto Régulo, ofendido e com a cueca freada, com certeza, saia
pisando fundo.
Eu não conseguia parar de rir.
Que comédia.
— Muito engraçado o seu irmão,
Sirius. – Respirei fundo, controlando meu acesso de riso e vi Sirius me
encarando, com o rosto risonho. – O que foi?
— Desde quando você é assim? – Eu
ri diante do ar impressionado dele e pisquei, cheia de charme.
— Você ainda não viu nada.
— Tenho até medo do que mais
posso ver. – Ele disse e eu ri, isso foi um elogio?
— Não precisa me agradecer
depois. – Entreguei o pergaminho, já bem amassado pra ele, que segurou meio
incerto, e pisquei, me virando e saindo
andando, ou melhor dizendo, desfilando, como quem diz, ‘essa dai se oferece,
mas a carne aqui que você não pode ter, é mil vezes melhor’, chora baby. ;)
Aquela noite era um pré-jogo da
Grifinória, o que queria dizer que, ao invés dos jogadores estarem na deles, calados,
concentrados, eles estavam todos aglomerados no salão comunal bebendo muita
cerveja amanteigada, conversando, rindo e alguns até dando os chamados ‘pegas’,
escondidos nos cantos do salão.
Eu, obviamente, não era a que
estava em algum canto do salão dando “uns pegas” no meu amado, lindo e
maravilhoso Sirius Black, por mais que eu adorasse essa ideia, eu era aquela
que sentava num canto com as amigas e ficávamos lá rindo de nós e rindo dos outros,
afinal de contas, não tem nada mais legal que uma mulher pode fazer do que se
juntar as suas amigas mulheres para falar das outras mulheres.
Pra minha sorte, e olha como
Merlin gosta mesmo de mim, aquela noite de festa pré-jogo, Sirius
milagrosamente não estava agarrado a ninguém, nem desaparecido do salão
comunal, o que naquelas festas pré e pós jogos era bastante comum, levando em
consideração que ele era artilheiro da Grifinória ao lado do James que era
apanhador. Com isso associado ao seu currículo de gato, galanteador e sexy, ele
conseguia mais umas quinhentas e noventa e nove fadas mordentes atiradas em
cima dele.
Diante de tal pensamento fiz cara
de ânsia, olhando disfarçadamente para ele que estava sentado em frente a
lareira acompanhado de seus amigos, ou comparsas por assim dizer, James, Remus
e Pettigrew, rindo, conversando e tomando cerveja amanteigada, o que era
bastante comum nessas festas, agora como e de onde vinham, isso era um mistério
que eu não gostaria de descobrir.
— Meu Merlin, alguém diz pra
Loevell que ela está parecendo um grindylow com aquela roupa! – Disse Emme,
fazendo eu desviar meus pensamentos de Sirius e junto com Lilly e Alice
gargalharmos tanto que minha barriga começou a dar cãibras de tanto rir. – E
aquele cabelo de sereiana?
— Ela deve dormir no lago negro a
noite e voltar de manhã só pra ir pra aula! – Disse Alice entre risos, o que
nos causou mais dores na barriga.
— Dormir? Ela deve morar no lago
negro, enrolada com a lula gigante! Merlin, alguém me diz como ela conseguiu
ficar com o Gideão, por favor!
Já mencionei que Emme tem uma
quedinha por homens com nomes estranhos? Tipo o Gideão, o Remus.. cof, cof, o
Remus é um caso a parte que não pode ser mencionado perto da Emme, ela fica tão
vermelha que você começa a pensar que ela esfregou o cabelo molhado da Lilly no
rosto e de repente começou a ficar da mesma cor.
— Alguém falou meu nome? – Nos
viramos todas de uma vez só para ver Gideão Prewett parado ao lado do, que o
Sirius não ouça isso, LINDO John Wood, sim, nunca comentei dele para vocês? Ah,
se existe perfeição depois de Sirius Black, eu diria que começa com John e
termina com Wood. Eu digo isso porque ele é o único jogador de quadribol da
Grifinória que sempre chega dos jogos ao salão comunal ainda com o uniforme, e
detalhe básico, sem camisa e mostrando aqueles perfeitos peitorais malhados
que, agradeço a Merlin todos os jogos, por ele não sentir frio depois de uma
partida. Como Merlin foi bondoso em ter inventado esse jogo!
Bom, deixando Wood e seu peitoral
divino de lado, se isso for possível, porque é claro que pensar nisso me deixou
assim levemente corada; Emme, se é que isso é possível, ficou mais vermelha do
que eu e começou a tossir sem parar enquanto Gideão e Wood, segurando algumas
garrafinhas de cerveja amanteigada nas mãos nos olhavam com feições do tipo
achando graça e não entendendo nada, o que é perfeitamente normal diante de
garotas como nós.
Dei uma olhada de esgoela para
Lilly que estava vermelha como os cabelos, segurando os risos e Alice que de
repente ficou interessadíssima no canto do sofá meio rasgado e Emme que tossia
e mexia meio descontrolada na ponta de seu cachecol e não aguentei mais,
comecei a rir descontroladamente, fazendo os meninos rirem sem saber nem porquê
e ficarem com a cara mais “não tô entendendo porcaria nenhuma mais, alguém leva
elas pro St. Mungus, por favor! ”
— A gente tava comentando como
alguém conseguiu sair com a Loevell, tipo... você! – Eu disse entre gargalhadas
e apontei para Gideão que, de início não entendeu nada, mas daí começou a
gargalhar junto e de repente, pronto, tudo resolvido, todos rindo sem parar até
os meninos, numa boa, se sentarem perto de nós, o Gideão no braço do sofá da
Emme, para alegria ou desespero dela, e o Wood no braço da minha poltrona, para
minha alegria ou desespero.
— Ah, pensei que vocês estavam
falando mal de mim, garotas. – Ele piscou meio charmoso e todas nós rimos,
acompanhadas dele e de Wood. Eu não entendi muito bem aquela piscada, digamos
que Gideão não era lá um galã da Grifinória, mas ele era divertido e engraçado,
e como dizia Emme, tinha um nome estranho, bonito e sensual na hora de dizer...
tipo Gi..de..ão. UAU, perdi o folego! / G.G / Vai entender essas garotas.
— Viemos ver se vocês gostariam
de tomar umas cervejas amanteigadas. – Disse Wood, sem precisar ser charmoso,
mas já sendo. Ele era o tipo de cara naturalmente sensual, bonito e sexy, sem
piscadelas, nem nada, até mesmo com camisa, e se eu não fosse tão loucamente,
tipo, bem loucamente mesmo, apaixonada pelo Sirius, quem sabe eu não daria umas
voltinhas naquele parque de diversões? Cof, cof, se é que você me entende.
Reprimi um riso diante de meus
pensamentos pecaminosos, como diria Lilly, o que passou totalmente despercebido
diante do clima descontraído e sorri para Wood sentindo meu rosto esquentando
cada vez mais, imagina se esse garoto é um Legilimente?
Tossi, engasgada, ficando mais
vermelha, enquanto Emme ria, já recuperada do seu acesso de tossi e vermelhidão
e voltava a ser a Emme linda e sensual de sempre, tirando totalmente a atenção
de quem quer que fosse de mim. O que foi um alivio.
— Ah, como eu estava esperando
ansiosamente que garotos cavalheiros como vocês nos dissessem isso. – Gargalhei
com a frase sensualmente exagerada dela, ainda vermelha e distraidamente
desviei meus olhos para o outro canto do salão comunal onde Sirius estava
sentado com os marotos, apelido um tanto estranho deles, e me deparei com um
par de olhos azuis acinzentados olhando diretamente para mim.
Senti como se um balde de água
fria caísse sobre minha cabeça, ele estava olhando para mim! Ou será que tinha
outra garota atrás de mim e eu não tinha percebido, fiquei tentada a virar e
olhar para trás, mas como virar significava quebrar aquele contato visual
momentâneo e maravilhoso entre nós, não me mexi um milímetro sequer e mantive o
contato com ele pelo que parecia uma eternidade, mas que, na realidade, deve
ter durado no máximo uns três segundos, porque no segundo seguinte eu estava
sentindo a mão do Wood no meu ombro e sem saber porque estava gargalhando junto
com eles e ficando toda vermelha novamente, só que dessa vez era o calor
daquele olhar penetrando todas as células do meu corpo.
Como ele conseguia fazer isso
comigo? Só me olhar e de repente meu corpo se aquecia e o mundo ganhava uma cor
especial, ficava todo colorido, como se eu pudesse sair de pijama pelos
gramados escurecidos e congelados de Hogwarts, sorrindo, feliz e saltitante,
sem sentir frio, medo ou me sentir uma louca desvairada, porque convenhamos,
fazer isso só me faria ser uma louca desvairada, mesmo. Sorte a minha que essas
vontades eram só vontades passageiras, daquelas que dá e passa.
— Sorte a nossa que temos vocês.
– Peguei a frase da Emme no ar e ri, sem saber nem porque estava rindo, estar
com elas era isso, era rir sem nem saber porque. Mais ou menos igual quando eu
ficava pensando no Sirius e sorria sem nem saber porque. Coisas da vida.
— Parece que vocês estão nos
bajulando. – Brincou Wood e eu gargalhei. Parece? Ele não conhece a Emme mesmo,
ela só estava os seduzindo para conseguir mais cervejas amanteigadas ou algo
mais que estivesse rolando por ali e não tinham nos contado.
— Que isso, Wood.
— Impressão sua.
— É, coisa atoa.
— Coisa boba. – Completamos as
quatro e gargalhamos, fazendo os meninos se entreolharem sem entenderem nada.
— O que será que estão servindo a
parte nessa festa que não nos ofereceram ainda? – Todos nós gargalhamos.
— Você não viu nada ainda, Wood.
– Engasguei e tossi e ri, tudo ao mesmo tempo ao ouvir aquela voz enquanto
Lilly fazia uma careta estranha entre os risos, o que fez Emme e Alice rirem
ainda mais, enquanto eu tentava me recuperar daquela surpresa.
Parado ao meu lado estava Sirius,
sorrindo charmosamente e ao seu lado James, que na verdade estava praticamente
encarando Lilly com aquele seu jeitinho doce e sapeca ao mesmo tempo de quem
diz “eu vim te seduzir Lilly, mas olha como eu sou um amor de garoto, você tem
que sair comigo pra provar isso!”.
Aposto como ele era doce em todos
os sentidos, e com esse pensamento gargalhei, tapando a boca em seguida e
rezando pra não ter nenhum legilimente naquela roda de pessoas improváveis de
estarem juntas numa pré festa da Grifinória.
Eu estava impossível naquela
noite, o que será que tinha naquelas cervejas amanteigadas?
— Essas meninas são impossíveis.
– E dessa vez quem ficou vermelha igual pimentão foi Emme, e com essa, as três
mais enrubescidas que o cabelo da Lilly, poderia fechar a noite, certo?
Remus piscou para nós e para
Emme, que tossiu. Então para completar o círculo de coisas estranhas e pessoas
estranhas reunidas naquela noite, Sirius sentou-se no outro braço da minha
poltrona, Remus no outro braço da poltrona de Emme e James ao lado de Lilly no
sofá de três lugares, no qual Alice estava do outro lado de Lilly, olhando
aquela cena toda com ar de assustada e confusa, pensando seriamente em algo
como “Será que eu estou mesmo vendo isso ou tinha drogas na minha cerveja
amanteigada e daqui a pouco hipogrifos cor de rosa entraram voando pelo salão
comunal?”
Eu estava quase pensando a mesma
coisa.
— Isso porque você nunca viu elas
vestidas para seduzir. – Disse Sirius marotamente risonho e piscou pra mim, o
que me fez engasgar com a minha cerveja amanteigada na qual eu tinha acabado de
virar um gole, e quase tossir, engolindo tudo rapidamente, e ficando então
vermelha igual a Madame Pomfrey quando Hagrid a elogia.
— Vestidas para seduzir? Mas se
elas já fazem isso sem estarem vestidas, imagina vestidas para seduzir, então.
– Disse Wood e eu engasguei novamente, fazendo todo mundo rir e gargalhar em
seguida.
Era uma roda de pessoas estranhas
com conversas estranhas.
O que tava rolando ali, afinal?
Será que eu estava sonhando, delirando, ou imaginando demais?
— Mas afinal de contas, do que
vocês estão falando? – Disse Emme, emendando logo com aquele jeito sedutor
dela, acho que ela estava querendo impressionar Remus e Gideão ao mesmo tempo,
espertinha. – Nós nascemos sedutoras, seduzimos até escovando os dentes.
Gargalhei, junto com as meninas e
os meninos.
— Seduzimos até entre os gritos
das mandrágoras.
— Quando vocês pensam que os
meninos desmaiaram por causa dos gritos, na verdade foi por causa da nossa
beleza. – Emendei a deixa da Lilly, e gargalhamos, enquanto Sirius virava o
rosto de lado para olhar diretamente pra mim com uma cara de “não sabia que
você era assim”, enquanto ria, daquele jeito que parecia um latido e eu achava
absurdamente lindo e sensual. Os pelos dos meus braços até arrepiaram.
— Estou dizendo que essas meninas
são impossíveis. – Disse Remus entre os risos, o que fez Wood e Gideão
concordarem entre risadas.
— Vocês deveriam ser nossas
líderes de torcidas, para animar os jogos.
— Palhaças de torcidas, você quer
dizer, né Wood. – Eu disse, ao comentário dele e ele riu, balançando a cabeça
levemente e acariciando meus cabelos de uma maneira estranha e calorosa, de
repente achei que aquela cerveja amanteigada estava me deixando quente demais,
meu rosto esquentou igual o sol nascente e eu derreti como neve nos galhos do
salgueiro lutador. Detalhe básico que tudo isso aconteceu enquanto Sirius
olhava de mim para Wood com a testa franzida, sem me deixar entender nada.
Oh, meu Merlin, será que ele
estava pensando que o tal garoto que eu queria impressionar...?
— Tenho certeza que dariam
apelidos mais bonitos pra vocês. – Wood disse carinhosamente, mas sua gentileza
não durou muito.
— Tipo Rei bobo da corte. – Disse
Lilly, gargalhando e alguns de nós ficamos olhando para ela meio sem entender.
Lilly e essas manias trouxas dela, mas a gargalhada de Gideão foi tão alta que
de repente parecia que todo mundo sabia do que a Lilly estava falando.
— Tipo, rainhas da torcida. –
Emendou James, piscando pra Lilly, fazendo a gente confundir a Lilly com seus cabelos.
— Tá esse papo tá super legal
mas, cadê as cervejas? – E todos nós rimos. Só a Emme mesmo.
— Bem que não seria uma má ideia
se tivéssemos umas líderes de torcida, igual os trouxas fazem naqueles jogos
estranhos que assistimos na casa do Remus na última férias, lembra Pontas? –
Disse Sirius, agora todos com os ânimos mais calmos, e menos histéricos.
— Verdade, aquilo era demais!
— Vocês estão falando do futebol
americano né? Assisti na casa do Gideão nas férias também, nossa, aquilo era
muito demais, Potter!
— Tinha cada uma mais do que a
outra, Merlin do céu... – Emendou Sirius, e de repente estava eu, Emme, Lilly e
Alice nos entreolhando, enquanto os garotos falavam de garotas no meio de
garotas. Onde esse mundo vai parar, Merlin?
— E aqueles jogadores? – Disse
Emme, enquanto eu emendava, como se nós meninas de repente iniciássemos uma
conversa paralela falando de garotos no meio de garotos. Sabe como é.
— Aquilo são mesmo músculos
embaixo daquelas camisas ou eles colocam enchimento? Merlin do céu...
— E aquele loiro de barba rala e
olhos azuis? – Disse Lilly fazendo James encarar a ruiva com as sobrancelhas
erguidas, a boca entreaberta e o rosto mais sério que eu já fui capaz de ver
nele em sete anos de Hogwarts, parecia que ele estava vendo a Sonserina
acabando com a Grifinória, sentado no banco de reservas, sem poder fazer nada.
Bem assustado.
— Ah não Lilly, eu vi primeiro! –
Eu disse, entre risos de nós meninas enquanto Alice emendava. – Tudo bem
garotas, eu fico com aquele de olhos verdes.
— E que músculos! – Dissemos nós
quatro e gargalhamos enquanto o silencio dos meninos predominava ao que todos
nos olhavam com cara de assustados e estranhos pensando algo como “Elas estão
mesmo falando de homens no meio de homens?”
Pois é, parece que o jogo virou,
não é mesmo?
— O que será que estão servindo a
parte nessa festa que não nos ofereceram ainda? – Disse James e todos
gargalharam, nós meninas jogando os cabelos para trás e nos sentindo
vitoriosas. Não mecham com quem vocês não podem vencer, meninos. Fica a dica ;)
— Essas meninas são mesmo
impossíveis. – Disse Wood e todos gargalharam ainda mais.
Aquela conversa estava ficando
repetitiva demais.
— Somos um arraso, admitam ou
não. – Eu deixei meus pensamentos falarem mais alto, e aproveitando a deixa,
joguei meus cabelos para trás, charmosamente, o que fez Wood e Sirius me
olharem e depois se entreolharem como quem diz “Falou, ta falado”, pois é.
Zack e Ollie, uns garotos do
sétimo ano que pareciam conseguir qualquer coisa, eu tinha certeza que eram
eles que contrabandeavam as coisas naquelas festas, se aproximaram com uma
caixa cheia de cervejas amanteigadas e todos nós pegamos uma e ficamos alguns
segundos em silencio saboreando nossas bebidas deliciosamente quentes.
— Fiquei sabendo que o Zackary vai
jogar como apanhador amanhã. – Disse Wood pra quebrar o silencio nada
constrangedor, na verdade era aquele tipo de silencio legal entre amigos,
levando em consideração que aquilo não era bem um grupo de amigos; Na verdade
bem dita, eu não era amiga de Gideão, tinha uma quedinha, confesso, por Wood,
eu só era mais amiga do James, apaixonada por Sirius, só falava o básico com
Remus, Lilly era amiga de Remus, odiava ou dizia odiar James, achava Sirius
exibido, metido e galinha, igual ela falava do James, não conversava com Wood
e pelo que eu sabia só conversava com
Gideão de vez em quando porque tinham amigos em comum e Emme tinha uma queda
por Gideão e Remus, mas até onde eu sabia ela não era amiga de nenhum dos dois,
talvez um pouco do Remus, não era amiga do James, só falava o básico com ele e
com Sirius, e não tinha nenhuma amizade com Wood, muito menos. Alice só
conhecia todos ali presentes porque eles eram amigos, mais ou menos nossos, mas
todos amigos de Frank, então ela basicamente só os conhecia, porque quem
conversava com eles era seu namorado.
E os meninos se conheciam porque
jogavam quadribol juntos, exceto Gideão e Remus que não jogavam, mas como eram
homens e amigos dos caras do time, acho que nem precisavam jogar para serem
amigos.
Então era um grupo de amigos bem
esquisito, diga-se de passagem, e naquela noite, estava bem mais esquisito do
que o normal.
— Ele é um bosta. – Disse James,
virando um gole de sua cerveja amanteigada, enquanto eu fazia o mesmo, sentindo
uma estranha mão acariciando minhas costas, sem saber se era Wood ou Sirius.
Merlin, não diga que eu estou começando a ficar vermelha.
“Sim, você está”.
— Enquanto ele estiver
substituindo o Johnson, nós vamos continuar ganhando deles. – Os garotos riram
com o comentário de James e eu olhei disfarçadamente para Sirius, sentado ao
meu lado. Ele estava virando um gole de sua cerveja e olhava pelo canto dos
olhos pra Wood e depois olhou para mim, pega de surpresa, sorri sem jeito e
pigarreei, escorregando na poltrona pra frente e afastando a mão de quem quer
que fosse das minhas costas, o que fez Wood me olhar com um olhar
interrogativo.
Merlin, não me diga que o Wood
está flertando comigo com Sirius bem ao meu lado, por favor, não me diga isso.
“Sim, está”.
Tossi e virei um grande gole da
minha cerveja amanteigada, enquanto Emme me olhava com cara de interrogação e
Lilian tentava disfarçar o que quer que estivesse acontecendo por ali.
— A Grifinória está com um time
ótimo, não tem ninguém capaz de tirar essa taça de vocês. – James sorriu,
docemente, enquanto olhava pra Lilly de maneira carinhosa.
— Bom, devo concordar com a
Lilian. – Disse Sirius. – Ninguém tira essa taça da gente.
— Com essas líderes de torcida do
nosso lado então... – Emendou Wood e todos nós rimos, enquanto eu sentia o
rosto esquentando novamente ao sentir a mão de Wood na minha cintura.
Me sentindo estranha com aquela
situação, me levantei com tudo e todos me olharam, sem entender nada. Eu
adoraria ser bajulada, flertada, atacada, ou qualquer adjetivo que fosse desse
gênero por Wood, mas não ali, e não com Sirius, lindo, maravilhoso e cheiroso
ao meu lado.
— Ta tudo bem, Lene? – Indagou
Emme, sem entender nada, franzindo a testa enquanto todo mundo resolvia me
encarar para me deixar mais vermelha ainda.
Dei uma risada sem graça e falei
a primeira mentira que me veio à cabeça.
— Tô morrendo de calor com todas
essas cervejas, acho que vou dar uma volta no castelo pra ver se esfrio.
— Se você quiser que a gente... –
Começou Alice, mas foi interrompida por Wood.
— Eu acompanho você, Lene. –
Quase engasguei e tossi para disfarçar, me virando para olhar pra Wood e
disfarçadamente para Sirius que parecia que tinha comido alguma coisa ruim e
estava com má digestão.
Como eu ia sair dessa? Virei-me
para Emme, ela sempre tem uma solução para tudo, ela entenderia meu desespero,
como eu ia deixar Wood flertar comigo ali, descaradamente, na frente do Sirius,
uma vez que eu estava com todo aquele plano de Estágio um de conquistando SB?
Encarei Emme com minha melhor
cara de “pelo amor de Merlin, me ajuda”, mas ela apenas sorriu, radiante, como
se Remus estivesse acariciando as costas dela também. Será?
— Acho uma ótima ideia você
acompanhar ela, Wood, é perigoso a Lene ficar andando por ai sozinha! – Ela deu
aquele sorriso lindamente radiante e sensual, e eu fiquei olhando para a cara
dela, tipo “HÃ? COMO ASSIM? ERA PRA VOCÊ ME AJUDAR, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO
EMELLINE VANCE?”
Ela nem pareceu notar meu
desespero, pois continuou me olhando com aquele sorriso estupidamente grande
demais para a boca dela.
Qual era a dela?
Levei um susto quando ouvi aquela
voz rouca, meio sexy, dizer em seguida.
— Eu vou com vocês, também tô
precisando tomar um ar, esse salão ta muito quente.
E de repente todos estavam
olhando pra nós três, pensando, “Mas que porra está acontecendo aqui?”
Era o que eu adoraria saber.
— Almofadinhas... – Começou James
e vi ele e Remus olhando para Sirius, como se nem eles estivessem entendendo.
Eu estava começando a entender
aquele olhar de James, era algo como “O Wood tá afim de pegar a Lene, o que
você vai fazer indo junto com eles?”
Merlin, por favor, me ajuda, o
que eu faço?
Eu sei o que você deve estar
pensando, deve estar pensando algo como “Qual é, Marlene, você acabou de dizer
que o Wood é um gato e você confessa que tem uma quedinha por ele, então por
que não aproveita e fica logo com ele, o Sirius é mesmo um galinha, quem sabe
você não tem sorte com o Wood, né?”
Pois é, eu adoraria pensar assim
como você, mas o que eu posso fazer se meu coração, mente e alma é toda desse
malandro de olhos azuis acinzentados, voz rouca, risada igual um latido de
cachorro e aquele sorriso que esmaga tudo dentro de mim?
Trocaria até o jogador mais lindo
do futebol americano trouxa lá por ele, você consegue entender isso?
Loucamente apaixonada e naquele
momento, totalmente perdida, desconsolada, confusa, sem saber o que fazer.
— Merlin, preciso de ar. – Foi
tudo o que eu disse, antes de sair caminhando em direção ao buraco da mulher
gorda, não sem antes ouvir claramente a voz da Emme:
— Essa vai ser boa.
Qual era a dela?
O ar fresco do corredor bateu em
mim como um balde de água fria, esfriando meu corpo quase que de repente, mas o
frio não chegou tão cedo, foi como se amenizasse o calor que percorria por
minhas veias e me fizesse respirar melhor.
Sai andando pelo corredor em
direção as escadas que me levariam para baixo, eu nem sabia para onde estava
indo, mas como meus passos eram lentos e silenciosos, logo Wood estava do meu
lado e Sirius do outro.
Situação constrangedora.
— Imagina se o Filch aparece
agora. – Disse Sirius, fazendo eu e Wood olharmos para ele com cara de quem diz
“vira essa boca pra lá”.
— Ou pior ainda, pirraça. – Disse
Wood, e dessa vez fui eu apenas que olhei feio pra ele, enquanto Sirius tentava
reprimir a gargalhada.
— Seria muito hilário. Eu adoro o
pirraça, ele adora infernizar os alunos, mas adora ainda mais infernizar o
Filch.
— É, é muito fácil fazer ele
correr atrás do Filch. – Eu estava assim, meio que parecendo que estava
assistindo aquelas partidas trouxas de tênis, onde você vira a cabeça de um
lado para o outro, sem entender porra nenhuma.
Sirius dessa vez gargalhou, junto
com Wood.
— E quando eu falo, Pirraça olha
só, alunos do primeiro ano. Ele sai voando que nem louco atrás dos pobres
coitados.
Os dois riram, e de repente eu
pensei que poderia deixar os dois ali, sozinhos, num encontro amoroso, eles
estavam se saindo muito bem e eu estava tipo, sobrando.
— Qual é, ele nunca fez nada
contra vocês? – Eu disse, tentando sair do anonimato, ou dizer, “oi, foi por
mim que vocês vieram, ou vocês por acaso são gays e só queriam ficar sozinhos?
”
Vai saber né.
— Não, se você souber fazer o
jogo dele. – Começou Wood, e Sirius emendou.
— É muito fácil pra mim e pro
James, na verdade é o Pirraça que nos ajuda na maioria das encrencas que
arrumamos por ai.
Dessa vez tive que encarar Sirius
e erguer as sobrancelhas, surpresa.
— E eu fazendo trabalhos de
poções para o Senhor, Sirius Black, enquanto você voa por aí infernizando
pobres coitados do primeiro ano. Bom saber.
Sirius gargalhou diante da minha
brincadeira e viramos à esquerda, entrando num corredor mais escuro.
Estava tão distraída com os
meninos que nem reparei para onde estava indo até me dar conta de uma coisa que
me fez congelar por dentro: Aquele era o corredor dos encontros.
Fato que foi confirmado muito
logo passamos por um bequinho onde um casal fazia mais barulho do que se
beijava.
Esse corredor era chamado assim
porque tinha diversos buracos entre as paredes que chamávamos de ‘becos’,
nesses buracos antigamente ficavam algumas estatuas de ferro, mas há alguns
anos eles mudaram de lugar e ali ficou só os buracos, excelentes para jovens
casais adolescentes darem o que chamam de uns amassos, sem ninguém ver até que
passe em frente, as vezes você não vê exatamente, só ouve.
Senti meu rosto esquentar mais do
que com a cerveja amanteigada e olhei pro chão, super sem graça, e então ouvi a
risada rouca de Sirius, o que eu percebi que era de mim porque quando ergui os
olhos e o olhei, ele estava me olhando e rindo, com cara de quem acha graça.
— O Corredor dos amassos. – Disse
Wood risonho, e Sirius riu mais ainda.
— Conheço bem esse lugar. – Fiz
uma careta diante daquele comentário de Sirius e emendei com cara de poucos
amigos.
— Imagino mesmo. – Revirei os
olhos. – Uma por dia, ou seriam duas?
Sirius gargalhou como se aquilo
fosse uma piada, okay, eu podia até estar exagerando, mas que eram mais de uma
na semana, isso com certeza eram.
— Oloco, Black. – Riu Wood, e eu
senti que ficou no ar uma frase tipo “Passa a senha ai, camarada.”
Homens. Revirei os olhos e
continuei andando e olhando para a frente, evitando olhar para o lado e
ignorando o barulho de beijos.
Imagine a cena constrangedora que
eu estava.
Num corredor meio escuro, aceso
apenas por tochas fracas, ao lado do cara que eu sou apaixonada e do outro o
cara por quem eu sou meio afim se o cara que eu sou apaixonada me descartar de
vez ou sei lá, me fazer perder as esperanças definitivamente, tipo namorando ou
casando com alguém, e nada mais do que o silêncio entre nós sendo quebrado
apenas por barulhos de sucção e baba e muita língua.
Queria enfiar minha cabeça num
buraco ou sair correndo.
— Vocês homens são tão... –
Deixei a frase no ar, no que Wood e Sirius me encararam, esperando que eu
terminasse a frase sem ofendê-los. – Sem sentimentos?
Black riu e Wood balançou a
cabeça sem dizer nada.
— Por que? Porque beijamos?
Soltei uma gargalhada com aquele
comentário, o que ele queria dizer? Que eu nunca tinha beijado na vida porque
era uma garota? Oi, eu já beijei você, se lembra?
— Nós também beijamos, mas não
fazemos isso com qualquer um, qualquer hora ou qualquer dia, assim, do nada, se
não tiver um sentimento no meio.
OPSSS... Droga! O que eu acabei
de dizer?
Sirius franziu a testa e me
olhou, aposto que ele captou o que não devia captar, mas Wood não sabia da
história por isso respondeu o meu comentário, tranquilamente.
— Bom, nem todo beijo tem
necessariamente um sentimento, as vezes não, as vezes sim, depende muito. As
vezes beijamos alguém pelo momento, mas as vezes realmente queremos estar ao
lado daquela pessoa, beija-la, abraça-la e ficar ali o máximo de horas
possíveis.
Ufa!
— Exatamente! – Disse esperançosa
de que Sirius sacasse o que deveria sacar. – Nem sempre todo beijo tem
sentimento.
Sorri, achando que tinha vencido
essa e olhei em direção a Sirius que me encarava com a sobrancelha erguida.
— Nem todo beijo? – Indagou ele.
– Então você é igual nós, beija sem sentimentos, não pode falar muito, afinal
de contas.
Droga!
— Às vezes são momentos, como
disse o Wood. – Ele ficou me olhando por segundos, então deu de ombros e olhou
para a frente.
— Tudo são momentos, alguns
momentos duram mais do que outros, só isso. É que vocês meninas, normalmente,
esperam o príncipe e coisa e tal, por isso tem menos namorados que nós homens.
— A maioria de vocês nem namoram
né.
— Não se esqueça que se beijamos
alguém só por beijar, a menina também faz isso, não beijamos homens, então no
final das contas, algumas meninas são iguais a nós.
Pensei sobre aquele comentário de
Sirius e conclui que ele tinha razão.
— Nesse caso, essas garotas são
as fadas mordentes atiradas. – Eu disse sem pensar, me referindo àquelas
Grindylows que davam em cima de Sirius, e os garotos gargalharam com meu
comentário.
O corredor estava chegando ao
fim. Ufa!
Quando estávamos prestes a virar
o corredor, tinha dois becos vazios, um de cada lado, pude notar, Wood parou e
consequentemente Sirius e depois eu, olhando, sem entender nada, para os dois.
— O que...? – Tentei dizer, mas
Wood sorriu sem jeito e Sirius me encarou, para depois olhar pra Wood, como
quem espera o que o outro vai dizer.
— Não me digam que vocês são gays
e vieram aqui se pegar, e eu só vim pra disfarçar a saída de vocês. – Disse eu,
quase acreditando que aquela teoria poderia ser verdade, aquilo estava bem
esquisito, sabe.
Ai Merlin, eu me jogo pra lula
gigante me comer ou brinco de lutinha cara a cara com o salgueiro lutador se o
Sirius for gay.
Wood gargalhou e Sirius gargalhou
junto, a piada pareceu ser tão boa que eu percebi que algumas sucções pararam e
Sirius até apoiou as mãos nos joelhos, de tanto que ria.
— Meu Deus, Lene, de onde você
tira essas ideias bizarras? – Gargalhou Sirius e Wood respirou fundo, como se
estivesse recuperando o folego.
— Que isso, Kinnon, eu lá tenho
cara de gay, o Sirius não faz meu tipo, não. – Wood gargalhou.
— Eu não curto barbudo.
A piada agora era eu, obviamente.
— Ai! Desculpa, é que vocês
estavam tão esquisitos, sei lá né.... – Eles riram mais ainda, e Sirius deu de
ombros, ainda risonho.
— Melhor voltamos, era isso que
eu ia dizer quando vocês pararam.
Wood assentiu, vermelho de tanto
rir e os dois deram meia volta, me deixando sem entender porra nenhuma.
Segui eles, ainda com cara de
quem não entende nada, quando Wood diminuiu o ritmo e pigarreou, meio sem jeito
antes de dizer.
— Tudo bem se você voltar
sozinho, Black? – Congelei, parando de repente, vendo Sirius parar e me
encarar.
— Na verdade, tava pensando em
você voltar sozinho, Wood. – Disse Sirius e eu comecei a gargalhar, histérica.
Merlin, quando é que vou acordar?
Tá muito hilário esse sonho de hoje.
— Esse é o sonho mais bizarro que
eu já tive até hoje. – Comecei a rir e os dois me encararam, se entreolhando,
sem entender muita coisa.
Aposto que os casais do corredor
dos amassos nunca viram tanta emoção ali, como aquela noite.
— Lene...? – Sirius tinha se
aproximado mais, e ali estava eu: Parada e bem próximo a mim do lado direito
estava Wood, com aquele peitoral todo forte e ele todo lindo e gentil, e do
lado esquerdo estava Sirius com aquele sorriso número seis, maravilhoso, os
cabelos caídos sobre os olhos, os lábios entreabertos por causa do sorriso
confuso e eu tremendo ali, pensando, “mas que porra é essa? Não tô entendendo
nada”.
Peraí, o Sirius disse que queria
que o Wood voltasse sozinho? Então... ele queria que...
— Merlin, as meninas têm razão,
eu sou muito lerda! – Deixei meu pensamento escapar alto, enquanto Sirius
respondia de volta.
— Realmente. – De repente ele deu
dois passos à frente e eu congelei por dentro enquanto ele parava a minha
frente, segurando de leve meu braço, tenho quase certeza que ele ia me beijar,
e só não fez isso porque no mesmo instante eu olhei para o lado e vi Wood,
franzindo a testa e parecendo que estava jogando Quadribol, indo defender o
gol, dando um passo à frente também.
Ai Merlin!
Assustada, dei alguns passos para
trás, me desvencilhando de Sirius.
— Que brincadeira é essa? Vocês
enlouqueceram?
— Era ele? – Indagou Sirius,
ignorando minhas perguntas, sem desviar os olhos de mim, e eu saquei o que ele
queria dizer, o tal garoto inexistente que eu dissera para ele que estava
tentando seduzir.
Poxa, Wood, você podia ter
avisado antes né?
O que eu ia fazer, meu Merlin?
Agora eu conseguia entender
perfeitamente a frase da Emme, “Essa vai ser boa!”, quem vai vencer?
Sirius, é claro.
Mas eu não podia fazer isso,
certo?
Não seria legal com nenhum dos
dois, por mais que eu adorasse a ideia de me agarrar com Sirius naquele
bequinho, mas daí eu seria igual aquelas grindylows de saia, não seria?
Desesperada, não consegui fazer
nada além do que já estou acostumada a fazer:
Eu me virei e... corri.